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segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Traição



O partido não é o lugar de pensamento e crítica, mas de servidão aos seus dirigentes e ao seu líder maior, Lula 



A carta de Antonio Palocci ao PT, apresentando a sua desfiliação, e a reação dos líderes partidários, acusando-o de “mentiroso” e “traidor”, expõem um certo modo de fazer política que se aparenta ao crime, subvertendo completamente o significado mesmo da moralidade. O avesso da tão anunciada política petista de renovação nacional nada mais foi do que uma demonstração de uma política criminosa. As palavras vieram a perder o seu significado.


Quem é o traidor? Aquele que fala a verdade e confessa os seus crimes? Aquele que rompe com a lei do silêncio, não mais seguindo o valor mafioso da omertá? Mais vale a coerência com os princípios partidários ou o seu total abandono? É a traição dos princípios? Um dos maiores ganhos apresentados pelo PT ao país foi o de ter sido criado como um partido munido de um corpo doutrinário, que obedecia a alguns princípios básicos como a luta pela igualdade, a redistribuição de renda e a ética na política. Mostrava também uma feição bolchevique em sua organização partidária que fazia par com os ares mais abertos subsequentes à queda do Muro de Berlim. Tal aspecto foi, porém, relegado pela opinião pública, ávida por mudança. O espírito leninista foi mitigado pela recuperação, embora tímida, de traços social-democratas.


Ocorre que o partido terminou por adotar uma outra via, que não era a propriamente revolucionária nem a social-democrata, com aspectos de ambas, porém, estando presentes, como a relativização do direito de propriedade via invasões dos ditos movimentos sociais e políticas distributivistas, que ampliaram as feitas no governo social-democrata anterior. O caminho finalmente adotado foi o de uma cooptação do Estado à maneira de uma organização criminosa, voltada tanto para o enriquecimento pessoal quanto para o fortalecimento das finanças partidárias. Os princípios foram efetivamente traídos!


Como podem, portanto, os líderes petistas acusarem Antonio Palocci de traição? Qual é a perspectiva? Por ter desnudado uma outra traição, a da máquina partidária em relação aos seus próprios princípios? Ele está sendo acusado de não ser fiel ao partido! Mas o partido foi fiel a si mesmo? A moralidade, outrora princípio partidário, tornou-se um mero instrumento de manipulação, perdendo totalmente a sua universalidade. Foi utilizada, retoricamente, para o uso dos incautos. Um ex-presidente, já réu e denunciado em vários processos, com provas abundantes contra ele, utiliza o artifício demagógico de se apresentar como o homem mais honesto do país. O que fazem os seus companheiros, na verdade seus cúmplices? Não coram e o apoiam! Um caro valor partidário foi completamente abandonado em nome da preservação da organização partidária, que surge enquanto valor maior.


O PT revela, neste episódio, toda uma estrutura partidária de cunho leninista, para não dizer stalinista. O coletivo afirma-se acima de todos os seus membros, cabendo a esses a mera obediência. Não importa o corpo doutrinário, os princípios e os valores, mas o ato de curvar-se às diretrizes partidárias. Se o partido praticou crimes, a ordem é: esqueçam e o defendam acima de tudo. Se o partido desviou-se de seus princípios: esqueçam e lhe obedeçam. O partido não é o lugar de pensamento e crítica, mas de servidão aos seus dirigentes e ao seu líder maior, Lula.


Note-se que foi aberto um procedimento de natureza “ética” em relação ao ex-ministro. Em vez de a ética significar coerência em relação a valores de natureza universal, em vez de significar a retidão no comportamento pessoal, ela ganha uma toda outra conotação, a da submissão a um comitê partidário, cuja função seria apenas a de determinar a sua punição por não ter seguido a lei do silêncio. A pena seria provavelmente a expulsão. No tempo de Stálin, com o partido gozando de poder absoluto, ela seria a tortura, a humilhação e a morte, como foi o caso, entre outros, dos célebres Processos de Moscou, que eliminaram a velha guarda bolchevique.


Lula foi elevado pelo partido às alturas do Púlpito, exigindo de todos a crença absoluta nas suas palavras, como se nelas estivesse presente a fala de um líder religioso. Diz qualquer mentira e recebe em troca não a dúvida e a crítica, mas a devoção. Os militantes tornaram-se devotos de um líder partidário, que se apresenta como figura imaculada. Já antes, no exercício do poder, excedia-se em suas bravatas, que eram, porém, cordialmente aceitas como coisa de um retirante bem-sucedido.


Acontece que o sucesso transformou aquela simpática figura do líder sindical em um governante que considerou o poder enquanto coisa sua, a ser usada a seu bel-prazer, como se limites não existissem. A corrupção tornou-se meio de governo, inclusive sob a forma do enriquecimento pessoal e de seus familiares e amigos. Os históricos líderes comunistas, nesta esfera da corrupção, não ousaram tanto. Agora, o véu desta forma esquerdista de fazer política foi levantado. O que aparece é a corrupção enquanto forma de governo, o desmonte do Estado, a desestruturação da economia e o fortalecimento da desigualdade social. A retórica, contudo, foi a do engano e da mentira, como se o país estivesse se transformando em um país de Primeiro Mundo, socialmente justo. Um líder carismático, como Lula, conseguiu transmitir a sua mensagem, ao arrepio de qualquer relação com a verdade. A prática era a política criminal, o seu véu a política distributivista, a que lhe permitiu a reeleição e a indicação de sua sucessora, que consumou o desastre da experiência petista.


A questão que se coloca aos petistas e aos seus simpatizantes é a da opção entre a crítica, com a sua subsequente renovação, e a crença na conduta religiosa de seu líder máximo. Devem escolher entre seguir uma seita e orientar-se segundo valores e princípios livremente discutidos e aplicados. Desta opção, depende a consideração de quem é ou não traidor.


Por: Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul


terça-feira, 26 de janeiro de 2016

O partido que não muda nada

Notícias sobre envolvimento de políticos oposicionistas em ações de corrupção são invariavelmente exploradas pelos líderes petistas em pronunciamentos oficiais e pela militância do partido nas redes sociais como se isso fosse capaz de justificar e legitimar o assalto aos cofres públicos praticado em dimensões oceânicas desde que Lula e sua tigrada assumiram o poder. Há corruptos, sim, também entre os políticos da oposição. Qual é a novidade? Negar essa obviedade é tão despropositado e ridículo quanto o chefão do PT se proclamar o mais honesto dos brasileiros. O que a prática generalizada da corrupção na gestão da coisa pública demonstra é que o sistema político patrimonialista em vigor desde os tempos coloniais é viciado e não serve aos propósitos de uma sociedade que se pretende moderna e genuinamente democrática. O sistema precisa urgentemente de reforma. E em 13 anos no poder o PT não moveu uma palha nesse sentido.

O fato de os petistas explorarem em benefício próprio as notícias sobre corrupção praticada pelos oposicionistas demonstra, desde logo, que essas notícias existem e são veiculadas por todos os meios de comunicação, o que desmonta o argumento de Lula & Cia. de que impera no país uma “imprensa golpista” que protege a oposição, manipula o noticiário em benefício dos interesses da “burguesia” e por isso se esmera em caluniar o PT, único e legítimo defensor dos fracos e dos oprimidos.

É verdade que a quantidade das notícias sobre a delinquência dos petistas e aliados – a rigor, cúmplices – sobrepuja em muito o número de notícias sobre as lambanças de gente da oposição. Mais uma vez, porém, qual é a novidade? Há mais de uma década o partido que surgiu para lutar contra “tudo isso que está aí” chegou à conclusão de que não adianta dar murro em ponta de faca e se entregou sem o menor constrangimento ao aperfeiçoamento das mesmas práticas que passara a vida condenando. Tudo em nome, é claro, de uma causa nobre: a perpetuação no poder da “opção popular”.

E veio o mensalão, brincadeira de criança comparada com a “privatização” da Petrobras em benefício de políticos, empresários e espertalhões de variadas especialidades. Durante anos seguidos, a partir do primeiro mandato de Lula, o assalto aos cofres das estatais foi-se tornando cada vez mais amplo e bem-sucedido, a ponto de os envolvidos na mamata nem imaginarem que a lei os pudesse alcançar. Tiveram uma surpresa com o processo do mensalão. E em março de 2014 uma operação policial de nome estranho, Lava Jato, começou a puxar o primeiro fio da meada que hoje parece inesgotável.

A partir de então, praticamente todo dia surge a notícia de um fato novo no trabalho da Polícia e do Ministério Público federais. Praticamente toda semana algum juiz, não apenas Sergio Moro, manda para a cadeia um figurão pego com a mão na massa. Os principais delitos praticados são o tráfico de influência, o favorecimento a prestadores de serviços públicos, inclusive na forma de superfaturamento, e o desvio de recursos para o fim de pagamento de propina. Crimes que obviamente só podem ser praticados com a cumplicidade de quem tem o poder de prover. O que não costuma ser o caso dos oposicionistas.

Assim, a tigrada aperfeiçoou métodos, mas não é original na essência do que faz. Há mais de meio século, os correligionários de um importante político paulista, que foi prefeito da capital e governador do Estado, proclamavam com orgulho: “Rouba, mas faz”. Hoje, a tigrada rouba, deixa roubar e não “faz”. A não ser que se considere um progresso o fato de o atual governo lulopetista estar pondo a perder os avanços que os brasileiros mais pobres 
conquistaram quando o governo Lula tinha dinheiro para investir em programas sociais.

Melhor faria agora a tigrada petista se levasse a sério o diagnóstico feito semanas atrás pelo ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Jaques Wagner: “O PT errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo Lula. E aí não mudou os métodos do exercício da política”. E agora vai mudar?

Fonte - O Estado de São Paulo - Editorial