O Estado de S. Paulo
Brasil se acostumou a ficar arisco quando ouve falar em aumento de preços, mas os investidores, até o momento, não parecem realmente aflitos
Para um país que viveu sob a gestão econômica do presidente José Sarney, de seus ministros seriais da Fazenda e dos planos de professor Pardal que anunciavam de meia em meia hora para salvar a economia – e cuja única distinção era darem sempre errado –, o Brasil se acostumou a ficar arisco quando ouve falar em inflação. A última vez foi em 2015, já na agonia, paixão e morte do governo Dilma Rousseff. Comparada com os números espetaculares e inesquecíveis de Sarney, a inflação de Dilma foi uma mixaria – mas, ainda assim, ninguém gostou do que viu. Agora, já ao final deste primeiro ano de devastação da covid-19, turbinada pela promoção do pânico, pela demagogia dos governos e por sua inépcia na administração do problema, o bicho volta a se fazer notar.
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Mas aí é que está: no Brasil de hoje, o único que interessa, nada é bico quando se trata de inflação – basta o índice deixar de cair, ou deixar de ficar parado, para os decisores se preocuparem e para os escritórios de análise econômica ouvidos pela mídia começarem a anunciar que o tempo está ficando ruim. Os investidores, até o momento, não parecem realmente aflitos. A Bolsa de Valores está operando acima dos 114.000 pontos, depois de ter ficado abaixo dos 70.000 em março. Está se aproximando do seu recorde de 120.000 pontos em janeiro – e Bolsa em alta nunca foi sinal de inflação, recessão, Tesouro em recuperação judicial e outras desgraças desse tipo. Os primeiros sinais de recuperação da economia, ao mesmo tempo, já começaram a aparecer.
Todo o mundo, é claro, vai estar atento à evolução das próximas semanas e do começo de 2021. A gestão econômica do governo não deve ter maior impacto nos índices de inflação – tem limites para diminuir, e não tem planos para aumentar. Mas isso é coisa que não se esconde, e nem se inventa. A situação da economia será exatamente a que os fatos mostrarem.
J.R. Guzzo, jornalista - O Estado de S. Paulo
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