Bernardo Mello Franco
GENERAL EM CAMPANHA
Ministro da Defesa vira cabo eleitoral de Bolsonaro e tenta intimidar TSE
O ministro da Defesa apontou a espada para o pescoço da Justiça Eleitoral. Na sexta-feira, o general Paulo Sérgio Nogueira tentou enquadrar o presidente do TSE. Em papel timbrado, lançou novas suspeitas sobre a urna eletrônica e endossou a retórica golpista de Jair Bolsonaro.
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A alegação de desprestígio é infundada. Os integrantes das Forças
Armadas receberam mais privilégios do que qualquer outra categoria nos
últimos quatro anos. Foram favorecidos na reforma da Previdência,
acumularam salários acima do teto e abocanharam mais de seis mil cargos
civis no governo, sem contar o comando de ministérios e estatais.[foram escolhidos pela confiabilidade, competência e honestidade. As funções que exercem por merecimento e não por serem frutos do compadrio repugnante e da falta de patriotismo da era 'perda total'.]
A segunda parte do ofício reúne mais impropriedades. Nela, o general
Paulo Sérgio parece querer dar ordens ao presidente do TSE, ministro
Edson Fachin. “Reitero que as sugestões propostas pelas Forças Armadas
precisam ser debatidas”, escreve, embora o tribunal já tenha respondido
todos os questionamentos enviados pelo Exército.[não pode ser chamada de impropriedade um documento no qual seu autor pede resposta às sugestões que apresentou anteriormente, em um outro documento elaborado com seriedade e por convite do próprio órgão 'cobrado'. Nada mais é do que reiterar a necessidade que o primeiro documento seja analisado, debatido entre as partes para então ser respondido de forma exata e detalhada.]
Em outro trecho, o militar diz que “a todos nós não interessa concluir o pleito eleitoral sob a sombra da desconfiança dos eleitores”. Segundo o Datafolha, a ampla maioria (73%) da população confia na urna eletrônica. O general confunde o eleitorado brasileiro com a tropa radicalizada do capitão.
No ofício, o ministro da Defesa ainda propõe “incentivar-se a realização de auditoria por outras entidades, principalmente por partidos políticos”. A passagem escancara o jogo combinado entre Paulo Sérgio e Bolsonaro. Na terça-feira, o partido do presidente indicou uma empresa para auditar as eleições. A entidade escolhida pelo PL foi um certo Instituto Voto Legal, criado no ano passado por um engenheiro com formação militar.
Hoje completa-se um mês da melhor resposta que a Justiça Eleitoral já deu às tentativas de interferência dos quartéis. “Quem trata de eleição são forças desarmadas”, afirmou o ministro Fachin. A frase deveria ter encerrado de vez o assunto, mas o bolsonarismo insiste em misturar a farda com a urna.
Na quarta-feira, o general Paulo Sérgio foi à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara. Convocado para explicar o uso de dinheiro público na compra de Viagra, comportou-se como um cabo eleitoral de Bolsonaro. Ao fim da sessão, disse que o governo defende “os valores da família brasileira” e “a liberdade do nosso povo”.
O último ministro da Defesa, general Braga Netto, já subiu
oficialmente no palanque. Filiou-se ao PL e deve ser candidato a
vice-presidente na chapa de Bolsonaro. Seu sucessor deveria guardar
distância da política partidária, mas tem se empenhado em seguir a mesma
linha. Agora usa o cargo para intimidar o Judiciário e ameaçar a
democracia.[encerrando com um comentário (pergunta) que representa nossa opinião e certamente a de milhões de brasileiros: Qual o mal que pode ser causado ao sistema eleitoral do Brasil caso as próximas eleições sejam auditadas?]
Bernardo Mello Franco, colunista - O Globo