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quarta-feira, 8 de novembro de 2023

Faca sem cabo e sem lâmina - Percival Puggina

         Conta-se que uma fábrica de facas reuniu seus executivos para estudar uma forma de se tornar mais competitiva.  
Era imperioso diminuir o custo de suas facas. 
No meio da reunião, um dos participantes, cogitando da hipótese de que o custo do cabo afetasse demasiadamente o custo da faca, perguntou: “Quanto custaria nossa faca, se fosse fabricada sem o cabo?”
Alguém da contabilidade fez as contas e concluiu que essa faca sem cabo custaria 80% da faca inteira. Um outro foi além: “E quanto custaria cada faca se a fizéssemos sem lâmina?”. 
Por curiosa que fosse a ideia de uma faca sem lâmina, a contabilidade fez os custos e informou que ela sairia por 60% de uma faca completa.

Por fim, a pergunta aparentemente mais delirante: “E se fizéssemos a faca sem lâmina e sem cabo, qual seria seu custo?” O chefe da contabilidade, calculadora em punho, informou, irritado, que aquela hipótese de faca, “essa coisa sem cabo e sem lâmina, custaria 40% da faca inteira”.

O diálogo serviu para mostrar a todos que os custos fixos, incluídos impostos e salários, inclusive o deles, chegava a 40% do preço da faca. Mesmo sem fazer nenhuma faca, ainda assim a fábrica tinha um gasto elevado
Se quisessem baixar o preço da faca teriam que reduzir as despesas da administração.
 
Isto é um aviso para todos nós e para o Brasil. Num processo de crescimento lento, ou recessivo, podem acontecer duas coisas e nenhuma é boa. Na primeira alternativa, os preços sobem porque os custos fixos têm que ser repartidos entre uma quantidade menor de produtos vendidos. Nós já tivemos isso: recessão e inflação. O que é uma loucura. 
Na segunda hipótese, o governo ou os cidadãos passam a importar de onde os produtos, sem inflação e sem recessão, custam menos. E aí a indústria nacional quebra.

O Estado brasileiro é uma fábrica de facas sem cabo e sem lâmina. Custa caríssimo para existir e sua entrega é desproporcional à sua despesa. O pouco que entrega é caro demais.

Por isso, as pessoas de bom senso insistem na necessidade de reforma administrativa para reduzir o tamanho do Estado e na redução do gasto público como forma de diminuir a carga tributária – sem dúvida o maior estímulo ao consumo e à produção. 
O baixo crescimento econômico é sinônimo de desemprego ou subemprego; sinônimo, também, de maior índice de pobreza, ou seja, de aumento do gasto público, situação em que uma faca, sem cabo e sem lâmina, na mão do Estado, corta nosso pescoço.

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

domingo, 14 de agosto de 2022

Uma armadilha nas pesquisas - Alon Feuerwerker

Análise Política

Há um detalhe delicado nas pesquisas eleitorais: a diferença entre o não voto (brancos, nulos e abstenção) que será verificado na urna e os que, em pesquisas estimuladas, não escolhem nenhum candidato quando a lista é apresentada. No dia da eleição, o não voto tem rondado os 30%, mas nas pesquisas estimuladas esse contingente é apenas um terço disso.  
Cerca de 20% dos pesquisados indicam candidato na estimulada mas provavelmente não votarão em ninguém.

Daí a necessidade de prestar muita atenção ao cenário espontâneo, em que o pesquisado não é apresentado à lista. Aqui, o não voto costuma estar bem mais próximo do que será no dia da eleição. Até porque em 2 de outubro (e talvez dali a quatro semanas) a escolha do eleitor terá de ser espontânea, ele precisará decidir sem ter diante dele as opções disponíveis para os diversos cargos em disputa.

Num cenário ideal, a “quebra” entre a intenção de voto na pesquisa estimulada e a realidade na urna deveria distribuir-se proporcionalmente entre os candidatos, mas é preciso ter alguma cautela na projeção. O absenteísmo eleitoral não é homogêneo nos diversos grupos sociais, nem nas diferentes áreas territoriais. Essa é uma das explicações frequentes para quando os institutos precisam justificar por que a pesquisa disse uma coisa, e a urna disse outra.

Uma maneira razoável de buscar reduzir essa “margem de erro” é esmiuçar com o eleitor 
1) quanto está interessado na eleição; 
2) se vai ou não votar em outubro; 
e 3) se votou em 2018. 
Claro que isso não é ciência exata, o pesquisado pode ter se esquecido se compareceu quatro anos atrás (ou mentir), pode dizer, por conveniência (voto obrigatório), que vai votar agora (e no dia não votar). E “grau de interesse” é variável algo subjetiva.

Mas, mesmo com as limitações, o cruzamento entre a intenção de voto e essa aproximação à “probabilidade real” de o entrevistado/eleitor ir votar costuma ser útil. E o que o cruzamento nos diz hoje? Quando o número é depurado, a distância entre Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Bolsonaro reduz-se em algo da ordem de 30%. Portanto, hoje, o eleitor do presidente está algo mais mobilizado para votar que o eleitor do ex-presidente.

Isso tem consistência com a diferença das rejeições. Se Bolsonaro é mais rejeitado que Lula, é razoável supor que Lula tem proporcionalmente mais gente tendendo a votar nele por puro antibolsonarismo do que Bolsonaro atrai simpatizantes por puro antipetismo ou antilulismo. Essa hipótese também é consistente com outro achado das pesquisas: ainda que na margem de erro, no momento, Bolsonaro tem proporcionalmente mais eleitores convictos que Lula.

A partir dessas hipóteses e constatações, é possível deduzir numericamente que hoje a diferença real entre Lula e Bolsonaro está entre 5 e 10 pontos percentuais e tem tido certa resiliência. Esse parece ser o estado real da corrida. Daqui em diante, será preciso acompanhar quem terá mais sucesso em elevar a rejeição ao adversário e em motivar seu eleitor potencial a ir votar. [COMENTÁRIO: NÃO ACREDITAMOS EM PESQUISAS, os sucessivos 'enganos',  ocorridos em eleições anteriores,  só consolidam nosso entendimento; 
O descondenado petista está morto,  politicamente [destacamos o politicamente para evitar que nos acusem de fake news] só falta cair e certamente ele não quer que tal queda ocorra por um chute do 'capitão do povo'.  
Temos a convicção que no próximo mês ele inventa uma desculpa de doença, ou algo assim - só não vale dizer por medo da covid-19, que graças a DEUS está indo embora - e privilegia o Brasil e os brasileiros com sua renúncia. 
Doença inventada, boa desculpa para ele, um mentiroso nato.
A conferir.]

Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
 

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Sobrou para o marido? tentativa de feminicidio? stalking? IstoÉ

Joice Hasselmann nega agressão do marido, mas polícia não descarta hipótese 

A deputada Joice Hasselmann disse nesta quarta-feira (28) que não se recusou a fazer exame tecnológico e afirmou que até exame de DNA foi realizado. Joice rebateu as críticas de que teria se recusado a fazer o exame.

De acordo com o Uol, ela disse que “também fui ao IML, fiz questão de fazer. Teve uma fake news aí muito feia de dois veículos de comunicação dizendo que eu não fiz o toxicológico. Eu fiz até o DNA, que não tinha sido pedido. Eu fiz toxicológico, DNA, um exame de todos os traumas e mais um outro que eu tive que fazer com um dentista legal para ver a questão das fraturas de dentes. Agora é confiar no trabalho da polícia mesmo a gente sabendo que tem essas falhas”, afirmou em entrevista ao UOL .

A polícia ainda investiga o que aconteceu com a parlamentar, mas não descarta que o marido possa ter agredido Joice, apesar de não ter nenhum elemento que sustente essa tese.

A deputada também rebate essa versão. “Tem muita gente falando bobagem sabe? Porque as pessoas gostam de falar bobagem e as pessoas não têm a informação. Meu marido foi espontaneamente na polícia e falou ‘eu quero falar, eu preciso ajudar no máximo que eu puder’. (…) [Ele] explicou tudo para os policiais e quando a Depol perguntou ‘ah, o senhor topa fazer o corpo de delito?’, ele falou ‘agora’. A resposta dele foi ‘agora'”, disse a deputada ao Uol.

 

+ Joice Hasselmann cita “falhas de segurança” e diz que investigação irá até o fim


Entenda o caso
A deputada revelou que foi atacada no último sábado (17) em seu apartamento. Ela conta que acordou “em uma poça de sangue” com diversas fraturas pelo corpo. Hasselmann não se lembra do que aconteceu e, apesar de não descartar ter passado mal, acredita ter sido vítima de um atentado.

Uma tomografia que a deputada realizou revela que, para que as lesões fossem acidentais, ela teria que ter caído “pelo menos 6 vezes”. Foram identificados traumas no joelho, costela, ombro e nuca, além de cinco fraturas na face e uma na coluna.

Veja a publicação:

IstoÉ - Dinheiro 

 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Com fraturas pelo corpo, Joice Hasselmann aciona Polícia Legislativa e acredita ter sido vítima de um "atentado"

A última lembrança que a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) tem da noite de sábado é a de estar em sua cama, no apartamento funcional onde vive, em Brasília. Ela assistia um episódio da série "Ressurrection". Posteriormente, se corrigiu e falou que a atração na verdade era o “O Grande Guerreiro Otomano”. Depois, o que veio pela frente foi um lapso de memória de aproximadamente sete horas. Quando retomou os sentidos, a deputada disse ter acordado em meio a uma poça de sangue no chão de seu closet, com cinco fraturas no rosto e uma na costela. Estava ainda com um dente quebrado e queixo cortado.

[deputada! com o devido respeito, somos brasileiros e extremamente crédulos = acreditamos até em políticos... imagine.  Só que a senhora pegou pesado, uma 'estória' sem pé, nem cabeça.....  
- um ataque de esquecimento que durou sete horas? 
- depois diz que sofreu um atentado?
- a senhora fez um exame de sangue, sem  descuidar do toxicológico = levou muita porrada, por um longo tempo e não lembrar  de nada???
- seu marido nao ouviu nada? 
- a senhora fala que ele tem problema de ronco = no caso ele deve ser o causador, fosse a senhora ele não ouviria. capacidade auditiva dele deve ser mínima. Por favor, não conte para o relator Calheiros ou para qualquer um dos 'três donos...' da Covidão, eles vão dizer que foi o presidente Bolsonaro que lhe deu um corretivo pesado; - nem conte para o deputado Luis Miranda - é outro esqeucido = esquece até de gravar o que ouve. 
Melhoras e cuide da memória e evite contato com substâncias estranhas.
EM TEMPO: a polícia legislativa cuidando desse caso? não era melhor entregar para uma polícia mais especializada? mais experiente? mais eficiente?]

Joice recebeu a coluna em sua casa na tarde desta quinta-feira. Ela estava de roupão e um curativo no rosto. Entre uma e outra colherada de sopa, Joice disse que acionou a Polícia Legislativa para investigar o caso e afirmou que acredita que foi “vítima de um atentado”. A parlamentar mostrou os exames à coluna. – Acordei em uma poça de sangue sem saber quanto tempo fiquei desacordada. A hipótese que eu mais acredito é que sofri um atentado – afirmou.

 

 Vídeo gravado pela deputada federal Joice Hasselmann que mostra lesões em seu rosto

A parlamentar diz que, primeiramente, acreditou que tinha desmaiado e se machucado ao cair. Joice, porém, viu que tinha fraturas em muitos lugares do rosto e do corpo. A avaliação dela é que só poderia ter se machucado assim “se tivesse rolado de uma escada, o que não aconteceu”. Além das fraturas, ela mostrou à coluna lesões no joelho e tórax e um inchaço na cabeça. – É improvável que eu tenha conseguido cair de jeitos diferentes para lesionar tantas partes do meu corpo. Um dos médicos que me atendeu perguntou se eu levei chutes. Mas não posso acusar sem provas. Não me lembro de nada – disse ela.

Joice relata que quem a socorreu foi seu marido, o neurocirurgião Daniel França, que costuma passar os fins de semana em Brasília. A deputada ligou para o celular do marido às 7 horas da manhã, porque não conseguia se levantar (ela mostrou para a coluna o registro dos telefonemas no seu celular). Ele dormia em outro quarto da casa.  Ao levar a reportagem ao local em que acordou ferida, a parlamentar mostrou o cômodo onde estava Daniel França naquela noite. Joice diz que o casal costuma dormir separado porque o marido tem problemas com ronco. A parlamentar afirma que França a levou para o quarto, fez curativos e ministrou os remédios.

Na terça-feira, Joice relatou que foi atendida por uma junta de dentistas e que também fez exames no Hospital Sírio-Libanês, em Brasília, onde as lesões foram constatadas. No mesmo dia, a deputada relatou o ocorrido ao presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) e falou sobre sua suspeita de agressão. – Já estou em contato com a Polícia Legislativa. Eles vão investigar o caso e solicitarão as imagens das câmeras do prédio para analisar a movimentação. Já fiz esse pedido aos policiais. Na sexta prestarei depoimento e indicarei testemunhas, como meu marido, funcionários da casa e porteiros do prédio – disse ela. O vigia do edifício da deputada afirmou à coluna que os vídeos foram pedidos pela Polícia Legislativa.

Desde o episódio, a deputada trouxe para Brasília seu segurança particular de São Paulo e não dorme mais sozinha no apartamento. Dois funcionários passaram a dormir na sua residência na capital federal. Ela também trocou todas as fechaduras de sua casa e diz que, agora, vai andar armada. – Só preciso fazer a prova de tiro para ter a minha posse de arma. Comprei uma pistola Glock e ela não vai sair do meu lado, nem na hora de dormir – afirma. [deputada, sugerimos o máximo de cuidado com essa pistola - somos favoráveis ao livre porte de armas, o que inclui a livre posse, mas vai que a senhora tem outra crise de esquecimento e esquece o que uma arma pode fazer? especialmente quando está na mão de uma pessoa que 'esqueceu' que o que segura é uma arma; ou esquece que o seu segurança é de sua confiança e atira nele?

Bela Megale, colunista - Blog em O Globo


segunda-feira, 19 de julho de 2021

Qual é a chance de o BC acelerar a alta de juro? - Valor Econômico

Alex Ribeiro

BC olha mais do que inércia e expectativa para decidir aperto

O Banco Central sinalizou mais uma alta de juro de 0,75 ponto percentual para agosto, dos atuais 4,25% ao ano para 5% ao ano. Seu plano de voo é retirar todo o estímulo monetário que, nos últimos anos, procurava levar a inflação, que andava muito baixa, à meta. Em termos práticos, isso significa uma Selic em 6,5% ao ano. Quais são as chances de o ritmo de aperto ser mais forte o juro ir ao campo restritivo?

Logo nos primeiros dias após o Comitê de Política Monetária (Copom) sinalizar um aperto de 0,75 ponto, o mercado financeiro passou a atribuir uma probabilidade de um movimento mais forte. As opções de Copom negociadas na B3 chegaram a atribuir uma chance de 59% de uma alta de um ponto na Selic no começo da semana passada. Na sexta, o mercado fechou com uma chance de 53% para alta de um ponto, ante uma probabilidade de 43% para 0,75 ponto.

A precificação de uma alta de um ponto percentual em agosto parece exagerada, a julgar pela comunicação oficial. A sinalização do Banco Central é um aperto de 0,75 ponto. A hipótese de que vá fazer mais do que isso depende de uma evolução mais negativa do cenário inflacionário. Não tem nada decidido de antemão, mas muitos no mercado acreditam que sim. Para esse grupo, o Copom já teria feito uma alta de um ponto na última reunião, de junho, se tivesse tido tempo de sinalizar antes ao mercado.

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, já negou que o colegiado tenha deixado de fazer o movimento mais forte apenas porque deixou de comunicar previamente. “Li comentários de que grande parte da decisão [de alta de 0,75 ponto] teria sido tomada por não ter comunicado [antes a hipótese de um ponto]”, disse, na divulgação do relatório de inflação de junho. “Queria enfatizar que não é verdade. A gente teve muitas oportunidades para comunicar.”

Campos Neto disse que, na verdade, o Copom queria mais tempo para analisar o comportamento da inflação, em especial dois pontos citados nos seus documentos oficiais: a evolução das expectativas de inflação e dos preços mais inerciais, conforme o setor de serviços se recupera.

Desde que o Copom fez essa indicação explícita dos fatores que acompanha com mais atenção, o mercado financeiro passou a acreditar que esses são os grandes determinantes de suas decisões. Ou seja, notícias boas do lado das expectativas têm levado parte dos analistas a atribuir uma chance maior de alta de 0,75 ponto percentual, enquanto que a inflação mais pressionada de serviços e preços mais inerciais empurram parte dos analistas a acreditar em alta de um ponto na Selic.

Na partida, porém, havia um problema nesse “guidance” feito pelo Copom: o que vale para o comitê, no fim das contas, é a projeção de inflação no cenário básico para o horizonte relevante de política monetária e o chamado balanço de risco para a inflação. Expectativas e preços inerciais são importantes na medida em que afetam tanto as projeções de inflação quanto o balanço de riscos para a inflação.

Na semana passada, o diretor de política monetária do BC, Bruno Serra, esclareceu a comunicação de política monetária para dar o devido peso para esses dois fatores em destaque - e para lembrar que, no fim, o comitê tem sido disciplinado em seguir um modelo de “inflation forecast targeting”, ou seja, projetar a inflação, ajustar pelo balanço de riscos e agir de acordo com os desvios em relação à meta.

“O que a gente pode fazer de melhor é olhar a inflação prospectiva, condicionantes que vocês todos conhecem, condicionantes que vão impactar esse modelo [de projeção de inflação], a projeção de inflação, avaliar o balanço de riscos”, disse Serra num evento do Santander. “Aí sim tomar a decisão coerente com perseguir o centro da meta no horizonte relevante [de política monetária], que é 2022 neste momento.”

E como a evolução de preços inerciais entra nesse arcabouço de projeções de inflação e no balanço de riscos? Serra disse que, por enquanto, não há nada de diferente em relação ao que já foi divulgado nos modelos. Quando projeta a inflação, o Banco Central trabalha com um coeficiente de inércia, ou seja, um número que mostra o quanto a inflação passada contamina a inflação futura. Segundo o diretor do BC, o Copom não incluiu no balanço de riscos uma eventual mudança nesse coeficiente de inércia, por isso não se deve esperar que esse fator tenha um peso maior em agosto.

Nesse evento do Santander, o mercado deu muito destaque ao fato de Serra ter dito que estamos em “ um momento perigosoporque o setor de serviços está se abrindo e pode ter uma pressão inflacionária adicional de serviços num período em que ainda existem pressões na inflação de bens. O quanto o Copom, como um todo, está preocupado com esse perigo na volta dos serviços?

Nesse ponto, temos um fato curioso: embora o Copom tenha, de certa forma, vinculado seus passos futuros à evolução de preços inerciais de serviços e Serra tenha falado em “perigo”, o Copom não considerou na sua última reunião esse fator como importante o suficiente para entrar no balanço de riscos. No ano passado, por exemplo, o colegiado estava preocupado com o impulso na demanda do auxílio emergencial, e por isso colocou esse perigo no balanço de riscos para a inflação.

De fato, a leitura de Serra sobre o perigo da inflação de serviços é ambígua. Ele destaca o risco de uma pressão maior nos preços, que está presente não apenas no Brasil como no exterior, mas cita uma série de fatores que temperam um pouco essa preocupação. O principal deles talvez seja que, agora, ele não identifica um “salto” relevante de renda que possa dar uma sustentação aos preços dos serviços.

O diretor do BC também minimizou a importância dos índices recentes de inflação, das aberturas que o mercado tem feito para identificar a evolução dos serviços. “Dar peso adicional aos dados bem da margem só vai confundir o nosso processo decisório, só vai gerar mais insegurança”, disse, destacando que o que conta é o cenário básico prospectivo de inflação e o balanço de riscos. Mais uma vez, Serra disse que o BC fará o que for preciso para cumprir o centro da meta, mas isso significa caminhar dentro do arcabouço tradicional de decisão.

Alex Ribeiro - Valor Econômico

 

 

 

quinta-feira, 27 de maio de 2021

O novo coronavírus escapou do laboratório? As evidências que reforçam esta hipótese

Pandemia - VOZES - Gazeta do Povo

 A pandemia da Covid-19 abalou vidas ao redor do mundo por mais de um ano. Suas vítimas fatais atingiram mais de três milhões. Contudo, a origem da pandemia continua incerta: os compromissos políticos de governos e cientistas geraram nuvens densas de ofuscação que a imprensa tradicional parece incapaz de dissipar. No texto que se segue, organizarei os fatos científicos disponíveis, que contêm muitas pistas do que aconteceu, e fornecerei aos leitores as evidências para que tirem as próprias conclusões. Tentarei então avaliar a questão complexa da culpa, que começa com o governo da China, mas vai bem além dele.

Até o fim deste artigo, você poderá ter aprendido bastante sobre a biologia molecular dos vírus. Tentarei fazer esse processo tão confortável quanto possível. Mas não se pode evitar a ciência a respeito agora, e provavelmente por muito tempo, uma vez que ela oferece o único fio através do labirinto. O vírus que causou a pandemia é chamado oficialmente de SARS-CoV-2, mas pode ser chamado abreviadamente de SARS2. Como muitas pessoas sabem, há duas principais teorias sobre as suas origens.
Uma é que ele saltou naturalmente de animais silvestres para as pessoas. 
A outra é que o vírus estava sob estudo em um laboratório do qual escapou. É muito importante saber qual delas é o caso, se esperamos prevenir uma segunda ocorrência.

Descreverei as duas teorias, explicarei por que cada uma é plausível, e então perguntarei qual delas dá a melhor explicação para os fatos disponíveis. É importante notar que, até agora, não há evidência direta para nenhuma das teorias. Cada uma delas depende de um conjunto de conjecturas razoáveis, mas até o momento não está provada. Portanto, só tenho pistas, não conclusões, para oferecer. Mas essas pistas apontam numa direção específica. E, após inferir essa direção, delinearei alguns dos fios nessa meada embaraçada de desastres.

Um conto de duas teorias
Depois que houve o primeiro surto da pandemia em dezembro de 2019, as autoridades chinesas relataram que muitos casos tinham ocorrido no mercado de Huanan — um lugar que vende animais silvestres para consumo da carne — em Wuhan. Para os especialistas isso lembrou a epidemia de SARS1 de 2002 , na qual um vírus de morcego se espalhara primeiro para civetas, um mamífero vendido nesse tipo de mercado, e das civetas para humanos. Um vírus de morcego similar causou uma segunda epidemia, conhecida como MERS, em 2012. Dessa vez, os hospedeiros intermediários eram camelos.

A decodificação do genoma do vírus mostrou que ele pertence a uma família viral conhecida como a dos beta-coronavírus, à qual os vírus SARS1 e MERS também pertencem. O parentesco entre eles apoiou a ideia de que, como os outros, o SARS2 era um vírus natural que conseguira saltar dos morcegos para outro hospedeiro e dele para humanos. A conexão com o mercado de carnes, o único outro ponto de similaridade com as epidemias de SARS1 e MERS, logo foi quebrada: os pesquisadores chineses descobriram casos anteriores em Wuhan sem ligação ao mercado. Mas isso não parecia importar, logo, esperava-se, muitas outras evidências apoiando a emergência natural seriam encontradas.

Wuhan, no entanto, é onde fica a sede do Instituto de Virologia de Wuhan, um centro mundial de pesquisa de ponta para a pesquisa em coronavírus. Então, a possibilidade de que o vírus SARS2 escapara do laboratório não poderia ser descartada. Tínhamos na mesa dois cenários razoáveis de origem. Desde o começo, as percepções do público e da mídia foram moldadas a favor do cenário de emergência natural por declarações fortes dadas por dois grupos científicos. Essas declarações não foram examinadas de uma forma tão crítica como deveriam ter sido.
“Estamos unidos para condenar veementemente as teorias da conspiração que sugerem que a COVID-19 não tem uma origem natural”, um grupo de virologistas e outros escreveram na Lancet em 19 de fevereiro de 2020, quando era muito cedo para qualquer um ter convicções sobre o que tinha acontecido. Cientistas “concluem em maioria absoluta que este coronavírus se originou entre animais silvestres”, disseram eles, com um sinal de alerta e um chamado para que os leitores apoiassem os colegas chineses na linha de frente contra a doença.

Ao contrário do que alegam os autores da carta, a ideia de que o vírus pode ter escapado de um laboratório envolve acidente, não conspiração. Certamente merecia ser explorada, não rejeitada sumariamente. Uma marca definidora de bons cientistas é que estão dispostos a um grande esforço para distinguir entre o que eles sabem do que não sabem. Por esse critério, os signatários da carta da Lancet se comportaram como maus cientistas: estavam assegurando ao público que fatos sobre os quais não podiam saber com certeza eram verdadeiros.

Depois, descobriu-se que a carta da Lancet fora organizada e rascunhada pelo Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, de Nova York. A organização do dr. Daszak financiou pesquisa com coronavírus no Instituto de Virologia de Wuhan. Se o vírus SARS2 de fato escapou de pesquisa que ele financiou, o dr. Daszak seria potencialmente imputável. Esse grave conflito de interesses não foi revelado para os leitores da Lancet. Em vez disso, a carta concluiu com "Declaramos ausência de interesses em conflito".

Virologistas como o dr. Daszak tinham muito a perder se fossem culpados pela pandemia. Por 20 anos, na maior parte sem atenção do público, estiveram brincando com algo perigoso. Em seus laboratórios, tinham a rotina de criar vírus mais perigosos do que os que existem na natureza. Alegaram que poderiam fazê-lo de forma segura, e que, ao antecipar a natureza, poderiam prever e prevenir "transbordamentos" naturais, quando os vírus migram de um hospedeiro animal para humanos. Se o SARS2 realmente tivesse escapado de um experimento laboratorial desse tipo, uma retaliação violenta seria esperada, e a tempestade de indignação pública afetaria os virologistas em toda parte, não apenas na China. "Desmoronaria o edifício científico de cima para baixo", disse Antonio Regalado, editor da MIT Technology Review, em março de 2020.

Uma segunda declaração que teve enorme influência em moldar as atitudes do público foi uma carta (em outras palavras, um artigo de opinião, não um artigo científico) publicada em 17 de março de 2020 na revista Nature Medicine. Seus autores eram um grupo de virologistas liderados por Kristian G. Andersen, do Instituto de Pesquisa Scripps. “Nossas análises mostram claramente que o SARS-CoV-2 não é um constructo laboratorial ou um vírus manipulado de propósito”, os cinco virologistas declararam no segundo parágrafo de sua carta.

(...)


A seção de discussão de sua carta começa com “É improvável que o SARS-CoV-2 tenha emergido através de manipulação laboratorial de um coronavírus similar a ele”. Mas espere, o líder não tinha dito que o vírus claramente não foi manipulado? O grau de certeza dos autores parece ter derrapado em vários graus no tocante à exposição do seu raciocínio.  A razão para a derrapagem é clara, uma vez que a linguagem técnica tenha sido penetrada. As duas razões que os autores dão para supor que a manipulação é improvável são definitivamente inconclusivas.

Primeira: dizem que a proteína de espícula do SARS2 faz uma ligação muito forte com o seu alvo, o receptor humano ACE2, mas faz de uma forma diferente da que os cálculos físicos sugerem que é o melhor encaixe. Portanto, o vírus deve ter surgido pela seleção natural, não pela manipulação.  Se esse argumento parece difícil de entender, é porque é muito forçado. O pressuposto básico dos autores, não dado por extenso, é que qualquer pessoa que tente fazer um vírus de morcego se ligar a células humanas poderia fazê-lo só de um jeito. Primeiro, calcularia o encaixe mais forte possível entre o receptor ACE2 humano e a proteína de espícula, com a qual o vírus se liga a ele. Depois projetariam a proteína de espícula com base nisso (selecionando a sequência correta de resíduos de aminoácidos que a compõem). Mas, já que a proteína de espícula do SARS2 não apresenta essa configuração ótima, diz o artigo de Andersen, ela não pode ter sido manipulada.

(...)


O vírus SHC014-CoV/SARS1 é chamado de quimera, pois o seu genoma contém o material genético de duas cepas de vírus. Se o vírus SARS2 tiver sido cozinhado no laboratório da dra. Shi, então o seu protótipo direto teria sido a quimera viral SHC014-CoV/SARS1, cujo perigo em potencial preocupou muitos observadores e provocou debates intensos. “Se o vírus escapuliu, ninguém poderia prever a trajetória”, disse Simon Wain-Hobson, virologista do Instituto Pasteur em Paris.


(...)
1) O lugar de origem

Comecemos com a geografia. Os dois parentes mais próximos conhecidos do vírus SARS2 foram coletados de morcegos das cavernas de Yunnan, uma província do sul da China. Se o vírus SARS2 tivesse infectado primeiro as pessoas vivendo ao redor das cavernas de Yunnan, isso seria um apoio forte à ideia de que o vírus transbordou para humanos de forma natural. Mas não foi o que aconteceu. A pandemia eclodiu a 1.500 km de distância, em Wuhan.

Os beta-coronavírus, a família de vírus de morcego ao qual pertence o SARS2, infectam o morcego nariz-de-ferradura Rhinolophus affinis, que se distribui pelo sul da China. O território dos morcegos é de 50 km, então é improvável que qualquer um deles tenha voado até Wuhan. De qualquer forma, os primeiros casos da pandemia da Covid-19 provavelmente ocorreram em setembro, quando as temperaturas da província de Hubei já estão frias o suficiente para os morcegos estarem hibernando.

MATÉRIA COMPLETA - Nicholas Wade, Ideias - Gazeta do Povo

 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

A origem laboratorial do coronavírus: uma hipótese tanto mais robusta quanto mais proibida

Por Flavio Gordon


“Se um lado está em guerra com outro, e esse outro não se dá conta de que está em guerra, o lado que reconhece a situação leva sempre vantagem e geralmente vence” (Sun Tzu)

A despeito do negacionismo histriônico de políticos venais, organizações internacionais de má fama, cientistas suspeitos, jornalistas obtusos, “especialistas” midiáticos surfistas de pandemia e demais opinadores sinófilos no debate público ocidental, quem conhece minimamente a história e o modus operandi do Partido Comunista Chinês – descritos, por exemplo, em obras como Unrestricted Warfare: China’s Master Plan to Destroy America e Deceiving the Sky: Inside Communist China’s Drive for Global Supremacy (ver, sobre o último, esse meu artigo de dezembro do ano passado) – decerto nunca se deixou intimidar pelo agitprop pró-China a ponto de desprezar a hipótese de o novo coronavírus ter sido criado em laboratório. 

Mas se, até então, a hipótese poderia ser definida como apenas plausível, nos últimos dias, com a divulgação de informações relevantes sobre o tema, ela ganhou mais força e solidez. Com efeito, os dados ora disponíveis são tão substanciais que, a meu ver, só mesmo o medo paralisante de encarar uma realidade assaz terrível – ou, alternativamente, a defesa de interesses escusos – pode levar alguém a continuar engolindo sem fazer cara feia a tese mainstream de origem natural do vírus. Vejamos.

No dia 2 de maio, foi publicado no Medium um longo e minucioso artigo de Nicholas Wade, renomado jornalista que passou 30 anos na editoria de Ciência do New York Times, e foi membro do comitê editorial das revistas Science e Nature. Intitulado Origin of Covid Following the Clues, o artigo (publicado pela Gazeta do Povo, em tradução de Eli Vieira) examina em detalhes as duas grandes teorias rivais sobre a origem do novo coronavírus:  
a) aquela segundo a qual o Sars-CoV-2 surgiu espontaneamente na natureza, passando indiretamente de morcegos para os seres humanos via algum animal hospedeiro intermediário, assim como ocorrera com os coronavírus anteriores, responsáveis pelas epidemias de Sars1 (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio); e 
b) aquela segundo a qual o novo coronavírus foi criado em laboratório (notadamente, o Instituto de Virologia de Wuhan, cidade-epicentro da pandemia), de onde teria escapado acidentalmente.

Antes de esmiuçar os méritos de cada hipótese, Wade descreve os mecanismos políticos via os quais, na imprensa e no debate público, a primeira passou a ser inquestionável e a segunda, banida como “teoria da conspiração”. Ele demonstra como, desde o início, a percepção midiática foi enviesada em favor da tese da origem natural graças a afirmações contundentes de dois grupos científicos, afirmações jamais examinadas criticamente por jornalistas que, a título de dever profissional, deveriam tê-lo feito.

“Estamos unidos para condenar veementemente teorias da conspiração sugerindo que a Covid-19 não tem origem natural” – foi o que, ainda em fevereiro de 2020, um grupo de virologistas e epidemiologistas escreveu na The Lancet, a mesma revista responsável pelo estudo fraudulento, posteriormente retratado, segundo o qual a hidroxicloroquina provocava maior risco de morte em pacientes com Covid-19. “Cientistas do mundo todo… concluem categoricamente que esse coronavírus se originou na vida selvagem” – diziam ainda os autores do manifesto, sobre o qual comenta Wade: “Uma marca definitiva dos bons cientistas é o esforço incessante para distinguir entre aquilo que sabem e aquilo que não sabem. Por esse critério, os signatários do manifesto na The Lancet comportaram-se como maus cientistas: deram ao público uma certeza sobre fatos que não sabiam seguramente se eram verdadeiros”.

Wade conta que o manifesto na Lancet foi organizado e esboçado por um sujeito de nome Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, uma ONG dedicada à pesquisa sobre métodos de prevenção a doenças infecciosas. Ocorre que um dos destinatários dos fundos captados pela EcoHealth Alliance é justamente o Instituto de Virologia de Wuhan, com suas pesquisas sobre coronavírus, nas quais são criados in vitro vírus mais perigosos que os existentes na natureza. Portanto, se o Sars-CoV-2 de fato escapou do laboratório por ele financiado, Daszak poderia ser incluído na lista de responsáveis pela catástrofe. Temos aí um claro conflito de interesses omitido dos leitores da Lancet, uma vez que o idealizador do manifesto em prol da hipótese da origem natural poderia estar, no limite, apenas pensando em salvar a própria pele. A imprensa, por sua vez, não se interessou em investigar o assunto.

O outro posicionamento muito influente em favor da hipótese da origem natural do novo coronavírus foi uma carta (não um artigo científico, note-se!) publicada em março de 2020 na revista Nature Medicine, e cujos autores eram um coletivo de virologistas liderados por Kristian G. Andersen, do Scripps Research Institute. Em seu segundo parágrafo, encontramos a seguinte afirmação: “Nossas análises mostram claramente que o Sars-CoV-2 não é uma criação de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”.

 
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Como explica Wade, tratava-se de mais um exemplo de má ciência, no sentido previamente definido, uma vez que a afirmação central dos autores, segundo a qual todo processo de manipulação genética de vírus costuma deixar rastros, ignora métodos mais modernos, que podem não deixar sinal algum. Caso um vírus tivesse sido manipulado por meio desses novos métodos, não haveria como descobri-lo. E, portanto, Andersen e seus companheiros ofereceram ao público uma certeza sobre algo que não tinham como saber. Talvez por isso o tom da carta se altere dos primeiros para os últimos parágrafos, passando da afirmação categórica de que o Sars-CoV-2 “claramente” não foi criado em laboratório para a sugestão de que “é improvável” que o tenha sido. “A razão para essa mudança de tom é clara, uma vez que adentramos na linguagem técnica”, diz Wade. “As duas razões citadas pelos autores para sustentar a improbabilidade de manipulação são definitivamente inconclusivas”.

(....................)

Em fevereiro de 2021, a OMS enviou uma comissão à China para, supostamente, investigar a origem da pandemia. O problema é que tanto a sua composição quanto o acesso de seus membros foram controlados com mão de ferro pelo Partido Comunista Chinês. Curiosamente, dentre o seleto grupo de integrantes aprovados pelo Partido estava o onipresente Peter Daszak, que, antes, durante e depois dos trabalhos da comissão, continuou impávido, com sua cara de sucupira e pose de isento, afirmando a improbabilidade da hipótese da origem laboratorial. Contudo, como mostra Wade, aquela não foi a vitória da propaganda que as autoridades chinesas esperavam, a despeito de todo o controle exercido. Logo ficou claro que a China não dispunha de nenhuma evidência da origem natural para oferecer à comissão.

Ao contrário do que ocorreu com a Sars1 e a Mers, o novo coronavírus não deixou traços relevantes no ambiente. Por exemplo, a espécie hospedeira intermediária da Sars1 foi identificada quatro meses após o início daquela pandemia; a do Mers, nove meses depois.  
No entanto, já se passaram 15 meses desde o início da pandemia da Covid-19 e, até agora, a população original de morcegos contaminados não foi identificada, nem a espécie intermediária a partir da qual o Sars-CoV-2 teria mutado e infectado os seres humanos, nem tampouco qualquer evidência de que a população chinesa, incluindo os habitantes de Wuhan, houvesse sido exposta ao vírus antes de dezembro de 2019.

Analisando a coisa pelo aspecto geográfico, os dois parentes mais próximos do Sars-CoV-2 conhecidos foram coletados de morcegos que habitam as cavernas de Yunnan, uma província montanhosa do sudoesta da China. Se a hipótese da origem natural estivesse correta, as primeiras pessoas infectadas deveriam ter sido as que habitam a vizinhança das cavernas de Yunnan. Mas, como se sabe, não foi isso que aconteceu. A pandemia irrompeu a 1,5 mil quilômetros dali, em Wuhan.

 A peste vermelha
O habitat do Rhinolophus affinis, a espécie de morcego presumivelmente hospedeira do Sars-CoV-2, não costuma ultrapassar um raio de 50 quilômetros de extensão. É improvável, portanto, que um deles houvesse chegado até Wuhan. Ademais, em setembro, data provável dos primeiros casos da Covid-19, as temperaturas na província de Hubei estão baixas o bastante para forçar os morcegos à hibernação. Portanto, a hipótese da origem natural exige necessariamente a identificação de uma espécie hospedeira intermediária, que, logicamente, deveria deixar rastros ao longo do vasto caminho que separa as cavernas de Yunnan e a agitada metrópole urbana de Wuhan. Como resume Wade: “Em outras palavras, trata-se de uma forçação de barra afirmar que a pandemia surgiu naturalmente fora de Wuhan para então, sem deixar pistas, ali fazer uma súbita aparição”.

Mas, se as evidências parecem faltar à tese da origem natural – e Nicholas Wade demonstra-o mediante uma série de outros argumentos extremamente técnicos que o leitor interessado poderá conferir por si mesmo –, elas abundam na hipótese da origem laboratorial do novo coronavírus, hipótese que começa a ser levada a sério pelo próprio Congresso americano. E é aí que os fatos descritos no artigo em tela tornam-se verdadeiramente alarmantes. Mas deles falaremos no artigo da semana que vem, examinando também a hipótese ainda mais assustadora, não contemplada por Wade, de que, sim, o vírus surgiu em laboratório, mas seu vazamento não foi propriamente acidental.

Flavio Gordon, doutor em antropologia - VOZES - Gazeta do Povo

sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

No mundo do jet ski - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Motivos para processo de impeachment há, o que não há são condições políticas e objetivas

Que o governo Jair Bolsonaro é um desastre nas mais variadas áreas, senão em todas, ninguém minimamente informado e conectado à realidade tem dúvida. Daí a imaginar que o impeachment está à vista é apenas um sonho de verão, ou de tempos de pandemia. Motivos há de sobra. O que falta são ambiente político e condições objetivas, por enquanto.

Como esquecer a reação do presidente quando o Brasil ultrapassou cinco mil mortes por covid-19:E daí? Querem que faça o quê?”. Como esquecer a cena do presidente passeando de jet ski no dia em que o número de mortos passou de dez mil? A gota d’água é a falta de gotas de vacina. “Querem que eu faça o quê?” Que governe o País, garanta e defenda as vacinas, salve vidas. [Cara Colunista, com todo o respeito e pedindo desculpas pela nossa ignorância - que nos impede de ler por trás do que está escrito - pedimos que responda: as duas perguntas grifadas tipificam qual crime? crime desses tipificados em leis, não valendo a vontade da escriba.]

Bolsonaro, porém, nunca deixou de passear no seu jet ski pela realidade virtual em que vive, feliz, todo sorrisos, fazendo campanha antecipada pela sua reeleição, em vez de fazer campanha imediata pela vacinação. Ultrapassa todos os limites de provocação, irresponsabilidade, falta de respeito e bom senso. E é o principal culpado por trazer de volta a palavra impeachment ao cotidiano nacional.

Pelo temor de a pandemia gerar processo de impeachment e descambar para crise social, política e institucional, o procurador-geral da República, Augusto Aras, deixou o País de prontidão com uma nota em que admite até estado de defesa, previsto pelo artigo 136 da Constituição [a Constituição vigente, a 'constituição cidadã' de 1988, a democrática Constituição que sustenta o 'estado democrático de direitos.] para restringir liberdades individuais em cenários de caos.

Soou como ameaça, por vários motivos: Aras é aliado e se sente devedor do presidente, que o pinçou para a PGR fora da lista tríplice; Bolsonaro ultrapassa limites todo santo dia; a incúria do governo compromete a vacinação da população; o auxílio emergencial acabou e milhões ficarão na miséria, cara a cara com a fome. Logo, a hipótese de impeachment não é mais absurda.

A reação a Aras foi forte, de ministros do Supremo, parlamentares e dos próprios procuradores, que focaram em dois pontos da nota: 
1) a ameaça de estado de defesa, num ambiente em que o presidente enaltece ditadores e atiça as Forças Armadas e 
2) a versão de Aras de que crimes de responsabilidade praticados por agentes públicos são de competência do Legislativo. 
A avaliação [avaliações, especialmente contra o presidente Bolsonaro, costumam ser baseadas em suposições, interpretações = os inimigos do presidente Bolsonaro, que são também inimigos do Brasil, arautos do pessimismo e adeptos do 'quanto pior melhor', padecem de uma cônica aversão aos fatos.]  é de que o procurador tenta lavar as mãos e que uma autoridade saber com antecedência do risco iminente de falta de oxigênio e não evitar que pessoas morram sufocadas é crime comum, logo, compete aos tribunais e ao Ministério Público.

A nota de Aras embola Bolsonaro, pandemia, os erros do governo e algo de imensa importância no mundo e no Brasil, que é a troca de Donald Trump por Joe Biden nos EUA. O governo é um desastre internamente e o último fiapo da política externa esgarçou. Em vez de reagir corrigindo os erros, Bolsonaro dobra a aposta e teme-se que, acuado, sinta-se tentado a chutar o pau da barraca, recorrendo a instrumentos excepcionais, como o estado de defesa.

Como imaginar impeachment, porém, se o candidato de Bolsonaro é favorito a presidente da Câmara, o PT apoia o candidato dele no Senado, governadores e prefeitos são investigados por desvios de recursos para leitos e respiradores e, agora, políticos, empresários e imorais de toda sorte furam fila para roubar as (já poucas) vacinas dos profissionais de saúde?

É dramático admitir, mas Bolsonaro é resultado e parte desse descalabro e conta com súditos fiéis para garantir pontos nas pesquisas e até bater bumbo pelas duas milhões de doses que devem pingar hoje no País, vindas da Índia. Chegam atrasadas, não resolvem nada, são uma gota no oceano para os brasileiros, mas os seguidores de Bolsonaro são craques em trocar a realidade pela versão do mito. Que vai ficando.[Bem pior é o Joãozinho, o Doria, que desde outubro fala, grita, espinafra o presidente, e a vacina dele não deu nem para começar e do alto de sua (in) competência, esqueceu que a vacina dele por ser parceria com uma empresa chinesa, instalada em solo chinês,corre o risco de fracassar por não ter insumos, o IFA - cuja remessa depende da boa vontade dos chineses; quando a vacina da Fiocruz o IFA será remetido por uma fábrica da ASTRAZENECA, instalada em solo chinês mas que não é chinesa, tendo autonomia para enviar os insumos.]

Eliane Cantanhêde, jornalista - O Estado de S. Paulo

 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

Bolsonaro não pode deixar de prestar depoimento, declara ministro do STF

Em despacho da AGU, o presidente da República havia declinado de prestar informações presencialmente. Ministro do STF, relator do caso, decide que Bolsonaro pode permanecer em silêncio, mas não pode recusar oitiva

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, decidiu que caberá ao plenário da Corte definir sobre a forma em que o presidente da República, Jair Bolsonaro, será intimado no âmbito do inquérito que investiga suposta interferência política do chefe do Executivo na Polícia Federal para fins pessoais. A apuração teve início após acusação do ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro. Ele determinou que o presidente do Supremo, Luiz Fux, seja comunicado da decisão e pediu urgência na inclusão do assunto em pauta.

 [Complicado desvendar as intenções do ministro relator. O relator anterior, em decreto supremo, classificou o presidente Bolsonaro como investigado e consoante tal decisão cerceou ao Chefe da Nação o direito de depor escrito. Agora sob nova relatoria, mas valendo a classificarão conferida pelo antigo relator ao presidente da República.

Sendo investigado e reconhecido pelo ministro Moraes seu direito a permanecer em silêncio, o que impede o presidente Bolsonaro de informar por escrito  ao condutor do inquérito seu decisão de nada falar e com isso tornar seu comparecimento para depor, desnecessário.

Mas o ilustre relator faz questão que o presidente compareça ao depoimento e lá expresse sua decisão, legalmente amparada, de permanecer em silêncio. Fica a impressão que o único objetivo do relator é o de constranger o presidente da República, a mais alta autoridade da República, a comparecer a uma delegacia de polícia para informar que vai exerceu seu direito ao silêncio = vale o mesmo que dizer: 'estou aqui obrigado, não queria vir,  mas me obrigaram.']

A Advocacia-Geral da União (AGU) havia enviado um despacho ao Supremo no último dia 26, dizendo que o presidente declinava “do meio de defesa que lhe foi oportunizado unicamente por meio presencial” e pedia o “pronto encaminhamento dos autos à Polícia Federal para elaboração de relatório final”.

Moraes, então, pediu uma manifestação da Procuradoria-Geral da República (PGR), que se posicionou afirmando que “inexiste razão para se opor à opção do presidente de não ser interrogado”. “Na qualidade de investigado, ele está exercendo, legitimamente, o direito de permanecer calado”, pontuou.

Oitiva
O ministro, entretanto, avalia que o presidente tem direito de permanecer em silêncio, mas não de não comparecer à oitiva. “Em momento algum, a imprescindibilidade do absoluto respeito ao direito ao silêncio e ao privilégio da não autoincriminação constitui obstáculo intransponível à obrigatoriedade de participação dos investigados nos legítimos atos de persecução penal estatal ou mesmo uma autorização para que possam ditar a realização de atos procedimentais ou o encerramento da investigação”, pontuou.

Conforme Moraes, a “Constituição Federal consagra o direito ao silêncio e o privilégio contra a autoincriminação, mas não o ‘direito de recusa prévia e genérica à observância de determinações legais’ ao investigado ou réu. “Ou seja, não lhes é permitido recusar prévia e genericamente a participar de atos procedimentais ou processuais futuros, que poderá ser estabelecidos legalmente dentro do devido processo legal, mas ainda não definidos ou agendados, como na presente hipótese”, afirmou.

O ministro, ao decidir que a forma do interrogatório seja definida pelo plenário, determinou que apenas após esta decisão a autoridade policial decida o dia, local e horário, ou envie por escrito as perguntas (se a Corte entender que ele poderá prestar depoimento por escrito). Moraes ainda indeferiu o pedido de encaminhamento dos autos à PF para elaboração do relatório final.

Correio Braziliense

 

sexta-feira, 17 de abril de 2020

De olho no bolso - Auxílio emergencial: 9,1 milhões de inscritos pelo app recebem até segunda - Veja

Forças políticas de centro enxergam a hipótese de Bolsonaro tornar permanente o auxílio emergencial e, assim, ganhar os votos dos mais pobres

As forças políticas de centro, às quais hoje se integram personagens até outro dia governistas, não perdem tempo em considerações sobre a saúde mental de Jair Bolsonaro. Elas cresceram aos olhos da população durante a crise do vírus e veem as coisas com frieza. Trabalham com um olho nas ofensivas destrambelhadas do presidente e o outro nos resultados eleitorais que ele supõe sejam alcançáveis por esse caminho.

Partindo do princípio de que Bolsonaro pode até ser louco, mas não rasga voto, esse pessoal prefere não subestimar o adversário dando de barato que ele está perdido política e eleitoralmente falando. Na avaliação deles há uma possibilidade de sobrevivência. Relativa, mas há.
Olhando um pouco além do horizonte visível, enxergam a hipótese de Bolsonaro tornar permanente o auxílio emergencial de 600 reais e, assim, adicionar aos seus (ainda) [aqui no Blog todos são orgulhosamente bolsonaristas, a maior parte de raiz, e ao contrário da maior parte dos adversários do presidente Bolsonaro não temos interesse financeiro - diferentemente dos que hoje malham o presidente da República, a maior parte deles por ter perdido a mamata de viver pendurado nas tetas da viúva - seja pelo cabide de empregos ou pela corrupção deslavada.]  30% de súditos um público que já foi do PT: os mais pobres e notadamente os do Nordeste.

O raciocínio desenvolveremos adiante. Primeiro vamos à apresentação de seus autores. Quem são eles? Governadores, parlamentares, prefeitos, dirigentes partidários, gente ultrata­rimbada nas artes da política, boa parte alijada da cena principal pela dita polarização e que agora começa a se animar com a oportunidade de contar com o apreço de um eleitorado cansado da guerra. Pois bem, para isso é preciso preparo e, por isso, nesse ambiente existente nos bastidores do drama de saúde pública já se semeia o terreno da disputa presidencial de 2022, isso no pressuposto de que Bolsonaro chegue até lá no cargo. O primeiro ponto da discussão é procurar entender os atuais movimentos do presidente. O que ele quer com essa confrontação? São desenhados aí dois cenários, ambos levando em conta o desenrolar da crise e suas consequências.
1. Se forem trágicas, alegará que a despeito de ter aberto os cofres para a saúde e para o atendimento social, além da incompetência dos adeptos da ciência em impedir as mortes, ainda quebraram a economia. 2. Se o resultado não for tão dramático, dirá que tinha razão sobre os “exageros” na precaução e ressaltará o desastre econômico decorrente deles. Em nenhuma das duas hipóteses a culpa da recessão seria dele.
A título de ilustração, conta-se a história de um velho médico do interior que, antes da era da ultrassonografia, acertava em 100% das vezes o sexo de um bebê. Dizia à mãe que seria menino, mas registrava na ficha da consulta “menina”, e vice-versa. Caso contrário, alegava que a paciente ouvira errado a previsão.

Mal comparando, seria esse o método de Bolsonaro para construir a versão do próprio acerto que apresentaria ao país depois do vendaval. Muito bem, mas a questão é que, diferentemente daquele médico, o presidente não joga sozinho. Tem contra ele o enorme passivo de atritos que veio acumulando ao longo da vida, da campanha e da Presidência. Está exposto ao julgamento da sociedade e à ação das forças institucionais contrárias. [se entre tais forças estiver o conluio dos governadores, este logo se desfará - são muitas ambições desregradas para conviver até 2022 no mesmo balaio. De quebra, ainda tem preceitos querendo ser 'gente grande'.]

Aqui entra o ponto que tem alimentado as conversas ao centro político sobre os recursos dos quais Bolsonaro lançará mão para sair da enrascada. O relato maquiado da situação é um, mas não considerado o mais preocupante. O inquietante reside no constantemente aludido poder da caneta. Nesse campo perdeu muito, mas ainda conserva ferramentas. Por exemplo, a de decidir prorrogar indefinidamente a concessão dos 600 reais aos necessitados.
Seis notas de 100 reais no bolso e de lá para o balcão do armazém têm o condão de atrair a idolatria de um contingente enorme de eleitores. Por muito menos, os 180 reais do Bolsa Família, Luiz Inácio da Silva conseguiu se reeleger com tudo o que o escândalo do mensalão já havia contado aos brasileiros sobre os esquemas de corrupção do PT.
Esse dinheiro, cumpre notar, é dado diretamente pelo governo federal, que alijou governadores e prefeitos do processo desprezando sistemas de cadastramento locais para concentrar a distribuição na Caixa Econômica. Metodologia, aliás, responsável por aglomerações país afora à porta das agências. [é deixar por conta da Caixa e  tolerar as aglomerações ou então pulverizar com preceitos e governadores e metade dos ficar com os envolvidos na distribuição = seria para evitar aglomeração, facilitar a corrupção.]

Mas o que é isso para larga parcela do público diante do dinheiro na mão? Essa é, na análise de seus antagonistas de fora dos polos radicalizados, a arma que Jair Bolsonaro guarda engatilhada para acrescentar ao discurso de que tinha razão, fez sua parte mobilizando recursos para a Saúde e ainda manteve o ministro Luiz Henrique Mandetta até o limite do que alega se tratar de provocações como justificativa para a demissão.
Se vai dar certo, são outros quinhentos, a respeito dos quais a realidade dirá.

Publicado em VEJA de 22 de abril de 2020, edição nº 2683

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Caixa soltou o cronograma inicial de pagamento para informais fora do CadÚnico, MEIs e autônomos; 3,4 milhões recebem hoje às 15h

Por Larissa Quintino - Atualizado em 17 abr 2020, 13h37 - Publicado em 17 abr 2020, 13h27

A Caixa Econômica Federal informou no início da tarde desta sexta-feira, 17, que 9,1 milhões de pessoas que se inscreveram para o programa do auxílio emergencial, o ‘coronavoucher’, pelo aplicativo ou site receberão a parcela de 600 reais até segunda-feira. O pagamento começa já nesta sexta, com o crédito para 3.438.238 pessoas que já eram correntistas do banco. No sábado, o crédito será feito para 1,420 milhão com conta em outros bancos e, na segunda-feira, 4,23 milhões recebem pela poupança digital. Os recursos liberados para esse lote de pagamento são para os informais que se cadastraram no sistema na semana passada.

Informais que não estão no CadÚnico, microempreendedores individuais (MEIs) e autônomos que contribuem para o INSS precisam se inscrever pelo aplicativo do programa emergencial para pleitear o auxílio. Após preencher os dados, a Dataprev, empresa de tecnologia do governo analisa os dados e, caso o informal tenha direito, habilita o cadastro e passa os dados para a Caixa, que é quem paga de fato o trabalhador.

Ao todo, 38 milhões de pessoas já se cadastram no aplicativo. Deste total, 16,4 milhões já tiveram os dados processados pela Dataprev, ou seja, estão autorizadas a receber. Porém, a Caixa ainda está processando os dados e, conforme as habilitações são feitas, liberará mais pagamentos deste primeiro lote do auxílio.  Além dos informais que se inscrevem pelo App, têm direito ao auxílio os informais que estavam cadastrados no CadÚnico até o dia 20 de março e beneficiários do Bolsa Família. Nesta sexta, 3,3 milhões de pessoas desses outros dois grupos receberão os recursos.
Segundo a Caixa, a primeira parcela do auxílio já foi disponibilizada para 9,3 milhões de pessoas.

Quem pode receber o auxílio emergencial
O auxílio, conhecido como ‘coronavoucher’ será pago a trabalhadores informais, microempreendedores individuais, autônomos que contribuem para o INSS e também beneficiários do Bolsa Família. Um dos requisitos é ter a renda de até meio salário mínimo (522,50 reais) ou até três salários mínimos na família (3.135 reais). Segundo o governo, é necessário ter CPF regular. Porém, uma decisão da Justiça Federal derrubou a exigência. Com isso, Caixa e Receita tem 48 horas para se adequar e permitir os cadastros no app.

Na véspera, aprovou um texto que flexibiliza para 20 categorias, entre elas motoristas de app, taxistas, garçons, entre outros, o pagamento do auxílio emergencial para quem perdeu renda. Para que essa ampliação comece a valer, o texto precisa ser votado novamente pelo Senado, já que houve alteração no texto. Caso seja aprovado, é necessário que o presidente Jair Bolsonaro sancione o texto. Logo depois, a Caixa irá regulamentar quando os pagamentos serão feitos.  Serão pagas três parcelas de até 600 reais, limitadas a dois benefícios por família. Mães que são chefes de família terão direito a cota de 1,200 reais mensais.

Veja, abaixo, quais sãos os requisitos e o calendário do programa:
– ter 18 anos de idade ou mais
ter renda mensal de até meio salário mínimo por pessoa (522,50 reais) ou ter renda mensal até 3 salários mínimos (3.135 reais) por família;
– não ter sido obrigada a declarar Imposto de Renda em 2018 (ter recebido até 28.559,70 em rendimentos tributáveis em 2018).
Na renda familiar, serão considerados todos os rendimentos obtidos por todos os membros que moram na mesma residência, exceto o dinheiro do Bolsa Família.

Também é necessário: 
– ser titular de pessoa jurídica (Micro Empreendedor Individual, ou MEI);
– estar inscrito Cadastro Único (CadÚnico) para Programas Sociais do Governo Federal até o dia 20 de março;
– ser contribuinte individual ou facultativo do INSS;

Como funciona
– Até duas pessoas da mesma família podem receber o benefício, sendo a renda emergencial permitida de 1.200 reais por família; Mulheres que são mães e chefes de família podem ter cota de 1.200 reais;
Quem recebe Bolsa Família ficará, por três meses, com o auxílio, se o valor for maior
– O auxílio não vale para trabalhadores com carteira assinada ou funcionários públicos

VEJA, MATÉRIA COMPLETA 




domingo, 19 de maio de 2019

O medo de Bolsonaro



Declaração do presidente sobre investigação contra Zero Um serviu para revelar um homem acuado

O presidente Jair Bolsonaro está na defensiva antes mesmo de completar seis meses de governo. Ao atacar mais uma vez as investigações sobre as falcatruas do filho Zero Um no exercício de seu mandato de deputado estadual, Bolsonaro afirmou que elas não o alcançarão. “Não vão me pegar”, disse o presidente. Para se mostrar inocente, ele chegou a oferecer a abertura de seus sigilos bancário e fiscal. Foi da boca para fora, evidentemente. O curioso foi ter usado uma desculpa adotada por dez entre dez pessoas acusadas de malfeitos. Não precisava, o presidente não é acusado deste crime. Mas a declaração serviu para revelar um homem acuado, com medo. [todos sabemos que o estilo Bolsonaro não é o esperar ser atacado, ele é  adepto da defesa preventiva;
em 99,999% das entrevistas realizadas com Bolsonaro, todas ou a maior parte das perguntas são feitas com intenção de acusá-lo, de ofendê-lo. 
Sabedor disso ela já parte no ataque, que ainda é a melhor defesa. 

Qual o cidadão, ainda que uma PESSOA DE BEM, que sempre que cruza com determinado individuo é alvo de disparos  de tiros contra sua pessoa, que felizmente não o acertam, não faz a opção de ao ver o individuo, que sempre o ataca, atacá-lo antes?
Parte da imprensa  e, temos que reconhecer, alguns dos aliados e familiares de Bolsonaro também, obrigam o presidente a estar sempre na defensiva.] 

Bolsonaro está com medo de ser pego com a mão na botija? Não. Até porque não dá para afirmar isso por ora. É muito cedo. Mas ele está tremendo de pavor de ver um filho seu, ou quem sabe dois deles, acertando contas com a Justiça. A saída possível para o Zero Um fica cada dia mais difícil. O Ministério Público já chama de “organização criminosa” o grupo que o filho do presidente montou na Assembleia Legislativa do Rio. [o MP mesmo no cumprimento de sua função institucional, tem o péssimo hábito de usar em suas acusações, títulos de efeito e em um dos preferidos é o já famoso 'organização criminosa'.] Ele, sua mãe, o seu irmão mais novo (o que não está na política), a ex-mulher do seu pai, primos, amigos e funcionários do seu gabinete terão suas contas bancárias e suas declarações de renda escarafunchadas pelo MP e pela Polícia Federal. 

No total
55 funcionários, 12 pessoas da família Bolsonaro ou diretamente ligadas a ela e nove empresas tiveram seus sigilos fiscais e bancários quebrados. [sempre oportuno, apesar de ser uma obviedade, lembrar que uma pessoa é uma pessoa, sendo diferente de outra pessoa - o CPF do presidente, dos seus filhos, demais familiares, funcionários etc, são diferentes.]   Serão analisadas contas e declarações de renda de um período de 11 anos. Foi nesse intervalo que a mulher do presidente, Michelle Bolsonaro, recebeu cheques do assessor/motorista Fabrício Queiroz. Dinheiro que, segundo o marido dela, foi pagamento de um empréstimo que o então capitão deputado fez ao assessor/motorista do filho. Esquisito? Sim, mas tudo bem. As contas abertas podem comprovar ou desmentir esta alegação. [ser esquisito, pelo menos ainda, não é crime, seja no Brasil ou em qualquer outro ponto do planeta; e a tipificação de alguma prática como criminosa, tem que anteceder à prática e precisa ser provada.]

De qualquer forma , também não é isso que assusta Jair Bolsonaro. Pela Constituição, ele não pode ser julgado, portanto nunca será condenado, por crimes que não tenham sido cometidos em ligação direta com o exercício de seu mandato. A ele nada ocorrerá mesmo que o filho, ou os dois filhos, a mulher e a ex-mulher sejam condenados por mau uso do dinheiro público. O problema é outro. O que arrepia o presidente é a hipótese de o núcleo formado por ele e pelos filhos Flávio, Carlos e Eduardo ser quebrado. Se isso acontecer, sua integridade moral e psicológica pode ruir. E com ela o seu projeto de poder. 

(...)

Como esta hipótese não é contemplada no caso dos Bolsonaro, a alternativa do núcleo só se romperá quando e se o Zero Um for condenado. Se Flávio for afastado da família compulsoriamente, em razão do resultado das investigações, a vida da família será bruscamente modificada. Com um dos pés quebrados, o governo Bolsonaro também sofrerá consequências, avalia Salem. A saída de um dos vértices abrirá espaço para a possibilidade de relacionamentos construtivos que hoje estão fora da bolha acabarem sendo absorvidos pelo núcleo dividido. Desse ponto de vista, o resultado da investigação tem o potencial de até mudar o governo para melhor. É disso que Bolsonaro tem medo. [é presidente, até se o seu governo melhor - e com as bênçãos de DEUS, vai melhorar - o senhor vai continuar no tronco.]

Ascânio Seleme - O Globo