Operação Fecha a Boca de Lula
Todo cuidado é pouco
Aberta a porteira
para que Lula possa conceder entrevistas como é possível a qualquer
preso, mas a ele não era, o ex-presidente coleciona cerca de 30 pedidos
para que fale. Ocorre que a direção
nacional do PT concluiu que o melhor neste momento é que Lula fique de
boca fechada. Melhor que fique quieto só a observar o que possa
acontecer.
O ex-juiz Sérgio Moro, o
algoz de Lula, está na berlinda desde a revelação de suas conversas com o
procurador Deltan Dallagnol. A Lava Jato, em xeque. Um novo lote de
conversas está para sair. Até o fim do mês, o
Supremo Tribunal Federal decidirá a sorte de Lula em duas ocasiões:
quando deliberar sobre prisão em segunda instância e quando julgar um
pedido de habeas corpus para ele.
Nada de marola ou de
marolinha, pois. Todo cuidado é pouco para que uma frase, uma palavra
mal colocada não se volte contra ele. O PT acha que Lula nunca esteve
tão perto de poder respirar melhor. Quer dizer: de sair da
prisão para trabalhar durante o dia, retornando à noite. Ou de cumprir o
resto da pena dentro de casa com ou sem tornozeleira eletrônica.
Algo a se aprender com o caso Moro-Deltan: não há privacidade na rede
Juiz e procurador usaram um serviço criptografado e que se vende como à prova de hackers. Caíram numa ladainha
Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil (responsável por expor o troca-troca online dentre Moro e Deltan), manja disso há tempo. Recorde que o jornalista tornou pública até a, digamos assim, privacidade (talvez melhor aqui seriam segredos) do governo dos EUA, no caso Snowden. O nome lhe falha a memória? Vale recorrer ao Google.
Mark Zuckerberg, o genial e tempestuoso fundador do Facebook, já antecipava em 2010: “As pessoas estão confortáveis não só em compartilhar mais informações de diferentes tipos, mas de forma mais aberta e para mais pessoas. Essa norma social é simplesmente algo que evoluiu com o tempo”. Para Zuckerberg, a privacidade não é mais uma norma nesta era das redes sociais.
O que ele falava em 2010 faz mais sentido do que o posicionamento atual, no qual diz que “a privacidade é o futuro” e que quer tornar o Facebook uma “plataforma de comunicação focada na privacidade”. Besteira. Seja no Facebook, no Instagram, no WhatsApp ou no Telegram, este o preferido da dupla Moro e Deltan, não existe essa coisa de privacidade.
Privacidade é o que ocorre entre quatro paredes. Não se deveria esquecer desse clichê. A internet, a nuvem, não tem paredes – por mais que alguns, como os criadores de WhatsApp e Telegram, tentem nos convencer do contrário. Existem, sim, trancas, em forma de criptografia, que dificultam o acesso a cofres virtuais. O Telegram é um desses cofres. Só que também navegam online hackers, ladrões hábeis em destrancar os cofres. Estes fazem valer o que norteia o trabalho dos hackers: sempre existe uma brecha, um bug, todo sistema é falho.
Dizia Gabriel García Márquez: “Seres humanos têm três vidas: a pública, a privada e a secreta”. Tudo que está na nuvem, na internet, pode ser encarado como público, ou quase isso. Ok, no WhatsApp trocamos mensagens íntimas com nossos parceiros(as), amigos, chefes. Era para ser privado, sim. Mas um pensamento saudável (ainda mais para figuras públicas) é levar em conta que tudo e qualquer coisa que for codificada em zeros e uns e jogada na nuvem pode ser descodificada por ladrões hábeis.
Trata-se de culpar a vítima? Nada disso – e já tratei disso em textos anteriores. O culpado pelo roubo é o ladrão. O que se expõe é apenas uma orientação, um conselho. O que está online pode facilmente deixar de ser privado do dia para a noite.
Aí se entra na terceira vida de Gabriel García Márquez: a secreta. É ainda mais imprudente falar de sua vida secreta no WhatsApp ou no Telegram. Como é imprudente deixar segredos guardados na gaveta (mesmo com tranca) de um escritório qualquer. Alguém sempre pode desvendar a senha, decodificar o codificado, e tornar público o segredo. Isso vale para nudes e tramóias (ou mesmo armas de fogo guardadas no armário em casa).