Li
aos saltos, sustando a leitura e meditando cada parágrafo, a nota
oficial em que o Cacique Serere Xavante pede perdão ao “irmão
Alexandre”, ao “irmão Lula”, ao TSE e ao STF.
Foi preciso estacionar a
mente, trecho por trecho, para tentar enquadrar aquilo que lia na
moldura de um chefe tribal orgulhoso de sua função e de sua estirpe. Não
deu, não coube. Preferi crer que não fosse dele a redação, mas de seus
advogados, porque isso seria mais conforme à minha memória dos versos de
Gonçalves Dias:
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo Tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci:
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Eu sei. Eu
assisti pela TV a longa fala do cacique à beira do fosso que limita, os
fundos do Palácio da Alvorada e sei que sua prisão foi pedida pela
Procuradoria Geral da República.
Vi que o índio, em sua longa fala,
pisoteou várias bolas, avançou diversos sinais, falou coisas indizíveis,
mas – que diabos! – será tão difícil entender o que lhe ia na mente
naqueles dias e naqueles atos e a perspectiva dele mesmo sobre suas
atribuições na cultura da tribo?
Não estava li um chefe tribal exibindo
vigor enquanto falava ao chefe branco? Eu o ouvi assim, reprovando o que
dizia, mas entendendo a situação cultural ali manifesta.
Milhões de
brasileiros, aliás, estavam e estão sendo servidos da mesma indignação
que o animava naqueles dias de Brasília. Obrigados, todos, a cantar seu
canto de morte, cerceadas as vozes e subtraídas as letras.
Não
desconheço nem desconsidero sua condenação por tráfico de drogas em
2007. Fato grave em seu passado! Contudo, passado. Quanto aos atos
criminosos de vandalismo desencadeados quando ele já estava preso, não
vejo como possa o cacique ser responsabilizado, exceto se comprovada a
prévia organização do ato.
Leio que algumas dezenas de malfeitores já
foram identificados, mas o processo – no ritmo da velha toada desses
inquéritos – corre em sigilo. Seria tão importante saber se houve
concurso aos atos efetivos de vandalismo e terrorismo por parte de
pessoas conhecidas dos manifestantes diante do Quartel General do
Exército! Isso tudo me parece tão improvável...
Não sei se o
cacique assinou aquela nota oficial sob constrangimento, embora algo,
dentro de mim, o considere mais compatível com quanto já revelou sobre
si mesmo.
Tampouco conheço o efeito dessa nota sobre aqueles perante os
quais, agora, ele buscou ser perdoado. Será possível que alguém se sinta
confortável, satisfeito, perante tal pedido?
Parece-me que o senso de
medida, também sumido na redação da “nota oficial” do cacique vem sendo,
em toda parte, proporcionado pelas narrativas e se faz tão interesseiro
quanto elas.
[para subsidiar análise mais acurada, abaixo a Nota Pública Oficial do cacique.]
Transcrição do Prontidão Total, Twetter:
Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores
(www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país.
Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia;
Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
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