Quem se beneficia dessa covid-19 sem fim?
A pandemia da covid-19 acabou. O diagnóstico partiu dos especialistas
mais confiáveis — aqueles que acertaram suas interpretações dos dados
durante a pandemia, em especial John Ioannidis, da Universidade de
Stanford.
É o estágio no qual deveríamos estar com relação à covid-19 neste momento. Se o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos anunciasse amanhã que a pandemia acabou, aqui estão algumas das grandes mudanças a que deveríamos assistir:
- não haveria mais testagem de grandes parcelas da população. O resultado desses testes, a menos que se estivesse tentando limitar a proliferação da doença ou localizar áreas de infecção especificamente alta, é insignificante: mesmo que a população tenha resultado positivo nos testes, não é preciso tomar nenhuma atitude. Todo mundo será exposto ao vírus em algum momento, e muitos de nós já fomos. A maioria não vai lidar com sintomas graves nem vai morrer;
- não haveria mais justificativa para a obrigatoriedade do uso de máscaras em nenhum lugar — nem nos transportes, nem nos serviços de saúde, nem nas escolas. Indivíduos que se sentirem mais protegidos cobrindo o rosto poderiam continuar usando máscara, mas ninguém precisaria fazê-lo por causa da covid-19. Lembrete: a justificativa para a OBRIGATORIEDADE do uso de máscaras é que, quando todos usam máscara, isso supostamente diminui a velocidade de alastramento da doença. Se não estamos mais nos preocupando com a rapidez, a vagarosidade ou até mesmo se a doença está se espalhando, essa obrigatoriedade deixa de fazer sentido. (O que não é a mesma coisa que dizer que as máscaras não funcionam, trata-se de uma questão diferente.);
- não haveria razão para a obrigatoriedade da vacina, para passaportes de vacinação nem para longas discussões sobre vacinar crianças ou qualquer pessoa. Quem quiser se vacinar ou aos seus filhos pode fazê-lo. E quem não quiser se vacinar não estará colocando ninguém em risco.
Por que então nenhuma dessas coisas aconteceu ainda?
A resposta inclui todos os componentes do complexo industrial pandêmico: políticos, a burocracia da saúde pública, grande parte da mídia, os fabricantes de máscaras, testes e vacinas e o segmento do público cujas ansiedades e sinalização obsessiva de virtude mapeiam perfeitamente o pânico da pandemia.
Nós nos encontramos em um estado louco de limbo: não existe mais uma grave ameaça da covid-19 (como o próprio Anthony Fauci admitiu). No entanto, estamos apegados às reações cuja única justificativa era lidar com a grave ameaça da covid-19.
Estamos apegados às reações cuja única justificativa era lidar com a grave ameaça da covid-19
…os políticos que lidaram com suas bases apoiando as medidas mais draconianas (e demonizando qualquer um que as questionasse, como se fossem assassinos negacionistas de bebês) terão de encontrar novas razões para retratar seus oponentes como monstros. (Sim, estou falando de vocês, da esquerda. Como uma democrata de inclinação esquerdista de longa data, estou horrorizada com o seu pensamento coletivo lamentável e, no fim das contas, desastroso.)
…os mercados multibilionários de máscaras, testes e vacinas vão diminuir consideravelmente, deixando o que imagino que vão se tornar enormes pilhas de medicamentos e equipamentos sem uso. É provável que os preços de ações e os retornos dos investidores nas indústrias e empresas relacionadas caiam.
…todas as pessoas, a maioria nas cidades costeiras ditas esquerdistas, como a Filadélfia, onde vivo, que passaram dois anos usando mais máscaras, tomando mais vacinas, defendendo mais fechamentos de escolas e se sentindo infinitamente superiores a qualquer um que sugerisse que essas medidas são ruins ou ineficazes, terão de encontrar uma nova causa com que ficar superansiosas e superbravas.
São muitos os interesses fortes que precisam ser combatidos se quisermos voltar ao normal. É muita pressão para as autoridades de saúde pública enfrentarem se quiserem transmitir uma mensagem clara sobre o fim da pandemia.
Como diminuímos a pressão de todos os componentes do complexo industrial da pandemia para podermos voltar de modo pleno a algo minimamente parecido com a normalidade? Eu gostaria de saber.
Debbie Lerman é formada pelo Departamento de Inglês da Universidade de Harvard. Aposentada, ela escrevia sobre ciências e atualmente é artista na Filadélfia, nos Estados Unidos
Leia também “O constrangimento em detrimento da ciência”