Pede pra sair
Ao fim e ao cabo, foi no colo do general João Batista de Oliveira
Figueiredo, o último presidente da ditadura militar de 64, que explodiu a
bomba do atentado terrorista ao Riocentro na noite de 30 de abril de
1981. Ela matou o sargento Guilherme Pereira do Rosário e feriu
gravemente o capitão Wilson Dias Machado que a transportavam num carro
esportivo. Cuide-se o capitão da reserva Jair Messias Bolsonaro, o primeiro militar
a tomar posse da presidência da República desde a saída de Figueiredo
do Palácio do Planalto pela porta dos fundos, para que o rumoroso caso
envolvendo seu filho Flávio, recém-eleito senador, e o motorista
Fabrício Queiroz não acabe também explodindo no seu colo.
À época, Figueiredo, que prometera prender e arrebentar quem se opusesse
à abertura política do regime, famoso por preferir cheiro de cavalo a
cheiro de povo, foi conivente com a tentativa de encobrir a autoria
militar do atentado, atribuído à esquerda. Espera-se que o capitão
Bolsonaro tenha aprendido com o episódio e não incorra no mesmo erro. Nas últimas 48 horas, o rolo antes protagonizado unicamente por Queiroz
deu um perigoso salto tríplice carpado. Na quinta-feira, soube-se que
Flávio pediu e obteve do Supremo Tribunal Federal a suspensão temporária
das investigações sobre a movimentação financeira milionária de
Queiroz. Ontem, que depósitos suspeitos também abasteceram a conta de
Flávio.
O pedido atendido pelo ministro Luiz Fux, em breve, irá para a lata do
lixo como já antecipou o revisor da medida, seu colega Marco Aurélio
Mello. A promoção de Flávio à categoria de possível coautor da lambança
liderada por Queiroz, seu assessor, parece estar apenas começando. Se
antes ele não era investigado, agora dificilmente deixará de ser. O desafio que Bolsonaro, o pai, tem pela frente, é o de se desvincular
do que o filho fez ou deixou de fazer. Não será fácil. Queiroz,
primeiro, foi amigo dele para só depois se tornar empregado e amigo de
Flávio. Um cheque de Queiroz foi parar na conta de Michelle, mulher do
capitão. A mulher e uma das filhas de Queiroz trabalharam com o capitão.
Como Bolsonaro pode dissociar sua imagem da dos filhos se um deles
(Carlos, o vereador) cuida de suas páginas nas redes sociais, outro
(Eduardo, o deputado) participa de reuniões oficiais no Palácio do
Planalto e dita normas para a política externa do país, e o enrolado
(Flávio) compartilhava Queiroz e sua família com o pai?
Nada indica que Bolsonaro tenha coragem para repetir uma das máximas do
capitão Nascimento, o herói do filme “Tropa de Elite”: “A
responsabilidade é minha. O comando é meu!”. Mas há outras igualmente
célebres das quais ele poderá valer-se se a situação de Flávio
degringolar: “Perdeu! Perdeu! Pede pra sair. Pede pra sair”.
Pois é… O sistema é foda, parceiro.
Blog do Noblat - Veja