Por Ricardo Noblat
Enfim, a nossa jabuticaba
O nome oficial é
Aliança pelo Brasil. Mas pode chamá-lo de Partido da Família Bolsonaro.
Ou Partido do Três Oitão. Na hora de votar, se preferir, crave 38. “Acho
que é um bom número, né?” – perguntou o presidente Jair Bolsonaro no
ato de lançamento da nova legenda. E justificou: “Mais fácil de gravar”.
De fato, mais fácil. E
coerente com o programa do partido que fala no “direito inalienável dos
brasileiros de possuir e portar armas de fogo”. O programa chama aborto
de “assassinato de criança”. [definição
perfeita, cabendo apenas acrescentar inocentes e indefesas - muitos,
realmente multidões, se revoltam quando uma criança é assassinada de
forma covarde, vil, repugnante - repulsa que aumenta se o assassinato é
cometido pelos pais, destacando pela mãe; que dizer então quando a
criança é INOCENTE e totalmente INDEFESA, nao podendo sequer gritar ou
chorar?] condena o “ativismo judiciário – bandidos
que estejam no poder munidos de armas ou de canetas”.
Nada a ver com caneta
azul, caneta com a qual Bolsonaro assina seus despachos. Ontem
mesmo, ele assinou mais um que, se aprovado pelo Congresso, facilitará a
vida de militares e policiais destacados para restabelecer a ordem
pública. Estarão liberados para “atirar na cabecinha” de bandidos. Se o nome Partido do Três
Oitão inspira medo em almas sensíveis, o outro é mais acolhedor e faz
sentido. O presidente do Partido da Família Bolsonaro será Jair, o pai. O
vice, Flávio, seu primogênito. A Comissão provisória será formada por
dois assessores de Bolsonaro, um de Eduardo e dois advogados da família.
Jair Renan, o Zero
Quatro, e o único dos filhos de Bolsonaro sem mandato, apareceu ao lado
do pai no ato de lançamento e ainda poderá ganhar uma vaga na comissão
provisória do novo partido. O desafio da comissão é conseguir em tempo
recorde cerca de 500 mil assinaturas de eleitores em pelo menos nove
Estados. Do contrário, o partido
não participará das eleições do próximo ano. Caberá à Justiça Eleitoral
decidir se as assinaturas poderão ser digitais ou se terão de ser
físicas como foram para a criação dos demais partidos. [com mais de 80% do eleitorado com cadastro biométrico e o uso intensivo da informática (vejam os smart phone) é tarefa fácil, especialmente lembrando que o presidente Bolsonaro recebeu quase 60.000.000 de votos em 2018.
A Justiça Eleitoral terá a sensatez de liberar o a biometria para substituir as antiquadas assinaturas físicas.] As físicas
demandam tempo. É mais lento o processo de conferir uma por uma para
evitar repetição.
Até se eleger presidente,
Bolsonaro combateu o voto digital. Dizia que ele não era confiável.
Bateu-se pelo retorno do voto impresso, segundo ele, menos sujeito à
fraude. Bolsonaro e seus filhos mudaram. [ainda temos o entendimento que se o voto digital apresentasse segurança absoluta, seria usado nos países possuidores das democracias mais sólidas.
Mas, aos que dividem tal entendimento conosco, só resta aceitar os fatos: o voto digital se consolidou no Brasil, deixando aos favoráveis ao voto impresso, o presidente Bolsonaro entre eles, um único caminho: adaptação às regras do jogo. Com
a biometria, usada até pelos bancos que sempre buscam o máximo de
eficiência, rapidez e segurança,a confiabilidade das urnas eletrônicas
aumentou consideravelmente.]
Querem que as assinaturas de
apoio ao partido da família possam ser digitais. O argumento deles não é
mal. “Já temos o cadastramento
biométrico de 75% dos eleitores brasileiros”, observa Flávio, o
senador. “A assinatura física já não tem cabimento”. A manada de
seguidores dos Bolsonaro está nos cascos para reunir as assinaturas. Se a
Justiça autorizar será vap vupt. Afinal, tempos modernos! Tempos estranhos também.
No país campeão continental em número de partidos, jamais houve um tão
escandalosamente a serviço de uma única família. Alvíssaras! Nasce uma
jabuticaba de fato brasileira, coisa nossa e de mais ninguém.