A decisão do relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal
Federal (STF), ministro Luis Edson Fachin, de enviar para o Juiz Sérgio
Moro, em Curitiba, as partes da delação de Joesley Batista que se
referem ao ex-presidente Lula, especialmente a conta na Suíça que
recebeu U$ 150 milhões destinados a ele e à ex-presidente Dilma, gerará
talvez a mais importante investigação sobre o ex-presidente dentro da
Operação Lava-Jato. Não é à toa, portanto, que o advogado
Cristiano Zanin apresentou imediatamente um agravo regimental no STF
contra essa decisão. Alegando que Joesley "fez duas referências
genéricas ao nome de Lula em sua delação, sem qualquer base mínima que
possa indicar a ocorrência dos fatos ou, ainda, a pratica de qualquer
ato ilícito".
Não é o que acha o Procurador-geral da República
Rodrigo Janot que, ao justificar o que muitos consideram uma excessiva
benevolência do Ministério Público no acordo de delação premiada com a
JBS, ressaltou que pela primeira vez há informações sobre contas no
exterior para o ex-presidente Lula e sua sucessora. “Que juízo
faria a sociedade do MPF se os demais fatos delituosos apresentados,
como a conta-corrente no exterior que atendia a dois ex-presidentes,
fossem simplesmente ignorados?”, escreveu Janot, justificando o perdão
judicial que concedeu a Joesley e aos executivos da JBS que fizeram a
delação premiada.
O controlador da JBS revelou no depoimento que
de tempos em tempos levava para o ex-ministro Guido Mantega o extrato
das duas contas, para fazer o acompanhamento dos saques. O dinheiro
representava porcentagens de negócios do grupo feitos com o beneplácito
de Mantega, e ficava depositado na Suíça à disposição dos dois
ex-presidentes e seus prepostos, sempre sob orientação de Mantega. Era
uma conta-corrente que funcionava à exemplo da que a empreiteira
Odebrecht mantinha para Lula e outros dirigentes do PT. Assim como a
Odebrecht, também Joesley Batista e seu grupo tinham a planilha com os
dias dos saques e dos depósitos e a identificação de quem fazia a
retirada.
Através de acordos internacionais mantidos com o
governo da Suíça será possível rastrear o dinheiro e cruzar os depósitos
e retiradas com os acontecimentos econômicos e políticos do país. Mesmo
a conta estando em nome de Joesley Batista, será possível identificar
laranjas e destinatários, especialmente quando as remessas saíram da
Suíça diretamente para outras contas no exterior. O ex-ministro
Guido Mantega, por exemplo, diante de tantas revelações, resolveu
confessar ontem que tem uma conta não declarada no exterior de U$ 600
mil. Joesley, além de revelar ao Ministério Público que os saques das
contas na Suíça para Lula e Dilma eram controlados por Mantega, contou
também que certa vez fez um favor pessoal ao ex-ministro: a seu pedido
comprou 5 milhões (não está claro se em euros ou reais) em títulos de
dívida da empresa Pedala Equipamentos Esportivos, empresa pertencente a
um sócio do filho do ex-ministro, Leonardo Mantega.
Em outra
ocasião, disse que transferiu para uma conta no exterior, a mando de
Mantega, outros 20 milhões de euros. Esse dinheiro poderá ser rastreado
pelas autoridades suíças, e conexões com possíveis fornecedores de
campanhas políticas ou pessoas relacionadas a Lula e Dilma poderão ser
identificadas. Um caso insólito que Joesley revelou ao Ministério
Público foi a utilização de uma conta sua em Nova York para receber
depósitos e fazer pagamentos para o ex-tesoureiro do PT João Vaccari. A
conta corrente era administrada por um funcionário dele, de nome
Denilson, e por um emissário de Vaccari: João Guilherme Gushiken, filho
do ex-ministro Luiz Gushiken.
O controlador da JBS apresentou ao
Ministério Público extratos dessa conta que indicam retiradas em nome de
“Luís Carlos, da Petros”, ou Luís Carlos Fernandes Afonso, que presidiu
o fundo de pensão da Petrobras de 2011 a 2014. O fato de ter
usado o sistema bancário americano para fazer algumas transações com
dinheiro de origem ilegal certamente trará muitos problemas para Joesley
Batista. Os executivos da Odebrecht, por exemplo, evitavam usar bancos
nos Estados Unidos justamente pelo rigor da legislação.
As
conexões internacionais dos investigadores brasileiros certamente
ajudarão a rastrear o dinheiro na Suíça e nos Estados Unidos. E aqui no
Brasil esses pagamentos e recebimentos poderão terminar por definir a
responsabilidade de cada um no esquema de corrupção montado durante os
governos Lula e Dilma.
Fonte: O Globo - Merval Pereira
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terça-feira, 30 de maio de 2017
Da Suíça para Curitiba
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