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quinta-feira, 13 de maio de 2021

A origem laboratorial do coronavírus: uma hipótese tanto mais robusta quanto mais proibida

Por Flavio Gordon


“Se um lado está em guerra com outro, e esse outro não se dá conta de que está em guerra, o lado que reconhece a situação leva sempre vantagem e geralmente vence” (Sun Tzu)

A despeito do negacionismo histriônico de políticos venais, organizações internacionais de má fama, cientistas suspeitos, jornalistas obtusos, “especialistas” midiáticos surfistas de pandemia e demais opinadores sinófilos no debate público ocidental, quem conhece minimamente a história e o modus operandi do Partido Comunista Chinês – descritos, por exemplo, em obras como Unrestricted Warfare: China’s Master Plan to Destroy America e Deceiving the Sky: Inside Communist China’s Drive for Global Supremacy (ver, sobre o último, esse meu artigo de dezembro do ano passado) – decerto nunca se deixou intimidar pelo agitprop pró-China a ponto de desprezar a hipótese de o novo coronavírus ter sido criado em laboratório. 

Mas se, até então, a hipótese poderia ser definida como apenas plausível, nos últimos dias, com a divulgação de informações relevantes sobre o tema, ela ganhou mais força e solidez. Com efeito, os dados ora disponíveis são tão substanciais que, a meu ver, só mesmo o medo paralisante de encarar uma realidade assaz terrível – ou, alternativamente, a defesa de interesses escusos – pode levar alguém a continuar engolindo sem fazer cara feia a tese mainstream de origem natural do vírus. Vejamos.

No dia 2 de maio, foi publicado no Medium um longo e minucioso artigo de Nicholas Wade, renomado jornalista que passou 30 anos na editoria de Ciência do New York Times, e foi membro do comitê editorial das revistas Science e Nature. Intitulado Origin of Covid Following the Clues, o artigo (publicado pela Gazeta do Povo, em tradução de Eli Vieira) examina em detalhes as duas grandes teorias rivais sobre a origem do novo coronavírus:  
a) aquela segundo a qual o Sars-CoV-2 surgiu espontaneamente na natureza, passando indiretamente de morcegos para os seres humanos via algum animal hospedeiro intermediário, assim como ocorrera com os coronavírus anteriores, responsáveis pelas epidemias de Sars1 (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio); e 
b) aquela segundo a qual o novo coronavírus foi criado em laboratório (notadamente, o Instituto de Virologia de Wuhan, cidade-epicentro da pandemia), de onde teria escapado acidentalmente.

Antes de esmiuçar os méritos de cada hipótese, Wade descreve os mecanismos políticos via os quais, na imprensa e no debate público, a primeira passou a ser inquestionável e a segunda, banida como “teoria da conspiração”. Ele demonstra como, desde o início, a percepção midiática foi enviesada em favor da tese da origem natural graças a afirmações contundentes de dois grupos científicos, afirmações jamais examinadas criticamente por jornalistas que, a título de dever profissional, deveriam tê-lo feito.

“Estamos unidos para condenar veementemente teorias da conspiração sugerindo que a Covid-19 não tem origem natural” – foi o que, ainda em fevereiro de 2020, um grupo de virologistas e epidemiologistas escreveu na The Lancet, a mesma revista responsável pelo estudo fraudulento, posteriormente retratado, segundo o qual a hidroxicloroquina provocava maior risco de morte em pacientes com Covid-19. “Cientistas do mundo todo… concluem categoricamente que esse coronavírus se originou na vida selvagem” – diziam ainda os autores do manifesto, sobre o qual comenta Wade: “Uma marca definitiva dos bons cientistas é o esforço incessante para distinguir entre aquilo que sabem e aquilo que não sabem. Por esse critério, os signatários do manifesto na The Lancet comportaram-se como maus cientistas: deram ao público uma certeza sobre fatos que não sabiam seguramente se eram verdadeiros”.

Wade conta que o manifesto na Lancet foi organizado e esboçado por um sujeito de nome Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, uma ONG dedicada à pesquisa sobre métodos de prevenção a doenças infecciosas. Ocorre que um dos destinatários dos fundos captados pela EcoHealth Alliance é justamente o Instituto de Virologia de Wuhan, com suas pesquisas sobre coronavírus, nas quais são criados in vitro vírus mais perigosos que os existentes na natureza. Portanto, se o Sars-CoV-2 de fato escapou do laboratório por ele financiado, Daszak poderia ser incluído na lista de responsáveis pela catástrofe. Temos aí um claro conflito de interesses omitido dos leitores da Lancet, uma vez que o idealizador do manifesto em prol da hipótese da origem natural poderia estar, no limite, apenas pensando em salvar a própria pele. A imprensa, por sua vez, não se interessou em investigar o assunto.

O outro posicionamento muito influente em favor da hipótese da origem natural do novo coronavírus foi uma carta (não um artigo científico, note-se!) publicada em março de 2020 na revista Nature Medicine, e cujos autores eram um coletivo de virologistas liderados por Kristian G. Andersen, do Scripps Research Institute. Em seu segundo parágrafo, encontramos a seguinte afirmação: “Nossas análises mostram claramente que o Sars-CoV-2 não é uma criação de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”.

 
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Como explica Wade, tratava-se de mais um exemplo de má ciência, no sentido previamente definido, uma vez que a afirmação central dos autores, segundo a qual todo processo de manipulação genética de vírus costuma deixar rastros, ignora métodos mais modernos, que podem não deixar sinal algum. Caso um vírus tivesse sido manipulado por meio desses novos métodos, não haveria como descobri-lo. E, portanto, Andersen e seus companheiros ofereceram ao público uma certeza sobre algo que não tinham como saber. Talvez por isso o tom da carta se altere dos primeiros para os últimos parágrafos, passando da afirmação categórica de que o Sars-CoV-2 “claramente” não foi criado em laboratório para a sugestão de que “é improvável” que o tenha sido. “A razão para essa mudança de tom é clara, uma vez que adentramos na linguagem técnica”, diz Wade. “As duas razões citadas pelos autores para sustentar a improbabilidade de manipulação são definitivamente inconclusivas”.

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Em fevereiro de 2021, a OMS enviou uma comissão à China para, supostamente, investigar a origem da pandemia. O problema é que tanto a sua composição quanto o acesso de seus membros foram controlados com mão de ferro pelo Partido Comunista Chinês. Curiosamente, dentre o seleto grupo de integrantes aprovados pelo Partido estava o onipresente Peter Daszak, que, antes, durante e depois dos trabalhos da comissão, continuou impávido, com sua cara de sucupira e pose de isento, afirmando a improbabilidade da hipótese da origem laboratorial. Contudo, como mostra Wade, aquela não foi a vitória da propaganda que as autoridades chinesas esperavam, a despeito de todo o controle exercido. Logo ficou claro que a China não dispunha de nenhuma evidência da origem natural para oferecer à comissão.

Ao contrário do que ocorreu com a Sars1 e a Mers, o novo coronavírus não deixou traços relevantes no ambiente. Por exemplo, a espécie hospedeira intermediária da Sars1 foi identificada quatro meses após o início daquela pandemia; a do Mers, nove meses depois.  
No entanto, já se passaram 15 meses desde o início da pandemia da Covid-19 e, até agora, a população original de morcegos contaminados não foi identificada, nem a espécie intermediária a partir da qual o Sars-CoV-2 teria mutado e infectado os seres humanos, nem tampouco qualquer evidência de que a população chinesa, incluindo os habitantes de Wuhan, houvesse sido exposta ao vírus antes de dezembro de 2019.

Analisando a coisa pelo aspecto geográfico, os dois parentes mais próximos do Sars-CoV-2 conhecidos foram coletados de morcegos que habitam as cavernas de Yunnan, uma província montanhosa do sudoesta da China. Se a hipótese da origem natural estivesse correta, as primeiras pessoas infectadas deveriam ter sido as que habitam a vizinhança das cavernas de Yunnan. Mas, como se sabe, não foi isso que aconteceu. A pandemia irrompeu a 1,5 mil quilômetros dali, em Wuhan.

 A peste vermelha
O habitat do Rhinolophus affinis, a espécie de morcego presumivelmente hospedeira do Sars-CoV-2, não costuma ultrapassar um raio de 50 quilômetros de extensão. É improvável, portanto, que um deles houvesse chegado até Wuhan. Ademais, em setembro, data provável dos primeiros casos da Covid-19, as temperaturas na província de Hubei estão baixas o bastante para forçar os morcegos à hibernação. Portanto, a hipótese da origem natural exige necessariamente a identificação de uma espécie hospedeira intermediária, que, logicamente, deveria deixar rastros ao longo do vasto caminho que separa as cavernas de Yunnan e a agitada metrópole urbana de Wuhan. Como resume Wade: “Em outras palavras, trata-se de uma forçação de barra afirmar que a pandemia surgiu naturalmente fora de Wuhan para então, sem deixar pistas, ali fazer uma súbita aparição”.

Mas, se as evidências parecem faltar à tese da origem natural – e Nicholas Wade demonstra-o mediante uma série de outros argumentos extremamente técnicos que o leitor interessado poderá conferir por si mesmo –, elas abundam na hipótese da origem laboratorial do novo coronavírus, hipótese que começa a ser levada a sério pelo próprio Congresso americano. E é aí que os fatos descritos no artigo em tela tornam-se verdadeiramente alarmantes. Mas deles falaremos no artigo da semana que vem, examinando também a hipótese ainda mais assustadora, não contemplada por Wade, de que, sim, o vírus surgiu em laboratório, mas seu vazamento não foi propriamente acidental.

Flavio Gordon, doutor em antropologia - VOZES - Gazeta do Povo

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

Armazenamento é um dos maiores desafios da vacinação contra a covid no DF

Um dos maiores desafios no processo de imunização da população contra a covid-19 está no armazenamento das vacinas, que exigem refrigeração de, no mínimo, 2 ºC a 8 ºC. Apenas com as temperaturas adequadas é possível garantir a eficácia do tratamento

[O Distrito Federal tem um risco extra a enfrentar em relação aos demais estados:   
O governador do DF, Ibaneis Rocha, tem uma simpatia por um cidade do interior do PI, Correntes, onde passou a infância. Honrando tal simpatia retirou insumos da Saúde Pública do DF e doou para aquela cidade.
Se descuidarmos fará o mesmo com as doses da vacina contra a covid-19, destinadas ao DF.]
Passados nove meses desde o início da pandemia da covid-19 no Distrito Federal, aumentam as expectativas para a chegada de uma vacina eficaz contra o coronavírus. Para além dos estudos clínicos em andamento, é necessária uma logística adequada para receber, armazenar, distribuir e aplicar os inoculantes. Enquanto as vacinas não são liberadas, o Governo do Distrito Federal (GDF) realiza um levantamento das câmaras frias existentes no DF, a fim de determinar quais têm as condições sanitárias necessárias, além de documentação, que permita acondicionar produtos imunobiológicos.

Em nota oficial, a Secretaria de Saúde informou que está em fase de desenvolvimento um amplo planejamento sobre a estratégia de vacinação da população, com realização de inquérito soro epidemiológico já em andamento, levantamento de instalações que possam ser usadas como postos de vacinação, e estruturação desses locais para receber e armazenar as vacinas. O plano estratégico também prevê a “estruturação do setor de compras públicas, objetivando a aquisição de seringas e contratação de câmaras frigoríficas; e seleção de profissionais de saúde da própria rede pública para a aplicação das vacinas”.

Hoje, uma câmara fria armazena todas as vacinas do calendário vacinal do GDF. “Em virtude da pandemia do novo coronavírus, a pasta está em busca de um local que comporte possíveis vacinas que estão em estudo, após a sua liberação.” A secretaria informou ainda que acompanha as medidas anunciadas pelo Ministério da Saúde sobre a compra e a aplicação da vacina no Brasil e atua, dentro de suas atribuições, para que a “campanha de vacinação seja executada com êxito em todo o Distrito Federal”.

Ao Correio, o governador Ibaneis Rocha afirmou que aguarda a efetiva liberação da vacina. Segundo ele, não falta à equipe do GDF expertise em vacinação.

Desafios
Farmacêutico e chefe do Setor de Gestão da Pesquisa e Inovação Tecnológica do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Fernando Araujo Rodrigues de Oliveira explica que as dificuldades começam na fabricação, com a produção de quantidades suficientes para atender toda a população. “Se a gente pensar só no Brasil, é um desafio enorme. A partir daí, temos de ter uma condição de transporte e logística de armazenamento que atenda às necessidades de conservação das vacinas. Cada uma tem características próprias.”

Correio Braziliense - MATÉRIA COMPLETA