Por que ser contra algo que pode tornar a votação mais segura?
O Estadão estampa em sua matéria de capa hoje a informação de que o ministro da Defesa, general Braga Netto, teria alertado (o jornal chama de ameaça) o presidente da Câmara Arthur Lira que não haveria eleição em 2022 se não houvesse voto auditável. Ao dar o aviso, diz o jornal, o ministro estava acompanhado de chefes militares do Exército, da Marinha e da Aeronáutica. O presidente Jair Bolsonaro repetiu publicamente a ameaça de Braga Netto no mesmo 8 de julho. “Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições”, afirmou Bolsonaro a apoiadores, naquela data, na entrada do Palácio da Alvorada.
A portas fechadas, Lira disse a um seleto grupo que via aquele momento com muita preocupação porque a situação era “gravíssima”. Diante da possibilidade de o Congresso rejeitar a proposta de emenda à Constituição que prevê o voto impresso – ainda hoje em tramitação numa Comissão Especial da Câmara –, Bolsonaro subia cada vez mais o tom. Não sei se é uma estratégia ou não, mas falas como a de Bolsonaro e a do ministro da Defesa, se disse o que o Estadão diz que disse mesmo, estão servindo para tirar todas as hienas das tocas. Nunca antes na história se viu um movimento tão forte CONTRA A TRANSPARÊNCIA ELEITORAL!
Flavio Quintela, em sua coluna de hoje na Gazeta do Povo, resgata seu passado de engenheiro de sistemas na área de telefonia para lembrar da importância da redundância, de um Plano B para tudo em tecnologia. Todos os especialistas são unânimes em afirmar que não há sistema totalmente seguro e protegido do risco de fraude. Diz ele: Se você está se perguntando sobre o que um artigo falando sobre modelos de redundância está fazendo numa coluna de opinião política, esclareço. Precisamos entender que a peça mais importante do jogo democrático - o voto - precisa estar protegida por alguma redundância. Ou seja, sim, estou falando de voto impresso.
Muita gente que entendia isso perfeitamente antes, agora está contra as mudanças só porque Bolsonaro é a favor. Mas, como diz Quintela, "ser contra algo somente porque Bolsonaro é a favor é das posturas mais idiotas que existem". Lutar por maior transparência eleitoral é uma demanda suprapartidária, e deveria ser apoiada por todos os eleitores. "Ninguém em sã consciência rejeita mais segurança, ainda mais quando a contrapartida não é menos liberdade. Voto impresso é redundância de apuração, é garantia de que um resultado físico estará disponível caso algum imprevisto aconteça", explica Quintela. "Sinceramente, não consigo entender os argumentos de quem é contra essa evolução", desabafa.
E é justamente essa postura intransigente e em muitos casos divergente do que diziam no passado que levanta ainda mais suspeita. Afinal, os maiores opositores da mudança são ministros do Supremo, que resolveram até interferir no poder Legislativo para barra-las. E são os mesmos que foram indicados por Lula, que soltaram Lula, e que o tornaram elegível basicamente destruindo a Lava Jato numa canetada só. Suspeito?
O próprio Lula, aliás, resolveu investir contra as mudanças também. Por que será? Tenho para mim que, com voto auditável, pode ser até que Lula desista de disputar a eleição. Leandro Ruschel comentou: "O que ninguém coloca em dúvida é a atuação do Supremo para impedir a aprovação da PEC do voto impresso no Congresso, rasgando a separação de poderes e a vedação imposta aos ministros de atuação político-partidária. Os militantes de redação aplaudem a manobra".
Está tudo muito estranho! Soltaram o maior corrupto da história deste país, depois melaram no tapetão e na grosseria sua condenação com malabarismos bizarros para torna-lo elegível, aí ele sai em campanha antecipada sem qualquer punição do TSE, institutos de pesquisa suspeitos mostram o ladrão como o grande favorito, e há toda essa resistência contra mais transparência nas urnas?
E ainda falam que o golpismo vem de Bolsonaro? Assim já é demais da conta!
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES