LIXO MORAL – O assassino do médico Jaime Gold vira vítima e herói; no fim das contas, culpada é a classe social do morto
O
lixo moral dos nossos dias é asqueroso. Ele transforma algozes em
vítimas; vítimas em algozes. Inverte a lógica das responsabilidades.
Impõe ao homem comum, que trabalha, que estuda, que luta para ganhar a
vida, a pergunta permanente: “O que você pode fazer em benefício daquele
que aponta um arma contra a sua cabeça? Onde está a sua culpa na facada
que você levará um dia?”.
Faz sucesso
nas redes sociais a matéria do jornal Extra, do Rio, sobre o menor de
idade que assassinou o médico Jaime Gold, de 56 anos, na última terça. A
reportagem conta a trajetória do adolescente de 16 anos, apreendido
pela primeira vez em 20 de junho de 2010, aos 11, acusado de roubar um
celular e dinheiro de um pedestre na Lagoa Rodrigo de Freitas. Sob a
manchete “Duas tragédias antes da tragédia – Sem família e sem escola”, o
jornal transforma o jovem em vítima das circunstâncias.
Leiam este
trecho: “O pai, ele só viu duas vezes. A mãe, catadora de latas, foi
indiciada por abandoná-lo com fome na rua. A outra barreira de proteção
ao menor também falhou: ele desistiu dos estudos no sexto ano. E a
recíproca foi verdadeira, a escola também desistiu dele”.
Viram só?
Não foi ele quem deu as facadas em Jaime Gold, mas as circunstâncias,
especialmente a escola que teria “desistido” dele. Está
chegando às bancas o livro “Podres de Mimados – As consequências do
sentimentalismo tóxico”, do psiquiatra inglês Theodore Dalrymple.
Transcrevo um trecho em que ele caracteriza uma distorção moral, que
teve início com o que chama “era do sentimentalismo romântico”:
“A exibição de vícios tornou-se prova
de que [o homem] foi maltratado. Aquilo que se considera defeito moral
tornou-se condição de vítima, consciente ou não, e, como a humanidade
tinha nascido feliz, além de boa, a infelicidade e o sofrimento eram
igualmente prova de maus-tratos e de vitimização. Para restaurar no
homem seu estado original de felicidade e bondade, era necessária,
portanto, uma engenharia social em larga escala. Não surpreende que a
revolução romântica tenha levado à era dos massacres por razões
ideológicas”.
É brilhante!
Os humanistas do pé quebrado, no fim das contas, são potenciais
assassinos em massa. Se o homem nasce puro e é corrompido por uma
sociedade má, ele é inimputável, e a culpada é da dita-cuja. Logo, ou
refazemos a civilização, ou não há esperança. Para tanto, será
necessário que uma força de vanguarda, mais consciente do que a plebe
rude, faça esse serviço.
Os fascistas tomaram a tarefa para si. Os comunistas também. Deu no que deu. Uns e outros
se esqueceram de que os indivíduos devem responder por seus atos. Só os
liberais, coitados, que apanham todo dia da imprensa de esquerda, se
incomodam com isso.
É o lixo moral e tóxico dos nossos dias.