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sábado, 25 de março de 2023

Quem quer mais inflação? - O Globo

Em ambiente inflacionário, ganha mais — ou perde menos — quem tem maior capacidade de ajustar sua renda mais rapidamente Brenno Carvalho / Agência O Globo

Eis aqui alguns caminhos para o governo Lula forçar o Banco Central (BC) a reduzir juros ou, simplesmente, para infernizar a vida de seu presidente, Roberto Campos Neto, esperando que ele jogue a toalha.

Primeiro, forçar a demissão de Campos Neto por “comprovado e recorrente desempenho insuficiente”, como se diz na lei que estabeleceu a independência do BC. Seria assim: o Conselho Monetário (CMN, integrado pelos ministros da Fazenda e do Planejamento e pelo próprio presidente do BC) submete o pedido de exoneração ao presidente da República, que o encaminha ao Senado. Por maioria absoluta (41 votos), o Senado pode decretar a demissão. [impossível provar o desempenho insuficiente - não se prova o que não existe - e, por consequência,a recorrência; 
seria mais uma estupidez do Haddad e da Tebet, duas sumidades em NADA e avalizada  por um presidente apedeuta. 
NÃO PASSA e quem apoiar, vai para o primeiro item da resposta à questão proposta no título.]

Do ponto de vista técnico, não funciona. A missão principal do BC é a estabilidade de preços, a ser obtida conforme o regime de metas de inflação, que, de sua vez, segue regras públicas. O BC está cumprindo. Mantém os juros elevados porque as projeções de inflação mostram números bem superiores às metas. (Aliás, o pessoal do governo, da indústria e do comércio tem dito que o BC pode reduzir a taxa básica de juros porque a inflação está caindo. Mas não é esse o critério da lei: o que vale é a projeção de inflação estar ou não na direção das metas.)

Mas, sabem como é, o Senado faz política. Querendo, arranja os argumentos para derrubar Campos Neto. Assim, Lula precisa buscar os 41 votos. No momento, não os tem. O presidente da República tem cargos e verbas para, digamos, convencer parlamentares. Mas sairia caro, com resultado duvidoso. Um eventual novo dirigente do BC teria de mudar a opinião de toda a diretoria — que tem votado com Campos Neto.

Passa-se à segunda possibilidade: mudar as metas de inflação. Dá para fazer. É decisão do CMN, onde o governo tem a maioria. A meta para este ano é 3,25%, tolerando até um teto de 4,75%. As projeções do próprio BC sugerem que a inflação real vai a 5,8%, bem acima dos parâmetros. Mesmo com a taxa básica de juros a 13,75%. Ora, se o fixar uma nova meta de, chutando, algo como 7%, para evitar surpresas, o BC poderia já começar a reduzir os juros.

A coisa aqui está um tanto simplificada, mas é por aí. Meta maior, juros menores. Portanto — e este é o ponto principal —, para conseguir uma queda imediata do juro, é preciso aceitar que o Brasil conviverá com inflação mais alta. É uma tese defendida por muitos economistas. 
Diz que inflação tipo 2% a 3% ao ano é coisa para países desenvolvidos. Países emergentes, do segundo time, poderiam conviver com bem mais.
Historicamente, a inflação nos emergentes tem sido mais elevada. Mas é mais por pecado do que por virtude. E por razões políticas. 
Em ambiente inflacionário, ganha maisou perde menosquem tem maior capacidade de ajustar sua renda mais rapidamente
Os preços no supermercado podem subir todo dia. Os salários, mesmo quando reajustados mensalmente, sempre perdem a corrida.

De todo modo, continua a tese “heterodoxa”, um “pouco” de inflação é melhor que juros asfixiantes. É verdade que os juros altos encarecem o crédito, diminuindo o apetite de consumidores e empresários. Esfriam a economia. Mas o juro alto, por um determinado tempo, só se justifica para obter o prêmio mais à frente: preços estáveis e inflação baixa, que beneficia toda a população.

A tolerância com a inflação leva a uma aceleração dos preços, especialmente no Brasil, onde há muita indexação. A inflação de um ano será igual à do ano anterior, acrescida dos fenômenos de alta do novo período. Ou: se a meta oficial é de 7%, os empresários colocarão esse valor em seus preços, mais aumentos de custos específicos do negócio.

Já viram onde vai parar. Tolerância com um “pouco” de inflação dá numa baita aceleração de preços, exigindo remédio ainda mais amargo (juros na lua) para contê-la. 
É uma pena que ainda exista essa discussão, depois de o Brasil ter passado por hiperinflação e por amplos períodos de estabilidade. 
A comparação é fácil, não é?

Há aí ignorância, mas também uma esperteza escondida.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Coluna em O Globo

 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Carga pesada - os aposentados não podem pagar pela irresponsabilidade da Dilma e incomPTncia do Banco Central

A INDEXAÇÃO é consequência da inflação alta, não é causa

O Banco Central prometeu derrubar a inflação de 9% para 4,8%, ou seja, quatro pontos percentuais em apenas um ano, e para isso os juros vão continuar subindo. 

O maior perigo agora é a reindexação na economia. Esse risco aumentou muito com a aprovação na Câmara dos Deputados da proposta de corrigir todas as aposentadorias pelo aumento do salário mínimo.  Os deputados que votaram certamente jamais fizeram uma conta do que isso significa. A proposta ainda tem que passar pelo Senado, mas é uma demonstração de um legislativo irresponsável. Todos querem defender os aposentados, mas basta olhar os dados para saber que houve uma política deliberada de recuperação forte do salário mínimo. E mais: houve uma escolha há 21 anos de o país lutar contra a inflação indexada que nos levou à hiperinflação.

O Banco Central cometeu erros no passado que permitiram que a inflação chegasse ao nível de 9%. Mas o grande perigo agora é a dinâmica política que se estabeleceu entre um governo fraco, que não tem a capacidade de conduzir a agenda do país; e um Congresso populista que a cada dia aprova uma medida sem ver as condições em que a economia está, que escolhas fez, que riscos corre.

Na apresentação do Relatório de Inflação, ontem, o Banco Central deu a entender que todo o esforço é para conter os efeitos do tarifaço de energia ao ano de 2015. Todo mundo entendeu que isso significa continuar subindo os juros para impedir que a alta contamine o ano que vem. Com isso, ele quer exatamente evitar a propagação da inflação, lutando contra o perigo da indexação.

O grande erro do Banco Central foi ter deixado a inflação chegar ao nível a que chegou. Por ter sido leniente no primeiro mandato da presidente Dilma, agora a dose tem que ser maior, ainda que a economia esteja em recessão. O recado de ontem foi que a Selic continuará subindo pelo menos na próxima reunião, apesar de a projeção do PIB ter caído para -1,1%. Os juros altos vão tornar mais difícil a recuperação do ano que vem.

O Banco Central no ano passado seguiu o calendário eleitoral, negou que houvesse problemas com a inflação, e interrompeu o ciclo de alta dos juros meses antes das eleições. A Selic voltou a subir três dias após o segundo turno que reelegeu a presidente Dilma. Impossível negar que o aspecto político pesou mais que a justificativa técnica. Em economia, esse é um erro que sempre tem consequências, porque afeta a reputação da autoridade monetária. Agora, o BC tem que ser ainda mais duro para convencer os agentes econômicos de que está mesmo comprometido com o centro da meta, ponto ao qual jamais chegou no primeiro mandato.

Muitos equívocos foram cometidos nos últimos anos para que o país estivesse agora com uma projeção oficial de 9% de inflação, tão próxima da linha que nos levaria ao cenário da volta aos dois dígitos. A mensagem que o governo passou nos quatro anos do primeiro mandato foi a de que qualquer número até 6,5% era estar na meta. Além disso, houve repressão e manipulação de preços de energia e de combustíveis, que tiveram que ser corrigidos este ano. O governo aumentou os gastos públicos e descumpriu a meta fiscal. Tudo isso levou a taxa a ficar bem acima do teto da meta.

O BC tem dito que os preços administrados são o grande culpado da alta deste ano. Em 12 meses até maio, eles subiram 14,1%, puxados principalmente pela alta da energia elétrica. Contudo, na própria apresentação do diretor do BC Luiz Awazu Pereira, um dos gráficos mostra que os preços livres subiram 6,8% no mesmo período, ficando, portanto, acima do teto. A inflação de serviços está em 8,2%. Houve um tarifaço de energia, mas os outros preços também estão muito acima do que deveriam. O problema está disseminado.

O risco é o país ficar preso em um círculo vicioso: subir muito os juros para conter a inflação, e assim agravar a queda do nível de atividade, o que reduz a arrecadação, impedindo a recuperação fiscal do governo. A inflação é o inimigo principal e deve ser combatida, mas é muito difícil resolver uma fatura deste tamanho em pouco tempo. O BC terá que perseverar. De nada adiantará a taxa de juros subir se o Congresso aprovar aumentos de gastos sequenciais como tem feito com as despesas da Previdência.

Fonte: Coluna da Miriam Leitão