Fábio Matos Antonio Galvan destaca a vocação agrícola do Brasil e critica protecionismo comercial da Europa: ‘Eles querem salvar o deles’ No
fim de março de 2021, o produtor rural Antonio Galvan, de 64 anos, foi
eleito presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja
(Aprosoja), para um mandato que se encerrará em 2024. Natural de
Sananduva, no Rio Grande do Sul, oriundo de uma família de produtores
rurais, ele morou no Paraná por sete anos. Com formação em
contabilidade, chegou a Mato Grosso em 1986 e estabeleceu sua atividade
no município de Vera, hoje com pouco mais de 10 mil habitantes.
Antonio Galvan comandou o Sindicato Rural de Sinop (MT) e foi diretor da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado (Famato).
Acompanhou de perto os trabalhos da Aprosoja desde a fundação da
entidade, em 2005 — a instituição sucedeu à antiga Abrasoja, criada em
1990.
Antes
de assumir o desafio de presidir a Aprosoja em nível nacional, coube a
Galvan o comando da seção estadual da associação em Mato Grosso, o
Estado campeão nacional em produção de soja. Ele ocupou o cargo por três
anos, de 2017 até dezembro do ano passado. Atualmente, a Aprosoja reúne
16 afiliadas estaduais e representa mais de 240 mil sojicultores de
todo o Brasil.
Em entrevista a Oeste ,
Galvan acusa as grandes potências estrangeiras, especialmente da
Europa, de tentarem prejudicar o agronegócio brasileiro sob o pretexto
de salvar o meio ambiente . “Em termos de vegetação nativa, os números da
Europa são muito baixos” , diz. “O discurso não tem nada a ver com a
realidade. Isso é protecionismo comercial para tentar amenizar essa
subvenção que é feita pelos governos europeus em cima da agricultura.”
Segundo Galvan, o que deixa os europeus preocupados é que nosso
território brasileiro permite essa abundância. “Temos uma enorme vocação
para a área agrícola. Isso causa inveja em qualquer país do mundo. É
dor de cotovelo.
Alvo
de um inquérito aberto no Supremo Tribunal Federal (STF) para
investigar supostos “ataques às instituições democráticas” , Galvan
reitera seu apoio às manifestações de 7 de Setembro e garante estar
tranquilo. “Não se viu vandalismo, nenhuma agressão, violência, ataque
aos Poderes, nada”, afirma. “Certamente seremos absolvidos. Não devemos
nada, não temos pendência nenhuma.” Produtor rural Antonio Galvan | Foto: Divulgação/Aprosoja
Na conversa com Oeste , o presidente da Aprosoja também falou, entre outros assuntos, sobre as expectativas para a safra 2021/2022, as dificuldades causadas pelo clima quente e seco no Sul do país , as invasões de propriedades no campo, o ataque do MST ao prédio da entidade em Brasília .
Leia os principais trechos da entrevista.
Segundo estimativas da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2021/2022 pode chegar a 142 milhões de toneladas. Qual é a importância da soja na alimentação e na vida dos brasileiros?
As pessoas não têm a exata dimensão de onde a soja pode ser utilizada. Há mais de mil produtos em que você tem algum componente de soja . Um ótimo exemplo é o óleo de soja, que quase todo mundo usa para temperar a comida. Com o tempo, ela veio para agregar também na questão do biodiesel: são utilizados milhões de toneladas de soja mundialmente como matéria-prima para a produção do biodiesel.
Temos também produtos usados na medicina, como remédios e cosméticos. Praticamente em todos os cosméticos você encontra algum item extraído do grão de soja. Em relação a essa estimativa da Conab, há algumas projeções que até ultrapassam esse número. Mas foram feitas em um cenário com um clima de razoável para bom no Brasil. Sabemos que o país vem atravessando um período muito difícil, principalmente com o calor e o tempo seco na Região Sul. Isso preocupa. Também está chovendo demais em algumas regiões, como Mato Grosso. As enchentes na Bahia atingiram algumas lavouras. Já estamos chegando ao fim do ano e, diante desses problemas climáticos, creio que dificilmente esses números vão se confirmar.
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Esses ambientalistas devem ser cegos. Vejam os números da Embrapa e os dados da própria Nasa. Temos praticamente dois terços de mata e vegetação natural plenamente preservados . Há uma discrepância muito grande entre a realidade e o que afirmam esses que se dizem ambientalistas. O negócio deles é desmoralizar, mas não estão desmoralizando o produtor de soja. Acabam desmoralizando o nosso país, que tem tudo para crescer. Eles sabem que não estão conseguindo impor essa narrativa, pois os fatos estão aí. Trata-se, na verdade, de um problema político. É fácil perceber que essa turma está sempre defendendo interesses internacionais relacionados, principalmente, à nossa Floresta Amazônica. No entanto, os europeus usam 50% do território para produzir grãos. Nós usamos menos de 8%.
“Em grande parte do Brasil, nós chegamos a ter três safras no mesmo ano. O que deixa os europeus preocupados é isso”
Não tenha dúvida quanto a isso. Eles querem tentar salvar o deles. Aqui também existe essa cruzada por parte de muitos deputados que querem cobrar mais caro do produtor rural, porque acham que ele não contribui com a questão ambiental. O que aconteceu na Europa foi justamente isso: começaram a taxar tanto o produtor de alimentos que hoje eles têm de subsidiar a agricultura deles para sobreviver. Descobriram que precisam daquele alimento que é produzido no campo. Em termos de vegetação nativa, os números da Europa são muito baixos.
O discurso não tem nada a ver com a realidade. Isso é protecionismo comercial para tentar amenizar essa subvenção .
Em grande parte do Brasil, nós chegamos a ter três safras no mesmo ano. O que deixa os europeus preocupados é isso.
Nosso território permite essa abundância e nós temos uma enorme vocação para a área agrícola. Isso causa inveja em qualquer país do mundo. É dor de cotovelo . Temos milhões de pessoas em todo o mundo que passam fome e outros tantos milhões que se alimentam muito mal. E os caras ainda tentam dificultar as coisas na produção de alimentos básicos, como a soja. O que eles realmente querem?
Você acha que estão preocupados com o ser humano?
Segundo dados do IBGE, o agronegócio sofreu um tombo de 8% no terceiro trimestre deste ano, sendo determinante para o recuo de 0,1% do PIB do país no período. A que o senhor atribui esse resultado?
Atribuo à queda do preço dos produtos. Vínhamos com um preço relativamente alto, e praticamente todos os produtos tiveram queda no Brasil e lá fora. A soja chegou a pouco mais de US$ 14 na Bolsa de Chicago e hoje está por volta de US$ 12. E também o nosso alto custo. Infelizmente, grande parte da agricultura está quase inviabilizada por causa dos altos custos de fertilizantes e defensivos.
(.....) <iframe loading="lazy" title="Mais imagens da invasão do MST ao prédio da Aprosoja" width="768" height="432" src="https://www.youtube.com/embed/I0EU1lptz1g?feature=oembed" frameborder="0" allow="accelerometer; autoplay; clipboard-write; encrypted-media; gyroscope; picture-in-picture" allowfullscreen></iframe>
Como está a segurança nas áreas rurais hoje? O produtor rural pode se sentir seguro ou ainda está sob constante ameaça de invasões?
Temos que dividir a questão da segurança no meio rural em duas partes. Em relação às invasões de terra, houve de fato uma amenização . Os números mostram que hoje a situação está um pouco mais tranquila. Não que tenham zerado as invasões, mas é inegável que se tirou dinheiro de quem propiciava que isso acontecesse. Muitas ONGs estavam envolvidas nesse processo. Por outro lado, tem a questão de roubos e assaltos a propriedades e fazendas. Em alguns Estados, percebemos que houve uma redução. Mas sabemos que em algumas regiões do país ainda ocorrem muitos roubos. Esperamos que esse plano nacional de segurança no campo, lançado recentemente, venha a ajudar.
O senhor é alvo de um inquérito no STF, aberto pelo ministro Alexandre de Moraes, por supostamente participar de grupos que teriam promovido ataques às instituições democráticas. Como está o andamento do processo? O STF tem cometido abusos?
O que posso dizer é que nos dois movimentos que apoiamos neste ano, tanto o de 15 de maio quanto o de 7 de Setembro, não houve sequer um incidente. No 7 de Setembro , as pessoas se reuniram em todo o Brasil para protestar, principalmente contra a forma como a nossa Justiça vem sendo conduzida, o Supremo Tribunal Federal.
Não foi nem tanto em apoio ao presidente Jair Bolsonaro, mas uma manifestação contra o que vem acontecendo em termos de flagrante desrespeito à Constituição.
Mais de 30 milhões de brasileiros se reuniram em todo o país. Em nenhum momento em que houve essa nossa participação tivemos qualquer tipo de ato antidemocrático. Muito pelo contrário: não se viu vandalismo, nenhuma agressão, violência, ataque aos Poderes, nada. No meu inquérito, não há uma única acusação que prove que eu tenha falado ou feito qualquer coisa nesse sentido. Certamente seremos absolvidos. Não devemos nada, não temos pendência nenhuma.