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domingo, 14 de maio de 2023

Coronavírus de morcego - EUA voltam a financiar pesquisa do tipo que pode ter começado a pandemia - Ideias

Ideias - Eli Vieira


Peter Daszak, zoólogo britânico que preside a ONG EcoHealth Alliance, que captava verbas americanas, e o Instituto de Virologia de Wuhan, receptador de parte das verbas que fazia pesquisa com coronavírus em condições inadequadas de segurança. Fotos de 2017 e 2016, respectivamente.| Foto: Uppsala Health Summit/Ureem2805

Apesar das suspeitas do FBI e do Departamento de Energia de que o coronavírus da Covid vazou de um laboratório na China que recebia fundos americanos, os Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos EUA, grande agência estatal de fomento à ciência, renovaram uma verba para a ONG que atuou como intermediária do dinheiro. A EcoHealth Alliance, que passou de pequena organização ambientalista a importante financiadora da virologia sob a expertise e o tino político do zoólogo britânico Peter Daszak, deve receber do governo americano US$ 2,9 milhões (R$ 14,34 milhões) pelos próximos quatro anos para o projeto de título “Entendendo o risco de emergência dos coronavírus de morcego”.

A ONG, em nota à imprensa publicada na segunda-feira (8), disse que esses vírus “representam uma ameaça significativa à saúde global, como demonstrado pela emergência do SARS-CoV [gripe asiática], MERS-CoV [síndrome respiratória do oriente médio] e SARS-CoV-2 [Covid-19]”. A EcoHealth Alliance reivindica crédito pela descoberta dos morcegos como reservatórios do vírus da gripe asiática, uma coronavirose que teve surtos no começo dos anos 2000, e pela estimativa de que 66 mil pessoas são infectadas com coronaviroses por ano.

O financiamento anterior dos NIH para a organização foi suspenso em abril de 2020, quando Donald Trump levantou a suspeita de que a verba repassada ao Instituto de Virologia de Wuhan, na China, havia de alguma forma ajudado a formar as condições que deram origem ao novo coronavírus. A ideia foi chamada de “teoria da conspiração” por autoridades científicas e por grande parte da imprensa, que impuseram sobre o assunto um tabu (o que não afetou a Gazeta do Povo, que publicou a respeito em novembro de 2020). O tabu só foi rompido em maio de 2021, quando evidências do vazamento laboratorial, não conclusivas, mas sugestivas, se acumularam e foram resumidas pelo veterano do jornalismo científico Nicholas Wade. 

A Gazeta do Povo publicou o texto de Wade com exclusividade no Brasil.

Citando como fonte da verba o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID, parte dos NIH), que foi administrado por Anthony Fauci até sua aposentadoria em dezembro, a ONG diz que seu novo projeto tem os seguintes objetivos: caracterizar e analisar mais de 300 novos materiais genéticos completos (genomas) de coronavírus coletados na natureza em seu arquivo, identificando entre eles quais têm a maior chance de saltar para humanos; e examinar dados clínicos de pessoas com coronaviroses para identificar novas transmissões de animais para humanos e quais comportamentos humanos estão por trás dos casos, na tentativa de identificar zonas de risco.

Novas restrições à pesquisa
Pesquisadores que falaram com a revista científica Nature aplaudiram a renovação da verba, alegando que a pesquisa é importante para evitar a próxima pandemia. “A integridade da ciência exige uma barreira contra a interferência política”, disse Gerald Keusch, vice-diretor do Laboratório Nacional de Doenças Infecciosas Emergentes na Universidade de Boston.

Mas há condições não impostas antes à EcoHealth. Ela está proibida de financiar pesquisa na China (a ONG anunciou que colaborará com pesquisadores de Singapura), de coletar novas amostras de morcegos ou quaisquer outros vertebrados; terá de ser mais transparente com suas finanças, pois no passado foi inconsistente na contabilidade de US$ 90 mil em financiamento (levando a desconfianças de que houve desvio). Além disso, o governo americano proibiu a ONG de fazer pesquisa que aumente a infecciosidade de vírus em humanos, atividade conhecida como “ganho de função”.

“Não sei se qualquer outro contemplado com verba dos NIH já foi submetido a esse nível de escrutínio”, comentou Peter Daszak. Em entrevista ao tabloide britânico Daily Mail nesta quarta (10), ele disse que nunca rejeitou a hipótese da origem laboratorial da Covid-19, mas que acredita que “é extremamente improvável com base nas evidências”. Entretanto, ele articulou nos bastidores, sem incluir o próprio nome, uma carta à revista médica The Lancet em 2020 que atacava a hipótese e dava certeza da origem entre animais silvestres. Dois anos depois, a revista mudou de ideia e admitiu que a possibilidade não podia ser descartada.

Reações
Em 2017, revelam documentos encontrados por investigadores independentes e publicados pelo site Intercept, a EcoHealth Alliance pediu verba à Darpa, agência de financiamento de pesquisa do Departamento de Defesa dos EUA, para inserir uma estrutura molecular chamada “sítio de clivagem da furina” no material genético de coronavírus. O pedido foi rejeitado porque, segundo um membro da Darpa que falou à revista Vanity Fair, tinha “uma horrível falta de bom senso”. A estrutura, importante para a infecciosidade de vírus em humanos, está presente no vírus da Covid, mas ausente em seus parentes mais próximos encontrados na natureza.

Congressistas republicanos já estão se movimentando contra a renovação de verba para a ONG, e o aplauso dos cientistas não é unânime. Richard Ebright, biólogo da Universidade Rutgers e especialista em segurança laboratorial que acusou inadequação dos laboratórios de Wuhan, disse ao Daily Mail que “é um ultraje que a EcoHealth Alliance — uma organização que potencialmente partilha da culpa pela origem da pandemia de Covid-19 — continue a receber verbas e contratos do governo americano”. Ele critica, também, o papel de Daszak em obstruir as investigações das origens do vírus em uma fase crítica. “Essa decisão trai a confiança dos pagadores de impostos americanos e mina completamente as metas declaradas dos NIH de ‘dar o exemplo e promover o maior nível de integridade científica, responsabilidade pública e social na conduta da ciência’”, acrescentou Bryce Nickels, que leciona genética na mesma instituição.

Eli Vieira, colunista - Gazeta do Povo - Ideias

 

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Polícia Federal pede indiciamento do presidente por incitação ao crime - Thamea Danelon

Gazeta do Povo - VOZES

STF julgará recursos que questionam decisões de Moraes contra Bolsonaro e apoiadores

Em dezembro de 2021 o ministro Alexandre de Moraes determinou a instauração de inquérito policial para apurar eventual prática de crimes após a realização de uma live do presidente da República ocorrida em outubro de 2021. 
Durante a live, o presidente Bolsonaro divulgou matéria da revista Exame sobre eventual correlação entre determinadas vacinas contra a Covid 19 e o aumento da probabilidade de contaminação pelo vírus HIV.

O presidente mencionou um estudo publicado em outubro de 2020 na revista The Lancet (revista científica médica britânica), onde o pesquisador Lawrence Corey aponta que a infecção por HIV teria mais risco caso o paciente tivesse recebido uma vacina com o adenovírus de número 5 (Ad5). Foi esse estudo o noticiado pela revista Exame.

Nunca é demais ressaltar também que não há a tipificação do crime de fake news na nossa legislação, logo, essa seria uma conduta criminal inexistente.

Por conta dessa live, o senador Omar Aziz presidente da CPI da Covid – requereu ao ministro Alexandre de Moraes a abertura de uma investigação para apurar eventuais crimes de epidemia e infração de medida sanitária cometidos pelo presidente da República, e que suas redes sociais fossem suspensas.   
O procurador-geral da República (PGR) foi ouvido em relação a esses pedidos, e requereu o indeferimento da solicitação do senador para instaurar a investigação, sob argumento de que a CPI não teria legitimidade para realizar esses requerimentos. 
O PGR também afirmou que o ministro Alexandre de Moraes não seria o juiz prevento, ou competente, para analisar a abertura da investigação.
 
Entretanto, referido ministro – que é o relator do Inquérito das Fake News – determinou a abertura de um inquérito policial cujas investigações foram realizas pela Polícia Federal. 
Ao final das apurações, a delegada responsável pelo caso entendeu que o presidente teria cometido duas infrações
(1) a contravenção penal prevista no artigo 41 da Lei 6.388/41, que seria “provocar alarma, anunciando desastre ou perigo inexistente, ou praticar qualquer ato capaz de produzir pânico ou tumulto”, cuja pena é de 15 dias a 6 meses de detenção; e, 
(2) incitação ao crime, previsto no artigo 286 do Código Penal com pena de 3 a 6 meses de detenção. 
Assim, a delegada solicitou ao ministro Alexandre de Moraes autorização para realizar o indiciamento do presidente por essas infrações penais e também para ouvi-lo.

Em relação aos supostos crimes e contravenções mencionados, eu não vejo a caracterização dos mesmos, pois na live do presidente foi noticiado o estudo publicado na revista The Lancet e comentado na matéria da revista Exame, assim, na minha análise técnica, não estaria configurado o delito de incitação ao crime e nem mesmo a contravenção de alarmar a população.
Veja Também:

    A condenação de Deltan Dallagnol pelo TCU
    Câmara dos Deputados aprova o fim das “saidinhas”
    A PGR e o arquivamento dos pedidos de investigações da CPI da Covid

Nunca é demais ressaltar também que não há a tipificação do crime de fake news na nossa legislação, logo, essa seria uma conduta criminal inexistente. 
Por outro lado, quando o PGR requereu a não instauração dessa investigação, ele defendeu o nosso sistema jurídico, que é o sistema acusatório, que separa as funções de investigar/acusar; defender e julgar em órgãos distintos
Assim, não caberia ao STF instaurar uma investigação a pedido de políticos, pois somente o PGR teria atribuição para apurar eventuais crimes praticados pelo presidente da República, vez que somente ele poderia, ao final das apurações, arquivar o inquérito policial ou ajuizar uma ação penal contra o chefe do Executivo.
 
Sobre o mencionado indiciamento, importante deixar claro que é um ato pelo qual a autoridade policial se convence que ocorreu a prática de um crime, e que o indiciado é o provável autor da infração penal. 
Embora na lei processual não exista a necessidade de autorização do STF para indiciar o presidente da República, esse entendimento é decorrente de uma decisão do Supremo, onde na Questão de Ordem no Inquérito 2.411 o STF entendeu que pessoas que apresentam foro privilegiado perante o Supremo, necessitam de autorização deste órgão para serem indiciadas.

Diante do pedido da delegada federal, o ministro Alexandre de Moraes encaminhou essa solicitação para que o PGR se manifeste, e este será o momento em que o chefe do Ministério Público dirá se entende que o presidente cometeu algum crime ou não. Caso seu entendimento seja de que não houve a prática de crime, o PGR não concordará com o indiciamento, e poderá requerer o arquivamento das investigações.

Nunca é demais ressaltar que a última palavra sobre o arquivamento de investigações criminais é do Ministério Público
, pois essa determinação decore da própria lei que rege essa matéria, o Código de Processo Penal, embora, ultimamente, o STF não tenha agido estritamente de acordo com essa disposição legal. Assim, aguardemos os desdobramentos desse caso.

Thaméa Danelon - Procuradora da República (MPF); Coluna em Gazeta do Povo - VOZES


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2022

Covid-19: Os sinais no Brasil e no mundo de que a pandemia está a caminho do fim - VEJA- Saúde

No exterior, cidades derrubam as restrições. No Brasil, o número de casos cai. Depois de dois anos, o pesadelo começa a terminar

ÚLTIMA FRONTEIRA - Crianças: a proteção do público de 5 a 11 anos contribui para impedir o surgimento de variantes -

 ÚLTIMA FRONTEIRA - Crianças: a proteção do público de 5 a 11 anos contribui para impedir o surgimento de variantes - Fabiano Rocha/Agência O  Globo
Depois de dois anos de medo e tristeza, de quarentenas e confinamentos, há ótimos e luminosos motivos para alívio.  
Na terça-feira 15, a Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou pela segunda vez neste ano uma queda no número de novos casos de Covid-19 no mundo. 
No período de 7 e 13 de fevereiro, houve uma redução de 19% em comparação ao total registrado nos sete dias passados. 
No sul da Ásia, o decréscimo foi de 37%; nas Américas, 32%; na África, 30%; na Europa, 16%; e no leste do Mediterrâneo, 12%. 
 
No boletim anterior, a organização contabilizara diminuição de 17% no número de novos infectados. No Brasil, a semana também foi de boas notícias. Também na terça 15, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) informou que, pela primeira vez em 2022, a taxa de ocupação dos leitos de UTI destinados a pacientes adultos com Covid-19 apontou melhora nos índices. Das nove unidades federativas que na semana passada estavam com nível de ocupação igual ou superior a 80%, considerado crítico, apenas quatro permaneciam nesse patamar. Um dia antes, a média móvel de novos casos registrou a maior queda em um mês e meio, cravando quatro dias seguidos de declínio.
 
 
 Os indicadores demonstram que a ômicron, a mais transmissível das variantes do coronavírus, está perdendo fôlego depois de assustar o planeta de novembro de 2021 até agora, fazendo explodir o total de novas infecções. Uma boa medida da desaceleração é o decréscimo no Brasil nos índices de transmissibilidade do vírus. A taxa é o termômetro que afere a velocidade de propagação da doença. No dia 25 de janeiro deste ano, ela estava em 1,78, segundo o Imperial College of London. Isso significava dizer que, naquele momento, 100 pessoas infectadas poderiam contaminar outras 178. Seis dias depois, o índice caiu para 1,69 e na quarta-feira 16 marcava 1,22. Ainda é alto, convém prestar atenção — o ideal é que fique abaixo de 1 —, mas a tendência é claramente de redução no ritmo de transmissão. Dados do Instituto Todos pela Saúde revelaram, ainda, que o volume de testes positivos para Covid-19 caiu de 67% para 51% entre os dias 22 de janeiro e 12 fevereiro.
 
 
 
 
 
(...)
 
A reunião das três circunstâncias — vacinas, vírus menos letal e grande número de pessoas imunizadas — cria o que estudiosos da Fiocruz consideram uma “janela de oportunidade”. Para os especialistas, o cenário atual poderia promover inclusive um bloqueio temporário de transmissão do vírus no país. Margareth Portela, cientista da instituição, entende que a mudança do status do vírus de pandêmico para endêmico — permanece em circulação, mas sem causar perturbações nas atividades — não demora. “Deve ocorrer dentro de alguns meses”, diz, ressaltando que se trata de um prognóstico, não de uma certeza. O americano Christopher Murray, ao contrário, foi categórico em seu artigo na The Lancet. Ele escreveu: “A Covid-19 se tornará outra doença recorrente com a qual as sociedades terão de lidar (…) A era de medidas extraordinárias tomadas para controlar a transmissão do SARS-­CoV-2 vai acabar. Depois da onda ômicron, a Covid-19 vai retornar, mas a pandemia não”.
 
(...)
 
 
 
É a primeira vez, desde março de 2020, quando a OMS decretou a pandemia, que o mundo vive um período aparentemente mais calmo e de futuro inexorável. Houve outros momentos de esperança, encerrados pelo surgimento de variantes mais agressivas. Agora, tudo indica, é diferente. Como mostra a história de outras pandemias, há um momento na trajetória dessas crises sanitárias afeito a indicar um ponto de inflexão a caminho do fim. É o que parece estarmos vivendo neste começo de 2022. “Este contexto, que até agora não havíamos visto nesta pandemia, nos dá a possibilidade de um longo período de tranquilidade”, afirmou Hans Kluge, diretor da OMS para a Europa, no início do mês. “É uma trégua que pode trazer uma paz duradoura”, acrescentou o médico belga. Em outras palavras, a situação atual permite afirmar que a pandemia está no início do fim.

 (...)


 
(...)

Pelo menos três condições são indispensáveis para o término de catástrofes provocadas por vírus: a existência de vacinas, a transformação natural do agente causador em direção a versões menos letais e a grande quantidade de pessoas naturalmente imunizadas, por terem contraído a doença. O mundo dispõe hoje das três premissas. A ômicron, reafirme-se, é mais contagiosa, mas menos agressiva. As derivações do vírus que provocou a primeira onda, em 2020, até a variante hoje prevalente, mais amena, fazem parte do processo de seleção natural. “Vírus precisam de um hospedeiro para replicar seu material genético, não querem matar”, explica o infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria. Logo, prevalecem as cepas com alto poder de infecção, porém com baixa capacidade de provocar doenças graves e mortes. Esse mesmo poder de transmissibilidade expandiu o total de pessoas expostas, o que aumentou a parcela de indivíduos que naturalmente produziram anticorpos contra o SARS-­CoV-2. “O nível de infecções sem precedentes sugere que mais da metade da população mundial terá sido contaminada pela ômicron entre novembro de 2021 e março de 2022”, escreveu em artigo publicado há um mês na revista The Lancet o médico Christopher Murray, especialista em métricas da saúde da Universidade de Washington, nos Estados Unidos.


(...)

Depois de tanto tempo, a volta à vida como era antes ainda produz alguma ansiedade. “Acho arriscado essa de já não ter restrição e voltarmos ao modo como se vivia em 2019”, diz Vitor Mori, pesquisador na Universidade de Vermont, nos Estados Unidos, e membro do Observatório Covid-19 BR, que reúne especialistas voluntários para monitorar o surto. De fato, o momento pede alguma cautela para que a transição da pandemia para a endemia se dê de forma consistente, até para não corrermos o risco de voltar três casas nesse jogo nada divertido. Mas o caminho parece ser inexorável. Depois de dois anos, os sinais de uma melhora global estão finalmente no horizonte. A tragédia que marcou nossa geração, matando mais de 5,8 milhões de pessoas, acabará. Mas será muito importante lembrar para sempre como isso aconteceu: graças à ciência, com destaque para a vacina, e a todos aqueles que a defenderam.

Em Saúde - VEJA - MATÉRIA COMPLETA

Publicado em VEJA, edição nº 2777 de 23 de fevereiro de 2022

 

quinta-feira, 13 de maio de 2021

A origem laboratorial do coronavírus: uma hipótese tanto mais robusta quanto mais proibida

Por Flavio Gordon


“Se um lado está em guerra com outro, e esse outro não se dá conta de que está em guerra, o lado que reconhece a situação leva sempre vantagem e geralmente vence” (Sun Tzu)

A despeito do negacionismo histriônico de políticos venais, organizações internacionais de má fama, cientistas suspeitos, jornalistas obtusos, “especialistas” midiáticos surfistas de pandemia e demais opinadores sinófilos no debate público ocidental, quem conhece minimamente a história e o modus operandi do Partido Comunista Chinês – descritos, por exemplo, em obras como Unrestricted Warfare: China’s Master Plan to Destroy America e Deceiving the Sky: Inside Communist China’s Drive for Global Supremacy (ver, sobre o último, esse meu artigo de dezembro do ano passado) – decerto nunca se deixou intimidar pelo agitprop pró-China a ponto de desprezar a hipótese de o novo coronavírus ter sido criado em laboratório. 

Mas se, até então, a hipótese poderia ser definida como apenas plausível, nos últimos dias, com a divulgação de informações relevantes sobre o tema, ela ganhou mais força e solidez. Com efeito, os dados ora disponíveis são tão substanciais que, a meu ver, só mesmo o medo paralisante de encarar uma realidade assaz terrível – ou, alternativamente, a defesa de interesses escusos – pode levar alguém a continuar engolindo sem fazer cara feia a tese mainstream de origem natural do vírus. Vejamos.

No dia 2 de maio, foi publicado no Medium um longo e minucioso artigo de Nicholas Wade, renomado jornalista que passou 30 anos na editoria de Ciência do New York Times, e foi membro do comitê editorial das revistas Science e Nature. Intitulado Origin of Covid Following the Clues, o artigo (publicado pela Gazeta do Povo, em tradução de Eli Vieira) examina em detalhes as duas grandes teorias rivais sobre a origem do novo coronavírus:  
a) aquela segundo a qual o Sars-CoV-2 surgiu espontaneamente na natureza, passando indiretamente de morcegos para os seres humanos via algum animal hospedeiro intermediário, assim como ocorrera com os coronavírus anteriores, responsáveis pelas epidemias de Sars1 (Síndrome Respiratória Aguda Grave) e Mers (Síndrome Respiratória do Oriente Médio); e 
b) aquela segundo a qual o novo coronavírus foi criado em laboratório (notadamente, o Instituto de Virologia de Wuhan, cidade-epicentro da pandemia), de onde teria escapado acidentalmente.

Antes de esmiuçar os méritos de cada hipótese, Wade descreve os mecanismos políticos via os quais, na imprensa e no debate público, a primeira passou a ser inquestionável e a segunda, banida como “teoria da conspiração”. Ele demonstra como, desde o início, a percepção midiática foi enviesada em favor da tese da origem natural graças a afirmações contundentes de dois grupos científicos, afirmações jamais examinadas criticamente por jornalistas que, a título de dever profissional, deveriam tê-lo feito.

“Estamos unidos para condenar veementemente teorias da conspiração sugerindo que a Covid-19 não tem origem natural” – foi o que, ainda em fevereiro de 2020, um grupo de virologistas e epidemiologistas escreveu na The Lancet, a mesma revista responsável pelo estudo fraudulento, posteriormente retratado, segundo o qual a hidroxicloroquina provocava maior risco de morte em pacientes com Covid-19. “Cientistas do mundo todo… concluem categoricamente que esse coronavírus se originou na vida selvagem” – diziam ainda os autores do manifesto, sobre o qual comenta Wade: “Uma marca definitiva dos bons cientistas é o esforço incessante para distinguir entre aquilo que sabem e aquilo que não sabem. Por esse critério, os signatários do manifesto na The Lancet comportaram-se como maus cientistas: deram ao público uma certeza sobre fatos que não sabiam seguramente se eram verdadeiros”.

Wade conta que o manifesto na Lancet foi organizado e esboçado por um sujeito de nome Peter Daszak, presidente da EcoHealth Alliance, uma ONG dedicada à pesquisa sobre métodos de prevenção a doenças infecciosas. Ocorre que um dos destinatários dos fundos captados pela EcoHealth Alliance é justamente o Instituto de Virologia de Wuhan, com suas pesquisas sobre coronavírus, nas quais são criados in vitro vírus mais perigosos que os existentes na natureza. Portanto, se o Sars-CoV-2 de fato escapou do laboratório por ele financiado, Daszak poderia ser incluído na lista de responsáveis pela catástrofe. Temos aí um claro conflito de interesses omitido dos leitores da Lancet, uma vez que o idealizador do manifesto em prol da hipótese da origem natural poderia estar, no limite, apenas pensando em salvar a própria pele. A imprensa, por sua vez, não se interessou em investigar o assunto.

O outro posicionamento muito influente em favor da hipótese da origem natural do novo coronavírus foi uma carta (não um artigo científico, note-se!) publicada em março de 2020 na revista Nature Medicine, e cujos autores eram um coletivo de virologistas liderados por Kristian G. Andersen, do Scripps Research Institute. Em seu segundo parágrafo, encontramos a seguinte afirmação: “Nossas análises mostram claramente que o Sars-CoV-2 não é uma criação de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”.

 
Veja Também:     A cruzada mundial contra a liberdade de expressão e a autonomia médica
    O distanciamento social como vingança e controle
   

Como explica Wade, tratava-se de mais um exemplo de má ciência, no sentido previamente definido, uma vez que a afirmação central dos autores, segundo a qual todo processo de manipulação genética de vírus costuma deixar rastros, ignora métodos mais modernos, que podem não deixar sinal algum. Caso um vírus tivesse sido manipulado por meio desses novos métodos, não haveria como descobri-lo. E, portanto, Andersen e seus companheiros ofereceram ao público uma certeza sobre algo que não tinham como saber. Talvez por isso o tom da carta se altere dos primeiros para os últimos parágrafos, passando da afirmação categórica de que o Sars-CoV-2 “claramente” não foi criado em laboratório para a sugestão de que “é improvável” que o tenha sido. “A razão para essa mudança de tom é clara, uma vez que adentramos na linguagem técnica”, diz Wade. “As duas razões citadas pelos autores para sustentar a improbabilidade de manipulação são definitivamente inconclusivas”.

(....................)

Em fevereiro de 2021, a OMS enviou uma comissão à China para, supostamente, investigar a origem da pandemia. O problema é que tanto a sua composição quanto o acesso de seus membros foram controlados com mão de ferro pelo Partido Comunista Chinês. Curiosamente, dentre o seleto grupo de integrantes aprovados pelo Partido estava o onipresente Peter Daszak, que, antes, durante e depois dos trabalhos da comissão, continuou impávido, com sua cara de sucupira e pose de isento, afirmando a improbabilidade da hipótese da origem laboratorial. Contudo, como mostra Wade, aquela não foi a vitória da propaganda que as autoridades chinesas esperavam, a despeito de todo o controle exercido. Logo ficou claro que a China não dispunha de nenhuma evidência da origem natural para oferecer à comissão.

Ao contrário do que ocorreu com a Sars1 e a Mers, o novo coronavírus não deixou traços relevantes no ambiente. Por exemplo, a espécie hospedeira intermediária da Sars1 foi identificada quatro meses após o início daquela pandemia; a do Mers, nove meses depois.  
No entanto, já se passaram 15 meses desde o início da pandemia da Covid-19 e, até agora, a população original de morcegos contaminados não foi identificada, nem a espécie intermediária a partir da qual o Sars-CoV-2 teria mutado e infectado os seres humanos, nem tampouco qualquer evidência de que a população chinesa, incluindo os habitantes de Wuhan, houvesse sido exposta ao vírus antes de dezembro de 2019.

Analisando a coisa pelo aspecto geográfico, os dois parentes mais próximos do Sars-CoV-2 conhecidos foram coletados de morcegos que habitam as cavernas de Yunnan, uma província montanhosa do sudoesta da China. Se a hipótese da origem natural estivesse correta, as primeiras pessoas infectadas deveriam ter sido as que habitam a vizinhança das cavernas de Yunnan. Mas, como se sabe, não foi isso que aconteceu. A pandemia irrompeu a 1,5 mil quilômetros dali, em Wuhan.

 A peste vermelha
O habitat do Rhinolophus affinis, a espécie de morcego presumivelmente hospedeira do Sars-CoV-2, não costuma ultrapassar um raio de 50 quilômetros de extensão. É improvável, portanto, que um deles houvesse chegado até Wuhan. Ademais, em setembro, data provável dos primeiros casos da Covid-19, as temperaturas na província de Hubei estão baixas o bastante para forçar os morcegos à hibernação. Portanto, a hipótese da origem natural exige necessariamente a identificação de uma espécie hospedeira intermediária, que, logicamente, deveria deixar rastros ao longo do vasto caminho que separa as cavernas de Yunnan e a agitada metrópole urbana de Wuhan. Como resume Wade: “Em outras palavras, trata-se de uma forçação de barra afirmar que a pandemia surgiu naturalmente fora de Wuhan para então, sem deixar pistas, ali fazer uma súbita aparição”.

Mas, se as evidências parecem faltar à tese da origem natural – e Nicholas Wade demonstra-o mediante uma série de outros argumentos extremamente técnicos que o leitor interessado poderá conferir por si mesmo –, elas abundam na hipótese da origem laboratorial do novo coronavírus, hipótese que começa a ser levada a sério pelo próprio Congresso americano. E é aí que os fatos descritos no artigo em tela tornam-se verdadeiramente alarmantes. Mas deles falaremos no artigo da semana que vem, examinando também a hipótese ainda mais assustadora, não contemplada por Wade, de que, sim, o vírus surgiu em laboratório, mas seu vazamento não foi propriamente acidental.

Flavio Gordon, doutor em antropologia - VOZES - Gazeta do Povo

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O capitão vence no jogo da morte - Fernando Gabeira

In Blog

Recentemente, um grupo de cientistas publicou na revista The Lancet um estudo calculando que 40% das mortes por covid-19 nos EUA poderiam ter sido evitadas se não fosse a desastrada política de Donald Trump. Um estudo semelhante colocaria Jair Bolsonaro em situação mais difícil. Bolsonaro é mais negacionista que Trump e na questão das vacinas se afasta radicalmente de seu ídolo americano. Afinal, Trump financiou a produção de vacinas e Bolsonaro é o único chefe de Estado do mundo que expressou uma visão negativa sobre elas.

A Confederação Nacional de Municípios [CNM - sigla versátil... permite várias interpretações da importância do que com certeza é mais um cabide de empregos.] lançou um documento em que registra as hesitações e os erros do governo no campo da vacinação em massa e pede a saída do ministro da Saúde, general Pazuello. Os prefeitos estão cobertos de razão. Nunca chegaremos a vacinar adequadamente os brasileiros com Pazuello à frente do processo. Ele prometeu que vacinaria metade das pessoas até junho, uma promessa tão absurda que não sei como senadores acreditam nela.

Bolsonaro negou a pandemia. No seu processo de negação, como todo populista, precisava de uma saída fácil para o problema. Optou pela hidroxicloroquina. Sempre afirmou que acreditava mais em remédios do que em vacinas, ao contrário da maioria dos governantes do mundo. Com essa falsa premissa começou a fazer bobagens, todas elas retardando a nossa possibilidade de ter as vacinas necessárias para imunizar rapidamente e sair da crise. Outros países tiveram mais êxito. Israel, mais da metade de sua população imunizada. A Inglaterra já alcançou 15 milhões de pessoas vacinadas. Israel tem pouca gente, a Inglaterra, por sua vez, dispõe de um sistema de saúde. [Israel além de pouca gente, possui área mínima; A Inglaterra começou a vacinar há meses, seu território é 1/65 do nosso e só vacinou até o momento um quarto da população. 
Adaptem os cálculos para o tamanho do Brasil e nossa população e vão concordar que, proporcionalmente, o Brasil vacinou bem mais - apesar de ter começado bem depois.]
Não importam tanto as características de cada um. Para ter êxito nesse processo é preciso ter vacinas. E Bolsonaro nunca pensou seriamente em comprá-las no prazo e na quantidade adequados.
 
Basta juntar duas declarações dele. Numa delas afirma que o Brasil, com seus mais de 200 milhões de habitantes, é um mercado super atraente para os produtores de vacinas. Passado algum tempo, ele diz: “Tenho R$ 20 bilhões para comprar vacinas, mas não consigo”. Não consegue mesmo é estabelecer relação entre as duas frases, não percebe que se enganou.
 
[Prezado Articulista: em parte concordamos com sua douta opinião. 
Para uma VACINAÇÃO EFICAZ a VACINA É ESSENCIAL.
Quanto a tentativa fadada ao fracasso de culpar o nosso presidente, atribuindo que ele se manifestou contra a vacina e demorou a comprar, refutamos:
a - apresente um único  brasileiro ou brasileiro que compareceu a um posto de vacinação, com a VACINA disponível - sempre ela, sem ela não se vacina - foi convidado a se vacinar e declarou que não aceitava se vacinar por ser o presidente Bolsonaro contra o uso do imunizante;
b - A União Europeia, união de países que são modelo de democracia, apoio cego à ciência, com dinheiro sobrando (alguns países discordam do fecha tudo e isola tudo e possuem baixo índice de mortes - Suécia, Noruega) tentou comprar vacina e não conseguiu na quantidade necessária.
A chefona da UE cogitou  de impedir que vacinas produzidas na Bélgica, país que integra a UE, fossem enviadas para a Inglaterra. Portanto, o que complica mesmo é o diabo da falta de vacinas - seja para o Haiti, Suécia, Brasil, Estados Unidos.]

A sabotagem de Bolsonaro às vacinas teve duas vertentes distintas. A primeira talvez seja produzida pelo obscurantismo científico. A vacina da Pfizer utiliza a técnica de RNA mensageiro, expressa uma tendência da medicina genética que vai ser usada na cura de outras doenças. Mas seus aliados diziam nas redes sociais que esse tipo de vacina altera nosso código genético. Daí surgiram o medo de virar jacaré e alguns obstáculos contratuais que afastaram a Pfizer.[alguns obstáculos contratuais: as únicas responsabilidades que a Pfizer aceitava assumir no contrato era entregar a vacina no prazo estabelecido por ela e receber o pagamento em dólar ou euro - dependendo poderia aceitar também libras esterlinas.]

A própria Sputnik V, que despertou o interesse do Paraná e é muito parecida com a Oxford, nunca chegou a interessar ao governo, até o momento em que foi adotada por um lobby de deputados do Centrão. E com isso perdeu um pouco de sua credibilidade, apesar da eficácia reconhecida em artigos científicos. Outra oportunidade perdida foram as vacinas do consórcio da Organização Mundial da Saúde, a Covax, que iria garantir vacinas para países que não a produzem. O Brasil poderia ter uma cota maior, correspondente a 50% da nossa população. Optou pela cota mínima, 10%.[que ainda não está disponível, seja na mínima seja na máxima.

Com uma sucessão tão robusta de erros, o governo de Jair Bolsonaro certamente iria fracassar no projeto de vacinação em massa. Isso não significa que no futuro não haja maior disponibilidade de vacinas. A tendência é do aumento da produção. No entanto, o conceito de fracasso é associado a dois fatores: o número de contaminações evitadas num determinado período e a capacidade de repor a economia em funcionamento o mais rapidamente possível.

Na medida em que as vacinas evitam também evoluções graves e letais da doença, quanto mais tempo se perde, mais vidas são levadas pelo vírus. Por essa razão uma pesquisa de cientistas sobre o peso da política negacionista no número de mortes encontraria um resultado diferente do constatado nos Estados Unidos. Os 40% de mortes atribuídas à política de Trump nos Estados Unidos seriam, aqui, acrescidos das mortes produzidas pelos erros na política de vacinação. Sem contar o fato de que Trump percebeu com alguma rapidez que a hidroxicloroquina era uma canoa furada e despachou os estoques para seu admirador tropical.

Nessa corrida para o troféu de mais mortes por estupidez política, Bolsonaro deverá suplantar Trump. O americano já se foi e aqui a sinistra batalha continua: faltam vacinas e uma nova variante se espalha pelo País, graças também à opção do governo de ignorá-la.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista

Artigo publicado no Estadão em 19/02/2021


sábado, 23 de janeiro de 2021

Governo federal pode ser responsabilizado por mortes da Covid-19, dizem médicos e cientistas

O Globo

Especialistas ouvidos pelo GLOBO dizem que já perderam esperança de Ministério da Saúde abrir diálogo com comunidade científica 

O histórico de medidas do governo federal que prejudicaram, em vez de ajudar, o combate à Covid-19 no Brasil atingiu limite que faz médicos e pesquisadores perderem a esperança na possibilidade de diálogo, afirmam pesquisadores consultados pelo GLOBO. 

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Especialistas que, mesmo num cenário de desacordo, buscam ser ouvidos para políticas públicas para resposta à pandemia afirmam não ver perspectiva de melhora no combate à Covid neste governo.

Em carta publicada na noite desta sexta-feira (22) na revista médica "The Lancet", o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, que coordena pesquisa nacional sobre prevalência da Covid-19, disse que se o Brasil tivesse tido um desempenho apenas "mediano" no combate ao vírus, mais de 150 mil vidas teriam sido salvas. [criticar com base no 'tivesse tido' ou 'tivesse feito' é fácil.]

"A população brasileira representa 2,7% da população mundial. Se o Brasil tivesse tido 2,7% das mortes globais de Covid-19, 56.311 pessoas teriam morrido", escreveu o pesquisador. "Contudo, em 21 de janeiro, 212.893 pessoas já tinham morrido de Covid-19 no Brasil. Em outras palavras, 156.582 vidas foram perdidas no país por subdesempenho." [os especialistas preferem manobrar números totais, assim disfarçam as falhas que vitimaram países que seguiram suas sugestões;  
Jamais citarão o percentual  de contagiados e mortos na Suécia - e o que representam no total da população daquele país.]

Segundo o epidemiologista, o governo federal tem um peso maior de culpa nessa avaliação. — Se essa responsabilidade é compartilhada entre governo federal, estados e municípios ou se é uma responsabilidade mais concentrada no governo federal, que é a minha opinião, isso é questão para debate, mas o número é indiscutível — disse Hallal ao GLOBO. [debater para que? infelizmente, os óbitos já ocorreram e novos serão impedidos por Deus e depois com a vacina. Quando o presidente responder uma frase tipo a acima com um DAÍ? o criticam.Chorar sobre o leite derramado é inútil.]

O pesquisador, que teve verba federal para seu projeto cortado em agosto do ano passado e teve nomeação para reitor declinada por Bolsonaro, afirma estar sofrendo perseguição. [a última palavra deste parágrafo, explica a "isenção" do "especialista"].

[Mais uma vez os cientistas de gabinete e especialistas em nada - os familiares da maioria deles, só agora sabem que são cientistas e especialistas em nada, sempre prontos a declararem o que quem os entrevista deseja ouvir - buscam um diálogo desnecessário. O que o Brasil e um grande número de países precisa no momento é da vacina - uma que seja segura, eficaz e sem efeitos colaterais adversos -  para imunizar o maior número possível dos seus habitantes e conter a expansão do coronavírus.
O momento é de ação e não de diálogo de uma nota só. Dialogar com os que acusam o governo de tudo que foi feito de forma errada e também de não fazer o que não há  certeza de que seria o correto,é desperdiçar tempo. Diálogo de uma nota só, visto que grande parte dos países que sofrem os efeitos da covid-19 estão entre os que adotaram as medidas preconizadas pelos especialistas, em nada: tranca tudo, isolamento social, distanciamento, etc. 
E outros países que não adotaram tais medidas - entre os do primeiro mundo a Suécia lidera - não estão enfrentando elevado número de contágios e mortes. 
Acusar, sem precisar provar pelo menos que sabe o que está falando, é fácil. Felizmente, a disponibilidade da vacina no Brasil começa a se consolidar, apesar dos uivos dos arautos do pessimismo que chegaram a estimar a chegada das doses produzidas na Índia para o fim de março = são apenas dois milhões de doses, mas que vacinam dois milhões de pessoas.
Contando com os seis milhões de doses da CoronaVac que já está, segundo dizem, em poder do Butantan, o número de vacinados ultrapassará os dez milhões. Infelizmente, a CoronaVac tem um rendimento equivalente a metade do número de doses. 
Não fosse essa limitação, só com as doses já disponíveis seriam vacinados oito milhões de brasileiros e brasileiras.
E a chegada do IFA para a vacina da Fiocruz ainda não está atrasada, visto que a data contratual é de 31 jan 2021. Do IFA ou da vacina pronta.]

Outra cientista que publicou crítica contumaz ao governo federal nesta semana foi a sanitarista Deisy Ventura, da USP, que liderou um projeto para mapear todas as medidas normativas do governo, além de atos de propaganda e atos de contestação a outros entes da república que buscavam combater a Covid-19.

Entrevista: 'Em 2020, achei que tínhamos chegado ao limite. Mas agora não sei mais qual o limite do pior', diz defensora pública do interior do Amazonas

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Sociedade - O Globo

 

terça-feira, 23 de junho de 2020

A verdade por trás dos números da covid-19 - Revista Oeste

Estatísticas desencontradas e falta de critérios na consolidação de dados atrapalham a gestão pública e o dia a dia de empresas e cidadãos

O coronavírus expôs uma endemia brasileira: a precariedade na produção de estatísticas. Dados imprecisos e com atraso geram informações distorcidas para quem precisa tomar decisões importantes. Dirigentes públicos, empresários, executivos e mesmo cidadãos comuns ficam frequentemente perdidos frente aos números. Especialistas chegam a utilizar expressões como “apagão de dados” e “voo cego” para descrever a situação pela qual passa o país. Enquanto a maior parte do Brasil ainda caminha no escuro, medidas autoritárias e de isolamento severas são impostas à população. Políticos e “gestores” de vários Estados afirmam que suas decisões são amparadas pelo rigor científico, embora não exista a mais remota comprovação disso.

O cientificismo usado para justificar o #ficaemcasa escancara uma realidade: há mais dúvidas do que certezas sobre a pandemia, e a própria ciência não sabe o que fazer diante do inimigo desconhecido. Teses sobre isolamento, contaminação, vacina e medicamentos são defendidas a todo instante e desacreditadas na semana seguinte, com a mesma rapidez com que são revistas medidas que impactam a vida de todos. Notavelmente ilustrativo é o caso da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para boa parte da imprensa e para quem decide se você pode ou não sair de casa, a entidade é considerada autoridade máxima. Só que, desde a chegada do vírus chinês, o que se viu foi uma sucessão de trapalhadas por parte da OMS que só geram descrédito e desinformação em escala global. Para ficar só nos últimos acontecimentos, de modo a não cansar o leitor, em 8 de junho a médica-chefe da entidade, a epidemiologista norte-americana Maria Van Kerkhov, veio a público dizer que a transmissão do coronavírus a partir de assintomáticos era “muito rara”. Um dia depois, a OMS voltou atrás. “Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto”, disse o diretor de emergências da organização, Michael Ryan.

No caso da revista britânica The Lancet, a questão foi em torno do uso da hidroxicloroquina. Em 22 de maio, a revista publicou um estudo sem comprovação científica que indicava a ineficácia do uso da medicação em fase hospitalar, ou seja, no estágio mais avançado da covid-19. Menos de duas semanas depois, a publicação emitiu nota de retratação dos autores do estudo. Informou que, após auditoria independente dos dados, já não “poderiam mais ter certeza da veracidade do material analisado e, portanto, dos resultados obtidos”.

Outro exemplo foi o polêmico estudo do Imperial College London, divulgado em março, que prognosticou nada menos do que até meio milhão de mortes no Reino Unido caso o governo do primeiro-ministro Boris Johnson não abandonasse sua estratégia flexível de combate à pandemia. Pouco depois, o principal responsável pela previsão, o epidemiologista Neil Ferguson, admitiu a uma comissão do Parlamento britânico que novos dados o teriam induzido a modificar os números originais do estudo — que ele acabou finalmente baixando para menos de 20 mil mortes no Reino Unido.


(.....)
Fernandes explica a razão pela qual as terças-feiras têm apresentado um pico em relação aos outros dias. “Os números de mortos do fim de semana e também da segunda-feira ficam represados, acabam acumulando e elevam os números da terça-feira”, diz. 
No eixo horizontal, os dias indicam a terça-feira de cada semana e mostram o pico de mortes. A linha vermelha do gráfico é a média variável das semanas de epidemia. Neste caso, em que são consideradas as mortes acumuladas no período e não as mortes ocorridas no dia, a curva indica uma ascendente constante.

O atraso na divulgação dos dados de mortes no país gera distorções que impactam as medidas de combate ao coronavírus. Para o médico Juliano Fernandes de Lara, se um gráfico que representa o número de mortes diárias mostra uma curva de tendência estável ou em queda, esse dado pode indicar que o sistema de saúde está sob controle — portanto, medidas de flexibilização do confinamento podem ser tomadas com mais segurança. Por outro lado, “se há curvas irregulares apontando 700 mortes em um dia, 400 no outro e depois 300, é difícil entender a lógica e a tendência da curva”, pondera. Segundo Fernandes, a análise dos gráficos indica que o mês de maio foi muito mais de “consolidação e saída da pandemia” do que de intensificação e piora do quadro no país. Ou seja, desde que não haja uma segunda onda de contaminação no Brasil, o pior já passou. [Amém. DEUS SEJA LOUVADO.] 

Na Revista Oeste, MATÉRIA COMPLETA, incluindo gráficos


domingo, 19 de abril de 2020

Nordeste aposta na ciência como arma - Míriam Leitão

O Globo

Em duas entrevistas concedidas esta semana ao Edição das 10 da Globonews, Nicolelis falou com entusiasmo sobre o trabalho e com lucidez sobre o tamanho do risco que está diante de nós neste momento:
Esta é uma guerra biológica, uma guerra multidimensional, híbrida, diferente de todas as tradicionais. O front da guerra muda constantemente. E você tem que ter a habilidade de se mover no tempo do vírus. É um inimigo centrado em atingir seu objetivo, que é sobreviver às nossas custas. E nós deveríamos estar centrados no objetivo de eliminar essa invasão a qualquer custo.

Uma das poucas informações que se tinha sobre o vírus, a de que ele no calor não teria o mesmo desempenho, está se revelando falsa diante do que acontece no Norte e no Nordeste do Brasil. Por isso, só o aprofundamento dos estudos em todas as áreas pode nos trazer respostas. – Na realidade, havia a hipótese de alguns pesquisadores americanos, que tinham essa esperança de que ele não prosperaria da mesma forma em clima quente. Isso não está tendo confirmação. O colapso de Manaus é muito assustador. No Nordeste, o número de mortes com síndromes respiratórias agudas graves é impressionante.

Nicolelis acha que o primeiro passo para vencer esta guerra é conhecer o inimigo:
– Para isso a ciência tem que ser colocada em primeiro plano. Tem que ser reconhecida como uma arma mais poderosa que a humanidade tem para sair da defensiva e armar o contra-ataque. Todas as vezes que os políticos bateram de frente com a biologia, a biologia ganhou de goleada. É preciso reconhecer o estado de guerra. Neste momento os países não estão pensando em ajuste fiscal. É preciso jogar tudo na saúde e na busca de respostas. Como é o inimigo? Como ele nos ataca? Quais são as melhores formas de proteger a população? Para fazer isso tem que ter mensagem clara, tem que ter um estado maior, um comando centralizado. Visão macroscópica. A ciência nos ajuda a pensar o multidimensional.

Ele contou que a revista “The Lancet” publicou um estudo na última semana que lhe tirou o sono com a informação de que o vírus sobrevive por 30 dias nas fezes das pessoas infectadas, depois que elas não têm mais o vírus nas vias respiratórias. Isso num país sem saneamento seria uma tragédia sem precedentes. Precisa ser confirmado com mais pesquisas.

Outro problema apontado por ele é que no Brasil há agora a tempestade perfeita. O surto cresce exatamente na sazonalidade das outras gripes, como influenza.
A “Science” publicou que não vai ser uma onda só. Vão ser múltiplas ondas e ainda não temos vacina. A discussão sobre quando sair da quarentena é prematura. O Brasil não tem essa perspectiva clara, até julho. O distanciamento social agora é vital. É o que vamos apresentar para os governadores. Os modelos matemáticos mostram que o distanciamento achata a curva agora e ajuda a diminuir a curva que virá.
Nicolelis disse que eles criaram uma ferramenta digital, o Monitora Covid-19. Se uma pessoa digita no seu telefone o que está sentindo, isso é visto na sala de situação. E eles podem direcionar as pessoas e separar casos graves de leves:

– É integração de tecnologia, conhecimento médico e ação no campo, na trincheira.

O comitê iniciou um trabalho com base na pesquisa do professor Rafael Raimundo, da Universidade Federal da Paraíba. Será acompanhar o potencial do espalhamento do vírus pela malha rodoviária do Nordeste. A técnica foi usada para estudar o avanço da dengue e ganhou repercussão internacional.
Para Nicolelis agora é preciso ter um comando claro:
– Não se ganha uma guerra sem estado maior. Não se subestima o inimigo. É assim que se perdem as guerras. Ainda dá tempo para salvar a maior parte das pessoas, mas é preciso dizer que a prioridade é salvar vidas. A economia a gente revive depois.

[Nenhum governador pode exercer este comando - surgirão fogueiras de vaidades, ações contraditórias e quem sairá ganhando é o vírus.
A Constituição Federal de 1988, tão respeitada é clara quando distribui as obrigações de cada ente federativo e de cada um dos Poderes da República.
Ou será que a Carta Magna só prevalece quando dispões o que pode ser interpretado contra o Poder Executivo Federal?

Míriam Leitão, jornalista - Jornal O Globo - Com Alvaro Gribel, de São Paulo



sábado, 5 de janeiro de 2019

As meninas em uma crise humanitária

Reconhecer o direito à vida digna de uma menina nômade é reconhecer como sua sobrevivência depende da proteção de seus direitos sexuais e reprodutivos

Quando falamos em crise humanitária, nossa imaginação é curta para ter a América Latina e o Caribe no mapa global. A lista tem tsunamis na Indonésia ou conflito armado na Síria. Não há Haiti pós-terremoto, Nicarágua em conflito armado, Porto Rico ainda no chão após o furacão Maria ou os milhares de caminhantes venezuelanos que atravessam a fronteira do norte da Colômbia todos os dias. As crianças aprisionadas na fronteira entre o México e o Estados Unidos foram as que ascenderam à comoção internacional, sem que a elas seja concedido o título de vítimas de uma tragédia humanitária. Um dos principais desafios para 2019 é incluir a América Latina e Caribe na geopolítica global das crises humanitárias.

Milhares de venezuelanos na fronteira com a Colômbia. REUTERS


Nomear uma crise humanitária exige pensar as causas, antecipar soluções e apresentar-se às suas vítimas. As tragédias ambientais ou políticas recebem nome, como foi o furacão Maria ou o populismo na Venezuela, mas as vítimas são aglomeradas em estatísticas populacionais. São mais de mil caminhantes os que atravessam a fronteira da Venezuela e da Colômbia diariamente em Alta Guajira — a cena é de um desamparo inesquecível. Muitas são famílias indígenas Wayuu que carregam o que podem pelo nomadismo sem fronteiras. Nem tanto venezuelanos ou colombianos, os indivíduos transitam entre um lado e outro à espera que sejam protegidos ou reconhecidos por um ou outro país. Se estima que metade dos caminhantes diários sejam indígenas.

Os caminhantes são o corpo do desamparo imposto por uma crise humanitária. É gente que antes tinha teto, trabalho, nome e sobrenome. Peregrinam para sobreviver — por isso, caminham. Os caminhantes da Venezuela são nômades que atravessam a fronteira da Colômbia ou do Brasil. Os que escolhem a região andina seguem marcha até o Chile e Argentina, mas alguns param pelo caminho. Os que arriscam o Brasil vivem em campos de confinamento, em um país pouco cuidador aos refugiados ou desalojados forçados. Tomamos a missão como um fardo ou favor. [o socorro aos refugiados pode, e deve, ser prestado, mas tendo em conta um aspecto que não pode ser olvidado: nenhum país pode abrir suas fronteiras a refugiados sem antes pensar se tem ou não condições para tal gesto humanitário;
que adianta abrigar 10.000 refugiados, prover meios de subsistência para eles, se temos bem milhares e milhares, no caso do Brasil, milhões de desempregados, de famintos, que fatalmente terão suas agruras agravadas?
Deve ser também considerado as causas da busca de refúgio;

havendo condições todos devem ser abrigados, sem levar em conta a causa da tragédia; mas, sendo a capacidade de conceder refúgio, amparo, abrigo e proteção, limitada, temos que priorizar os que foram vítimas de desastres naturais, eventos totalmente fora do controle humano.

Os refugiados da Venezuela - apesar de ser uma consequência do apoio dado ao chavismo, ao bolivarianismo - merecem abrigo, todo o amparo, todo o tratamento digno, mas, no momento de comparar com a necessidade dos haitianos vitimados por terremotos, das vítimas do furacão Maria e outras esmagados por cataclismos, temos que priorizar estes e não os venezuelanos.
Mesmo assim, não pode ser olvidado que a prioridade deve ser sempre dada aos naturais do país objeto da busca de refúgio.]


Os campos de refugiados são espaços complexos à imaginação política nacionalista que não reconhece os caminhantes como gente em busca de amparo existencial. Essas pessoas são definidas como “sem estado, ou seja, vivem em uma espécie de purgatório terrestre, como se ninguém tivesse o dever de reconhecê-las ou protegê-las. Na multidão nômade das crises humanitárias, há populações mais vulneráveis que outras. Uma delas são as meninas e mulheres — são as que mais tardiamente iniciam a fuga dos espaços de risco e quando migram seus riscos são semelhantes aos contextos de conflito armado, em que a violência e o estupro são práticas comuns. Conhecemos mulheres na ponte da travessia em Alta Guajira, na Colômbia, que, no trajeto sem rumo, engravidavam e batiam à porta de nossas clínicas para realizar um aborto legal por estupro. Conhecemos outras milhares que chegaram em busca de anticoncepção, escapando da fome e da desesperança, imaginando um futuro sem rumo.

A dramática conexão entre migração, gênero e saúde foi descrita em um relatório recente da prestigiosa revista acadêmica The Lancet. No marco de crises humanitárias de migração forçada, refugiados e desalojados podem se diferenciar pelas causas que provocam o deslocamento, mas se assemelham na insegurança vivida para sobreviver típica dos peregrinos involuntários. Somente na região conhecida como o triângulo norte da América Central (El Salvador, Guatemala e Honduras) se estima que 215.000 pessoas se puseram em marcha no primeiro semestre de 2017, um número que aumentou em 2018. Ainda sabemos pouco como sobrevivem as meninas nesta multidão de gente que caminha, como fazem para sobreviver ao trauma de um estupro ou de uma gravidez forçada.

Se ignoramos que há crise humanitária em nossa região, somos incapazes de imaginar quais vítimas são mais vulneráveis. Se a todos os peregrinos involuntários as causas da crise podem ser compartilhadas — como mudanças climáticas, corrupção política ou violência do Estado — as formas de cuidado e enfrentamento do desamparo são específicas às mulheres e meninas em nomadismo forçado.

Reconhecer o direito à vida digna de uma menina nômade é reconhecer como sua sobrevivência depende da proteção de seus direitos sexuais e reprodutivos. Não é um corpo que caminha, é uma menina que carrega consigo o desamparo prévio imposto pela desigualdade de gênero que define os efeitos das crises humanitárias em nossa região.



El País