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sábado, 2 de setembro de 2023

O jogo do poder - Rodrigo Constantino

Gazeta do Povo

Um blog de um liberal sem medo de polêmica ou da patrulha da esquerda “politicamente correta”.

Donald Trump tem décadas de vida pública, foi um magnata do setor imobiliário, apresentador famoso de televisão, e nunca sofreu qualquer problema com a Justiça
Após sair da presidência e indicar que pretende disputar novamente a vaga, foi alvo de quatro indiciamentos que o acusam de inúmeros crimes, claramente forjados.

Elon Musk era o queridinho das elites cosmopolitas, um empreendedor ousado, um criador genial, dono da maior empresa de carro elétrico do mundo. Tinha um status semelhante ao de Mark Zuckerberg, criador do Facebook.

Mas Musk comprou o Twitter e libertou o pássaro azul das amarras politicamente corretas, garantindo a liberdade de expressão em sua plataforma. 
 Isso assusta a esquerda, que passou a demonizar Musk. 
E nesta semana suas empresas foram alvos de duas investigações, com vazamentos para a grande imprensa.
 
É impossível não pensar em instrumentalização do estado pela elite "progressista". Sabemos que George Soros bancou várias campanhas de promotores pelo país, que o DOJ propôs um acordo para lá de suave com Hunter Biden, o filho problemático e corrupto do presidente, a ponto de o juiz se negar a assiná-lo. 
O estado virou uma arma democrata contra desafetos e adversários políticos?
 
Numa democracia, os cidadãos podem e devem discordar sobre várias políticas públicas, mas precisam confiar nas instituições. 
Se passam a rejeitá-las, pois não sentem mais que são imparciais, então a própria democracia corre perigo. 
Se cada eleição é vista como questão de vida ou morte, se os opositores são tratados como pessoas malvadas, então fica difícil conviver num mesmo território, de forma civilizada e democrática.

Com base na premissa de que os conservadores são pessoas ruins que colocam em risco a democracia, muitos democratas passaram a justificar medidas extra-legais (ilegais) contra seus adversários.  

Para tirar Trump da jogada, vale quase tudo!

Alguns já pedem para bani-lo das urnas com base na décima-quarta emenda, como se ele fosse um golpista fomentando a insurreição contra a Constituição. Mas não há qualquer acusação formal neste sentido, muito menos uma condenação...

Em nome da defesa da democracia e da Constituição, boa parte da esquerda tem defendido o abuso de poder, o que ameaça a própria democracia e rasga a Constituição. 
 Isso tudo é um reflexo do esgarçamento do tecido social, numa simbiose com o próprio uso do estado para perseguir adversários, que vai minando a confiança popular nas instituições.
 
A hipertrofia estatal e sua centralização crescente representam, por si só, uma ameaça aos preceitos democráticos, especialmente num país continental e com mais de 300 milhões de habitantes. 
Junte-se a isso a perda das antigas colas sociais, como a religião e a valorização da família, e temos um quadro assustador.

A "democracia" vira apenas uma fachada, uma disputa eleitoral para ver quem vai controlar esse enorme aparato poderoso, que pode ser utilizado como extensão da tribo vencedora, do clã no poder, para perseguir seus adversários. Essa visão não é compatível com uma democracia republicana sólida.

Os pais fundadores da América estariam arrepiados com o que acontece na nação hoje. 
O prognóstico é pouco alvissareiro: se essa tendência persistir, não é absurdo imaginar uma disputa cada vez mais violenta pelo poder, pois tudo passa a ser um simples jogo do poder, para assumir o comando dessa estrutura gigantesca que permite massacrar adversários.

Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo 

 

terça-feira, 21 de fevereiro de 2023

A confissão da Pfizer e o acerto de quem errou - Revista Oeste

Paula Schmitt

Há cerca de um mês, o Project Veritas divulgou um vídeo em que um suposto funcionário da farmacêutica faz uma confissão chocante 

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock  

No dia 25 de janeiro, o Project Veritas (grupo jornalístico que se propõe a investigar e divulgar casos de corrupção e outros desvios de conduta para, segundo suas próprias palavras, “alcançar uma sociedade mais ética e transparente”) divulgou um vídeo em que um suposto funcionário da Pfizer faz uma confissão chocante. Sem saber que estava sendo filmado, e acreditando estar falando com um pretendente romântico, Jordon Walker diz que a Pfizer está provocando mutações no vírus da covid para criar vacinas antes que mutações naturais aconteçam. Traduzo abaixo alguns trechos do diálogo entre Walker e o jornalista do Project Veritas, cujo nome não é revelado.

PV A Pfizer está pensando em fazer mutações na covid?

Walker — Bem, não é isso que a gente fala para o público, não. Não. Não conte pra ninguém isso. Aliás, você tem de prometer que não vai contar pra ninguém. […] Nós estamos explorando tipo… Sabe como o vírus continua sofrendo mutações?

PV — Sim.

Walker — Então, uma das coisas que estamos explorando é tipo, por que a gente simplesmente não faz a mutação nós mesmos? Assim poderíamos… Poderíamos preventivamente desenvolver novas vacinas, correto? Então a gente tem de fazer isso. Se a gente vai fazer isso, no entanto, existe um risco de, tipo… Como você pode imaginar, ninguém quer uma empresa farmacêutica fazendo mutações em vírus. […] A gente tem de fazer tudo com muito controle para garantir que esse vírus no qual você fez a mutação não crie algo tipo… Que ele não se espalhe por todo lugar.

PVLoucura.

Walker — Que [aliás] eu suspeito… Foi o jeito que o vírus começou em Wuhan, para ser sincero. Tipo, não faz sentido que esse vírus tenha aparecido do nada.

Em outro trecho, Walker explica melhor o que quis dizer:

PV — Qual o objetivo da Pfizer em fazer isso [as mutações virais]?

Walker — Então, parte do que eles querem fazer é tentar entender… Até certo ponto, tentar entender tipo, sabe todas essas cepas e variantes que aparecem? Por que a gente não tenta encontrá-las antes que elas apareçam na natureza e a gente pode desenvolver vacinas profilaticamente, antes, como novas variantes. Então, é por isso que eles estão pensando tipo, se você faz isso sob controle em um laboratório, então a gente diz que isso é um novo epítopo, e, se mais tarde isso surgir entre o público, então você já tem uma vacina que funciona.

PV Meu deus. Isso é perfeito. Isso é tipo o melhor modelo de negócios, né? Simplesmente controle a natureza antes de ela se manifestar, correto?

Walker — Sim, se funcionar.

PV — Como assim ‘se funcionar’?

Walker — É porque algumas vezes existem mutações que acontecem para as quais não estamos preparados, tipo Delta e Ômicron e outras do tipo. Quem vai saber? Quero dizer, de qualquer maneira, vai ser uma máquina de fazer dinheiro. Covid provavelmente vai ser uma máquina de fazer dinheiro por um bom tempo, obviamente. [risos]

Depois de ser pego falando de mutação viral feita pela Pfizer, Jordon Walker explicou em um vídeo que ele tinha mentido de propósito

O vídeo original, de dez minutos, estava neste link do YouTube, mas foi removido por “desrespeitar as regras” da empresa. Vale lembrar que o YouTube é uma empresa do grupo Google/Alphabet, que tem como seus dois maiores acionistas os bancos Vanguard e BlackRock — não por acaso, os dois maiores acionistas da Pfizer também são os bancos Vanguard e BlackRock.

Foto: Shutterstock
O Project Veritas se autodescreve como “uma empresa jornalística sem fins lucrativos” especializada em “reportagens sob disfarce.” Eu já citei o site em outras ocasiões, especificamente neste artigo, em que falo do vídeo que mostra Mark Zuckerberg, fundador do Facebook, dizendo que não iria obrigar seus funcionários a tomarem a injeção da covid. Só para não perder a deixa: adivinha quem são os dois maiores acionistas do Facebook, que agora chama Meta Platforms?  
Acertou: BlackRock e Vanguard. Você pode até chamar isso de capitalismo, apesar de eu preferir a expressão tecnofascismo, mas tem uma coisa que isso definitivamente não é: livre mercado.

Voltando ao Zuckerberg, no vídeo do Project Veritas, ele diz: “Eu só quero ter certeza de compartilhar minha cautela sobre isso [a vacina de mRNA], porque nós simplesmente não sabemos os efeitos de longo prazo da modificação do DNA e RNA… Basicamente a habilidade de produzir os anticorpos e se aquilo pode causar mutações ou outros riscos mais para a frente.” O vídeo continua disponível no site do Project Veritas.

Depois de ser pego falando de mutação viral feita pela Pfizer, Jordon Walker explicou em um vídeo, também gravado pelo Project Veritas, que ele tinha mentido de propósito, e inventou tudo aquilo para impressionar um potencial parceiro sexual. Jordon, em outras palavras, mentiu por amor. 
É compreensível — quem nunca fingiu ser parte de um genocídio para conquistar um coração? 
Mas as cenas com as explicações acaloradas foram tão dramáticas que alguns suspeitaram que a coisa toda foi arranjada, uma novela de qualidade mais baixa que a Televisa — nível Globo mesmo. 
Isso gerou todo um debate na internet, em que o alvo da dúvida deixou de ser a Pfizer e passou a ser o Project Veritas, que poderia ter caído numa pegadinha para ser desacreditado mundialmente.
 
Jornalistas e pesquisadores diletantes começaram a investigar se Jordon Walker de fato era funcionário da Pfizer e se a coisa toda era genuína ou não.  
Tudo diz que sim, o vídeo é genuíno, e Jordon de fato era (ou ainda é) funcionário da Pfizer. 
A própria empresa reforça essa teoria. Em uma carta respondendo às acusações, publicada dois dias depois da divulgação do vídeo, a Pfizer deliberadamente se nega a refutar que Jordon Walker seja seu funcionário
Mas, quando tenta negar que arquiteta mutações genéticas, a farmacêutica faz o que muitos consideraram uma confissão: “Em um número limitado de casos, quando um vírus completo não contém nenhuma mutação de ganho de função, tal vírus pode ser projetado [engineered] para permitir a análise de atividade antiviral em células”.
Ilustração: Lightspring/Shutterstock

Jornalistas menos independentes, ou com menos massa encefálica, tentaram reduzir o debate pós-escândalo a questões semânticas, como seria do gosto da Pfizer. Para o cidadão comum, contudo, as diferenças entre as expressões ganho de função, engenharia genética, edição de genes, evolução direcionada são herméticas demais, e inteligentes de menos. Eu as classifico como menos inteligentes, porque essas diferenças pouco ajudam no que realmente importa: a decisão de tomar ou não tomar uma “vacina” que quanto menos imuniza, mais vende. Jordan Walker descreveu essa obra de ficção com o nome que merece: uma “máquina de fazer dinheiro”.

Nas últimas semanas, várias pessoas famosas declararam publicamente seu arrependimento por ter tomado a “vacina” da covid. Meu favorito entre eles é o professor Shmuel C. Shapira, que declarou para suas dezenas de milhares de seguidores que ele errou: “Eu errei três vezes: tomando a primeira injeção de mRNA; tomando a segunda injeção de mRNA; e novamente tomando a terceira injeção de mRNA. Infelizmente, erros irreversíveis”.

Mas quem é Shmuel C. Shapira? Prepare-se, caro leitor, porque Shapira não é nenhum garoto-propaganda pago para defender o indefensável na TV Globo, e um mero tuíte publicado por ele tem mais peso científico do que todos os estudos não feitos por Átilas e Paspalhaks. Shmuel é ninguém menos que o diretor-geral do Instituto Israelense de Pesquisa Biológica. Aqui, o site oficial do governo de Israel anuncia o encontro de Shapira com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, em 2020, para tratar de nada menos que o desenvolvimento das vacinas da covid. É isso mesmo, leitores: Shapira não apenas era defensor das vacinas — ele era um dos seus proponentes e pesquisadores.

Professor Shapira também foi o vice-diretor do renomado Hadassah University Hospital de Jerusalém, e seu currículo não para por aí. Segundo apresentação da Georgetown University, Dr. Shapira é professor pleno de administração da Faculdade de Medicina da Universidade Hebraica, diretor e fundador da área militar da Universidade Hebraica de Medicina, fundador e chefe do Departamento de Medicina Militar da Universidade Hebraica e do Corpo Médico das Forças de Defesa de Israel (o Exército israelense), no qual ele também foi o chefe do Departamento de Trauma. Mas, acima de todas essas qualificações, o professor Shapira tem uma qualidade ainda mais rara, e mais rara ainda entre pessoas com a sua excelência acadêmica, algo que nenhuma universidade fornece, e nenhum dinheiro compra: a nobreza e a coragem de se confessar falível e admitir que errou. Aos professores Shmuels deste mundo cada vez mais corrupto e imoral, deixo aqui minha admiração eterna e gratidão infinita.

Leia também “O contrato que ninguém leu”

Paula Schmitt, colunista - Revista Oeste

 

terça-feira, 9 de agosto de 2022

WhatsApp implanta saída à francesa, modo invisível e bloqueio de print - Mudanças no WhatsApp

Tecnologia - VEJA

Mudanças visam, segundo a Meta, aumentar a segurança e a privacidade dos usuários

Mudanças na ferramenta

WhatsApp permite esconder que está 'online' e sair de grupos sem aviso. Veja como fazer

Meta, holding que abriga Facebook, Instagram e WhatsApp, anunciou nesta terça-feira, 9, mudanças no comunicador instantâneo. A ideia dos novos recursos, segundo a empresa de Mark Zuckerberg, é dar ao usuário mais controle sobre suas mensagens. 
 Além da criptografia de ponta a ponta, mensagens que se autodestroem, backups dos bate-papos, verificação em duas etapas e a capacidade de bloquear e denunciar chats indesejados, agora também será possível sair “à francesa” de grupos, escolher quem pode ver quando estamos online e bloquear captura de tela. 
As mudanças serão implantadas em diferentes prazos.
 
Sair dos grupos silenciosamente
Agora, é possível sair de um grupo silenciosamente, sem fazer grandes alardes. Em vez de notificar todo o grupo, apenas os administradores serão notificados. Esse recurso começará a ser lançado para todos os usuários este mês.
 
Escolha quem pode ver quando você está online
Outro recurso que vinha sendo muito solicitado é a capacidade de selecionar quem pode e quem não pode ver quando um usuário está online. Isso começará a ser implementado este mês.
 
Bloqueio de captura de tela
Também está sendo habilitado o bloqueio de captura de tela para mensagens de visualização única – o print não será mais eterno. Este recurso ainda está em fase de testes e a empresa avisa que será lançado em breve.
 
Tecnologia - VEJA 

 
 Economia - O Globo

Veja como esconder 'online' no WhatsApp

A partir de agora, o usuário da plataforma de mensagens instantâneas tem a opção de ocultar o "online" da sua conta do WhatsApp:

  • Configurações > selecione "Conta";
  • Em seguida, selecione por "Privacidade";
  • Clique em "Visto por último e online";

Lá, você pode escolher quem poderá ter acesso ao "visto por último": Todos, Meus contatos, Meus contatos, exceto... e Ninguém;

Você também pode escolher quem pode ver o "online", seguindo as mesmas opções acima.

Vale ressaltar que ao ocultar o "online" e o "visto por último" de sua conta, você também não conseguirá ver essas informações nas contas de outras pessoas.


WhatsApp anuncia mudanças nesta terça-feira, dia 9. Usuários poderão esconder que estão offline

 Economia - O Globo


domingo, 28 de junho de 2020

O TikTok se intromete até na política e já ameaça rivais como o Instagram - VEJA - Tecnologia

Por André Lopes 

Criado para cativar crianças e jovens com vídeos de danças e palhaçadas, o aplicativo chinês cresce a passos largos

Até pouco tempo atrás, o aplicativo chinês TikTok poderia facilmente ser comparado a um adolescente petulante, cheio de planos para conquistar o planeta, mas que carregava nos ombros o peso do mundo e da inexperiência. Quando surgiu, há pouco mais de três anos, foi, de fato, notado como um jovem ousado e criativo, embora inofensivo. No início, era apenas isso: uma plataforma juvenil que permitia aos usuários exibir coreografias aleatórias. Mas o adolescente cresceu, ganhou músculos e adquiriu maturidade. No primeiro trimestre de 2020, era listado como o programinha mais baixado do planeta, com impressionantes 315 milhões de downloads. Neste exato momento, é a quarta rede social mais popular — tem 1,5 bilhão de usuários — e a primeira da China a desfrutar alcance global. Seus feitos são extraordinários. Os cinquenta principais criadores de conteúdo do TikTok contam com mais seguidores do que as populações de México, Canadá, Reino Unido e Austrália juntas.

A expansão do TikTok está associada a uma sutil mudança de trajetória. Durante um bom período, suas ferramentas virais poderosas davam espaço apenas a coreografias com o hit do momento ou dublagens de filmes e memes que fazem a cabeça da garotada. Mas, com o tempo, ele  provou ser mais do que apenas uma rede social para danças e palhaçadas. Agora também é possível acompanhar vídeos sobre saúde, mercado de ações, viagens e até política, sempre respeitando o limite de sessenta segundos de duração. “O TikTok vem redirecionando o seu público, que já não é formado só de crianças e adolescentes”, diz o influenciador digital Bruno Carvente. Em 20 de junho, o aplicativo deu uma demonstração definitiva de que transcendeu o universo pré-adolescente. Naquele dia, Donald Trump realizou, no BOK Center de Tulsa, seu primeiro evento da campanha para a reeleição. A equipe de Trump esperava a presença de 100 000 apoiadores, e ele próprio havia anunciado no Twitter que “quase 1 milhão de pessoas” tinham solicitado ingressos para o evento gratuito. O comício, porém, foi um fiasco de público. Uma multidão de usuários do TikTok divulgou vídeos que explicavam como reservar entradas para a ocasião, mas a ideia era não comparecer justamente para zombar do presidente. Deu certo. Como diz a turma jovem, foi uma espetacular “trolagem”. Não é de hoje que o aplicativo chinês incomoda americanos ilustres.

Há cerca de um ano, preocupado com o barulho que o TikTok fazia, o Facebook lançou uma cópia do recurso, mas que seria malsucedida — o que não deixa de ser curioso, dado o fato de que os chineses, e não os americanos, são famosos por imitar tudo o que faz sucesso no exterior. Chamada de Lasso, a nova e insossa rede social do Facebook se tornou um dos grandes equívocos da trajetória vitoriosa de Mark Zuckerberg. Irritado com o fracasso, ele partiu para o ataque. Em um discurso de quarenta minutos, disse que os produtos chineses representam uma grande ameaça ao mundo. “Enquanto nossos serviços, como o WhatsApp, são usados ​​por manifestantes e ativistas em todos os lugares devido a fortes proteções de criptografia e privacidade, no TikTok as menções a esses protestos são censuradas, mesmo nos Estados Unidos”, afirmou Zuckerberg. “Essa é a internet que queremos?”

(.....)


Mas o que explica, afinal, o sucesso estrondoso do TikTok? Em primeiro lugar, embora tenha alargado seu público nos últimos anos, ele virou a rede social preferida dos jovens — faixa etária que mais navega na internet. De acordo com os mais recentes dados disponíveis, dois terços de sua base global de usuários têm menos de 30 anos. Outra razão que justifica a fama recém-conquistada são os algoritmos extremamente precisos, mais até, segundo especialistas, do que a inteligência 
Arte/VEJA
artificial de redes como Facebook, Instagram e YouTube. Os algoritmos do TikTok são capazes de prever e veicular os vídeos com maior potencial para viralizar, o que é tudo de que uma rede social precisa. A partir daí, eles são bombardeados para a maior quantidade possível de usuários. Do ponto de vista empresarial, o TikTok é uma empresa em permanente evolução. 
Publicado em VEJA, edição nº 2693, de 1 de julho de 2020

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Operação Fecha a Boca de Lula e Algo a se aprender com o caso Moro-Deltan: não há privacidade na rede

Operação Fecha a Boca de Lula

Todo cuidado é pouco

Aberta a porteira para que Lula possa conceder entrevistas como é possível a qualquer preso, mas a ele não era, o ex-presidente coleciona cerca de 30 pedidos para que fale.  Ocorre que a direção nacional do PT concluiu que o melhor neste momento é que Lula fique de boca fechada. Melhor que fique quieto só a observar o que possa acontecer.

O ex-juiz Sérgio Moro, o algoz de Lula, está na berlinda desde a revelação de suas conversas com o procurador Deltan Dallagnol. A Lava Jato, em xeque. Um novo lote de conversas está para sair.  Até o fim do mês, o Supremo Tribunal Federal decidirá a sorte de Lula em duas ocasiões: quando deliberar sobre prisão em segunda instância e quando julgar um pedido de habeas corpus para ele.

Nada de marola ou de marolinha, pois. Todo cuidado é pouco para que uma frase, uma palavra mal colocada não se volte contra ele. O PT acha que Lula nunca esteve tão perto de poder respirar melhor.  Quer dizer: de sair da prisão para trabalhar durante o dia, retornando à noite. Ou de cumprir o resto da pena dentro de casa com ou sem tornozeleira eletrônica.

Algo a se aprender com o caso Moro-Deltan: não há privacidade na rede

Juiz e procurador usaram um serviço criptografado e que se vende como à prova de hackers. Caíram numa ladainha


Já conversamos disso aqui neste blog. Como em casos de nudes de famosos vazados via WhatsApp (no link). Mas não custa lembrar: não existe privacidade na nuvem. O caso do vazamento das trocas íntimas de mensagens entre Moro e Deltan Dallagnol mais uma vez prova isso. Com outro peso na repercussão, é verdade. Deixemos isso para lá para se ater ao que importa na análise: não existe privacidade na nuvem.

Glenn Greenwald, do The Intercept Brasil (responsável por expor o troca-troca online dentre Moro e Deltan), manja disso há tempo. Recorde que o jornalista tornou pública até a, digamos assim, privacidade (talvez melhor aqui seriam segredos) do governo dos EUA, no caso Snowden. O nome lhe falha a memória? Vale recorrer ao Google.

Mark Zuckerberg, o genial e tempestuoso fundador do Facebook, já antecipava em 2010: “As pessoas estão confortáveis não só em compartilhar mais informações de diferentes tipos, mas de forma mais aberta e para mais pessoas. Essa norma social é simplesmente algo que evoluiu com o tempo”. Para Zuckerberg, a privacidade não é mais uma norma nesta era das redes sociais. 

O que ele falava em 2010 faz mais sentido do que o posicionamento atual, no qual diz que “a privacidade é o futuro” e que quer tornar o Facebook uma “plataforma de comunicação focada na privacidade”. Besteira. Seja no Facebook, no Instagram, no WhatsApp ou no Telegram, este o preferido da dupla Moro e Deltan, não existe essa coisa de privacidade.

Privacidade é o que ocorre entre quatro paredes. Não se deveria esquecer desse clichê. A internet, a nuvem, não tem paredespor mais que alguns, como os criadores de WhatsApp e Telegram, tentem nos convencer do contrário. Existem, sim, trancas, em forma de criptografia, que dificultam o acesso a cofres virtuais. O Telegram é um desses cofres. Só que também navegam online hackers, ladrões hábeis em destrancar os cofres. Estes fazem valer o que norteia o trabalho dos hackers: sempre existe uma brecha, um bug, todo sistema é falho.

Dizia Gabriel García Márquez:Seres humanos têm três vidas: a pública, a privada e a secreta”. Tudo que está na nuvem, na internet, pode ser encarado como público, ou quase isso. Ok, no WhatsApp trocamos mensagens íntimas com nossos parceiros(as), amigos, chefes. Era para ser privado, sim. Mas um pensamento saudável (ainda mais para figuras públicas) é levar em conta que tudo e qualquer coisa que for codificada em zeros e uns e jogada na nuvem pode ser descodificada por ladrões hábeis.
 
Trata-se de culpar a vítima? Nada disso – e já tratei disso em textos anteriores. O culpado pelo roubo é o ladrão. O que se expõe é apenas uma orientação, um conselho. O que está online pode facilmente deixar de ser privado do dia para a noite.

Aí se entra na terceira vida de Gabriel García Márquez: a secreta. É ainda mais imprudente falar de sua vida secreta no WhatsApp ou no Telegram. Como é imprudente deixar segredos guardados na gaveta (mesmo com tranca) de um escritório qualquer. Alguém sempre pode desvendar a senha, decodificar o codificado, e tornar público o segredo. Isso vale para nudes e tramóias (ou mesmo armas de fogo guardadas no armário em casa).

sábado, 4 de maio de 2019

Facebook inicia nova fase de expurgo de ativistas de direita

Você tem todo direito de não suportar Trump. Tem direito – e até razão, eu diria – de não gostar de ativistas histriônicos como Milos Yannapoulos ou de figuras que deturpam certos fatos como Alex Jones, do Infowars. Tem direito de considerar Paul Joseph Watson forçado demais, ou mesmo repudiar seu estilo (ainda que refutar seu conteúdo seja tarefa mais complicada).Tudo bem. O mundo deve ser livre para divergências de opinião e convívio plural. Afinal, é isso que a esquerda “liberal” prega, não é mesmo? Piada! Só da boca para fora. Na prática, os “progressistas” vêm fazendo de tudo para calar qualquer adversário ideológico, para intimidar ou perseguir conservadores.

Sempre com a desculpa de combate ao discurso de ódio”, e de forma escancaradamente seletiva, os poderosos donos das redes sociais, que deveriam ser plataformas neutras sobre conteúdo (eliminando apenas crimes), declararam guerra a tudo aquilo que não é politicamente correto.  O viés da perseguição é evidente: discursos efetivamente de ódio vindos da esquerda ou de islâmicos radicais passam, enquanto figuras bem moderadas mais à direita, como Ben Shapiro, Dennis Prager e outros, acabam perseguidos. É o gosto pessoal de gente como o “liberal” Mark Zuckerberg ditando quem pode ou não exercer sua liberdade de expressão na era moderna.

Na nova onda de expurgo, vários formadores de opinião ligados ao nacional-populismo foram simplesmente eliminados do Facebook. O próprio Paul Joseph Watson comentou o caso: Watson está certo! Se ele não feriu nenhuma cláusula do contrato, qual a justificativa para seu banimento? Zuckerberg não gosta do que ele fala? Os inquisidores do Facebook acham ele extremista demais? Ora, ele não responde a nenhum processo criminal, que eu saiba, e não é um condenado da Justiça. Seus vídeos podem ser polêmicos, alguns podem considera-los de mau gosto, mas daí a equipara-lo a um bandido vai uma longa distância!
Esse foi o tema do comentário de hoje de Alexandre Borges no Jornal da Manhã da Jovem Pan, alertando que o
admirável mundo novo não será tão admirável assim no que depender desses bilionários “progressistas”:

Estamos vivendo tempos perigosos. A liberdade de expressão está em xeque. E alguns libertários, ou melhor, liberteens, ainda repetem que a empresa privada pode fazer o que bem entender, não entendendo no que essas redes sociais se transformaram hoje, graças justamente ao fato de terem se vendido como plataformas neutras, não mídias editoriais.  Você pode não se importar muito, por achar que só os mais radicais serão alvos de expurgo. Mas é ingenuidade sua. Os expurgos sempre começam assim, para testarem as águas, e depois que a resistência se mostra enfraquecida, avança até não sobrar ninguém mais livre.


Rodrigo Constantino - Gazeta do Povo 


segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Vem aí o Facebank - A internet é uma ilusão

Em uma tentativa para retomar o crescimento acelerado, o Facebook agora quer acesso a dados financeiros de seus usuários


Diante de uma crise de confiança que já afeta o seu número de usuários e, por extensão, suas fontes de receita, o Facebook decidiu contra­-atacar. A rede social fundada e comandada por Mark Zuckerberg está em negociação com bancos americanos para tentar obter acesso aos dados dos correntistas, tais como os registros de uso do cartão de crédito e o saldo nas contas. 

O objetivo da empresa é ampliar a oferta de serviços, provavelmente por meio de sua ferramenta de mensagens instantâneas, o Messenger, de modo a aumentar o engajamento dos usuários. Com a revelação da nova empreitada, as ações da companhia subiram 4,5% em um único pregão. “Nós nos associamos a bancos e empresas de cartão de crédito para oferecer serviços como chat para suporte de clientes ou gerenciamento de contas”, afirmou o Facebook em comunicado oficial.

Mas não será uma tarefa trivial convencer as instituições financeiras e, principalmente, os correntistas a compartilhar tais dados com o Facebook. A rede social teve a sua reputação manchada com a revelação, em abril, de que permitiu o acesso a informações de 87 milhões de usuários à Cambridge Analytica, uma empresa britânica de análise de dados. O episódio fez crescer entre autoridades regulatórias e congressistas de vários países a preocupação em proteger os dados dos usuários da plataforma e punir quem se descuidar desse direito fundamental. Sofrendo com a perda de confiança, o Facebook anunciou recentemente que vai ampliar os gastos para reforçar a segurança e a privacidade de seus mais de 2 bilhões de usuários no mundo. Além desse episódio, a companhia sofreu acusações de que foi e continua a ser instrumento de manipulação política por meio de perfis falsos que propagam fake news — e tem buscado reagir bloqueando e excluindo páginas suspeitas. As denúncias afetaram seu desempenho e as projeções para os próximos meses, com efeito devastador sobre o valor de mercado da companhia: as ações chegaram a cair 20% em um dia, o que gerou uma perda de 123 bilhões de dólares na bolsa.


Recuperar a confiança é crucial para o Facebook. Quanto mais informações as pessoas estiverem dispostas a ceder, mais valiosas serão as redes sociais para os investidores e para as empresas parceiras, alimentando um círculo virtuoso que amplia a sua relevância. Hoje, já é possível transferir dinheiro por meio do Messenger entre pessoas amigas no Facebook. Trata-se de um modelo disseminado na China, onde imperam os chamados superaplicativos, como o WeChat Pay, que permitem o pagamento de serviços diversos. É curioso que a empresa, acusada de fazer pouco-caso da privacidade de seus usuários, queira agora os dados bancários deles. Mas o Facebook confia na estratégia. “Uma parte essencial das parcerias é manter as informações das pessoas seguras e protegidas”, disse a companhia. Que assim seja, para o bem dos usuários.

Publicado em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595


Hugo Gloss, o “influenciador digital” mais cortejado pelas celebridades fala sobre truques usados por quem tenta parecer importante nas redes sociais


Bruno Rocha Fonseca, brasiliense de 32 anos, é um fenômeno na internet. Seus 12,2 milhões de seguidores no Instagram superam a marca de famosos como a pop star Madonna (11,5 milhões). Mais conhecido como Hugo Gloss (uma brincadeira com o nome do estilista alemão Hugo Boss), ele chamou atenção com tiradas engraçadas no Twitter, há cerca de dez anos. Acabou contratado como redator do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, emprego no qual passou seis anos, enquanto se consolidava como o influenciador digital — pessoa que dita tendências de consumo e comportamento na web — mais badalado pelas celebridades. Hoje, Hugo Gloss produz um site com notas sobre famosos e tem mais de 20 milhões de fãs, somando-se todas as redes sociais, nas quais a atração principal, com frequência, é ele próprio, em viagens, festas e cenas de bastidores ao lado de nomes que vão de Ivete Sangalo a Katy Perry.

12,2 milhões de seguidores no Instagram superam a marca de famosos como a pop star Madonna (11,5 milhões). Mais conhecido como Hugo Gloss (uma brincadeira com o nome do estilista alemão Hugo Boss), ele chamou atenção com tiradas engraçadas no Twitter, há cerca de dez anos. Acabou contratado como redator do programa Caldeirão do Huck, da Rede Globo, emprego no qual passou seis anos, enquanto se consolidava como o influenciador digital — pessoa que dita tendências de consumo e comportamento na web — mais badalado pelas celebridades. Hoje, Hugo Gloss produz um site com notas sobre famosos e tem mais de 20 milhões de fãs, somando-se todas as redes sociais, nas quais a atração principal, com frequência, é ele próprio, em viagens, festas e cenas de bastidores ao lado de nomes que vão de Ivete Sangalo a Katy Perry.

Quanto custa um post no seu Instagram?  
A partir de 35 000 reais. Tem todo tipo de proposta: gente que quer se promover, sex shop, saco de lixo. Trabalho, no entanto, para que meu site seja mais forte que qualquer rede social. Quem depende do Instagram ou do Facebook está à mercê dos algoritmos, que fazem com que os posts apareçam para um número restrito de pessoas que seguem você. Seguidor não é sinônimo de dinheiro.

Nem milhões de seguidores? 
A internet não é a vida real, é uma edição da realidade, filtrada como cada um bem entende. Não é à toa que o Stories (recurso do Instagram no qual vídeos e fotos publicados desaparecem depois de 24 horas) tem esse nome, porque ali você é autor da própria narrativa, que pode tanto ser fiel como ficcional. Há agências que contratam posts para eu inserir no Stories e exigem aprovação prévia. Isso significa que, ao contrário do que parece, os vídeos não são necessariamente do momento. É preciso entender que existe um abismo entre conquistar muitos seguidores e conseguir viver apenas do seu trabalho nas redes. Desde 2008, quando comecei no Twitter, eu tinha números altos, mas só pude sair do emprego na Globo e me dedicar exclusivamente a ser Hugo Gloss oito anos depois. Vale ainda dizer que muita gente compra seguidores e curtidas das tais fazendas de perfis falsos.

Como isso funciona? Existem empresas cujo negócio é criar e administrar perfis falsos, para vender curtidas, fazer algo parecer muito maior, seja de um político, seja de um artista. Nunca comprei nem me envolvi, mas sei que são adquiridos aos milhares. Há cantores que inflam números de curtidas e visualizações no YouTube utilizando esse recurso. As pessoas acham que a música está estourada, ficam curiosas, e aquilo acaba eventualmente decolando de fato.

“Tem gente que viaja por dois dias ao exterior, tira fotos com roupas diferentes para que os seguidores achem que ficou mais tempo. Ou se hospeda por um dia no Hotel Fasano e faz o mesmo”

Que outros truques são usados nas redes? 
 É muito comum gente que viaja por dois dias ao exterior, tira fotos com roupas diferentes para montar um arquivo e os seguidores acham que a pessoa ficou muito mais tempo fora. Ou se hospeda por um dia no Hotel Fasano do Rio e faz a mesma coisa. Tem gente que se hospeda, chama um amigo e posa com sungas e biquínis variados para parecer habitué.

No seu site você não fala de outros influenciadores. Por quê? Porque prefiro falar dos famosos de verdade. O Brasil é gigante, e virar uma pessoa famosa requer passar pela televisão ou pelo rádio, que chegam a áreas do país onde ainda não há internet. Influenciador, então, não é celebridade. Por outro lado, a maioria dos atores e atrizes não sabe ser influenciadora, fica presa ao arquétipo do galã ou da mocinha, e isso não cola. 

MATÉRIA COMPLETA em VEJA de 15 de agosto de 2018, edição nº 2595

domingo, 3 de janeiro de 2016

WhatsApp não está acima da lei



Qualquer empresa, esteja onde estiver, se atuar em território brasileiro tem que cumprir as nossas leis e obedecer aos nossos poderes instituídos
A emergência da internet e a essencialidade que adquiriu num curtíssimo período de pouco mais de década para um amplo conjunto de práticas sociais e econômicas cotidianas têm suscitado enormes desafios políticos e jurídicos no exame de situações que, em outros contextos, pareceriam de relativamente simples solução consuetudinária. Polêmicas como as suscitadas pelo Uber ou pelo WhatsApp são bons exemplos. Legisladores e juízes se desdobram buscando produzir ou aplicar leis a situações que, não raro, podem parecer inusitadas.

Em 16 de dezembro último, a juíza Sandra Marques, de São Bernardo, São Paulo, decretou a suspensão, por 48 horas, dos serviços do WhatsApp. Um dia depois, a ordem foi revogada pelo desembargador Xavier de Souza, da Justiça paulista. A juíza alegou que tomara a decisão porque a empresa controladora do WhatsApp, a Facebook Inc., com endereço e CNPJ no Brasil, ignorou solenemente a ordem judicial de fornecer ao Ministério Público alguns dados sobre uma investigação criminal. Já o desembargador considerou a decisão “desproporcional” por atingir milhões de pessoas, sendo recomendável, antes, aplicar à empresa multas crescentes.

Claro, o tema provocou muitos debates, não faltando especialistas em leis para advogar, com base nessas leis, tanto a favor quanto contra a decisão da juíza. Talvez tenha faltado o debate político, antecedente ao jurídico. WhatsApp e Facebook são useiros e vezeiros em ignorar decisões judiciais em outros países que não os Estados Unidos, não sendo a primeira vez que afrontam a Justiça brasileira — fato que o desembargador Souza já deveria saber. 

Alegam que suas leis são as do Estado da Califórnia. Ora, nenhuma empresa pode desrespeitar ou não fazer caso da soberania de qualquer Estado, muito menos a do nosso Estado brasileiro. Qualquer empresa, esteja onde estiver, se atuar em território brasileiro tem que cumprir as nossas leis e obedecer aos nossos poderes instituídos. Isto, inclusive, está claro no Marco Civil da Internet: as leis que valem são as nossas. Só por isso, atitudes como as do Facebook e do WhatsApp já deveriam causar revolta a qualquer brasileiro, não lhes merecendo nenhuma solidariedade.

WhatsApp não é internet, Facebook muito menos. São plataformas, entre outras, disponíveis na internet. Dizer que a suspensão do WhatsApp derrubou a comunicação das pessoas seria similar a argumentar que uma manifestação de rua impede o direito de ir e vir. Num caso e noutro, num Estado Democrático de Direito, desculpem-se os transtornos, mas se busquem caminhos alternativos... Aliás, no caso do WhatsApp, como sabido, milhões de brasileiros logo encontraram outros caminhos.

Qualquer Estado, nos termos da sua legislação e dos poderes de suas instituições, pode suspender o funcionamento de alguma indústria ou serviço, caso estejam infringindo as leis. Restaurantes podem ser fechados, bancos podem sofrer intervenção federal, universidades podem ser descredenciadas e fechadas... Por que o WhatsApp não pode? Se, porém, entendermos que a suspensão do WhatsApp poderia causar um transtorno social com dimensões similares à interrupção dos serviços, digamos, de uma empresa fornecedora de energia elétrica, então estaríamos lhe atribuindo a importância de um “serviço essencial”. Neste caso, precisaria ser declarado “serviço público” e submetido à legislação pertinente... Se não é o caso, o WhatsApp pode ser paralisado por algumas horas, a bem da Justiça, tanto quanto, por exemplo, pode ser fechado um supermercado pego vendendo produtos com validade vencida. O consumidor que busque alternativa.

Empresas que prestam serviços suportados na internet, assim como também as pessoas que usam a internet, não estão acima das leis, ou sob alguma proteção legal especial. Não existem “direitos digitais”. Por acaso existiram outrora “direitos analógicos”? Existem direitos humanos, independentemente de tecnologias. Nesse sentido, nenhum direito expressão, ir e vir, saúde, moradia, privacidade, qualquer outro — foi infringido pela decisão de uma Juíza brasileira, no cumprimento das suas atribuições. Se a liberdade de expressão estivesse dependente do WhatsApp (felizmente não está!), nós nos encontraríamos diante de flagrante caso de monopólio nas comunicações, vedado pela nossa Constituição.

A base de um Estado Democrático de Direito é uma justiça eficaz, isto é, que possa ter suas decisões cumpridas. Facebook e WhatsApp talvez tenham aprendido, graças ao desembargador Souza, que, no Brasil, decisões da Justiça não precisam ser cumpridas. Aliás, sabe-se que o Facebook já deve, ao Estado brasileiro, mais de R$ 12 milhões, em multas. Certamente uma bagatela diante da fortuna de Mark Zuckerberg. Talvez por isso, ele tenha se esquecido de pagar...

Fonte: Marcos Dantas é professor da Escola de Comunicação da UFRJ e conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil