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segunda-feira, 4 de abril de 2016

O paradoxo da presidente


Extremamente impopular, Dilma Rousseff não pode sair às ruas para se defender do impeachment que a ameaça e é obrigada a se proteger em ambientes fechados como os palácios presidenciais, que transformou em palco de comícios partidários nos quais prega para convertidos. Ela confia – como os fatos demonstram fartamente – que os veículos de comunicação se encarregarão de levar suas palavras aos brasileiros. Os mesmíssimos veículos de comunicação que o lulopetismo chama de “mídia golpista” e acusa de não abrir espaço para as notícias de interesse do governo porque conspiram contra a democracia. É paradoxal que Dilma admita por atos, embora frequentemente negue por palavras, que os veículos de comunicação cumprem seu dever de informar – sem abrir mão, é claro, de espaço para a manifestação de opinião, própria e de terceiros.


Em mais um capítulo da agenda de encontros com simpatizantes, o comício da quinta-feira passada no Palácio do Planalto foi dedicado a artistas. Obviamente em atenção à liderança de audiência da emissora no horário nobre, ignorando a palavra de ordem “abaixo a Rede Globo”, Dilma acomodou à sua direita uma estrela das novelas globais que, embora se declarando “de oposição”, fez um emocionado discurso “em defesa da democracia”, do qual, como era previsível, um flash foi ao ar.

Em sua fala de mais de meia hora, a chefe do governo persistiu na escalada contra seus opositoreschegando a sugerir que são “nazistas” – e repetiu os argumentos a que tem recorrido para se defender do impeachment, inclusive o de que não pode ser acusada de crime de responsabilidade por ter praticado as famosas “pedaladas” fiscais, porque isso “todo mundo fez”, referindo-se a seus antecessores. Essa, aliás, é a mesma desculpa que os petistas usam quando são acusados de corrupção no governo.

Desta vez, porém, Dilma deu especial destaque ao tema “intolerância política”, de que afirma ser alvo. Lançou mão, porém, de um argumento delirante: “Outro dia, uma pessoa me disse que isso (a “perseguição” que tem sofrido) parece muito com o nazismo. Primeiro você bota uma estrela no peito e diz: é judeu. Depois você bota no campo de concentração. Essa intolerância não pode ocorrer”.

Ora, é absolutamente carente de um mínimo de fundamento e credibilidade a hipótese de que remotamente paire sobre o país a ameaça de uma ditadura, no caso, de direita. Porque a ditadura de esquerda, mais propriamente “bolivariana”, é um sonho acalentado por gente graúda do lulopetismo, como o demonstram as relações do Planalto com os decadentes “governos populares” da América Latina.

A “intolerância” a que Dilma se refere é, na verdade, um traço marcante do PT. A essência do discurso populista de Lula – bem como da pregação ideológica dos setores mais radicais do lulopetismo – baseia-se na divisão do país entre “nós” e “eles” que define o campo do “nós” – eternas vítimas do “eles” – como a única e exclusiva “opção popular” de governo. Esse maniqueísmo é favorecido pelo fato de o campo do “eles” englobar uma ínfima, mas ruidosa minoria de radicais de direita, inclusive alguns saudosos da ditadura militar, bem como “picaretas” da política e notórios líderes parlamentares envolvidos até o pescoço com suspeitas e denúncias de corrupção.

É claro que importantes lideranças petistas, a começar pela maior delas, também têm contas a acertar com a Justiça, e muitas delas já estão atrás das grades. Mas os petistas, afinal, são “nós”, e o fato de serem “do Bem” compensa deslizes éticos e morais. Veja-se o fenômeno dos “guerreiros do povo brasileiro”. É exatamente esse raciocínio – ou esse sentimento, já que nisso não há nada de racional – que, à falta de argumentos mais sólidos, justifica a postura condescendente de personalidades que se deixam seduzir pelo apelo “social” e declaram apoio aos donos do poder porque não conseguem discernir os efeitos nefastos do populismo irresponsável de Lula.

E, enquanto no aconchego de seus palácios Dilma prega “tolerância”, as “organizações sociais”, como o MST e o MTST, ameaçam “tirar a paz” e “incendiar o país”.

Fonte: Editorial do Estadão 


domingo, 20 de março de 2016

Torpe e indigno

Qual é o verdadeiro Lula? Aquele que, sem saber que estava sendo ouvido, afirma que o STF e o STJ estão “totalmente acovardados”; cobra gratidão do procurador-geral da República pelo fato de ter sido nomeado pelo governo petista; classifica de “palhaçada” a denúncia de que é alvo por parte do Ministério Público; manda policiais e procuradores enfiar em lugar impublicável as investigações que o envolvem;

 ou aquele que, em “carta aberta” obviamente escrita por gente alfabetizada, tenta corrigir o devastador efeito negativo da divulgação de suas conversas telefônicas legitimamente gravadas e divulgadas – não “vazadas” – pela Operação Lava Jato?


Afirma Lula, no texto que assinou e que devem ter lido para ele –, que como presidente da República sempre respeitou o Poder Judiciário e apela ao recurso demagógico de se fazer de vítima que tem sua intimidade “violentada por vazamentos ilegais” e apela à falsa condição de pobrezinho, pessoa humilde e bem-intencionada: Não tive acesso a grandes estudos formais. Não sou doutor, letrado, jurisconsulto. Mas sei, como todo ser humano, distinguir o certo do errado; o justo do injusto”. Lula não diz a verdade. Ele, de fato, sabe o que é certo e o que é errado. Mas nunca quis saber como se distingue uma coisa da outra. Para ele, certo é tudo aquilo que faz e lhe dá prazer e proveito. Errado é o que não lhe apraz ou pode prejudicar.

Tem sido sempre assim. Reeleito presidente, passou a demonstrar completo desrespeito pelo Judiciário, ofendendo gravemente o STF com a afirmação de que o processo do mensalão era uma farsa que ele trataria de desmontar depois que deixasse o poder. Mas então o petrolão já estava funcionando a pleno vapor e acabou com a fanfarronice do chefão petista.

O perfil moral do ex-presidente foi descrito, em palavras duras, pelo decano da Suprema Corte, ministro Celso de Mello, ao repudiar, sem citar nomes, as “ofensas” e “grosserias” de que os ministros togados foram alvo por parte do ex-presidente: “Esse insulto ao Judiciário, além de absolutamente inaceitável e passível da mais veemente repulsa por parte dessa Corte Suprema, traduz, no presente contexto da profunda crise moral que envolve os altos padrões da República, a reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes que não conseguem esconder, até mesmo em razão do primarismo de seu gesto leviano e irresponsável, o temor pela prevalência da lei e o receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de juízes livres e independentes”. 

 Várias entidades representativas de juízes, do Ministério Público e dos policiais também repudiaram a tentativa de desqualificar o trabalho da força-tarefa da Lava Jato e do juiz Sergio Moro.  A verdade é que Lula, hábil manipulador e especialista em dizer o que as pessoas querem ouvir, subiu na vida no papel de líder populista, pragmático no pior sentido do termo, sem nenhum compromisso sério senão com a crescente volúpia pelo poder. Inculto, mas espertalhão, Lula deu um nó nos intelectuais esquerdistas que se iludiram com a possibilidade de manipulá-lo e, com indiscutível apoio popular, fingiu converter-se à política econômica que vinha produzindo resultados e se elegeu à Presidência da República para amoldar a seu feitio o “novo regime”: uma ação entre amigos com sotaque nitidamente sindical.

Enquanto a economia permitiu, o governo Lula mergulhou fundo em programas sociais indiscutivelmente meritórios, mas insustentáveis quando o panorama mundial se tornou adverso e a incompetência de Dilma Rousseff impediu as necessárias correções. Hoje, com o governo se desintegrando politicamente, inflação e desemprego crescentes e sem recursos para investir em programas estruturantes, os brasileiros caíram na real. Já não têm ilusões e isso os faz lutar por seus próprios direitos e interesses, o que significa pôr-se do lado oposto do governo responsável por suas frustrações.

Lula, porém, parece acreditar que ainda conseguirá sobreviver ao desastre político, econômico e moral que montou. Mas isso ficou muito mais difícil a partir do instante em que as autoridades começaram a revelar à Nação, com detalhes, os esquemas de corrupção que vêm sustentando o lulopetismo. E, nesse processo, ficou exposta a verdadeira face de Lula, esse populista irresponsável que procura dissimular sua verdadeira condição de abastado burguês para manter a pose de líder popular que compartilha o destino dos pobres.

Fonte: Editorial do Estadão


terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

A queda do marqueteiro



A decretação da prisão de João Santana, o poderoso marqueteiro das campanhas presidenciais de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, é um dos desdobramentos mais graves de toda a Operação Lava Jato. Embora a força-tarefa tenha enfatizado que seu trabalho, ao menos por ora, não é investigar campanhas eleitorais, o nexo entre Santana e o desvio de dinheiro da Petrobras para financiar a eleição de petistas salta aos olhos.

Seja lá que versão os magos da impostura a serviço do PT inventarão agora para explicar o que fizeram Santana e seus encalacrados clientes, o fato é que está por um fio a linha de defesa de Dilma a respeito da lisura de sua campanha – ela insiste em que o financiamento da campanha eleitoral foi considerado legal pelo Tribunal Superior Eleitoral e, por essa razão, tudo o mais seria irrelevante. Tal alegação, como hoje está mais claro do que nunca, faz troça da inteligência alheia e não pode ser aceita sem ressalvas pela Justiça.

Batizada de “Operação Acarajé”, em alusão ao termo que alguns investigados usavam para se referir à propina, a nova redada da Polícia Federal teve como alvos João Santana e a Odebrecht. A empreiteira teria usado empresas offshore para movimentar contas ocultas no exterior e depositar US$ 7,5 milhões na conta de outra offshore, que seria do marqueteiro.

O dinheiro, pago em diversas parcelas entre 2012 e 2014, seria proveniente da Petrobras e serviria para quitar despesas de campanhas do PT de 2008 a 2012. O intermediário da transação seria Zwi Skornicki, representante do estaleiro Keppel Fels, de Cingapura, que entre 2003 e 2009 fez negócios com a Petrobras no valor total de US$ 6 bilhões. Skornicki, apontado pelo ex-gerente da Petrobras Pedro Barusco como o operador do repasse de US$ 40 milhões para diretores da estatal e para o PT, foi um dos presos na operação.

O cerco a João Santana leva a Lava Jato a uma nova dimensão. Atinge o estrategista das agressivas campanhas petistas das eleições presidenciais de 2006 a 2014, que ajudaram a criar o clima de antagonismo que hoje cinde o país. A cada novo sucesso de Santana, consolidava-se sua aura de gênio eleitoral e, com ele, a lamentável certeza de que não se ganha eleição no Brasil sem apelar ao marketing agressivo.

Foi assim que Santana amealhou notoriedade. É inesquecível sua estratégia na eleição de 2014, que Dilma venceu depois de agredir todos os seus adversários. A arrogância dos petistas ficou especialmente clara nas palavras do marqueteiro, que declarou, um ano antes do pleito, que “a Dilma vai ganhar no primeiro turno, em 2014, porque ocorrerá uma antropofagia de anões” – uma referência aos outros candidatos. “Eles vão se comer, lá embaixo, e ela, sobranceira, vai planar no Olimpo”, arrematou Santana, talvez movido pela confiança de quem sabia que a campanha petista tinha enorme vantagem sobre as demais porque podia contar com a incalculável pecúnia proveniente da roubalheira na Petrobras.

Como se sabe, no entanto, o prognóstico do confiante Santana não se confirmou Dilma teve de apelar às táticas de atemorização do marqueteiro para vencer um duro segundo turno. O custo desse sucesso imoral está sendo pago em dolorosas prestações até hoje, na forma de grande impopularidade.

Enquanto isso, Santana continuou a posar de guru dos candidatos “progressistas” latino-americanos. No momento em que se expediu o mandado de prisão contra o marqueteiro, ele estava na República Dominicana, onde coordenava a campanha à reeleição do companheiro Danilo Medina, que desde sempre contou com o apoio de Lula e cujo governo, logo após uma visita do chefão petista em 2013, entregou uma obra de R$ 2 bilhões à Odebrecht, com crédito do BNDES.

Medina provavelmente terá de encontrar outro marqueteiro, porque o poderoso Santana, principal conselheiro tanto de Dilma como de Lula em momentos de crise, tem contas a acertar com a Justiça. Desde já, porém, pode-se dizer que a importância do avanço da Lava Jato contra Santana não está nos apuros desse personagem, e sim na evidência inapelável de que, nas campanhas eleitorais petistas, “fazer o diabo” não era mera força de expressão.

Fonte: Editorial – Estadão


sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Militância truculenta



Também é com violência, chicanas e mentiras que os petistas defendem seu grande líder, Luiz Inácio Lula da Silva, das suspeitas de que esteja ocultando patrimônio e que se tenha beneficiado de suas relações fraternas com empreiteiros de grosso calibre. É o que resta à tigrada, pois Lula não lhe dá alternativa: sem conseguir elaborar uma explicação convincente para os “presentes” que recebeu daquela turma da pesada, envolvida de corpo e alma no petrolão, o ex-presidente prefere tratar como inimigos todos os que estão a lhe cobrar esclarecimentos, o que explica a reação selvagem por parte dos que ainda se dispõem a segui-lo.

Não que a atitude belicosa dos petistas seja propriamente inesperada. Não é de hoje que gente grossa do partido prefere o caminho do confronto para intimidar aqueles que considera seus oponentes – e, uma vez criado o conflito, os petistas posam de vítimas da truculência dos “inimigos da democracia”.

Foi o que aconteceu na quarta-feira passada, quando os sindicatos ligados ao PT arregimentaram algumas centenas de manifestantes para expressar apoio a Lula diante do Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. O ato fora organizado em razão do esperado depoimento do ex-presidente e de sua mulher, Marisa Letícia, sobre o mal explicado caso do triplex no Guarujá. O depoimento havia sido suspenso no dia anterior, graças a uma manobra petista contra o procurador do caso, mas mesmo assim os sindicalistas decidiram manter o protesto.

Com clara disposição para a provocação, os petistas chamaram para a briga um punhado de manifestantes que ali estavam para protestar contra Lula. Os apoiadores do ex-presidente recorreram à força quando o grupo adversário tentou inflar o famoso boneco que retrata Lula como presidiário. Considerando-se ofendidos pelo tal boneco, os petistas fizeram de tudo para furá-lo, enfrentando não apenas os manifestantes anti-Lula, mas os policiais que estavam tentando apartar os grupos. A PM teve dificuldades para conter os arruaceiros.

Passado o incidente, o PT, a despeito do que mostram as imagens, julgou-se vítima da “política truculenta da PM comandada pelo PSDB, que resiste em conviver com o direito democrático de manifestação”. Na mesma nota, o partido chegou ao cúmulo de dizer que a polícia “comandada pelo governador Geraldo Alckmin” atuou “em proteção ao boneco da imagem do ex-presidente”, o que jamais aconteceu.

Mas é inútil esperar que os militantes petistas demonstrem alguma estima pela verdade. Nisso agem estritamente de acordo com o manual do mestre Lula, que ensina a mentir sem corar. Numa de suas mais recentes aulas de descaramento, o mandachuva do PT, quando questionado sobre o fato de que uma operadora de telefonia camarada instalou uma antena de celular perto do sítio que ele frequenta como se fosse seu, em Atibaia, mandou dizer simplesmente que “nem tem telefone celular”.

Lula também quer que todos acreditem, conforme se lê em uma das furibundas notas oficiais emitidas por seu instituto, que o fato de ter mandado boa parte de sua mudança para o tal sítio quando deixou a presidência não tem nada de mais, pois tudo foi feito “com o consentimento dos proprietários, que são amigos de Lula e de sua família há décadas”. Aqueles que ousam desconfiar dessas e de outras tantas explicações esdrúxulas fazem parte, segundo o Instituto Lula, “da ruidosa guerra que os grandes meios de comunicação movem contra o ex-presidente desde 2002”.
É assim, expressando-se em termos que incitam seus seguidores à violência, recorrendo a manobras capciosas para não se ver obrigado a falar a verdade nos foros adequados e esforçando-se para inventar uma conspirata onde só há perguntas legítimas, que Lula pretende esquivar-se de dar explicações para a incrível generosidade de seus amigos empreiteiros, classificada por Gilberto Carvalho, seu notório escudeiro, como “a coisa mais natural do mundo”.

Fonte: Publicado no Estadão - Editorial do Estadão