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quarta-feira, 1 de novembro de 2023

Parada cardíaca: o que fazer além de ligar para o SAMU?

Utilidade Pública

Chamar um serviço de emergência é o primeiro passo, mas qualquer pessoa devidamente treinada pode salvar uma vida realizando manobras de ressuscitação

 Ressuscitação cardiopulmonar: manobra salva vidas (Foto: Michael E. / Unsplash/Divulgação)

Em um país onde ocorrem 400 mil óbitos por doenças do coração ao ano, não é difícil imaginar que estamos sujeitos a nos deparar com uma pessoa sofrendo uma parada cardíaca em um ambiente onde o socorro médico não será imediato.

E mais da metade dessas mortes se deve a um coração que deixou de bater. Vários estudos mundiais, incluindo no Brasil, constatam incidência de 70 casos de parada cardiorrespiratória para cada 100 mil habitantes. Mas o que fazer diante de uma situação assim?

Se você respondeu “ligar para a emergência”, saiba que faz parte dos 57,8% dos entrevistados de uma pesquisa promovida pela Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo) junto a 2 236 pessoas nas cidades de Araçatuba, Araraquara, Bauru, Osasco, Ribeirão Preto, São Carlos, São José do Rio Preto, Sorocaba, Vale do Paraíba e na capital.

Este grupo respondeu que entraria em contato com o SAMU (...) para pedir socorro. Enquanto isso, 25,3% dos consultados também afirmaram que fariam o mesmo procedimento, porém estavam equivocados quanto ao telefone correto do serviço. 
Outros 17% admitiram que não saberiam como agir.

Contatar o SAMU, [fone 192] sem dúvida, é o primeiro passo, mas não dá para assistir a uma parada cardíaca de braços cruzados. Ao contrário, esse é o momento de colocar, literalmente, mãos à obra.

A parada cardíaca súbita ocorre quando os impulsos elétricos do coração se tornam rápidos ou descoordenados, fazendo com que pare de bater repentinamente. As manobras de ressuscitação cardiopulmonar (RCP) ou massagem cardíaca, como é popularmente conhecida, devem acontecer enquanto o socorro formal não chega.

Isso porque, sem atendimento nos primeiros dez minutos, a vítima perde 10% da chance de sobreviver a cada minuto passado. Quando estiver disponível – e seria ideal que estivesse em locais, como parques, academias, estádios de futebol, supermercados –, o desfibrilador, aparelho que emite corrente elétrica com o objetivo de restabelecer o ritmo cardíaco, também deve ser usado por quem conhece o protocolo.

Da mesma maneira, a RCP pode ser praticada por qualquer pessoa, desde que tenha recebido treinamento adequado. A American Heart Association (AHA) é uma organização americana que dissemina cuidados cardíacos para reduzir ocorrências de lesões e mortes por cardiopatias e acidente vascular cerebral (AVC). A instituição oferece cursos de ressuscitação cardiopulmonar para diversos públicos, incluindo crianças, adolescentes e idosos.

A Socesp mantém um Centro de Treinamento, credenciado pela AHA, com cursos presenciais e on-line para atendimento a emergências cardiovasculares. Os instrutores são treinados de acordo com as diretrizes da associação americana e as aulas contam com equipamentos especiais, como manequins simuladores e desfibriladores externos automáticos.

Uma barreira nos treinamentos de RCP é o custo dos manequins para treinar a população. Pensando nisso, a Socesp criou um feito com material reciclável, de garrafa pet, para ampliar de forma lúdica e sustentável o número de pessoas treinadas a partir dos 12 anos. E com isso tem promovido cursos, inclusive em escolas públicas e privadas.

Como temos alertado, precisamos estar cientes de que todos nós, independente de sermos do grupo de risco para doenças cardiovasculares ou não, somos um elo dessa corrente pela vida. A informação e o treinamento fazem a diferença nessa história.

Letra de Médico - Revista VEJA

*Agnaldo Piscopo é cardiologista e diretor do Centro de Treinamento da Socesp – Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo


domingo, 22 de outubro de 2023

UTILIDADE PÚBLICA - A hipertensão arterial é uma assassina silenciosa’, diz cardiologista - O Globo

Quem nunca ouviu uma recomendação para reduzir o consumo de sal para evitar o desenvolvimento da pressão alta? 
Ou que uma rotina de atividades físicas ajuda a controlar a pressão sanguínea? 
Muitas vezes, essas recomendações podem ficar de lado, especialmente para adultos jovens que encaram a hipertensão como um diagnóstico da terceira idade. Mas a realidade não é bem assim.

Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) revelam que 45% dos brasileiros adultos têm a pressão acima do ideal, e que cerca de metade dos pacientes sequer sabem disso. De fato, segundo a pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, somente 27,9% da população relata um diagnóstico.

O cenário acende o alerta, já que a doença é o principal fator de risco para problemas graves como AVC e infarto. Por isso, será o tema da próxima edição do Encontros, evento que vai reunir grandes especialistas no assunto no auditório da Editora Globo, no Rio, no próxima dia 31, às 9h30. As inscrições estão abertas ao público e podem ser feitas aqui.

O Encontros é realizado pelo GLOBO com a curadoria do doutor em Cardiologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cardiologista do Hospital Pró-Cardíaco, Claudio Domênico. Abaixo, o médico explica como identificar a pressão alta, as dificuldades na adesão ao tratamento e as inovações que podem mudar o cenário.

Quanto exatamente a pressão arterial já se configura como alta?

A pressão é considerada ótima quando está em 120 por 80 (12 por 8). Quando passa de 130 por 85 (13 por 8) já entra na faixa de normal a alta. 
A partir de 140 por 90 (14 por 9), começa a ser pressão alta, e a pessoa é considerada hipertensa. 
É uma doença crônica e multifatorial, com causas genéticas, ambientais e, principalmente, de estilo de vida.

As doenças cardiovasculares causam mais de 350 mil mortes de brasileiros a cada ano. Qual a relação com a pressão alta?

O fator de risco mais importante para elas é a hipertensão, que está diretamente associada a pelo menos 45% dessas mortes. O grande problema é que ela é uma assassina silenciosa. Muitas pessoas têm hipertensão e não sabem, ou então não têm sintomas e por isso não realizam o tratamento corretamente.

Os dados da OMS mostram que 9,4 milhões de pessoas morrem no mundo a cada ano por complicações da hipertensão. 
 A cada hora, são mais de mil pessoas. 
E nos últimos 30 anos, houve um aumento do número de pacientes, praticamente dobrou.

Quais são as complicações diretas da pressão alta?

É muito comum termos hipertensão associada a outras doenças, como diabetes, obesidade e dependência do cigarro. 
Quanto mais doenças, maior é o risco. 
As principais complicações são o que chamamos de lesão de órgão alvo. 
A pressão muito alta no coração, por exemplo, pode deixá-lo hipertrofiado, ou seja, crescido. 
Nas artérias, pode levar a um entupimento, uma cardiopatia hipertensiva. Nos vasos da retina, pode causar uma retinopatia hipertensiva. 
Dentro do rim, uma nefropatia hipertensiva. 
E quanto mais tempo sem tratamento, maiores são as chances de um problema.

O que está por trás do aumento dos casos de hipertensão?

São vários fatores. Tem um componente genético, um lado familiar, que afeta de 25% a 30% das pessoas. Tem fatores ambientais, como temperatura, poluição, barulho. Há fatores regulatórios do nosso próprio organismo, da função renal, da função endocrinológica. Mas as principais causas são o estilo de vida.

Cada vez se come mais comida industrializada, menos fibra, se fuma mais, a ansiedade só piora, o número de obesos aumenta. Há o consumo excessivo de álcool, o sono prejudicado, uma vida com estresse crônico e sedentarismo. Esse estilo de vida nocivo é um dos principais determinantes da hipertensão.

Outro fator importante é o excesso de sal. Devemos consumir em média 5g de sal de cozinha por dia, o que equivale a 2g de sódio. Mas o brasileiro consome em média 9g, quase o dobro.

A OMS aponta que cerca de metade das pessoas sequer sabe que tem hipertensão arterial. Por que isso acontece?

A grande maioria dos casos não tem sintoma nenhum. Normalmente, quando eles aparecem, ela já está estabelecida há algum tempo. A pessoa começa a se queixar de falta de ar, cansaço, espuma na urina, problema na visão. Nessa hora, a pressão alta pode já ter afetado o coração, o rim, a visão, a circulação, já ter causado a lesão alvo.

O que a pessoa deve fazer para evitar um subdiagnóstico de pressão alta?

Todo mundo, pelo menos uma vez por ano, deve verificar a pressão arterial, mesmo não sentindo nada. 
O diagnóstico é fácil, mas por ser silenciosa as pessoas não procuram o médico. 
A mulher tem uma vantagem porque tem o hábito de frequentar o ginecologista, que corretamente verifica a pressão. 
Mas o homem só costuma ir ao médico a partir dos 50 anos, quando fica preocupado com doenças como na próstata.

Além disso, as diretrizes da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) já recomendam que todas as crianças acima de 3 anos tenham a sua pressão verificada anualmente pelos pediatras.

Um dos grandes desafios é a baixa adesão ao tratamento, por que isso acontece?

A adesão ao tratamento é muito ruim por uma série de fatores
O paciente para de tomar o remédio porque ele é caro ou porque ele não está sentindo nenhum sintoma, passa a achar que não precisa.
 Às vezes a pessoa nega o diagnóstico, ou até mesmo houve uma comunicação ineficaz por parte dos profissionais de saúde.

No Brasil, os trabalhos apontam que somente de 43% a 67% dos pacientes têm a pressão controlada. Os dados da OMS mostram um cenário ainda pior, com 4 de cada 5 pessoas sem o tratamento adequado no mundo. É um dos problemas mais sérios que enfrentamos.

Como é o tratamento da hipertensão hoje?

O tratamento deve ser sempre individualizado, não é uma receita de bolo. Primeiro, existe a abordagem não farmacológica, as medidas de higiene do sono, o perder peso, parar de fumar, fazer atividade física. 

A SBC já orienta até técnicas de respiração, meditação mindfulness, tudo que pode ajudar a baixar a pressão.

Depois, se não houver resultados, se pensa em utilizar os medicamentos. O grande avanço hoje são formulações que envolvem dois, três remédios em apenas uma pílula. Isso facilita a adesão. Há ainda testes genéticos para tentar identificar marcadores associados ao quadro que auxiliem no tratamento.

Existe uma perspectiva de melhora desse cenário com novas tecnologias que vêm surgindo?

A telemedicina ajudou muito porque ampliou o acesso a pessoas que às vezes não têm um especialista próximo. Além disso, hoje existem smartwatches que conseguem medir a pressão. Ainda são caros, mas a vantagem é que ele verifica durante o dia inteiro, fazendo uma espécie de mapa.

A ideia é que esses relógios forneçam a saturação do oxigênio, a frequência cardíaca, a pressão arterial, a qualidade do sono, quantos passos foram dados, e o paciente envie esse monitoramento para o médico, para uma avaliação mais completa. Isso é muito bom, é para o que devemos caminhar no futuro.

Mas o acesso ainda é restrito. É como as canetas para perder peso, por exemplo, são ótimas, mas são caras e não alcançam todos os pacientes com obesidade. Precisamos pensar também em políticas públicas amplas. A Farmácia Popular, criada em 2004, tem dispensação de remédios para hipertensão arterial e faz muita diferença.


Saúde - O Globo

 


terça-feira, 21 de junho de 2022

Infarto e AVC: como prestar os primeiros socorros - Os minutos que podem salvar uma vida - Ludhmila Hajjar

O Globo

Emergência

Ter um familiar ou um amigo que de repente sofre um mal súbito é uma cena que infelizmente todos podemos vivenciar. Todos os dias, pelo menos mil brasileiros morrem devido a doenças cardiovasculares, sendo as mais frequentes o acidente vascular cerebral (AVC) e o infarto agudo do miocárdio
A morte e as sequelas ocorrem porque repentinamente o sangue e o oxigênio deixam de irrigar o cérebro no caso do AVC ou derrame e o coração no caso do infarto, e quanto antes o fluxo for restabelecido, maior é a chance de sobrevida e de recuperação do paciente. 
A medicina hoje reconhece esses problemas como doenças tempo-sensíveis ou tempo-dependentes, pois quanto antes houver o socorro e o atendimento adequado, melhores serão os resultados para a retomada da vida com qualidade.

Ataque cardíaco exige ações rápidas de socorro

As doenças cardiovasculares são um problema de saúde pública mundial e após a pandemia pela Covid-19, esses números têm crescido. Estima-se que até 2040 haverá aumento de até 250% dessas doenças no país. Hoje, a cada minuto uma pessoa sofre um AVC ou um infarto agudo do miocárdio. É válido chamar a atenção que metade desses problemas pode ser evitado com medidas simples de prevenção e mudanças dos hábitos de vida.

Sinais de alerta podem auxiliar na busca rápida e eficiente por assistência médica diante de um quadro de doença aguda cardiovascular.  

Devemos estar atentos aos sinais e sintomas que podem sugerir o início de um infarto: dor no peito especialmente do lado esquerdo do tórax, mal-estar com sudorese excessiva, palpitações, náuseas e fadiga após exercício físico, falta de ar, dor abdominal, sensação de tontura ou desmaio.

Herpes-zóster: Novo imunizante contra a doença chega ao Brasil e impulsiona discussão sobre vacinação

Gustavo Guimarães: Câncer — quando apenas observar é a opção

Os sinais e sintomas que podem sugerir o AVC ou derrame cerebral são: dificuldade para falar e entender o que outros estão falando; paralisia ou dormência no rosto, braço ou perna, em apenas um lado do corpo; dor de cabeça súbita e intensa; tontura que pode ser acompanhada por vômitos; dificuldade para engolir e perda da coordenação motora. 

Nos casos mais graves, pode haver perda súbita da consciência e o paciente rapidamente apresenta um desmaio seguido de parada cardiorrespiratória.

Devemos agir com calma, porém com eficiência e rapidez, desde a detecção do problema até a instituição de medidas intra-hospitalares. 
Ao nos depararmos com esse quadro clínico, devemos chamar uma ambulância, ligando para o número 192 (SAMU) ou para uma ambulância particular, informando os sintomas da pessoa, o local do ocorrido e o telefone de contato. 
 
Ao mesmo tempo, deve-se deitar a pessoa de lado, com a cabeça ligeiramente elevada e apoiada, para evitar que a língua obstrua a garganta ou que a pessoa se engasgue caso desmaie e vomite. 
Se possível, recomenda-se desapertar as roupas, cobrir a pessoa com um cobertor, não oferecer comida ou bebida para evitar engasgos e deve-se tentar identificar as queixas da pessoa tentando saber se tem alguma doença ou se faz uso de medicamento e ao mesmo tempo aguardar pelo socorro, observando se a pessoa está consciente.
 
Se a pessoa ficar inconsciente e parar de respirar, é importante iniciar a massagem cardíaca, apoiando uma mão sobre a outra, mantendo os braços esticados e utilizando o peso do próprio corpo. O ideal é fazer 100 a 120 compressões por minuto e fazer duas respirações boca-a-boca, a cada 30 massagens cardíacas.  
É preciso manter as manobras de reanimação, até que chegue a ambulância. Na suspeita forte de infarto, pode-se já oferecer 200 mg de aspirina macerada em água se a pessoa estiver consciente. Em locais nos quais há desfibrilador externo e pessoas habilitadas, recomenda-se a monitorização, a detecção do ritmo e o uso do mesmo para a realização do choque nos casos de arritmias malignas.

Ao chegar no hospital, o atendimento pela equipe multiprofissional deve ser eficaz e rápido, com o cumprimento de protocolos já bem estabelecidos.

Receita de médico - O Globo

 

terça-feira, 22 de março de 2022

O clínico geral da humanidade - Revista Oeste

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock 
 
 O Siou da Faizer disse que será necessária a aplicação da quarta dose da vacina que ele produz e vende. Ele não disse isso a um vizinho ou a um amigo da família. O Siou da Faizer disse isso ao mundo.

E o que fez o mundo? Dobrou-se em respeitosa audição e jogou a “informação” nas manchetes. Se o Siou da Faizer falou, tá falado.

É um momento libertador. Chega de intermediários. Agora você entende por que é tão difícil encontrar no noticiário (ou em qualquer lugar) referências a todos os plenamente vacinados que se hospitalizaram ou morreram de covid (ver por exemplo UKHSA Vaccine Surveillance Report — óbitos em fevereiro na Inglaterra). Não é pra falar disso mesmo não. Seria uma indelicadeza com o Siou da Faizer, benfeitor de tanta gente. Então bico calado e vamos à quarta dose.

A vida ficou muito mais simples. Era uma burocracia danada esse negócio de depender de médicos — um pra cada problema. Felizmente isso acabou. Agora você já sabe o que fazer. Espirrou? Tossiu? Dor de cabeça? Dor de corno? Fica tranquilo. Espera a próxima declaração do Siou da Faizer e seus problemas acabaram.

O ser humano não é tão complexo assim. Se você tomar certinho todas as doses da vacina de covid que o Siou da Faizer te mandar tomar, suas chances de felicidade aumentam muito. Duvida? Então olha as manchetes à sua volta e veja a verdade suprema reluzindo como um letreiro de neon na sua cara: 
a vacina de covid é boa; a vacina de covid é ótima; 
a vacina de covid é segura; a vacina de covid é eficaz; 
a vacina de covid é a solução; a vacina de covid é o salto civilizatório; 
a vacina de covid corrige geneticamente a sua imunidade que era uma porcaria, como tudo que é selvagem e não recebeu ainda o upgrade do Bill Gates; 
enfim, a vacina de covid é uma coisa que… sei lá, nem tenho palavras. Fico até emocionado.

O Siou da Faizer tem imunidade judicial contra efeitos adversos da vacina que ele vende

Com esse grau de rigor científico você pode voltar a viver tranquilo, recuperando a fé na espécie humana que você havia perdido quando ainda não era uma pessoa triplamente vacinada, ou quadruplamente vacinada, distinguindo-se dos quadrúpedes que não entendem o que diz o Siou da Faizer. Quando você for quintuplamente vacinado vão te deixar até entrar numa palestra do Bill Gates sem máscara — para você assistir embevecido à profecia sobre a próxima pandemia, da qual você só vai escapar se estiver com o “esquema vacinal completo”.

O esquema vacinal é a coisa mais moderna que existe. Quem não está no esquema está morto. Não tem nem conta em rede social. Não tem facilidades, não tem carinho da burocracia bilionária, não tem nem direito a trabalhar — nos lugares (a maioria) em que o esquema foi implantado de maneira correta. Entre no esquema e seja feliz.

Saboreie a visão desses sujos do lado de fora mostrando o avanço das miocardites, das tromboses, dos AVCs, dos infartos ceifando vidas jovens e saudáveis logo após a vacina de covid — e é claro que você sabe que não tem nada a ver uma coisa com a outra, porque se as manchetes não disseram nada é porque o Siou da Faizer achou tudo normal. Ele tem imunidade judicial contra efeitos adversos da vacina que ele vende — e isso só pode ser sinal de que o produto é seguro.

Modernidade é simplicidade. Acabou aquela burocracia de consultar OMS, Sociedade de Infectologia, Ministério da Saúde, Anvisa, clínico geral, cardiologista, neurologista, pediatra e outros intermediários. Basta a mensagem do Siou da Faizer — o resto será repetição. Tenha sempre à mão o seu documento único de cidadão no esquema. E não se esqueça: se precisar de um médico, procure um empresário.

Leia também “Bomba e purpurina”

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste  

 

quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A tentação reacionária de banir o Telegram - Guilherme Fiuza

É assim a nova utopia reacionária: você pode usar uma premissa de depuração para escolher quais verdades você deixará circular

 O Tribunal Superior Eleitoral iniciou uma manifestação de hostilidade à rede social Telegram. Segundo o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, trata-se de um ambiente que tem sido utilizado para a propagação de informações falsas e teorias da conspiração. O TSE diz ter “parcerias” com as principais plataformas de internet para o controle de conteúdo indesejável e não quer que haja exceções. O TSE e seu presidente devem estar achando que estão numa colônia da ditadura chinesa.

A tentação de banir o Telegram do país só pode vicejar em mentes que tenham perdido por completo os referenciais de democracia. Estão confiando demais na retórica indigente do suposto combate a “fake news”, “onda de ódio”, etc. para embargar e suprimir o que der na telha, fazendo política a céu aberto com esse disfarce mal-ajambrado.

Vamos contribuir com essa utopia reacionária: por que não banir também o WhatsApp? Ali circula de tudo – até informação falsa extraída do perfil do próprio TSE, alegando que o projeto da instituição do voto auditável significaria o retorno a cédulas de papel. 
É ou não é terrível um ambiente suscetível a desinformações desse tipo?
 
Proíbam o Telegram e o WhatsApp. Mas não só eles. Há uma praça, numa grande cidade brasileira, onde pessoas se reúnem para dizer que o assalto à Petrobras não existiu e todos os bilhões de reais devolvidos foram apenas uma caridade dos ladrões
Por essa praça, passam milhares e milhares de pessoas todos os dias – um contingente expressivo de cidadãos permanentemente expostos a disparates desse tipo. A patrulha da verdade não vai interditar essa praça?

Mas o problema não termina aí. Algum tempo atrás, falou-se muito de um cidadão que trazia ideias estranhas – e nesses casos todo cuidado é pouco. Seu nome era Graham Bell. Como não foi detido a tempo, ele deixou por aí um aparelho perigoso – que tornava a comunicação muito mais rápida que as cartas levadas de navio ou em lombo de burro. Resultado: passou a ser possível a uma única pessoa passar trotes rapidamente para diversas outras afirmando, por exemplo, e jurando de pés juntos, que o sistema das urnas eletrônicas no Brasil é invulnerável. Como transigir com um risco de desinformação desta monta?

As “parcerias” que o TSE diz ter firmado com as principais plataformas de internet todos sabem de que tipo são e elas se estendem a toda uma rede de zeladores da verdade celestial. Com o auxílio das milícias checadoras – o braço armado do gabinete do amor – operam o banimento, por exemplo, de uma mãe que perdeu o filho jovem com um AVC pós-vacina de covid.  
Essa mãe contratou uma investigação clínica que atestou a causalidade, reconhecida pela autoridade de saúde do seu estado. 
Passou a usar as redes para tentar ampliar o conhecimento sobre efeitos adversos e foi banida.

É assim a nova utopia reacionária: você pode usar uma premissa de depuração para escolher quais verdades você deixará circular. O Telegram tem um mundo de informações e dados de todos os tipos ciência, filosofia, arte, política com toda a escala de precisão/imprecisão, confiabilidade/suspeição, boa-fé/má-fé que caracteriza qualquer ambiente livre. Para os delitos, existem as leis. Para os reacionários, não existe remédio.

Guilherme Fiuza, colunista - Metrópoles 

Este texto representa as opiniões e ideias do autor.


terça-feira, 7 de dezembro de 2021

O ovo da serpente está de volta - VOZES

Guilherme Fiuza

A Alemanha anunciou lockdown para não-vacinados. Claro que iríamos chegar a isso. Estava na cara desde o início. O lockdown é um slogan tosco alçado a política de segurança sanitária – sem jamais precisar demonstrar eficácia científica, porque a coletividade estava madura para o sadomasoquismo do controle pelo controle. Sem abrir mão da violência gratuita contra inocentes, claro, senão não teria graça. A graça é poder patrulhar o próximo com soberba de virtuoso.

Alemães protestam contra medidas restritivas impostas para conter a Covid-19.Alemães protestam contra medidas restritivas impostas para conter a Covid-19.

   Alemães protestam contra medidas restritivas impostas para conter a Covid-19.

E era evidente, portanto, que a irmã gêmea do lockdown seria a vacinação experimentaligualmente dispensada da aferição de eficácia. Ou melhor, com a licença poética para propaganda de eficácia voadora, prometendo uma panaceia para a saída da pandemia que jamais aconteceu. Ao contrário: os primeiros seis meses de vacinação coincidiram com o agravamento da pandemia em todo o planeta – levando o ano de 2021 a ter mais óbitos por Covid do que o ano de 2020 (sem vacina).

Claro que vocês vão tentar negar a realidade, dizer que não foi bem assim, que a vacina é sempre inocente, etc. Já conhecemos os seus dogmas de fundo de quintal. “Estudos mostram” que vocês são a seita da seringa. “Especialistas garantem” que vocês agem incondicionalmente para lustrar as botas do lobby custe o que custar. Parabéns pela bravura. Fiquem à vontade.

Como a mentalidade da “cautela em excesso” leva à tirania
“Você aí, ô branquinho, onde é que se doa sangue?”

Mas o fato é que em nenhum lugar do mundo se demonstrou que uma região mais vacinada teve melhor enfrentamento da pandemia do que uma região menos vacinada. Israel já passava de 80% de habitantes totalmente vacinados e enfrentava a pior recaída de casos de covid – inclusive com aumento explosivo de internações hospitalares, contrariando a tese “categórica” de que as vacinas ao menos garantiriam manifestações mais brandas da doença. Quem tem manifestação branda da doença não vai para o hospital.

Mas esse consórcio asqueroso que reúne a maioria da imprensa, plataformas de rede social, subcelebridades, boa parte da classe médica, autoridades de saúde, autoridades regulatórias, juízes e governantes não quis saber de nada disso. Estão todos excitadíssimos com o arrastão do lobby – e a sua montanha de doces agrados. Deu-se a lavagem cerebral mais fajuta da história – com a imposição de premissas toscas que neste exato momento “checadores” pagos ou voluntários devem estar fazendo seu serviço sujo de tentar carimbar neste texto.

Eu disse que são toscas, as premissas, mas fui suave: são ridículas. Neste momento um desses vassalos do lobby deve estar todo eriçado para gemer que as vacinas não são experimentais e que isso aqui é fake news. As vacinas SÃO EXPERIMENTAIS, porque mesmo conseguindo registro definitivo (leia acima quem integra o lobby asqueroso) ainda não cumpriram seu desenvolvimento completo (procure a data prevista para a conclusão dos estudos de cada fabricante, se quiser)que evidentemente é impossível de se cumprir num espaço de pouco mais de um ano. Jamais aconteceu na história – e jamais acontecerá, porque o lobby pode muito, mas não pode acelerar o relógio do tempo. E em pouco tempo efeitos adversos graves já estão espalhados por aí – não numa pesquisa controlada, mas num experimento criminoso nas veias da população.

Não adianta gemer, checador trouxa. Não adianta ameaçar. Essa tragédia de inconsequência e desumanidade vai estourar na sua cara. E não é porque eu queira. É porque eu já vi que está acontecendo. Eu estou acompanhando diversos casos, como acompanhei o do jovem Bruno Graf, morto pela vacina de covid. Jamais afirmei que a causa foi a vacina antes da comprovação técnica. Mas o que teria acontecido com um jovem totalmente saudável, sem nenhum histórico de complicação clínica, para ter um mal-estar atroz após tomar a vacina e evoluir em poucos dias para um AVC hemorrágico?

Enquanto tentávamos PERGUNTAR o que teria se passado, vocês, os covardes de aluguel e covardes voluntários, saiam gritando desesperados contra qualquer pedido de investigação da causa da morte de Bruno. Não foi a vacina! Negacionistas! Terraplanistas! Etc. Até assediar uma mãe em luto vocês fizeram. Vocês são uma vergonha humana.

Só que essa mãe é forte. E num momento que a imensa maioria dos seres humanos sucumbe, capitula, se entrega, ela foi à luta. Encomendou o exame indicado para aferir a causalidade da vacina, a partir da detecção de uma síndrome trombótica associável à substância inoculada segundo os próprios estudos de desenvolvimento do “imunizante”. O exame deu positivo. Arlene Ferrari Graf foi então buscar o reconhecimento oficial de que a vacina de covid matou seu filho. E é claro que nesse percurso ainda foi hostilizada, ameaçada, ultrajada por vocês, os pimpolhos da mamãe farma.

Ninguém reconheceu espontaneamente a causa da morte de Bruno. Mas Arlene não parou. E fez uma petição à Secretaria de Saúde de Santa Catarina com uma série de questionamentos sobre os efeitos adversos da vacina. Foi em resposta a essa petição que a Superintendência de Vigilância em Saúde do Estado de Santa Catarina reconheceu que a morte de Bruno Graf foi causada pela vacina. Vocês, que tentaram intimidar os que PERGUNTAVAM sobre essa hipótese – ou seja, que agiam para IMPEDIR A INFORMAÇÃO à população sobre os graves riscos das vacinas EXPERIMENTAIS de Covid – deveriam estar presos.

Mas é claro que vocês ainda estão confiantes, numa conjuntura em que a Alemanha esquece o seu passado tenebroso e institui a segregação populacional como forma de controle totalitário. Sem um pingo de ciência, como sempre. Contando apenas com gente como vocês, o rebanho covarde que está gostando do jogo de perseguir, patrulhar e brincar de supremacia higienista. Vocês são tão cínicos que fingem não ver ultra vacinados adoecendo e morrendo. Vocês não querem saúde, nem imunidade. Vocês querem coleira.

E para isso são capazes de afirmar que as vacinas de Covid são seguras. Que casos como o de Bruno Graf são “isolados” – claro, porque da mesma maneira que vocês guerrearam para escondê-lo, há uma multidão de outros submersos pela hedionda propaganda vacinal. Na Alemanha dos anos 1930 também era assim. A ética emanava da propaganda.

Vamos ver se o mundo dessa vez vai cair de fato no pesadelo que os democratas conseguiram evitar, à custa de muito sangue, na Segunda Guerra Mundial. Se não cair, vocês, os ratos, vão pagar.

Guilherme Fiuza, colunista - VOZES - Gazeta do Povo

 [Nota do Blog Prontidão Total: em respeito ao direito à informação dos nossos dois leitores transcrevemos a excelente matéria do colunista Guilherme Fiuza, ao tempo que expressamos nossa posição favorável às vacinas - seja os imunizantes contra a COVID-19 ou os mais antigos, tradicionais.] 

 

domingo, 16 de maio de 2021

Após decisão do Supremo, EMS inicia distribuição de genérico que combate sequelas da Covid-19

A farmacêutica EMS iniciou neste sábado a distribuição do genérico Rivaroxabana, anticoagulante que tem sido usado no tratamento de complicações decorrentes da Covid-19, como trombose, AVC ou embolia. O início da distribuição acontece três dias após o Supremo Tribunal Federal derrubar a prorrogação da validade de patentes de medicamentos que já estejam em vigor há mais de 20 anos. A decisão afeta cerca de 3 mil medicamentos de referência, que perderam a proteção.

Clique aqui e veja a íntegra dos medicamentos que podem ter redução de preços.

O medicamento de referência do Rivaroxabana é o Xarelto, desenvolvido pela Bayer e que custa cerca de R$ 230 a caixa com 28 unidades. O genérico será comercializado a um preço 35% menor. A distribuição vai começar por São Paulo, mas, segundo a EMS, a partir da próxima semana a distribuição já deverá ser feita para todo o país.  

[Patentes de medicamentos estão entre os assuntos que não são favorecidos com o nosso notório saber jurídico medicamentoso.  
 
Mas, vamos dar o nosso pitaco:
- a decisão do STF, favorecendo o consumidor, o povão, - ao derrubar a prorrogação da validade de patentes de medicamentos que já estejam em vigor há mais de 20 - nos surpreende de forma agradável; mas, esmola grande, cego desconfia.............
Perguntamos: com a derrubada se entende que laboratórios brasileiros, especialmente os produtores dos 'genéricos',  passam  a ter liberdade para fabricar remédios cuja parente foi derrubada, entre eles o genérico do Xarelto, medicamento de referência fabricado pela Bayer e que tem como principio ativo a  Rivaroxabana.
MARAVILHA. O Brasil é um país pobre, atravessa uma grave crise econômica sanitária causada por uma pandemia - está em funcionamento uma CPI, determinada pelo STF,  que pretende identificar se a culpa pela pandemia é do coronavírus ou do presidente Bolsonaro (já se percebe  uma tendência da CPI de  inocentar o coronavírus) e os medicamentos custam uma fortuna.
 
Sem pagar patente se espera redução importante nos preços
Mas, considerando que apesar dos acordos comerciais firmados pelo Butantan e Fiocruz para produção no Brasil de vacinas contra o coronavírus - tudo legal, tudo combinado, tudo nos conforme - - ocorre com frequência a falta de uma das vacinas, que alegam ter como causa a não entrega do IFA (ingrediente  essencial para o imunizante se tornar um imunizante de verdade), cabe perguntar: - será que os medicamentos alcançados pela derrubada da patente, não dependem da presença de  algum IFA, que por esquecimento, nao foi incluído na quebra em comento = ficar  tudo na mesma situação dos imunizantes da Fiocruz e do Butantan?

A decisão do STF reconheceu como inconstitucional um artigo da Lei de Propriedade Industrial que prorrogava automaticamente a validade da patente em caso de demora na análise do pedido no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI). Antes da decisão do Supremo, a EMS chegou a tentar derrubar a validade da patente do Rivaroxabana na Justiça.

Capital - O Globo 

 


sábado, 19 de dezembro de 2020

Quem vai pagar a conta? - O Globo

Ascânio Seleme 

Quem pagará a conta de quem se negar a tomar vacina contra Covid?

Custos serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes que a doença continuará produzindo, por causa e entre os negacionistas

Não se preocupe, se você se vacinar direitinho, tomar as duas doses como recomendado, não vai ser infectado por negacionistas, seja um vizinho, um parente, um amigo ou um desconhecido com quem esbarrar na rua. [não pode ser omitidos: e não estiver naquele percentual de ineficácia da vacina.
Calma! somos a favor da vacina e logo que esteja disponível, vamos nos empenhar para receber a imunização. A maior parte do nosso pessoal foi devidamente vacinado contra umas dez moléstias e nunca fomos contraímos nenhuma delas.
O que nos entristece mesmo é que abundam supremas decisões sobre a vacina, são feitas críticas e ameaças contra e a favor e a VACINA NÃO APARECE.
Também sentimos um certo desconforto quando constatamos que milhares e milhares de vidas continuam sendo perdidas para o infarto, AVC, câncer e outras moléstias e parecem valer menos do que as vidas ceifadas pela covid-19.] Você estará imune. Do ponto de vista da sua saúde ou da sua família, não precisa fazer mais nada, embora seja conveniente manter o uso de máscaras por ainda algum tempo. Também não custa nada lavar sempre as mãos com bastante água e sabão. Seu problema será outro e terá natureza financeira. Você vai solidariamente pagar a conta que os que se negaram a tomar a vacina contra a Covid acabarão gerando para os cofres públicos. E ela não será pequena.

Imagine o cenário final, pós-vacinação. Neste momento, 46 milhões de brasileiros, ou 22% da população, não estarão imunizados e continuarão a exercer pressão sobre a rede pública de saúde. [importante: qual a duração do efeito imunizante da vacina? é algo ainda incerto, devido a doença ter menos de um ano e a vacina um ou dois meses. Se o efeito for inferior a dois anos, antes de terminar a vacina de uma fase, outra terá que ser iniciada. Temos que rogar a DEUS para que a imunização seja permanente.] Se hoje os leitos dos hospitais estão quase 100% ocupados por pacientes com Covid, no futuro terão 22% da sua capacidade tomada por pessoas infectadas por uma doença que poderia ser evitada. Quem vai pagar esta conta? Você e eu. Na verdade, este volume pode ser maior, se os planos de saúde corretamente se recusarem a pagar internações hospitalares e remédios de quem se recusou a se vacinar. Se a doença era evitável, os planos vão recorrer e os pacientes com planos poderão acabar na rede pública.

Se a Justiça acabar obrigando os planos de saúde a pagar as contas dos negacionistas, o que sempre é possível, mesmo assim você e eu arcaremos com um custo adicional. Ninguém aqui é bobo, claro que os planos repassarão a conta para toda a sua clientela. Nós.

Haverá ainda outros custos indiretos gerados pelos negacionistas mas que serão arcados por nós. Primeiro, calcule o impacto que terão sobre a cadeia produtiva quando o mundo voltar ao normal. Se uma gripezinha de influenza afasta uma pessoa por dois ou três dias do trabalho, uma infecção pela Covid pode tirar o funcionário por até 14 dias da linha de produção, quando não o afastar definitivamente. Isso tem um custo que as empresas pagam e repassam aos preços dos produtos e serviços que você e eu iremos consumir.

Os não vacinados vão também compor uma nova estatística de morbidade no Brasil. Com a vida de volta ao normal, os 22% de não vacinados serão eventualmente contaminados e muitos vão morrer. Aos números. Mantida a média de 1.000 óbitos por dia, morrerão então 220 negacionistas a cada 24 horas. Em um ano, serão 80 mil. Mais do que os 12 mil que falecem a cada ano por câncer de próstata ou mama, os 44 mil que morrem em razão de doenças hipertensivas ou os 54 mil que são acometidos de diabetes. Trata-se de índice igual ao de mortes por infarto, que também somam 80 mil por ano. [morreram de infarto, AVC e outras doenças vasculares, este ano, de 1 janeiro a 15 outubro 2020, 350.000 brasileiros e o câncer tem que ser somado os vários tipos.

Só a soma das doenças citadas neste parágrafo (excluídos os negacionistas que não se pode estimar quantos serão - ainda não existe tais vítimas e nada garante que vão existir) - ultrapassa em muito as da covid-19. Lembrando que não estão incluídas as de mais de uma dezena de tipos de câncer não citados.]

Sim, há os que já foram infectados e dizem que não vão se vacinar porque já têm anticorpos, como afirma o magnífico Jair Bolsonaro. Estes ignoram a potencialidade da reinfecção ou o surgimento de cepas diferentes que podem lhes acometer. Vejam o caso da gripe influenza, que já exige quatro vacinas diferentes para ser obstruída. Na rede pública, as vacinas aplicadas são as trivalente, que imunizam contra até três variações da doença. Na rede privada já estão sendo aplicadas as tetravalente.

Claro que os custos serão altos, mas ainda mais grave é o número assustador de mortes que a doença continuará produzindo depois da vacinação em massa, por causa e entre os negacionistas. E elas ocorrerão por todos os lados, mas serão maiores nos grotões bolsonaristas. São os seguidores fiéis de Sua Excelência que mais se rebelam contra a vacina. Seguem o líder cegamente, como ratos ao flautista de Hamelin, mesmo que seja em direção ao hospital ou ao cemitério.

Rebanho

O que vai acontecer com aqueles que se recusarem a ser vacinados? 
Certamente perderão alguns direitos, como o de frequentar escolas, academias e clubes. Devem também perder o acesso a bolsas e outros auxílios oficiais, o direito de participar de concursos públicos e de votar. Podem ainda ser proibidos de viajar de avião e ônibus. E também não serão imunizados. Serão apenas parte do rebanho.

Eles erram
Presidentes erram. Sarney errou na economia, mas foi o presidente que avalizou a reabertura democrática. [avalizar a tal reabertura = embrião da 'nova República' = foi um erro maior do que todos os erros que cometeu na economia.]  Collor errou ao confiscar a poupança dos brasileiros e ao permitir que seu contador PC Farias trocasse influência por dinheiro, muito dinheiro. Mas é verdade também que abriu a economia brasileira para o mundo.  

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O Globo - MATÉRIA COMPLETA - Ascânio Seleme, jornalista



 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Estupidez contagiosa - O Globo

BOLSONARO E A VACINA

Corte ignora bravatas e tenta proteger país do desgoverno

Enquanto Jair Bolsonaro esperneia, o Supremo tenta proteger os brasileiros do coronavírus e do desgoverno. Em outubro, o presidente disse que a Justiça não poderia decidir “se você vai ou não tomar uma vacina”. Ontem a Corte ignorou a bravata e autorizou estados e municípios a adotarem a imunização obrigatória. [imunização obrigatória com sanção indireta - a falta de, digamos, disposição para autorizar governadores e prefeitos a prender quem se recusar a tomar vacina, o Supremo decidiu pela sanção indireta, a ser aplicada por aqueles entes federativos. A sanção não foi tipificada, mas alguns noticiosos já cogitaram de algo do tipo não ter direito a passaporte = sanção inútil para quase 90% dos brasileiros que não viajam para o exterior - portanto,  não precisam de passaporte. 

Fica o risco de uma grave crise institucional: o presidente Bolsonaro decide não se vacinar - direito reconhecido pela Suprema Corte, que na mesma canetada deu poderes a estados e municípios para punir os que o exercerem - e tem o passaporte cassado. No desempenho de seu mandato, em plena vigência, precisa viajar ao exterior = viaja ou não viaja? 

Outro detalhe: ao que se sabe estados e municípios não emitem passaporte. Pergunta-se: o prefeito ou governador pode proibir órgão federal de emitir aquele documento?]

Ao contrário do que sugere a propaganda bolsonarista, ninguém será arrastado pelos cabelos até o posto de vacinação. Mas quem se negar a entrar na fila poderá ser impedido de frequentar escolas, comer em restaurantes ou usar o transporte público. “A saúde coletiva não pode ser prejudicada por pessoas que deliberadamente se recusam a ser vacinadas”, resumiu o ministro Ricardo Lewandowski. “A Constituição não garante liberdade a uma pessoa para ela ser soberanamente egoísta”, reforçou Cármen Lúcia.

[o Brasil é um país de instituições tão esquisitas que concedem a presos condenados ao cumprimento de penas de reclusão = regime fechado = prioridade na vacinação contra covid-19 em relação aos profissionais de saúde.

Os criminosos se a pena aplicada legalmente for realmente cumprida tem que ficar isolados (isolamento total, sonhado pelos arautos do pessimismo para as pessoas de bem)portanto, livres da pandemia. Já os profissionais de saúde correm risco de contágio no dia a dia, seja no trabalho ou mesmo no deslocamento em coletivos superlotados = querem obrigar o cidadão a ficar em filas quilométricas - mantendo distanciamento de 1 a 2 metros - ,  aguardando o coletivo e quando este chegam são obrigados a manter  um distanciamento de, se muito, dez centímetros.]

O ministro Alexandre de Moraes lembrou as mais de 180 mil mortes e disse que o momento não permite “demagogia”, “hipocrisia”, “obscurantismo” e “ignorância”. Faltou combinar com o capitão e seus aspones.  Em mais uma aglomeração no Planalto, o novo ministro do Turismo discursou contra as medidas de distanciamento social. Ele também defendeu a realização de festas de réveillon com até 300 pessoas “A gente tem que viver a vida, não dá para morrer por antecipação”, disse.

Entre um disparate e outro, o sanfoneiro do Alvorada fez uma serenata de bajulação. Sem corar, Gilson Machado afirmou que Bolsonaro está “recuperando a autoestima de todo o povo”. “Aonde o senhor vai, o povo lhe aclama”, derramou-se, de olhos postos no chefe. No segundo palanque do dia, o presidente retomou a cruzada contra a vacina. Ele tentou assustar a claque com efeitos colaterais inexistentes, que fariam mulher cultivar barba e homem falar fino. “Se você virar um jacaré, é problema de você, pô”, pontificou.

Como a ignorância é contagiosa, o capitão continua a engordar seu rebanho. No último domingo, o Datafolha informou que cresceu de 9% para 22% a fatia de brasileiros que não querem se imunizar contra o coronavírus. E 52% acham que Bolsonaro não tem nenhuma culpa por tantas mortes no país. [o fato deste Blog ter apenas dois leitores, reduz o alcance da divulgação do nosso desafio, que ora repetimos: nos apresentem uma só morte por covid-19 causada por efeito dos comentários sobre a pandemia, apresentados pelo presidente da República. 
Vale lembrar: o nosso presidente não comenta  as doenças, digamos, tradicionais, que continuam matando mais que a covid-19:
- neste ano de 2020,  de 1º jan a 15 out morreram mais de 350.000 pessoas de infarto, avc e doenças ligadas ao sistema cárdio vascular - mais do dobro das vítimas da covid 19, até 10 deste mês; 
- em 2019, de janeiro a setembro morreram por doenças respiratórias mais de 160.000 brasileiros.]
 
Bernardo M. Franco, colunista - O Globo

sexta-feira, 31 de julho de 2020

Pico da pandemia já passou, segundo registros de óbitos por Covid-19 nos cartórios - Cristina Graeml

Pandemia no Brasil

O pico da pandemia já passou. Foi em maio segundo registros de óbitos por Covid-19 nos cartórios brasileiros. Eu sei que você cansou de ver notícias recentes de que a doença estava fazendo mais de mil vítimas fatais por dia no Brasil. Os números "oficiais", aqueles repassados pelos secretários de saúde dos municípios às secretarias dos estados e, destas, para o Ministério da Saúde, falavam em 1,1 mil mortes diárias; 1,2 mil até 1,4 mil.

Só que isso não aconteceu. Não sou eu que estou dizendo. São as estatísticas oficiais dos cartórios de registro civil, onde são registrados os óbitos. Pegando os cartórios como referência vemos que há algo errado nas informações que nos passam todos os dias: o pico da pandemia já ficou para trás faz algum tempo! Essa fonte não tem como questionar, porque se a morte não for registrada em cartório, onde é emitido o atestado de óbito, a família da pessoa que morreu não pode fazer o enterro ou a cremação do corpo.

Antes de mais nada é preciso reforçar uma explicação fundamental. Esses números de mil e poucos mortos por dia que a imprensa divulga, porque são os oficiais constantes no portal do Ministério da Saúde, costumam ser a soma das notificações de mortes repassadas pelos estados. Só que tem cidades e estados mais organizados, que conseguem levantar os números diariamente, e outros que demoram para confirmar as mortes, atualizar a estatística e, quando fazem isso, informam mortes ocorridas ao longo de vários dias seguidos - um pacote inteiro de informações, às vezes referentes a até mais de uma semana.

Na planilha do Ministério da Saúde, que qualquer um pode acessar buscando por Coronavírus Brasil (e você pode conferir clicando aqui), os números são atualizados por data de notificação. Assim, se uma cidade passar quatro dias sem informar nada e depois, num único dia, disser que houve 80 mortes, por exemplo, a site e o aplicativo do Ministério da Saúde jogam essas 80 mortes na data em que a informação chegou. Vai parecer que nos dias anteriores ninguém morreu e no dia tal, de repente, houve 80 mortes. Para conferir como os números "oficiais" informados por estados e municípios são diferentes das mortes efetivamente ocorridas a cada dia basta olhar o portal da transparência Covid-19 dos cartórios. Vou pegar a data de quarta-feira, 29 de julho como exemplo.

Nesta data o Ministério da Saúde recebeu dos estados a confirmação de mais 921 mortes, não necessariamente ocorridas na quarta-feira. No portal da transparência dos cartórios de registro civil do Brasil, que você também pode achar facilmente na internet buscando por mortes cartórios (ou clicar direto aqui), no dia 29 de julho foram registrados 304 óbitos por suspeita ou confirmação de Covid-19. É um terço das que tinham sido notificadas naquele dia ao Ministério da Saúde. Como eu disse no começo do artigo nesta análise optei por usar como base apenas os óbitos registrados em cartório, porque ali não tem confusão: a pessoa morre, o parente pega o laudo médico com a causa da morte e vai no cartório fazer o registro.

Pico da pandemia no Brasil
Ninguém fala disso, mas o pico da pandemia no Brasil já passou, foi em maio. Pelo menos é o que aparece no gráfico do portal da transparência dos cartórios, que tem um painel só com o registro de mortes por suspeita ou confirmação de Covid-19. Clicando por data específica no gráfico aparece que no começo de maio eram registrados por dia entre 630 e 650 novos óbitos. O número foi subindo até chegar ao ponto mais alto no dia 25 de maio, quando morreram 997 brasileiros de Covid-19. Veja que não chegou a mil.

Nos cartórios de registro civil em nenhum dia desde o início da pandemia foram registrados mais de mil óbitos. O recorde foi 997 mortos no dia 25 de maio. Depois esse número começou a cair. No site dos cartórios de registro civil a curva mostra que nas duas últimas semanas de maio e na primeira semana de junho morreram todos os dias mais de 900 pessoas. Depois a queda é gradual; pequena, mas gradual. Na segunda e terceira semana de junho houve o registro diário de mais de 800 mortes (entre 800 e 900). No fim do mês de junho caiu mais um pouco, para a faixa entre 700 e 800 mortes diárias. E ficou assim por mais 3 semanas até a metade de julho.

Desde o dia 22 de julho a queda passou a ser mais acentuada, com 600 e poucos registros de óbitos por dia; depois 500 e poucos; 400 poucos... Em uma semana, no dia 29, já estava em 304. Como eu disse antes os cartórios chegaram ao fim de julho registrando um terço das mortes diárias informadas ao Ministério da Saúde por estados e municípios. Por que a soma dos números que chegam às secretarias de saúde supera as 900 mortes diárias é um mistério.

Ao longo dos últimos meses surgiram muitas hipóteses e até denúncias de que o número de mortos por Covid-19 foi superestimado por alguns governantes para justificar a compra de equipamentos e a construção de hospitais de campanha. Não há comprovação disso, mas já se sabe de desvios de verbas públicas durante a pandemia; já existe até ex-secretário de saúde preso e prefeitos e governadores ameaçados de impeachment.

Contradições nos números de mortos
Fato é que nem o total de mortes por Covid-19 registradas em cartório bate com os dados informados ao Ministério da Saúde e registrados no boletim oficial, em que a imprensa costuma se basear. Pelo boletim, o Brasil já superou a marca dos 90 mil mortos. Nos cartórios, de 16 de março (data da primeira morte confirmada pela doença no país) até esta quarta, 29 de julho, foram 83.561 óbitos. A diferença é de 6,5 mil mortes!

6,5 mil corpos não se escondem por aí. A diferença pode estar na chamada causa mortis. Estados e municípios podem realmente ter informado ao Ministério da Saúde que milhares de pessoas que morreram por outros motivos tiveram Covid-19 e faleceram em consequência da doença, sendo que não foi esta a causa real apontada pelos médicos que emitiram os laudos usados pelos cartórios como referência para emitir os atestados de óbito.

Chego a esta hipótese após analisar outras estatísticas dos cartórios, as que apontam as mortes por doenças diferentes e até por causas indefinidas. Veja que curioso: do ano passado pra cá caíram as mortes por infarto, AVC, insuficiência respiratória... Será que está mesmo morrendo menos gente de problemas cardíacos e respiratórios do que antes ou as estatísticas dos últimos anos se mantêm, mas como esses doentes contraíram coronavírus, a causa mortis registrada foi Covid?

O que chama especial atenção é o gráfico das mortes por pneumonia. No portal diz que em 2019 (de 16 março a 29 julho) morreram de pneumonia no Brasil 90.052 pessoas – número praticamente igual ao das vítimas de Covid. Esse ano, no mesmo período, a pneumonia fez 30% menos vítimas fatais: 61.227 pessoas. É no mínimo estranho que, de um ano para o outro, de repente, a diferença de pessoas que morrem da mesma doença caia tanto.

Pessoalmente não acredito que este ano esteja sendo diferente dos anteriores em relação à pneumonia. Como falei antes, é possível que o número de pessoas que tiveram a doença no primeiro semestre de 2020 e morreram por isso seja mais ou menos parecido com o do ano passado, só que este ano contraíram também o coronavírus, que acabou sendo apontado como o causador da morte. Deixo as conclusões para você, mas gostaria de saber sua opinião. Você confia mais nas estatísticas do cartórios, que emitem os atestados de óbito, ou das secretarias municipais e estaduais de saúde, que abastecem a planilha do Ministério da Saúde?

Acha que o pico da pandemia foi em maio; depois passamos pelo chamado platô em junho e comecinho de julho e, agora, já estamos vendo a curva de mortes cair? Ou prefere continuar olhando para o número de mil mortes por dia, como se estivéssemos, agora, no pico da pandemia? Não é uma questão de ser negacionista, como virou praxe dizer por aí, mas de ser realista. Eu acredito nos registros oficiais dos cartórios.

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    Só falam de mortos e doentes, mas os recuperados são celebrados com festa! 

Cristina Graeml, jornalista - Gazeta do Povo - Vozes