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domingo, 14 de agosto de 2016

Opção nuclear, a melhor alternativa. Praticamente, a única

Suspensão de usina no Tapajós reforça opção nuclear. Brasil limita usinas na Amazônia, compensa com termelétricas poluidoras, mas continua sem ampliar as alternativas de fontes de geração

[a opção nuclear tem condições de ser exercida com total segurança;  pode ser mais vulnerável a desastres - até mesmo a ataques terroristas - mas é uma fonte mais confiável, constante, sem depender de fatores sazonais ou mesmo do acaso,  e os riscos podem ser prevenidos e mesmo evitados.]
Junto com os novos donos do poder que desembarcaram em Brasília na comitiva do presidente Lula em janeiro de 2003 estava uma militância ambientalista aguerrida. Não que a questão ambiental não deva ser prioritária, e cada vez mais, diante do aquecimento global, mas alguns preconceitos passaram a interferir na avaliação de projetos de forma mais contundente. Um deles relegou de vez a energia nuclear a um plano bastante inferior na geração de energia.

O desastre nas usinas de Fukujima, no Japão, durante um tsunami, em 2011, repercutiu no mundo, com vários adiamentos e eliminação mesmo de projetos de usinas. O próprio Japão desativou seus sistema termonuclear mas teve, depois, de religá-lo em parte, para evitar um colapso energético. A Alemanha planejou livrar-se de vez dessa fonte de energia, ao contrário da França, que aproveita o fato de ser detentora de tecnologia no ramo. No Brasil, um programa para usinas fora de Angra dos Reis desapareceu do mapa.

Não foi decisão sensata. Há dias, o Ibama comunicou que não concederá licença ambiental para a hidrelétrica de São Luiz do Tapajós, no Pará, na Amazônia. É preciso definir como serão produzidos os 8 mil megawatts previstos para essa hidrelétrica no Tapajós. Farão muita falta, porque equivalem a pouco mais de 5,5% da atual capacidade instalada de geração de energia no país.

Especialistas ouvidos pelo GLOBO apostam em termelétricas. Mais do mesmo, porque desde o apagão no segundo governo FH, quando um parque de térmicas teve de ser construído a toque de caixa, tem sido a geração a base de gás, óleo ou carvão que evita maiores problemas. Foi assim também na crise de estiagem com Dilma Rousseff.  O resultado é que a matriz energética brasileira, motivo de orgulho por ser bastante “limpa”, devido à grande dependência da água (65%), começou a ficar suja”. Ou seja, a produção de energia no Brasil tende a crescer muito com base em fontes de emissão de carbono, na contramão dos acordos multilaterais do clima e da sensatez.

Com o fechamento da Amazônia a usinas com reservatório só pode a “fio d’água”, como Belo Monte, em que as turbinas giram pela força do rio e quase não geram energia nas secas — e o veto à usina no Tapajós, vive-se o paradoxo de, em nome da proteção ao meio ambiente, a produção de energia no Brasil passar a ser crescentemente poluidora.  Há, é certo, projetos em andamento, e outros a serem apresentados, do uso dos ventos e da luz do sol, importantes fontes, porém ainda residuais e complementares. Devem mesmo ser exploradas, mas é preciso saber se conseguirão fornecer os megawatts em quantidades, constância e prazos requeridos.

Por tudo isso, já era hora de se rever o preconceito contra as usinas nucleares, cujo padrão de segurança está bastante elevado. Além de serem fontes sem emissão de carbono. Pergunte-se aos Estados Unidos e à França.  Angras 1 e 2 fornecem o equivalente a 3% do total da energia elétrica produzida no país. A construção da terceira unidade passa por um merecido pente-fino, devido ao fato de o esquema de corrupção montado na Petrobras ter lançado tentáculos na Eletronuclear.  Mas é inexorável concluir a usina. Ainda reforçam a opção nuclear a existência de razoáveis reservas de urânio e o domínio da tecnologia do seu enriquecimento. O preconceito, infelizmente, além de irracional, parece intransponível.

Fonte: O Globo

domingo, 22 de maio de 2016

Gestor de crises

O novo presidente da Petrobras, Pedro Parente, se consolidou como um gestor de crises quando enfrentou a falta de energia em 2001. Quem o acompanhou naquele momento ainda se lembra das suas habilidades em momento difícil. O problema fora criado por erros do governo, mas sair dele ficou mais fácil pela maneira como Parente administrou a escassez.

Ter levado Pedro Parente para a Petrobras foi uma vitória do governo Temer. Há nomes no time de indiscutível competência, mas o problema é que a tarefa que os aguarda é grande demais. Houve, no governo Dilma, um desmonte da solidez fiscal e um atentado à estrutura corporativa e financeira das empresas e bancos estatais. Parente vai administrar uma empresa que enfrentou uma queda livre por terríveis erros gerenciais, corrupção deslavada, mudança da conjuntura de preços internacionais, quebra da confiança dos investidores e credores. Não podia ser maior o desafio.

Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, trabalhou no grupo de trabalho formado por Pedro Parente na época da crise de energia de 2001 e conta que, ao contrário do que ficou na mente dos brasileiros, não houve um racionamento, mas sim um conjunto de incentivos à redução e multa para quem excedia, que acabou induzindo à diminuição voluntária do consumo:  — O perfil executivo dele é impressionante. Ele não era da área de energia, mas conseguia assimilar as informações com muita rapidez. E conseguiu montar uma equipe com muita competência.

O segundo mandato de Fernando Henrique começou com a desvalorização da moeda. Isso derrubou a popularidade do presidente e o PT começou a campanha “fora FHC” pedindo seu impeachment. Quando essa primeira crise foi superada, o país retomou o ritmo e cresceu 4% em 2000. No fim desse ano se descobriu que não havia energia para manter o suprimento. Foi neste momento que o presidente deslocou seu chefe da Casa Civil para ficar integralmente dedicado à gestão da crise. O problema ocorreu por falta de planejamento, mas a gestão de Pedro Parente foi capaz de mitigar seus efeitos. Ele montou um gabinete de crise, se informou sobre o tema, passou a compartilhar essas informações com os ministros e criou um sistema para enfrentar a emergência ao mesmo tempo que preparava medidas de médio prazo: — A meta era reduzir 20% do consumo, mas chegou-se a 25% com mecanismos de incentivo à redução e punição aos excessos, descontos e multas. Foi feito o diagnóstico do sistema e listadas 35 medidas. Uma delas, montar um backup com as termelétricas. Algumas foram instaladas para serem acionadas apenas em época de crise. Isso foi usado no final de 2003, já no governo Lula, e serviu de inspiração para o que foi feito depois.

A diferença em relação à crise da presidente Dilma é que ela não admitiu o problema, não o administrou, as empresas quebraram e tiveram que ser socorridas por empréstimos do Tesouro e dos bancos com garantia de repasse às tarifas. Daí veio o tarifaço. A grave recessão que houve depois reduziu o consumo. As duas nasceram da soma de erros do governo e de secas, mas a primeira teve um gestor de crise para mitigar os efeitos.  — A palavra apagão é equivocada. Pedro Parente foi o ministro da solução da crise de energia do país — disse Elbia.

Mas agora o problema é de assombrar. A Petrobras foi o epicentro do maior escândalo de corrupção da história e tem uma dívida de R$ 450 bilhões. Segundo o diretor executivo e líder da Indústria de Energia da Accenture Strategy, Daniel Rocha, o novo presidente da companhia terá que rolar essa dívida com juros que não sejam altos demais, mesmo a empresa tendo perdido o grau de investimento. Terá também que fazer um plano de venda de ativos mais organizado e menos errático do que o que vinha sendo feito: — Para isso ele precisará definir o que é a Petrobras do futuro e assim decidir o que não é estratégico. Além disso, precisa ter liberdade de formação de preços.

O mais importante, Pedro Parente já garantiu: o de que não haverá indicação política na Petrobras. Os ex-diretores apanhados na Lava-Jato disseram que a forma de chegar à diretoria era por indicação de partidos. Essa garantia de Parente é fundamental para que haja a chance de um tempo novo para a Petrobras.

Fonte: Blog Miriam Leitão -  Com Alvaro Gribel