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terça-feira, 26 de maio de 2020

São Paulo trancada – Editorial - Folha de S. Paulo

Carência de dados e sabotagem federal acentuam dúvidas sobre 'lockdown' em SP

Uma sombra se projeta sobre a maior região metropolitana do Brasil e seus 21 milhões de habitantes: o “lockdown”, paralisação total de atividades para conter a circulação do coronavírus. É duvidosa a probabilidade de vir a ser adotado, e menor a de funcionar a contento. 
Assim indica a dúvida do governador João Doria e do prefeito Bruno Covas, ambos do PSDB, que dividem responsabilidade sobre a Grande São Paulo. As medidas adotadas alcançaram até aqui o objetivo maior de impedir o colapso de serviços de saúde, mas tal espectro não se afastou por completo.

A capital paulista prossegue como epicentro da Covid-19 no país. Concentrava 13,4% dos casos e 16,2% dos óbitos nacionais anotados na quinta-feira (21), mas com indícios inconfiáveis de que a taxa de crescimento perdeu força nas últimas quatro semanas.  Não se viram na região metropolitana de São Paulo —ainda— cenas dantescas de cadáveres enfileirados em hospitais assoberbados por hordas de pacientes. Segundo estatística do governo estadual, os leitos de UTI permanecem, entretanto, no limiar preocupante de 90% de ocupação.

No estado, o índice se encontra em 73%, mas o avanço acelerado do vírus Sars-CoV-2 pelo interior e por bairros periféricos pode dizimar a cifra tranquilizadora. Por outro lado, reportagem desta Folha mostrou que, ao menos na capital, o levantamento sobre utilização de UTIs é errático e impreciso.  Embora a disseminação de testes diagnósticos em território paulista pareça ter diminuído a subnotificação de casos e mortes, na comparação com a média brasileira, governador e prefeito carecem, em realidade, de informações acuradas para fundamentar medida tão extrema. Daí os titubeios.

Numa declaração, Doria afasta o “lockdown”, como nesta segunda (25); noutras, ameaçou com eleCovas busca arremedos para contornar a providência, como as desastradas tentativas do bloqueio de avenidas e do rodízio estendidoO último recurso da dupla tucana para tentar baixar a circulação de pessoas e do coronavírus foi o megaferiado encerrado nesta segunda-feira (25). Os resultados foram modestos, pois o isolamento na capital subiu pouco, para 51%, ainda aquém do ideal de 70%.

[Nos causa dificuldade encontrar fundamentos na alegada sabotagem do Governo Federal.
O Governo Federal foi impedido de atuar de forma efetiva no concernente ao distanciamento social e isolamento, situação o resultante de decisão do STF atribuindo aquelas medidas como de competência dos estados e municípios.
O que se percebe é uma imensa incompetência do governador - que se perdeu, ameaça prisão, prender e arrebentar e não sabe o que fazer. Tudo que tenta fazer não funciona, inclusive Doria pensa mais em 2022 do que na pandemia.
Bruno Covas apesar de interesse em uma solução, as duas que tentou - mencionadas no parágrafo acima - foram desastrosas.
Para completar fez um discurso enaltecendo sua capacidade de providenciar enterros. Confirme, no vídeo.] 
Governador e prefeito temem o fracasso da iniciativa. Enfrentam a constante sabotagem [?]  do distanciamento social movida desde o Planalto e as dúvidas sobre o efetivo e a determinação da Polícia Militar. A Covid-19, contudo, desconhece os constrangimentos impostos pela politização da epidemia.

Editorial -  Folha de S. Paulo


sexta-feira, 5 de junho de 2015

Contas que pesam

Aumento de tarifas, como água e luz, mantém em alta inflação de serviços

Mesmo com a demanda em queda, preços de serviços, como cabeleireiros e restaurantes, por exemplo, continuam em elevação, com o repasse das altas dos preços administrados; previsão é que desaceleração mais forte só ocorra no ano que vem

A disparada das tarifas vem punindo duplamente o bolso do brasileiro este ano. Além de já ter imposto um gasto adicional de quase 50% entre janeiro e maio na conta de luz na cidade de São Paulo, a alta de preços de itens importantes como água, energia elétrica e combustíveis, entre outros, deve adiar para 2016 a desaceleração da inflação de serviços. O movimento ocorre apesar da retração no ritmo de atividade econômica e da demanda, que poderia brecar reajustes de preços dos serviços já neste ano.

Um estudo feito pela Tendências Consultoria Integrada mostra o tamanho do estrago que as tarifas devem provocar na inflação de serviços. Sem o choque de preços administrados, a inflação de serviços como cabeleireiros, restaurantes, lavanderias e hotéis, por exemplo –, que encerrou o ano passado acumulando alta de 8,3%, recuaria este ano para 7,1%. Com as pressões das tarifas, porém, a inflação dos serviços deve ficar praticamente estacionada e fechar 2015 em 8%, diz a consultoria. “A expectativa de inflação desancorada e o choque de preços administrados vão retardar a desaceleração da inflação de serviços”, diz a economista Alessandra Ribeiro, sócia da Tendências, que projeta alta menor, de 6,5%, para a inflação de serviços só em 2016. Segundo ela, com a expectativa de inflação geral medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na casa de 5,5% para o ano que vem – um ponto porcentual acima do centro da meta –, segundo pesquisa do Boletim Focus do Banco Central, aumentaram os obstáculos para uma desaceleração mais significativa dos preços dos serviços neste ano.
Além do choque dos preços administrados e da inércia inflacionária, Alessandra aponta outro fator que influencia a inflação de serviços: o desempenho do mercado de trabalho. Na avaliação da economista, os efeitos do aumento da taxa de desemprego para segurar o reajuste dos preços dos serviços deve ser anulado neste ano pelo impacto do choque das tarifas e da inércia inflacionária. E os reflexos da distensão do mercado de trabalho serão sentidos nos preços dos serviços em 2016.
Já o economista Fábio Romão, da LCA Consultores, faz uma avaliação sobre a inflação de serviços semelhante à da Tendências, porém com intensidade diferente. “A desaceleração dos serviços vai ocorrer ainda este ano. Mas a grande perda de fôlego deve acontecer em 2016, quando a inflação desse grupo pode chegar perto de 7%. É mais provável que, no encerramento deste ano, a inflação de serviços fique abaixo da de 2014”, prevê Romão. Para 2015, o economista projeta alta de 7,7% da inflação de serviços. Ele reconhece que houve, nos últimos meses, um aumento relevante de custos de energia e combustível, por exemplo, e que essa alta deve pressionar os preços dos serviços. “Se eu sou prestador de serviços, vou tentar repassar esse aumento de custo para o preço. Só que há uma força contrária, que é a atividade econômica enfraquecida, que não chancela grandes repasses. É um jogo de forças.”
Trabalho. Nesse jogo de forças, um fator crucial, diz Romão, é o desempenho do mercado de trabalho. A expectativa para este ano é de uma queda de 1,2% na renda, descontada a inflação do período. Será a primeira retração real no rendimento em dez anos. A última vez que a renda caiu em termos reais foi em 2004 e coincidentemente o recuo também foi de 1,2%.
Neste ano, o cenário também não é favorável para o emprego. A LCA projeta que a taxa média de desemprego, que foi 4,8% no ano passado, suba para 6% ou mais em 2015. A taxa média, segundo Romão, é a medida mais adequada para esse tipo de análise, porque elimina as influências sazonais. “Entendo que essa perda real de rendimento do trabalhador, combinada com a alta do desemprego, contribua para que os serviços desacelerem ainda em 2015.”
Aliás, o desemprego está entre os principais problemas enfrentados pelos brasileiros, segundo uma pesquisa feita pela consultoria Hello Research. Segundo a enquete, que leva em conta respostas de múltipla escolha e ouviu mil pessoas em 70 cidades do País, 64% dos entrevistados apontaram o desemprego como problema, superado apenas pela inflação e pela qualidade dos serviços de saúde, com 89% das opiniões cada.
Fonte: Agência Estado