Marcus L. Susskind
A
Guerra de Independência de Israel, em 1948, gerou um imenso êxodo.
Cerca de 750 mil judeus foram expulsos de países árabes onde viviam
havia centenas de anos. Por outro lado, pouco menos de 750 mil árabes
saíram de Israel, grande parte por vontade própria: respondiam ao apelo
dos exércitos árabes invasores que lhes pediam abrir caminho para
permitir “jogar os judeus ao mar”.
Os
refugiados judeus chegaram a um país recém criado e empobrecido que se
esforçou por absorvê-los. Nenhum deles é chamado de refugiado há dezenas
de anos — todos receberam cidadania e foram integrados no país, com
direitos civis integrais, seus filhos galgando altas posições como
médicos, engenheiros, especialistas em alta tecnologia, oficiais
militares, juízes, enfermeiros, advogados e toda e qualquer profissão.
Infelizmente o mesmo não ocorreu com os refugiados árabes que chegaram
aos países Islâmicos.
Os árabes saídos do atual
Israel — e que desde 1964 passaram a se designar palestinos — foram
colocados em campos de refugiados, sem direitos de cidadania e, na
maioria dos países, sem qualquer outro direito. Excetuando-se a então
Transjordânia (hoje Jordânia), todos os demais países colocaram
drásticas restrições aos refugiados. A Liga Árabe (e a ONU) define como
refugiado palestino também seus cônjuges, filhos, netos e bisnetos,
independentemente do país de nascimento ou religião.
A maioria vive em
68 campos de refugiados espalhados pelo Líbano, Síria, Jordânia, bem
como na Faixa de Gaza (que até 1967 pertencia ao Egito) e a Cisjordânia
(que foi incorporada pela Transjordânia e conquistada por Israel em
1967).
A vida nos campos de refugiados gera frustração, angústia e muita
raiva. Alguns exemplos:
1- Líbano:
nenhum palestino tem direito à cidadania — não votam nem podem ser
votados, por não serem cidadãos não têm direito aos serviços médicos,
educação aposentadoria ou passaporte. Estão proibidos de terem
propriedades.
Qualquer descendente dos refugiados de 1948 é considerado
refugiado. Filhos, netos e bisnetos nascidos no Líbano mantêm o status
de refugiados, o que explica a existência de cerca de 420 mil
palestinos no país. Praticamente qualquer serviço não braçal é proibido
aos refugiados. Por serem apátridas não podem sequer abandonar o país,
já que não têm documentos.
2- Síria:
A Síria recebeu de 70 mil a 80 mil palestinos durante a Guerra de
Independência.
Mantém a mesma norma do Líbano e demais países árabes:
filhos, netos, bisnetos e até mesmo quem case com um deles é
classificado como refugiado.
Hoje são 454 mil, depois que cerca de 160
mil fugiram da guerra civil que lá se desenrola.
Na Síria eles têm
direito a trabalho e a possuir apenas uma propriedade — comercial ou
residencial.
Os filhos nascidos na Síria de um dos pais palestino não
tem direito à nacionalidade — é considerado palestino.
Não têm direito a
voto, a passaporte e são terminantemente proibidos de possuírem terra
arável.
Os campos de refugiados na Faixa de Gaza e na
Cisjordânia não foram desmantelados, apesar de estarem sob
administração palestina.
A situação acima descrita,
aliada à corrupção governamental, falta de emprego e de perspectiva e
principalmente ao incitamento anti-Israel nas escolas, nas rádios e TVs
bem como nas mesquitas e nos discursos das lideranças faz surgir um
violento sentimento anti-israelense e antijudaico.
A partir do final dos
anos 80 a pregação da violência como sendo o único caminho de
libertação irá desembocar na criação de inúmeros grupos adeptos do
terrorismo como veículo de liberação das frustrações — um conveniente
inimigo externo livra as autoridades de críticas internas.
Este é o fertilizante do terror, como veremos no próximo capítulo.
Marcus L. Susskind, colunista - Gazeta do Povo - IDEIAS