Gilmar Mendes: o ministro que tira o sono de Dilma
Vice-presidente do TSE encontra indícios de fraude eleitoral na campanha petista à reeleição e se torna peça-chave para a reabertura do processo no tribunal que pode levar à cassação do mandato da presidente
Desde o ano passado, são fartas as denúncias sobre o abuso de poder econômico e político na campanha à reeleição de Dilma Rousseff. Adversários da então candidata apresentaram dezenas de representações no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) questionando a utilização da máquina pública e a origem da dinheirama que irrigou a campanha oficial. Em vão. Num primeiro momento, os documentos foram tratados com a frieza das letras jurídicas e as apurações pouco avançaram. Ao longo deste ano, depoimentos de delatores da Operação Lava Jato levaram à Justiça Comum detalhes das fraudes nas doações à campanha de Dilma. Desde o pagamento de propina em forma de contribuição eleitoral via caixa 1, em troca de vultosos contratos na Petrobras, até o uso de empresas fantasmas para lavagem de dinheiro sujo. Estas informações se enquadrariam perfeitamente nos processos em curso no foro eleitoral. A correlação das investigações da área criminal com a eleitoral até foi detectada pelo TSE.Mas para reativar as representações que lançavam dúvida sobre a origem dos recursos que financiaram a campanha de Dilma seria preciso que um magistrado tivesse a disposição e o desassombro para encampar a cruzada da investigação. Nos últimos dias, o vice-presidente do TSE, ministro Gilmar Mendes, se apresentou para a missão.
Em sua primeira intervenção, Mendes entoou
um voto contundente dizendo que “ladrões de sindicato transformaram o
País em um sindicato de ladrões”. Impulsionada por essa manifestação, a
maioria dos ministros do TSE votou na terça-feira 25 pela reabertura de
uma das quatro ações que pedem a cassação da presidente Dilma Rousseff e
de seu vice, Michel Temer.
A ação havia sido arquivada em março por decisão da relatora, Maria Thereza de Assis Moura. Diante da análise de um recurso do PSDB, o processo será desarquivado, se os ministros mantiverem seus pareceres. O julgamento foi suspenso pelo pedido de vista da ministra Luciana Lóssio, ex-advogada do PT e de Lula, mas, no que depender de Gilmar Mendes, será retomado em breve.
A ação havia sido arquivada em março por decisão da relatora, Maria Thereza de Assis Moura. Diante da análise de um recurso do PSDB, o processo será desarquivado, se os ministros mantiverem seus pareceres. O julgamento foi suspenso pelo pedido de vista da ministra Luciana Lóssio, ex-advogada do PT e de Lula, mas, no que depender de Gilmar Mendes, será retomado em breve.
O PSDB, autor da ação, argumentou que houve abuso de poder político e econômico na campanha eleitoral de 2014, devido ao uso indevido da cadeia nacional de rádio e televisão, manipulação de pesquisas e uso de dinheiro desviado da Petrobras para abastecer o caixa da campanha. Se a ação for reaberta, Dilma e o vice Michel Temer serão intimados a apresentar defesa e haverá a fase de produção de provas. Tomadas essas providências, o TSE julgará se houve ou não fraude na campanha petista à reeleição. Para ministros do STF, a fragilidade política de Dilma nos tribunais não encontra paralelo na história recente do País. “É algo sem precedentes”, dizem. Integrantes do governo reconheceram terem sido pegos de surpresa com a formação da maioria pela investigação. Na madrugada de terça-feira 25 para quarta-feira 26, o clima ficou tenso no Palácio do Planalto. Relatos de auxiliares da presidente dão conta que xingamentos impublicáveis foram ouvidos do gabinete presidencial.
Na sexta-feira 21, Mendes já havia tirado o
sono do Palácio do Planalto ao pedir que a Procuradoria-Geral da
República apurasse crimes de lavagem de dinheiro e falsidade ideológica
nas movimentações de entrada e saída de recursos das contas que o PT e o
comitê de Dilma movimentaram nas eleições de 2014. No pedido de
investigação, o ministro afirma com todas as letras que há indícios
fortíssimos de que campanha à reeleição foi abastecida com dinheiro
desviado da Petrobras. O ministro está bem apoiado em dados para elevar o
tom. De acordo com relatório técnico do TSE, o PT recebeu de 2010 a
2014 R$ 172 milhões de empresas envolvidas no esquema do Petrolão. Além
dos repasses do partido, a campanha de Dilma conseguiu R$ 47,5 milhões
das empreiteiras investigadas.
Graças a Gilmar Mendes, o governo – que até
então só se preocupava com o desenlace do processo das pedaladas
fiscais no TCU – passou a temer o julgamento de ações no TSE. Para os
próprios governistas, os delitos eleitorais têm definição legal mais
palpável do que os crimes comuns e infrações administrativas. A Lava
Jato é um bom exemplo disso. A força tarefa pode até não ter provas,
até agora, de que o dinheiro do esquema de corrupção favoreceu
diretamente a presidente Dilma Rousseff, do ponto de vista pessoal. Mas
o benefício eleitoral por abuso de poder econômico está caracterizado
nos relatórios de contabilidade e nas declarações de empreiteiros
delatores.
As fraudes nas contas eleitorais da presidente não se encerram nas ligações com o Petrolão. A frente de investigação aberta por Gilmar Mendes inclui, ainda, a apuração de um “laranjal” de empresas de fachada abertas para, ao que tudo leva a crer, lavar dinheiro de campanha. Na terça-feira 25, o ministro pediu que o Ministério Público de São Paulo investigasse a empresa inscrita na Junta Comercial de São Paulo como “Ângela Maria do Nascimento Sorocaba – ME”. O CNPJ foi criado dois meses antes da eleição, com a única finalidade de atender a campanha do PT e emitiu R$ 1,6 milhão em notas para o comitê de Dilma. A empresa nunca prestou serviço, não tem sede e a suposta proprietária é uma empregada doméstica que trabalhou como cabo eleitoral na campanha grampeando cartazes em cavalete.
As fraudes nas contas eleitorais da presidente não se encerram nas ligações com o Petrolão. A frente de investigação aberta por Gilmar Mendes inclui, ainda, a apuração de um “laranjal” de empresas de fachada abertas para, ao que tudo leva a crer, lavar dinheiro de campanha. Na terça-feira 25, o ministro pediu que o Ministério Público de São Paulo investigasse a empresa inscrita na Junta Comercial de São Paulo como “Ângela Maria do Nascimento Sorocaba – ME”. O CNPJ foi criado dois meses antes da eleição, com a única finalidade de atender a campanha do PT e emitiu R$ 1,6 milhão em notas para o comitê de Dilma. A empresa nunca prestou serviço, não tem sede e a suposta proprietária é uma empregada doméstica que trabalhou como cabo eleitoral na campanha grampeando cartazes em cavalete.
A Focal Confecção e Comunicação Visual é
outra que se encontra na alça de mira de Gilmar Mendes. A empresa foi
apontada como a segunda maior fonte de despesas ao receber R$ 24 milhões
da campanha de Dilma. Ainda em 2014, a análise preliminar das contas
feita pelo TSE indicou que a Focal tinha como sócio um motorista com
renda mensal de apenas R$ 2 mil. As diligências que Gilmar Mendes
solicitou envolvendo a Focal só não foram totalmente concluídas ainda
“devido ao grande volume de documentos”, segundo o ministro, mas a
expectativa é de que elas tragam novidades capazes de complicar ainda
mais situação de Dilma no tribunal.
Numa outra ação contra a campanha da
petista, levada a frente na quinta-feira 26, Mendes votou pela aplicação
de multa à presidente por propaganda eleitoral antecipada durante um
pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão em junho de 2014.
À época, o PSB denunciou a irregularidade ao TSE e pediu multa de R$ 25
mil, mas a representação ficou esquecida nas gavetas do tribunal.
O PT tenta reagir à sanha investigatória de
Gilmar Mendes tentando imprimir cores ideológicas às suas iniciativas.
“O Brasil inteiro sabe do ódio nutrido pelo ministro Gilmar Mendes ao
PT. Ele não pode extrapolar sua função”, atacou a senadora Fátima
Bezerra (PT-RN).
O ministro foi Advogado-Geral da União do governo FHC entre 2000 a 2002 e deixou o cargo para assumir uma cadeira no Supremo por indicação do então presidente tucano. Porém, se este currículo fosse impeditivo ou até mesmo questionável, o TSE não poderia ter como presidente, por exemplo, o ministro Dias Toffoli, devido à sua reconhecida ligação com o petismo, nem como integrante a ministra Luciana Lóssio, ex-advogada do partido. A resposta do plenário do tribunal, que por maioria apoiou a reabertura da investigação das contas da campanha de Dilma, na terça-feira 25, derruba o argumento de retaliação política que o governo pretende alardear. Além de Gilmar Mendes, os ministros Luiz Fux, Henrique Neves e João Otávio de Noronha apoiaram a continuidade das apurações contra Dilma no tribunal eleitoral. Neves, inclusive, sempre foi considerado pelo próprio Palácio do Planalto como um aliado de Dilma no TSE. E votou contra o interesse petista.
O ministro foi Advogado-Geral da União do governo FHC entre 2000 a 2002 e deixou o cargo para assumir uma cadeira no Supremo por indicação do então presidente tucano. Porém, se este currículo fosse impeditivo ou até mesmo questionável, o TSE não poderia ter como presidente, por exemplo, o ministro Dias Toffoli, devido à sua reconhecida ligação com o petismo, nem como integrante a ministra Luciana Lóssio, ex-advogada do partido. A resposta do plenário do tribunal, que por maioria apoiou a reabertura da investigação das contas da campanha de Dilma, na terça-feira 25, derruba o argumento de retaliação política que o governo pretende alardear. Além de Gilmar Mendes, os ministros Luiz Fux, Henrique Neves e João Otávio de Noronha apoiaram a continuidade das apurações contra Dilma no tribunal eleitoral. Neves, inclusive, sempre foi considerado pelo próprio Palácio do Planalto como um aliado de Dilma no TSE. E votou contra o interesse petista.
O governo que hoje desconfia do
vice-presidente do TSE também considerava que o tema examinado pelo
tribunal fosse um fato superado até mesmo para Gilmar Mendes, uma vez
que na noite do dia 10 de dezembro de 2014 ele se manifestou pela
aprovação com ressalvas da prestação de contas da campanha.
Servidores que atuaram na análise das contas garantem, no entanto, que a aprovação parcial no apagar das luzes de 2014 se deu porque a data da diplomação de Dilma ocorreria na semana seguinte e o TSE não quis assumir o ônus de impedir a posse presidencial embasado apenas em relatórios contábeis.
Servidores que atuaram na análise das contas garantem, no entanto, que a aprovação parcial no apagar das luzes de 2014 se deu porque a data da diplomação de Dilma ocorreria na semana seguinte e o TSE não quis assumir o ônus de impedir a posse presidencial embasado apenas em relatórios contábeis.
O que o Planalto não imaginava, na ocasião,
é que Gilmar Mendes retomaria a apuração do caso. De acordo com
assessores do ministro, muitos dos indícios encontrados pela Assessoria
de Exame de Contas Eleitorais e Partidárias (Asepa) em apenas 10 dias de
trabalho exigiam novas diligências para comprovar a existência ou não
de irregularidades.
DEFESA
O advogado da União, Luís Adams, argumenta no TCU que as
pedaladas de Dilma foram corriqueiras em outros governos
O advogado da União, Luís Adams, argumenta no TCU que as
pedaladas de Dilma foram corriqueiras em outros governos
Mendes foi ajudado pelo trabalho do
corregedor do TSE, ministro João Otávio de Noronha, em uma das quatro
ações propostas pelo PSDB contra a chapa de Dilma. Noronha foi o
primeiro a relacionar diretamente os depoimentos prestados à força
tarefa da Operação Lava Jato aos questionamentos de crime eleitoral. O
corregedor convocou o ex-diretor Paulo Roberto Costa, o doleiro Alberto
Youssef e o empreiteiro da UTC Ricardo Pessoa para prestar
esclarecimentos à Justiça Eleitoral sobre a ligação do esquema de
corrupção na Petrobras com o financiamento de campanha do PT. Pessoa é o
autor do depoimento mais explosivo, do ponto de vista da produção de
provas de crime eleitoral. Ele afirmou que foi coagido a doar R$ 7,5
milhões à campanha de Dilma para que sua empresa não sofresse represália
em contratos com a Petrobras. Para Gilmar Mendes, revelações tão graves
como a do empreiteiro não podem passar incólumes pela corte que zela
pela lisura dos processos eleitorais.
Fotos: ANTONIO CRUZ/ABR; José Cruz/Agência Brasil
Fonte: Revista Isto É
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