Enquanto exigem juros mais baixos, centrais sindicais sabotam o principal instrumento que pode garantir saúde fiscal ao Brasil
A decisão do Comitê de
Política Monetária (Copom) de manter a taxa básica de juros, a Selic, em 6,5%
pela décima reunião consecutiva irritou sindicalistas. A Força Sindical, por
exemplo, emitiu nota assinada por seu presidente, Miguel Torres, afirmando que
os membros do comitê “continuam insensíveis ao sofrimento de milhões de
brasileiros desempregados ou submetidos à precariedade e à informalidade do
mercado de trabalho”. Embora desta vez outras centrais não tenham feito
comunicados semelhantes, a crítica aos “juros altos” é uma constante, ainda que
a Selic esteja em seu menor patamar da série histórica.
Que juros mais baixos são
um estímulo à economia não se pode negar. E também já ficou bastante evidente
que o país tem patinado. A recuperação tímida iniciada após o fim da era
lulopetista estancou, com a retração observada no primeiro trimestre deste ano.
O Copom reconhece esse fato em seu comunicado, divulgado logo após a reunião
encerrada no último dia 19, e também não vê ameaças à inflação no curto e médio
prazo. Em tese, isso até justificaria uma redução, mas os membros do comitê
optaram pela cautela, até porque continua bastante fresca na memória a fase de
redução voluntarista dos juros, sem embasamento real, ocorrida durante o
primeiro mandato de Dilma Rousseff, e as consequências dessa política. Isso não quer dizer, no
entanto, que os responsáveis por definir a Selic estejam fechados à
possibilidade de novas reduções, se a estagnação continuar e o Copom verificar
que há bases mais sólidas para novas reduções. O comunicado também menciona a
melhoria no cenário externo. De qualquer maneira, um eventual novo afrouxamento
terá de ficar para o segundo semestre, porque o principal fator que pode
impulsionar uma nova queda dos juros ainda está por ser definido no Congresso
Nacional.
E isso nos leva a um questionamento
da nota da Força Sindical, que pergunta “em que país está o Copom?”, como se os
membros do comitê estivessem simplesmente ignorando a realidade em vez de
adotar uma postura cautelosa. Na verdade, faria mais sentido questionar em que
mundo vive o sindicalismo, pois, enquanto exige – este é o verbo usado na nota
– juros mais baixos, faz oposição ferrenha ao principal instrumento que pode
garantir saúde fiscal ao Brasil e viabilizar a redução na Selic: a reforma da
Previdência. As centrais sindicais estiveram na linha de frente da “greve
geral” do último dia 14 de junho, e nunca será demais recordar as palavras do
deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), que em 1.º de maio deixou clara
a necessidade de “desidratar” a reforma para impedir a reeleição de Jair
Bolsonaro em 2022.
Ora, o raciocínio implícito é o de que, se o presidente
colherá dividendos eleitorais em caso de uma boa reforma, é porque ela tem o
poder, sim, de impulsionar a economia.
Leia também: APrevidência não aceita mais Keynes (artigo de Thomas Korontai, publicado em 13
de junho de 2019)
Em outras palavras: ou o
sindicalismo vive em um mundo no qual necessidades urgentes e reconhecidas para
estimular a economia e gerar empregos estão subordinadas a uma estratégia
política de enfraquecimento de adversários, colocando as conveniências
eleitorais acima dos interesses do país e dos brasileiros; ou as centrais
sindicais esperam juros baixos enquanto negam a necessidade das reformas que
darão as condições fiscais para que isso ocorra, algo que só pode ser explicado
por algum tipo de pensamento mágico baseado na lenda da geração espontânea de
dinheiro. Querer a recuperação da economia lutando contra as reformas nada mais
é que viver uma fantasia perigosa para o país.