O Senado vai aplicar a seus servidores já neste mês, inclusive para o 13.º salário, o novo teto remuneratório do funcionalismo público, estabelecido após vergonhoso arranjo entre Executivo e Judiciário
Com
o novo teto, de R$ 39,2 mil, esses servidores receberão agora o que os
ministros do Supremo Tribunal Federal, para os quais o aumento salarial se aplicava
originalmente, só ganharão em 2019.
[ATENÇÃO!!! EM NOME DA VERDADE: a Lei nº 13.752, de 26 de novembro
de 2018, foi publicada no D.O.U em 27 do mesmo mês e sua vigência começa no dia
de sua publicação.
O reajuste pode ser imoral, a Lei pode ser imoral, mas, tem que ser cumprida.
O acima exposto vale também para o MP, a situação é exatamente a mesma, exceto o número da Lei que é 13.753, 26 novembro 2018.]
Nem
é o caso de discutir aqui se o impacto disso no Orçamento será grande ou
pequeno; o que chama a
atenção é que, ao comportamento deplorável dos
sindicalistas de toga e à leniência do Executivo, soma-se o
oportunismo do Legislativo, cuja ânsia de aumentar os contracheques criou um
inusitado “efeito cascata invertido” – em que a consequência do aumento
do teto do funcionalismo acontece antes mesmo de seu próprio fator gerador.
Tal
desfecho é condizente com todo o processo que resultou no aumento para os
ministros do Supremo. O País testemunhou, impotente, a nata do Judiciário
desfigurar a Constituição para obter o reajuste salarial que reivindicavam.
Primeiro, por meio de uma liminar, o Supremo estendeu a concessão do
auxílio-moradia para todos os magistrados e procuradores do País, mesmo para
aqueles que possuem imóvel na cidade em que trabalham. Não faltaram ministros
que se dispuseram a insultar a inteligência do contribuinte ao tentar
justificar tamanha desfaçatez, quando já estava claro que o auxílio-moradia
estava sendo de fato incorporado ao salário. A manobra ficou ainda mais
explícita quando o Supremo, na negociação com os demais Poderes, ofereceu
barganhar o fim do auxílio-moradia pela incorporação desse valor ao salário. Um
verdadeiro quid pro quo, expressão latina para o famoso toma lá dá
cá. Ou seja, o Supremo criou um problema para vender uma solução.
E
nada impede que isso possa voltar a ser feito no futuro, já que, como salientou o ministro Luiz
Fux, autor da liminar que havia presenteado todos os magistrados do País com o
auxílio-moradia, “a Constituição é um documento
vivo, em constante processo de significação e ressignificação”. Ou seja, sempre que houver necessidade, o Supremo
encontrará justificativas hermenêuticas para impor seus interesses
corporativos, fazendo para isso a leitura constitucional que lhe aprouver.
A
decisão do Senado de aplicar desde já um aumento salarial que só deveria ser
pago no ano que vem é a consequência lógica do pensamento segundo o qual o
interesse do corpo de funcionários públicos estará sempre acima dos interesses
dos contribuintes que o sustentam – sempre sob o argumento de que esses
servidores estão a desempenhar papel crucial para o bom funcionamento do País
e, por isso, merecem tratamento diferenciado em relação ao resto dos
trabalhadores. Como a ilustrar esse ponto, o presidente
do Supremo, Dias Toffoli, argumentou que o reajuste serviria
para “resgatar a dignidade da magistratura”
e que, sem o aumento, “a magistratura para”.
E o ministro perguntou: “Quem é que vai pôr as
pessoas na cadeia? Eles vão se ‘auto-pôr’ na cadeia?”.
Nem
é preciso lembrar que os servidores públicos, com destaque para os do
Judiciário, [senhores, por favor: SERVIDORES NÃO - MEMBROS. São cargos distintos,
legislação distinta,não misturem.] já são, na média, os trabalhadores mais
bem pagos do País; tampouco é preciso recordar que tanto os juízes como os
legisladores brasileiros estão entre os mais bem remunerados do mundo, com
benefícios que não se encontram em nenhum outro lugar. O mais importante a
salientar em tudo isso é a total incapacidade dessas corporações de entender a
dura situação do País, com alto desemprego e contas públicas em frangalhos. O
fato de que podem, numa canetada, atender a seus interesses trabalhistas não
significa que devam fazê-lo.