Em menos de cinco dias,
o governo surpreendeu o distinto público duas vezes. A primeira ao
anunciar a disposição de remeter ao Congresso a proposta
de ressuscitar a CPMF, conhecida como imposto do cheque. A segunda ao
desistir de fazê-lo dada à recepção negativa à proposta. O governo mais impopular da História queria
valer-se do imposto mais impopular da
História. Coisa de gênio!
E tudo
porque há um buraco de 80 a 100 bilhões
de reais no Orçamento da União para 2016.
Entre eliminar despesas ou arrecadar mais via aumento de impostos ou
a criação de um novo imposto, Dilma e sua turma se renderam à solução mais
confortável. Não ocorreu a ninguém disparar algumas dezenas de telefonemas para
empresários e políticos perguntando a opinião deles a respeito.
Se isso tivesse sido feito, o
governo teria se poupado de mais um desgaste. De resto, não reforçaria a sensação de que se
comporta como uma barata tonta. Barata tonta é
Dilma, não a sua equipe. No regime
presidencialista brasileiro, o poder do chefe do governo é incontrastável. E a
depender do temperamento dele, pode-se tornar quase absoluto para efeito
interno.
De
janeiro último para cá, alardeou-se a
ideia de que Dilma delegara poderes ao vice-presidente Michel Temer e ao
ministro da Fazenda Joaquim Levy. Os dois seriam seus avalistas em suas
respectivas áreas de atuação – a política e a economia. Temer chegou a circular empavonado como o coordenador político do governo,
oferecendo cargos e dinheiro para garantir o apoio de deputados federais e
senadores. Balela! O poder continuou
concentrado nas mãos de Dilma. E bastou
que ela duvidasse da lealdade de Temer para acabar com sua rotina glamorosa.
Nem se deu ao trabalho de
chamá-lo para agradecer pelos serviços prestados. Dilma
não agradece, só repreende. Quando menos esperava,
Temer percebeu que Dilma o deixara com o pincel na mão. Não foi a primeira vez. Não
seria a última. Para
não parecer que havia sido dispensado pela presidente, Temer concordou em
encenar a farsa de que passaria a cuidar da macro politica, essa, sim,
uma tarefa que Dilma jamais repassaria a quem quer que fosse.
Não durou muito. Soube pela
imprensa da possível ressurreição da CPMF. Não acreditou. Soube também pela imprensa do recuo
do governo. Escaldado, acreditou. Se
dependesse de Levy, o ajuste fiscal teria sido bem maior do que de fato foi. Ele
quis atacar o desequilíbrio estrutural que faz com que as despesas obrigatórias
do governo cresçam num ritmo mais forte do que a economia. Dilma impediu.
Foi Nelson Barbosa, Ministro do
Planejamento, o pai do resgate da CPMF. Levy ficou na dele. Quando decidiu defender a CPMF, era
tarde. Viu-se pendurado no pincel.
Como Temer. A esperança que, em 2002, venceu o medo, está perdendo para o desencanto pelo escandaloso placar de 7 x 1. O
único gol dos mais de 12 anos de hegemonia do PT foi a redução da miséria.
Os sete gols que tomou até aqui: economia em
baixa; corrupção em alta; base de apoio no Congresso esfacelada; corte de benefícios sociais; péssimos índices de Educação e Saúde; violência urbana crescente; e a criação de uma geração de desiludidos
com a política.
Dilma voltou a repetir na semana
passada que não haverá retrocesso nas conquistas obtidas
pelos brasileiros desde que Lula chegou ao poder pela primeira vez. Para
variar, mentiu. Já houve.
Fonte: Ricardo Noblat – Blog do Noblat