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sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Batendo continência

O ‘sacrifício’ da Previdência é para quase todos, não para os militares das três Forças

Quem dá uma olhada na agenda do presidente Jair Bolsonaro nota que, desde a posse na semana passada, ele privilegia um setor da vida nacional: o militar. São almoços, jantares, posses, reuniões, e não só com o contingente do Exército no Planalto, mas com oficiais das três Forças. Pela ordem, Exército, Marinha e, lá no fim, mais distante, a Aeronáutica.
Hoje, Bolsonaro participa às 11h de um dos momentos mais densos nessa agenda das Forças Armadas: a transmissão de cargo no Exército. Sai o general Eduardo Villas Bôas e assume o Comando o também general de quatro estrelas Edson Leal Pujol. Uma posse com forte carga de simbologia e emoção, pois Villas Bôas teve papel importante na consolidação do projeto de vitória de Bolsonaro e sofre de uma doença degenerativa grave.
Além disso, a agenda de Bolsonaro nesta semana incluiu almoço na Marinha e, dois dias depois, trajeto de lancha e participação na posse do novo comandante da Força, almirante Ilques Barbosa Júnior. Incluiu também a transmissão de cargo no Comando da Aeronáutica, para o brigadeiro Antonio Carlos Bermudez, e jantar com oficiais das três Forças. Não é obrigação, é prazer de velhos camaradas. O problema começa quando o governo prepara os ânimos da sociedade para a reforma da Previdência e a equipe econômica opina que, já que as medidas serão duras, o ideal é que Bolsonaro dê “o exemplo” e admita cortar na própria carne. Significa cobrar sacrifícios também dos militares. [na suposição de ser pacífico o entendimento que a carreira militar tem peculiaridades que a diferenciam de outras carreiras - públicas ou privadas - resta óbvia a necessidade de tratamento diferenciado.
Aos que recebem mais benesses medidas mais duras - no sentido de cortar de quem tem o que ser cortado; 
sendo menores os privilégios, o corte tem que ser menor. 
 
Até aí tudo bem. O que surpreende é que todos que a quase unanimidade dos que se manifestam é no sentido da aplicação de medidas mais duras, sem detalhar as vantagens que justifiquem tal dureza.
 
Ser duro, apenas para mostrar uma inexistente igualdade?]
 
O discurso faz sentido, mas entre as palavras e os atos existem dois obstáculos: a força das corporações, particularmente a militar, e a ligação (ou religação) de Bolsonaro com suas origens. Sem contar que os ministros civis Onyx Lorenzoni e Gustavo Bebianno são duas ilhas num Planalto lotado de generais por toda parte.
Manchete de ontem do Estado mostra que o rombo da previdência dos militares é de R$ 40,5 bilhões e foi o que mais cresceu de 2017 para 2018: 12,5%, quando o dos servidores civis aumentou 5,22% e o do INSS, 7,4%. Metade dos militares se aposenta entre 45 e 50 anos, com média de aposentadoria de R$ 13,7 mil. No INSS, R$ 1,8 mil.

Dados contundentes, mas os militares alegam que têm carreiras diferenciadas, mudam várias vezes, suas mulheres não conseguem se firmar num emprego, não podem fazer greve, não têm horas extras nem FGTS. Consideram-se um “seguro” para o País e seguros eficazes custam caro.
Em fila, o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo e Silva, o ministro da Secretaria de Governo, general Santos Cruz, e o comandante Ilques Barbosa já se manifestaram, em discursos e entrevistas, contra a inclusão dos militares na reforma que, em resumo, é “de todo mundo”. Insistem num regime diferenciado e não falam sobre idade mínima, uma questão-chave na previdência “dos outros”, os servidores civis e os trabalhadores do INSS.
Além disso, os militares pedem e Bolsonaro já acenou positivamente – a revisão da MP 2.215, de 2001, último ano de FHC, que mexeu, por exemplo, no auxílio-moradia e na promoção automática de patente na passagem para a reserva. São questões que envolvem mais do que direito, justiça ou injustiça. O maior problema econômico são o inchaço da máquina pública, o rombo nas contas e o peso da Previdência nisso. Como diz o pessoal de Paulo Guedes, todos têm de dar sua parte no sacrifício. Corte para todos e privilégios e mais gastos só para militares seria politicamente ruim e um marketing negativo para o governo, os militares e o próprio Bolsonaro.
Mal comparando, é como a promoção do filho do vice Mourão no Banco do Brasil, com o triplo do salário. Não se questiona a competência do rapaz, mas, sim, a oportunidade. Bom para o governo não é.
 
Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo
 
 

quarta-feira, 27 de junho de 2018

A realidade e o marketing

Lula enfrenta Palocci e Valério, PSDB foge da festa e Bolsonaro só se diverte


As sucessivas derrotas para obter ao menos prisão domiciliar são apenas uma parte das agruras do ex-presidente Lula. E a menor delas. Com a decisão do Supremo de liberar a Polícia Federal para acordos de delação premiada – uma prerrogativa até então do Ministério Público –, dois outros fantasmas rondam a cela de Curitiba: Antonio Palocci e Marcos Valério. Eles sabem das coisas. E estão abrindo a boca.

Palocci é Palocci, o homem forte do início do governo Lula, o homem forte do início do governo Dilma Rousseff, a ponte entre o PT e o mundo financeiro e apontado por Marcelo Odebrecht como gerenciador pessoal das contas secretas de Lula na empreiteira. Imagine-se o que o ex-ministro pode contar para amenizar sua pena…  Quanto a Marcos Valério: ele acaba de emergir das profundezas do mensalão do PT como um fantasma ferido, traumatizado, inconformado por não passar de um operador, mas ter sido condenado à mais dura de todas as penas na estreia do PT no inferno dos escândalos de corrupção. Uma pena que, segundo o próprio Valério, corresponde a prisão perpétua.

Em entrevista à revista eletrônica Crusoé, Valério repetiu a mesma tática de Palocci num depoimento ao juiz Sérgio Moro: não passou informações objetivas, mas mandou recados graves a quem interessar possa. Um desses recados, o mais contundente, é de que ele está “amargamente arrependido” de não ter contado tudo o que sabia sobre o envolvimento de Lula, então presidente, no mensalão.  Tanto Palocci quanto Valério focam em Lula por um ótimo motivo – do ponto de vista deles, claro. Como a situação de ambos na justiça é gravíssima, têm de jogar um anzol de bom tamanho, e com isca apetitosa, para fisgar o peixe mais graúdo da Lava Jato e de seus desdobramentos conexos para terem alguma chance de ganhar as graças da PF e reduzir suas penas.

O prêmio é (ou deveria ser) equivalente à importância da delação. Se apenas choverem no molhado, contando o que Moro, o MP e a própria PF já sabem, mirando em bagrinhos e sardinhas, nada feito. A delação não encanta, o prêmio murcha.  É espantoso que Lula, condenado em segunda instância e preso, seja convocado como comentarista da Copa do Mundo e ganhe um espaço privilegiado como palanque de uma candidatura à Presidência que não passa de miragem. É um meio descarado de campanha eleitoral, pois não?

Lula, porém, já está pagando sua pena, continua sob pressão do sítio de Atibaia, do Instituto Lula, dos caças da FAB, da operação Zelotes e agora enfrenta as ameaças de Palocci e Valério. Logo, o PT anda em maus lençóis, com um candidato que nem pode ser candidato nem permite alternativas. Mas o que dizer do PSDB, contraponto direto ao PT durante décadas? Triste? Constrangedora? Lamentável? Difícil escolher um adjetivo para definir a decisão do partido de comemorar hoje seus 30 anos não apenas sem festa, mas às escondidas. Ano eleitoral é hora de se expor, de aparecer, de disputar espaço e mídia. Mas os tucanos abdicaram do auditório Nereu Ramos, na Câmara, onde a sigla foi lançada em meio à Constituinte de 1988 e com a promessa de “ser diferente”. E vão se trancar num hotel de Brasília.

A conclusão imediata é de que o PSDB está acuado, tem medo de a festa se transformar em pesadelo e de as perguntas ficarem em cima das agruras de Aécio Neves na Justiça, da prisão de Eduardo Azeredo, das denúncias contra o ex-secretário de Alckmin em São Paulo.  Enquanto PT e PSDB sofrem, Bolsonaro se diverte. Seu vídeo no barbeiro, com as ideias rasas de sempre, sacode as redes sociais. Irrita os letrados, mas é um inegável sucesso de marketing político moderno.

Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo