Prezada Regina Duarte, não se case com Jair Bolsonaro. Aceite a pasta
da Cultura, com letra maiúscula e autonomia, mas não se torne esposa,
porque o marido exigirá obediência cega e surda até que a morte os
separe. Ele já provou que não é “um cara doce”. Doce é você. Por seu
talento e pelos sorrisos abertos que distribui, o Brasil caiu de amores
há décadas. Não importa agora que você seja conservadora. Importa que
seja humana e sensata. Não coloque a religião à frente de suas decisões.
Não seja desagradável ou preconceituosa.
O preconceito e a patrulha não são privilégio da direita ou da
esquerda. “Em 2002 (na primeira eleição de Lula), fui chamada de
terrorista e hoje sou chamada de fascista, olha que intolerância”, disse
em Conversa com Bial. “E eu achando que vivia em uma democracia,
onde eu tenho o direito de pensar de acordo com o que eu quero. Eu
respeito todo mundo que pensa diferente de mim. Não saio xingando as
pessoas por aí”.
Não xingar já é um tremendo avanço. Regina, você tem um legado
artístico a proteger. A Cultura brasileira está órfã. Pior: no governo
Bolsonaro, tornou-se uma filha enjeitada, uma inconveniente, uma
borralheira, aquela que leva pontapés e ouve grosserias. Cultura engloba
artes plásticas, cinema, teatro, balé, literatura, música. Quando um
presidente manda uma repórter calar a boca, ou veta e persegue artistas
em nome de Deus e de ideologias, negando-se até a entregar prêmios
internacionais, isso não é ser censor. É ser estúpido. Você jamais se
comportaria assim. Não se oporia a entregar o prêmio Camões a Chico
Buarque. Acho que se sentiria honrada. Arte acima de tudo.
O Brasil só espera que você valorize nossa cultura em tudo que já
encanta o mundo. A criatividade, a inventividade, a originalidade, a
mestiçagem. Você fez isso inúmeras vezes como atriz de novelas, foi
vista e admirada em outros países, como virgem ou prostituta. Foi
feminista na série Malu Mulher, de 1980, discutindo temas tabus, embora
não se diga feminista na vida real. Você vivia uma situação exatamente
igual à da personagem. "Tinha acabado de me separar e estava assustada,
machucada, com dois filhos para criar e não mais sob tutela do meu pai.
Fazer o seriado me fortaleceu, foi terapêutico”.
Você cumpriu o papel de si mesma, como mãe e avó. Um marido
autoritário e ciumento de seu carisma é tudo aquilo de que você não
precisa, agora que completa 73 anos em fevereiro como uma mulher
independente. Na ditadura militar, você brigou. “Eu corri de cavalos, me
enfiei debaixo de porta para fugir da cavalaria, eu participei de
palanques ao lado de Lula pelas Diretas Já, pela Anistia Ampla Geral e
Irrestrita, Revolução dos Cravos...” Regina sempre assumiu ter medo de
Lula. Tem direito de pensar assim. Em entrevista em 2018, disse que
“Bolsonaro é fruto do país, é resultado dos erros monstruosos do PT e da
falta de mea-culpa”.
Cuidado com as armadilhas. Após o compromisso selado, há o risco de
desrespeitos privados e públicos, assédio moral, palavrões, exigências
que coloquem suas convicções éticas em xeque. Ao cortejá-la, o noivo se
comporta de maneira graciosa. É questão de honra para Bolsonaro que você
aceite. Procure saber se poderá destituir os desclassificados nomeados
por Alvim. Não troque alianças, da direita para a esquerda. Ou
vice-versa. Regina, esqueça os anéis, fique com os dedos. [o mais importante: avise para aqueles que se dizem artistas, alguns em final de carreira (carreira que não começou e se iniciou não deslanchou) que a Cultura não aceite que tentem substituiu a competência, a capacidade, a genialidade, por palavrões, por ofensas à FAMÍLIA, a JESUS CRISTO e aos VALORES CRISTÃOS e MORAIS, que alguns aztistas a pretexto de fazer 'cultura', agridem e tentam destruir.]