Moraes não cabe mais na toga: quer ser juiz, delegado e promotor
Depois de ressuscitar a censura à imprensa, o ministro Alexandre de Moraes mandou a polícia vasculhar as casas de uma estudante e um general de pijamas
O ministro Alexandre de Moraes não cabe mais na toga. Há dois anos no
Supremo, ele quer acumular os figurinos de juiz, delegado e promotor.
Nas horas vagas, também cobiça uma vaga de censor. Falta o lápis
vermelho para riscar as reportagens proibidas. Depois de avançar contra a liberdade de imprensa, o ministro voltou a
fazer barulho ontem. De manhã, deflagrou uma operação que mobilizou
policiais em São Paulo, Goiás e Distrito Federal. À tarde, meteu-se numa
queda de braço com a Procuradoria-Geral da República, que o acusa de
conduzir um inquérito fora da lei.
A mando de Moraes, a PF vasculhou as casas de sete ativistas de
Facebook. Entre os perigosos alvos, estavam um general de pijamas e uma
estudante de que sonha com a volta da ditadura. No ano passado, os dois
tentaram entrar na política e tiveram votações pífias. Agora ganharam
uma nova chance de se promover.
Moraes também comprou briga com Raquel Dodge. Ela defendeu o
arquivamento do inquérito instaurado a pretexto de defender a honra do
Supremo. Ele ignorou o ofício e acusou a procuradora de agir de forma
“inconstitucional e ilegal”.
Os mesmos adjetivos têm sido usados para descrever a investigação aberta
por Dias Toffoli e conduzida por Moraes. O professor Walter Maierovitch
afirma que a dupla violou a Constituição e usurpou poderes do
Ministério Público. “O inquérito está errado desde o princípio, porque quem julga não pode
investigar nem acusar. Moraes se colocou em vestes de Torquemada. Agora
quer transformar o Supremo numa corte inquisitorial de república de
bananas”, critica.
Os bombeiros ainda resfriavam a Notre Dame quando a família Arnault, do
nade grifes como a Louis Vuitton, desembolso uR $875 milhões para
reconstruir a catedral. O Museu Nacional virou cinzas há sete meses e os
bilionários brasileiros ainda não coçaram o bolso. A maior doação,
anônima, foi de apenas R$ 20 mil. Até hoje, chove dentro do palácio da
Quinta da Boa Vista.
Bernardo Mello Franco - O Globo