Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador medalha de prata. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador medalha de prata. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 29 de junho de 2022

A guerra linguística contra as mulheres - Revista Oeste

Brendan O'Neill, da Spiked
 
As transexuais Emily Bridges, em primeiro lugar, e Lilly Chant, que ficou com a medalha de prata. O bronze foi para Jo Smith, única mulher a subir no pódio | Foto: Reprodução Redes Sociais
As transexuais Emily Bridges, em primeiro lugar, e Lilly Chant, que ficou com a medalha de prata. O bronze foi para Jo Smith, única mulher a subir no pódio | Foto: Reprodução Redes Sociais

Há algumas semanas, assistimos a dois machos biológicos ou homens, como costumávamos chamá-los vencendo o primeiro e segundo lugares em uma prova de ciclismo feminina. Vimos o Ministério Público inglês (Crown Prosecution Service, ou CPS) contratar uma consultora de diversidade, que é trans e já havia sugerido que a palavra “mulher” em inglês (“woman”) poderia ser substituída por womxn” — algo como “mulhxr”.

Ficamos sabendo que funcionários públicos receberam treinamento de equalitarismo, que os instruiu que a expressão “humana adulta” — que é a definição do dicionário para mulher é uma mensagem cifrada transfóbica. Vimos a publicação de um novo estudo da King’s College London que sugere que uma maneira de evitar polêmicas relacionadas a sexo/gênero seria mudar a formulação de questões em documentos oficiais, como o censo. Por exemplo, você pode perguntar à pessoa entrevistada “você menstrua?”, em vez de “você é uma mulher?”.

Qualquer pessoa que duvide de que a palavra mulher, e toda a ideia da condição da mulher, está sendo apagada, sacrificada no altar da ideologia da transgeneridade com certeza levou um susto nos últimos dias. Enquanto homens reivindicam prêmios em esportes femininos, fica claro que os esportes femininos correm o risco de se tornar uma coisa do passado. Quando instituições poderosas, como o CPS e o funcionalismo público, flertam com a ideia de que é pecado dizer as palavras “humana adulta”, é óbvio que até falar sobre mulheres se tornou algo arriscado.

Quando alguém tão mundialmente influente quanto Michelle Obama usa a palavra impronunciável “womxn”, como aconteceu nos “Stories” de sua conta de Instagram, você sabe que não são só universitários malucos com tempo livre e cabelo pintado de roxo que entraram no túnel da fluidez de gênero. Não, do mundo dos esportes à política, do sistema judicial à burocracia estatal, a ideia de que o sexo pode ser alterado e que a linguagem deve ser alterada para evitar que a minoria trans seja ofendida se tornou a ortodoxia.

“Mulher” é um termo ofensivo?
Surpreendentemente, o uso da palavra “womxn” por Michelle Obama estava relacionado à polêmica do caso Roe versus Wade. Ela compartilhou no Instagram uma série de slides criados pela organização sem fins lucrativos When We All Vote. Um deles dizia: “Legisladores do Estado terão o poder de privar as mulherxs do direito de tomar decisões sobre seu corpo ou seus cuidados de saúde”. Existe uma ironia sombria nesse comentário, um comentário que expõe como a guerra contra a condição da mulher se tornou uma confusão.

Que os “Stories” do Instagram endossados por Michelle Obama se preocupem com as mulheres sendo privadas do direito de controlar o próprio corpo e, no entanto, implicitamente privem as mulheres do direito de usar certas palavras quando falam sobre si mesmas e de suas necessidades. Womxn”, ou “mulhxr”, é um termo repressor, usado para fazer as massas femininas lembrarem que a categoria delas agora também inclui homens. Como o dicionário on-line Dictionary.com afirmou em 2019, o verbete “womxnfoi criado para ser “inclusivo para pessoas trans e não binárias”.

A histeria linguística do momento está impactando nossa capacidade de entender o mundo à nossa volta

É isso, amigos. Ao excluir a palavra antiga e supostamente problemática “mulher”, mesmo enquanto se preocupa que as mulheres — desculpem, mulhxr — sejam privadas da autonomia sobre seu corpo, When We All Vote involuntariamente destaca as profundas confusões e o profundo não liberalismo por trás do atual apagamento da condição da mulher.

Praticamente nenhum dia se passa sem novos relatos sobre a guerra linguística contra a condição da mulher. Então, a recente questão sobre o funcionalismo público envolve um grupo chamado A:gênero, que defende pessoas trans e intersexo que trabalham em departamentos do governo. O jornal The Times conseguiu alguns vídeos de treinamento que o A:gênero produziu, que são vistos por milhares de funcionários públicos todo ano. Um deles afirma que é impossível definir uma mulher e que dizer “humana adulta” pode ser “transfóbico”.

Atenção, esses educadores woke alertam o funcionalismo público para a “transfobia, que é cada vez mais apresentada como feminismo”. Para reforçar, estamos falando de funcionários públicos, das pessoas responsáveis pelo bom funcionamento da nação. E está sendo explicado a eles que, se você disser em voz alta o que o dicionário define sobre o que é uma mulher, você é preconceituoso. Tem sido ensinado a eles que figuras como JK Rowling, cujo grande crime de pensamento é entender a biologia, promovem o ódio disfarçado de feminismo.

“Você menstrua?”
E então temos o CPS, que contratou Sophie Cook, uma ativista trans, para ocupar um cargo importante de diversidade e inclusão. Essa é a mesma Sophie Cook que já usou o termo ofensivo TERF (trans exclusionary radical feminists, ou feminista radical transexcludente) para se referir a mulheres que acreditam que o sexo é imutável e que os direitos das mulheres devem prevalecer sobre as necessidades emocionais de homens que acham que são mulheres. Cook também defendeu o termo woke inclusivo “womxn” e perguntou em uma discussão no programa Newsnight por que algumas feministas ficam “tão ofendidas com ele”. Talvez porque esse termo limite de forma explícita sua capacidade de falar exclusivamente sobre mulheres? (Mulheres de verdade.)
 
O projeto The Future of Legal Gender (“O futuro do gênero legal”), da King’s College London, registrou como o ataque linguístico às mulheres pode ser desumanizante.  
Uma de suas propostas é que o censo poderia se fazer menos ofensivo para as pessoas trans se perguntasse “você menstrua?”, em vez de “você é mulher?”
Más notícias para as mulheres que entraram na menopausa. Elas não contam. Talvez sua existência importe menos do que os sentimentos dos homens que acham que são mulheres?
 
Todo esse contorcionismo linguístico tem sérias consequências no mundo real. Na semana passada, no universo dos esportes, dois homens — “mulheres trans” ficaram em primeiro e segundo lugares na prova de ciclismo feminino ThunderCrit, que foi realizada no Velódromo Herne Hill, em Londres. 
Em resposta às críticas de mulheres que, com razão, perguntaram por que havia apenas uma mulher no pódio de uma corrida supostamente feminina, os organizadores da ThunderCrit disseram que não pretendiam falar com ninguém que só estivesse interessado em “impor sua narrativa”. Por que é uma “narrativa” quando as mulheres dizem que esportes femininos deveriam ser apenas para mulheres, mas não é uma “narrativa” '

Uma consequência ainda mais sinistra da nova misoginia linguística também veio à tona na semana passada. Foi revelado que a BBC, em um artigo sobre lésbicas que se sentiram pressionadas a fazer sexo com “mulheres trans”, mudou o gênero do suposto agressor para não ofender ninguém. Uma suposta vítima de estupro conversou com a BBC para essa reportagem e usou os pronomes “ele” e “dele” para se referir ao agressor. Mas a BBC substituiu todos os pronomes masculinos por pronomes neutros (“they” e “them”, em inglês). Uma fonte da BBC disse ao The Times: “Não consigo pensar em nenhuma outra situação em que mudaríamos as palavras de uma suposta vítima de estupro”.

A BBC protege um estuprador
Essa é uma questão muito séria. Se a emissora pública britânica está agora mais preocupada em não ofender supostos estupradores do que em falar a verdade — nesse caso, que uma mulher afirmou ter sido estuprada por um homem —, então está claro que a histeria linguística do momento está impactando nossa capacidade de entender o mundo à nossa volta, de conhecer a verdade. A vergonhosa decisão da BBC de proteger um suposto estuprador de uma ofensa reproduz os desdobramentos do sistema judicial, em que alguns policiais do Reino Unido afirmaram que vão registrar estupros como tendo sido cometidos por mulheres, se o agressor se identificar como mulher. Em pouco tempo, sem dúvida, a requerente vai ser pressionada a dizer “ela” e “dela” sobre o homem que supostamente enfiou o pênis em seu corpo. Será uma conclusão aterrorizante, mas totalmente lógica, para o desvio orwelliano na discussão de todas as coisas relacionadas à mulher.

Tudo isso aconteceu há poucas semanas no Reino Unido.

Mulheres banidas do pódio em um esporte feminino. 
O funcionalismo público e o CPS sendo influenciados por pessoas que acreditam que existe um problema com a palavra mulher. 
A BBC exposta por sua interferência, por razões ideológicas, no depoimento de um suposta vítima de estupro. 
Tudo isso são consequências sinistras da sacralização da ideologia trans e do cancelamento de tudo e qualquer coisa que ofenda a sensibilidade trans.
A linguagem é arrogantemente reescrita pelas elites, palavras comuns são redefinidas como expressões de intolerância, é negado às mulheres o direito de se descrever como quiserem, e a própria verdade se torna um sonho distante, enquanto a precisão linguística é substituída pela novilíngua e pelo politicamente correto. Não são os estudantes de estudos de gênero que estão liderando tudo isso — é a BBC, é o governo, são as Cortes e é o establishment cultural.  
Uma contrarrevolta contra esse terror linguístico é absolutamente necessária.
 
Brendan O’Neill é repórter-chefe de política da Spiked e apresentador do podcast da Spiked, The Brendan O’Neill Show. Ele está no Instagram: @burntoakboy

Leia também “Agora eles querem cancelar Yuri Gagarin”

quinta-feira, 29 de julho de 2021

STF x Bolsonaro - O vídeo kamikaze do STF - Gazeta do Povo

Madeleine Lacsko

Ao tentar desmentir Fake News usando técnica que não funciona, STF entra em colisão com o Executivo.

STF publicou hoje em suas redes vídeo que tenta desmentir Fake News, mas a emenda fica pior que o soneto.

Eu estava toda radiante com a medalha de prata da Rebeca Andrade, daí me mandaram um link com uma postagem do STF. E eu só fiquei pensando por que cargas d'água alguém resolve cometer um desatino desses e justo hoje.   
 
 
Fiz parte da equipe que criou as redes sociais do STF, durante a presidência do ministro Gilmar Mendes, entre 2008 e 2009. A documentação interna produzida pela equipe para atuação nesses canais tinha a maior preocupação com institucionalidade. Ali não é o canal do Felipe Neto ou do MBL, é a Suprema Corte de um país.  
Aliás, fosse canal de YouTubber, pelo menos a edição, sonorização e locução do vídeo postado hoje seriam mais profissionais.

Há um conceito que aprendi naquela oportunidade profissional, o da magnanimidade na posição institucional. Ministros do STF são pessoas e, embora não seja o que se espera deles, podem entrar em embates pessoais de todo tipo de natureza, inclusive pela imprensa. A Suprema Corte de um país jamais entra em bate-boca ou intitula-se dona da verdade. É um caminho kamikaze numa hora grave.

A magnanimidade é o posicionamento necessário tendo em vista que o STF deve ser o guardião da Constituição Federal e é peça chave no sistema de freios e contrapesos dos Poderes da República. É fato que há uso político da disseminação de uma mentira sobre decisão do STF. No entanto, uma investida atabalhoada e pouco institucional só piora as coisas. O presidente da República adotou a lenha botada na fogueira e já jogou mais gasolina. Diz que o STF cometeu crime. Ou seja, o STF virou ator político e o presidente da República virou juiz. Você pode odiar o STF e os ministros, mas a instituição Suprema Corte é o que garante o equilíbrio de um sistema político.

Num exemplo prático: qual a diferença entre a Venezuela e a Bolívia? Hugo Chávez conseguiu convencer o povo a implodir o "STF" deles, Evo Morales tentou mas não conseguiu. A Suprema Corte venezuelana tinha problemas sim, aliás bem piores que os nossos. Ocorre que poder não admite vácuo. Assim que se retiram os freios e contrapesos, os políticos ocupam este espaço de poder sem pedir licença. O resultado é sempre imprevisível. O vídeo começa dizendo uma frase do propagandista do nazismo, Joseph Goebbels: uma mentira repetida mil vezes vira verdade. Questiona a afirmação e responde de forma absolutamente pueril que isso não acontece. Então não aconteceu no Holocausto? 
As mentiras repetidas mil vezes não viraram verdade? Seria cômico se não fosse trágico.
Termina com uma hashtag que nem sei como comentar, foi como jogar álcool em gel nos meus olhos: #VerdadesDoSTF. Em primeiro lugar, o STF não decide o que é verdade, decide o que é constitucional. Depois, o STF não é dono da verdade.  
A hashtag pode induzir a leitura dúbia, a de que alguns fatos seriam verdadeiros só para o STF.
 
O vídeo Kamikaze do STF
 
O grande problema do vídeo, no entanto é o negacionismo científico. Há publicações científicas mostrando que duas coisas não funcionam na era da Cidadania Digital, a que vivemos hoje:
1. Contrapor fatos para estabelecer a verdade em grupos que já divulgam Fake News.
2. Utilizar interlocutores em que um grupo não confia para contestar suas "verdades absolutas".

O vídeo do STF faz as duas coisas e com dinheiro público.
Fosse uma peça poderosa de comunicação, capaz de acabar com a lenda urbana mentirosa do STF tirando poderes do presidente da República, talvez até valesse avaliar o risco institucional. Ocorre que a peça é um tiro no pé, só serve para gerar mais suspeição sobre a Suprema Corte nos grupos que já não simpatizam com ela.

Isso não sou eu quem estou dizendo, é a ciência. Ignorar fatos científicos porque eles não encaixam na nossa narrativa nunca acaba bem. Todo mundo tem um amigo ou parente que entrou em paranóia por causa de grupo de Whatsapp ou de internet. Eles cismam com uma coisa e danem-se os fatos. Na comunicação há um grupo parecido, aquele que acredita na possibilildade de desmontar Fake News com fact checking. A ineficácia de fact checking para quem acredita ou compartilha Fake News é um fato científico, não uma opinião minha ou de outra pessoa. Poderia passar o dia empilhando estudos feitos com método científico que comprovam este fato. Vários deles estão compilados no livro Psychology of Fake News, da editora Routledge, que custa quase mil reais mas está de graça no Kindle do Brasil.

Como já trouxe aqui na coluna o último estudo do Jay Van Bavel sobre o tema, além de inúmeros outros, trago hoje o da Briony Swire-Thompson. Ela é uma pesquisadora das universidades Northwestern e Harvard dedicada exclusivamente a compreender por que algumas pessoas não podem ser convencidas por fatos e quais as melhores formas de abrir os olhos desses indivíduos para a realidade.  O estudo publicado há 15 dias traz novidades sobre as formas de trazer à realidade pessoas que acreditam em Fake News. Um ponto importante é que desinformação depende da formação de um grupo fechado. Pessoas que não são respeitadas pelo grupo simplesmente não serão ouvidas. O STF não será ouvido pelas pessoas que distorcem o resultado de um julgamento. É necessário outro interlocutor.

Além disso, falar antes a desinformação para depois corrigir dificulta o processo cognitivo da correção pelo fenômeno da familiaridade. Explico. O vídeo utiliza a negação "é falso que o Supremo tenha tirado poderes do presidente da República". Quem acredita nisso vai ouvir "Supremo tirado poderes" e "presidente da República". O cérebro registra como um conceito familiar e a pessoa agarra-se ainda mais a essa convicção. Familiaridade é mais importante do que os fatos. Campanhas de convencimento utilizam frases afirmativas sempre.

O estudo chamado "Os efeitos de tiro pela culatra após a correção da desinformação estão fortemente associados à confiabilidade" diz que checadores de fatos jamais devem evitar publicar a checagem ou compartilhar com um grupo. É importante que os fatos sejam colocados e a maioria da sociedade tem abertura para evoluir em posicionamentos individuais quando percebe que a questão é mais complexa ou descobre novos fatos. Ocorre que o STF não tem a reputação social de checador de fatos, é de Suprema Corte mesmo, de quem delibera, opina.

Desmentir informações chama-se "debunking" no jargão técnico. É muito menos eficiente em esquemas de desinformação do que o "prebunking", algo que não foi feito. A vacina aqui é mais eficiente que remédio porque o remédio até cura, mas não impede sequelas. É impossível prevenir que se crie uma mentira sobre uma pessoa, um fato ou uma instituição. Restabelecer a verdade, no entanto, não se faz no grito nem no improviso.

Os Poderes da República entram numa guerra infantil sobre quem tem razão e colocam-se uns contra os outros de uma forma cada vez mais assustadora. Não importa quem começou a briga, importa quem entrou nela sem lembrar da responsabilidade que tem. Aprendi em Angola um ditado que nos serve agora: "em briga de elefante, quem sofre é o capim".

Madeleine Lacsko, colunista - Gazeta do Povo - VOZES