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quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Cunha revoga rito do impeachment barrado pelo STF



Decisão deve destravar a tramitação dos processos contra a presidente Dilma Rousseff após liminares acatadas pelo Supremo Tribunal Federal

Com aval dos técnicos da Câmara em favor da continuidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), revogou nesta quinta-feira as regras que ele mesmo havia definido para a tramitação dos pedidos de afastamento. Com isso, voltou a ter controle sobre o andamento de um possível processo de saída da presidente.  A revogação da "cartilha do impeachment" é uma tentativa de contornar as liminares do Supremo Tribunal Federal (STF), que haviam sustado o rito de tramitação dos pedidos de impeachment. Ou seja, a decisão de hoje tende a destravar o impasse jurídico sobre o andamento dos processos que podem levar Dilma a perder o cargo.

A liminar concedida pelo ministro Teori Zavascki, por exemplo, dizia que eram questionáveis "o modo e a forma como foi disciplinada essa matéria (por decisão individual do presidente da Câmara, mediante resposta a questão de ordem), como também a negativa de admissão, por essa autoridade, de meio impugnativo de revisão ou de controle do seu ato por órgão colegiado da Casa Legislativa".

A decisão de Eduardo Cunha tem como pano de fundo esvaziar a possibilidade de interferência do STF na tramitação dos pedidos de impedimento contra Dilma. Com a revogação do rito do impeachment, a Câmara vai se valer agora da Lei 1079, de 1950, que define os crimes de responsabilidade e o julgamento deles, além de se amparar na Constituição e do Regimento Interno da Câmara, que prevê a possibilidade de o próprio presidente da Casa, em decisão individual, dar seguimento ou não aos processos. O Regimento Interno da Casa prevê ainda a possibilidade de recurso, independentemente do rito que havia sido definido pelo peemedebista.

Prazo - Os partidos de oposição avaliam que até a próxima semana será possível abrir oficialmente o primeiro processo contra Dilma. Os oposicionistas haviam estabelecido o prazo até 15 de novembro para que o impeachment pudesse seguir em frente. A aliados, Cunha confirma que vai tomar uma decisão nas próximas semanas.

Ao explicar a revogação do rito, Cunha afirmou que a Câmara apresentou um recurso ao STF para explicar que o "manual do impeachment" não era, na avaliação do parlamentar, inconstitucional. Mas diante da incerteza provocada pela falta de uma decisão definitiva sobre o processo, ele próprio decidiu acabar com as regras propostas individualmente por ele e passar a aplicar a legislação já existente. "Primeiro, a gente quis agravar [recorrer ao STF] e quis prestar as informações para que pudesse ter os argumentos de que não havia nada de errado. Se a gente fizesse isso [revogasse o rito] num primeiro momento, poderia passar a impressão de que alguma coisa de errado tivesse sido feita, que não foi o caso", afirmou Eduardo Cunha.

No trâmite para processos de impeachment, segundo a Lei 1079/1950, está a instalação de uma comissão especial para dar um parecer ao Plenário. O entendimento de Eduardo Cunha é o de que depois da análise pela comissão, o pedido de impeachment é submetido à votação nominal e para que a acusação seja admitida e o processo de impedimento da presidente seja aberto, são necessários, em Plenário, 342 votos dos 513 deputados.

Em setembro, Eduardo Cunha havia apresentado a fórmula para a tramitação de pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff e definido que caberia a ele, como presidente da Câmara, definir previamente se são cabíveis ou não os pedidos de impeachment. Por este manual, a ideia é que apenas deputados, e não autores dos processos de impedimento ou cidadãos sem mandato,  pudessem apresentar recurso contra o eventual indeferimento de qualquer uma das denúncias. Mas liminares dos ministros Teori Zavascki e Rosa Weber suspenderam, no dia 13 de outubro, a forma de tramitação dos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade.

Fonte: Agência Brasil

quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Toma lá. Dá cá?




A preocupação das empresas envolvidas na Operação Lava Jato de que os políticos - ou pelo menos ou peixes grandes da área - saiam ilesos do caso Petrobrás está evidente na linha de defesa adotada pelos advogados.  A alegação de que foram coagidas a participar de um esquema de superfaturamento de contratos, cujo objetivo era fazer caixa para financiar um projeto de poder.

De maneira mais tortuosa, mas nem por isso menos assertiva, o governo sinaliza que já entendeu que está sendo arrastado para o centro da linha de tiro e ensaia a reação.  De forma diplomática, a presidente Dilma Rousseff separa pessoas físicas de jurídicas ao dizer que empresas não podem responder pela (má) conduta de funcionários.  Em outra dimensão, porém, o ex-secretário-geral da Presidência Gilberto Carvalho fala aos companheiros do PT sobre a existência de um "complô" de empreiteiras para corromper políticos ligados ao governo e funcionários da Petrobrás no intuito de levá-los todos às "barras dos tribunais".

Pois é. Os dois lados já se deram por entendidos. Um tenta demonstrar que foi vítima do outro e vice-versa.  Na realidade, a narrativa não inclui sujeitos passivos. Todos os personagens são ativos, pois atuaram conforme seus interesses.  Políticos e empresários aliaram fome e vontade de comer. Não há inocentes na história. Para efeito de defesa pretendem agora se distanciar, lutar em campos opostos. 

Do ponto de vista da Justiça, porém, pode ser tarde. Houve um momento em que essa aliança poderia ter sido desfeita.  Hoje não há sinal de que juízes de primeira e última instância olhem com tolerância para negócios com indícios de ilícitos no Estado.

Limão. Não há resultado ótimo para o governo nas eleições das presidências da Câmara e do Senado no próximo domingo. Reeleito o senador Renan Calheiros, o Planalto não terá na presidência o fiel aliado dos anos anteriores. Sem expectativa renovada de poder e com passivo de insatisfações acumuladas, a presidente Dilma Rousseff conhecerá a face do político que não tem "compromisso com o erro" quando lhe convém. Calheiros é aliado de suas conveniências.

Na Câmara, se ganhar Eduardo Cunha (PMDB), o governo não terá um interlocutor submisso, mas nem por isso adverso. Tudo vai depender da atitude do Palácio do Planalto. Se ele for eleito e o governo souber fazer política direito, o panorama ficará melhor quanto mais Cunha receber sinais favoráveis à composição. Agora, se ele perder com o governo colocando toda a artilharia contra, a consequência será pior.

Derrotado para a presidência da Câmara, Eduardo Cunha será reconduzido à liderança do PMDB com a "faca nos dentes" e o comando de, no mínimo, 66 deputados. Sem contar aqueles que ele influencia fora do PMDB, que devem ser mais ou menos uma centena.
Contas. Os governistas estão muito furiosos com os oposicionistas. É verdade que para isso precisam reconhecer que, se a eleição para a presidência da Câmara fosse hoje, Eduardo Cunha estaria eleito. Segundo eles, o resultado está na mão da oposição. Para onde forem os votos do PSDB e do DEM, mas principalmente dos tucanos, irá a definição da decisão em primeiro ou segundo turno.

Oficialmente, os governistas dizem que Arlindo Chinaglia (PT) se fortaleceu. Nos bastidores, reconhecem que a derrota para Cunha é certa se a oposição não mudar de opinião.

Fone: Dora Kramer, colunista do Estadão