Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador refugiados. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador refugiados. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 19 de outubro de 2023

As origens do atual conflito no Oriente Médio: a situação dos refugiados - Gazeta do Povo

Marcus L. Susskind

Artigo - Parte 2

Parte 1

 Na foto, refugiados palestinos no campo de refugiados de Al Shati, na Faixa de Gaza.

Depois da Síria, de onde vêm mais de seis dos 26 milhões de refugiados atualmente no mundo, o segundo maior grupo são os palestinos. Segundo a ONU, são 5,6 milhões de refugiados palestinos. Na foto, refugiados palestinos no campo de refugiados de Al Shati, na Faixa de Gaza.| Foto: EFE/Mohammad Ibrahim

A Guerra de Independência de Israel, em 1948, gerou um imenso êxodo. Cerca de 750 mil judeus foram expulsos de países árabes onde viviam havia centenas de anos. Por outro lado, pouco menos de 750 mil árabes saíram de Israel, grande parte por vontade própria: respondiam ao apelo dos exércitos árabes invasores que lhes pediam abrir caminho para permitir “jogar os judeus ao mar”.

Os refugiados judeus chegaram a um país recém criado e empobrecido que se esforçou por absorvê-los. Nenhum deles é chamado de refugiado há dezenas de anos todos receberam cidadania e foram integrados no país, com direitos civis integrais, seus filhos galgando altas posições como médicos, engenheiros, especialistas em alta tecnologia, oficiais militares, juízes, enfermeiros, advogados e toda e qualquer profissão.  
Infelizmente o mesmo não ocorreu com os refugiados árabes que chegaram aos países Islâmicos.
 
Os árabes saídos do atual Israel — e que desde 1964 passaram a se designar palestinos — foram colocados em campos de refugiados, sem direitos de cidadania e, na maioria dos países, sem qualquer outro direito. Excetuando-se a então Transjordânia (hoje Jordânia), todos os demais países colocaram drásticas restrições aos refugiados. A Liga Árabe (e a ONU) define como refugiado palestino também seus cônjuges, filhos, netos e bisnetos, independentemente do país de nascimento ou religião
A maioria vive em 68 campos de refugiados espalhados pelo Líbano, Síria, Jordânia, bem como na Faixa de Gaza (que até 1967 pertencia ao Egito) e a Cisjordânia (que foi incorporada pela Transjordânia e conquistada por Israel em 1967). 
A vida nos campos de refugiados gera frustração, angústia e muita raiva. Alguns exemplos:
 
1- Líbano: nenhum palestino tem direito à cidadania — não votam nem podem ser votados, por não serem cidadãos não têm direito aos serviços médicos, educação aposentadoria ou passaporte. Estão proibidos de terem propriedades. 
Qualquer descendente dos refugiados de 1948 é considerado refugiado. Filhos, netos e bisnetos nascidos no Líbano mantêm o status de refugiados, o que explica a existência de cerca de 420 mil palestinos no país. Praticamente qualquer serviço não braçal é proibido aos refugiados. Por serem apátridas não podem sequer abandonar o país, já que não têm documentos.
 
2- Síria: A Síria recebeu de 70 mil a 80 mil palestinos durante a Guerra de Independência. 
Mantém a mesma norma do Líbano e demais países árabes: filhos, netos, bisnetos e até mesmo quem case com um deles é classificado como refugiado. 
Hoje são 454 mil, depois que cerca de 160 mil fugiram da guerra civil que lá se desenrola. 
Na Síria eles têm direito a trabalho e a possuir apenas uma propriedade — comercial ou residencial. 
Os filhos nascidos na Síria de um dos pais palestino não tem direito à nacionalidade — é considerado palestino. 
Não têm direito a voto, a passaporte e são terminantemente proibidos de possuírem terra arável.

Os campos de refugiados na Faixa de Gaza e na Cisjordânia não foram desmantelados, apesar de estarem sob administração palestina.

A situação acima descrita, aliada à corrupção governamental, falta de emprego e de perspectiva e principalmente ao incitamento anti-Israel nas escolas, nas rádios e TVs bem como nas mesquitas e nos discursos das lideranças faz surgir um violento sentimento anti-israelense e antijudaico
A partir do final dos anos 80 a pregação da violência como sendo o único caminho de libertação irá desembocar na criação de inúmeros grupos adeptos do terrorismo como veículo de liberação das frustrações — um conveniente inimigo externo livra as autoridades de críticas internas.

Este é o fertilizante do terror, como veremos no próximo capítulo.

Marcus L. Susskind, colunista - Gazeta do Povo - IDEIAS


domingo, 14 de novembro de 2021

Refugiados - Lixo humano - O Globo

Alexander Lukashenko costuma ser astuto em sua desumanidade. Currículo para isso ele tem, como primeiro e único “presidente” da Bielorrússia desde que esse antigo Estado-satélite da União Soviética tornou-se república, em 1990. Na última das eleições fraudulentas realizadas no país — a de 2020, para um sexto mandato de Lukashenko —, ele proclamou ter obtido 80% dos votos. E foi logo avisando ao mundo democrático: “A menos que vocês me matem, não haverá mais eleições”. O cara vive às turras com a União Europeia (UE), que lhe aplica sanções múltiplas por seus modos ditatoriais, e alinha-se com fervor à Rússia de Vladimir Putin, o vizinho imperial da fronteira leste.

Em tempos recentes, Lukashenko encontrou a maneira mais infame de ostentar seu poder e azucrinar a Europa democrática. Passou a importar como gado humano milhares de errantes de nações desintegradas do Oriente Médio e da África do Norte, para socá-los na soleira da porta trancada da sonhada União Europeia — mais precisamente, nas fronteiras com a Polônia, a Lituânia e a Letônia, todos países-membros da UE.

Seu esquema é tão azeitado quanto vil. Primeiro, agentes de viagens bielorrussos instalados no Iraque, Turquia e outros países oferecem voos, vistos de entrada e um possível recomeço de vida no Ocidente. Ao custo de alguns milhares de dólares por cabeça, aviões de carga da estatal Belavia transportam a carga humana até Minsk, capital da Bielorrússia. Mas dali são transferidos para uma viagem terrestre sem volta. Quando descarregados, têm à frente uma intransponível muralha de arame farpado como fronteira e, às costas, a guarda armada da Bielorrússia a impedi-los de sair dali. Pelas contas da revista The Economist, perto de 2 mil migrantes já foram estocados nesse limbo em pleno início de inverno, e outros 20 mil estariam aguardando seu destino em outros cantos do país-cilada.

A lógica de Lukashenko consiste em gerar uma crise política europeia semelhante à de seis anos atrás, quando uma avalanche migratória de proporções bíblicas, vinda do mar, quase derrubou vários governantes. Na tentativa de forçar a UE a levantar as sanções impostas contra seu regime, o homem forte de Minsk também ameaça interromper o trânsito de gás natural russo que atravessa a Bielorrússia antes de aquecer e manter a Europa em funcionamento. 
Por ora, esse plano B de Lukashenko tem poucas chances de ser levado adiante, pois não atende aos interesses atuais de Putin. 
Essa é uma arma cujo direito a eventual uso somente o Kremlin quer ter. Mas resta a massa de manobra de quem hoje foge da miséria e da violência. Expulsos de suas raízes, arriscam-se por caminhos incertos, sem rumo claro, a esperança minguando.

Nem sempre foi assim. Basta ver o notável acervo de fotografias reunido pelo chefe do Departamento de Registros de Ellis Island, Augustus Frederick Sherman, entre 1905 e 1914, nos Estados Unidos. Por aquela ilha vizinha à Estátua da Liberdade, fincada na Baía de Nova York, passaram mais de 12 milhões de imigrantes entre sua inauguração como porta de entrada nos EUA e novembro de 1954, ano em que se tornou obsoleta. Mais especificamente, imigrantes de terceira classe, pois passageiros marítimos da primeira e segunda classes podiam desembarcar diretamente nos cais de Nova York e Nova Jersey.

É extraordinário o garbo com que esses desprovidos da terceira classe procuravam se apresentar no desembarque, para a inspeção médica contra doenças contagiosas e regulamentação de documentos
Fosse o recém-chegado ao Novo Mundo um pastor de ovelhas da Romênia ou um mineiro da Baviera, um padre ortodoxo da Grécia ou um soldado albanês, uma família de ciganos da Sérvia ou uma mãe com duas filhas vindas da Holanda, quanto zelo em se mostrar com a melhor roupagem! 
Graças ao interesse pessoal do funcionário Sherman por fotografia, existe um registro impactante e comovente dessa gente. Vale a pena consultar esses retratos de fácil acesso na internet para admirar o zelo orgulhoso de indivíduos e famílias ao pisar em Ellis Island. Portavam o que tinham de mais bonito, mostrando suas raízes. 
Tinham motivo para desembarcar esperançosos, pois, apesar das agruras e sacrifícios que só desterrados conhecem, haviam chegado ao destino escolhido.
 
O que dizer do amontoado de vidas na fronteira bielorrussa? Não há garbo possível nem orgulho identitário nos agasalhos de plástico, jeans e tênis surrados, nem em bonés, toucas de lã ou xales misturados. No fundo, seja em terras europeias ou rumo aos Estados Unidos via México, o desterrado de hoje veste uniforme globalizado: quase tudo made in China ou em Bangladesh. Das 60 toneladas de roupas descarregadas anualmente no porto chileno de Iquique, para revenda na América Latina, mais da metade encalha e forma pirâmides de lixo no Deserto de Atacama, como noticiado nesta semana. 
Esse lixo de roupas usadas e descartadas nos Estados Unidos, Europa e Ásia por consumidores globalizados forma um triste retrato do capitalismo perverso. Na outra ponta, temos os descartados de suas terras a perambular pelo mundo. É torcer para que não venham, também, a ser considerados lixo.
 
 Dorrit Harazim, colunista - O Globo

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Gente em tempos sombrios -Fernando Gabeira

Em Blog


domingo, 14 de abril de 2019

Gastos do Brasil com refugiados na Venezuela chegam a R$ 265,2 milhões

Valor dispensado na fronteira supera a média anual dos custos que as Forças Armadas do País dedicaram às ajudas humanitárias no Haiti


[existe o aspecto humanitário, mas, o Brasil não pode ser humanitária com os estrangeiros e esquecer os milhões de brasileiros que vivem em condições piores do que os milhares de venezuelanos;

cabe ao governo brasileiro sendo forçado pelas circunstâncias a escolher entre matar ou salvar brasileiros, o DEVER de escolher salvar BRASILEIROS, nem que para tanto seja necessário fechar a fronteira com a Venezuela.

Aliás,. providência que deveria ter sido realizada ainda no governo Temer.
A escolha de salvar brasileiros, de  empregar brasileiros, cuidar dos brasileiros famintos, doentes e miseráveis tem que prevalecer sobre qualquer outra.

Vivemos uma 'escolha de Sofia' adaptada.] 
 
Os gastos com as ações militares que o Brasil realiza na fronteira com a Venezuela superam, com folga, a média anual dos custos que as Forças Armadas do País dedicaram às ajudas humanitárias no Haiti, um país devastado pela guerra civil e terremotos. [no Haiti a tragédia não dependeu de escolha humana, na Venezuela eles escolheram o caminho da  ruína, da miséria, ao escolherem Chávez e seu maldito socialismo bolivariano. 
Não podermos retirar das bocas das nossas crianças para atender crianças venezuelanas - como ficarão as nossas? 
Além de retirar alimentos das bocas dos brasileiros, assistência médica aos nossos doentes, os venezuelanos ainda tomam empregos dos milhões de brasileiros desempregados. 
Qualquer ajuda do Brasil ao povo da Venezuela deve  ser prestada através da remessa ao território venezuelano = sem que seja permitido o ingresso de venezuelanos em solo brasileiro.]
Nos últimos doze meses, o governo sacou 265,26 milhões de reais dos cofres públicos para apoiar as ações militares em Roraima, na fronteira com o país governado por Nicolás Maduro. Isso equivale a mais que o dobro da média anual que o Brasil dedicou às operações no Haiti, entre 2004 e 2017. Na média, nos 13 anos da missão realizada no país caribenho, foram injetados R$ 130 milhões por ano pelo Brasil.

Ao jornal O Estado de São Paulo, o Ministério da Defesa confirmou que o presidente Jair Bolsonaro já sinalizou investir mais na ação militar em Roraima. Por trás desses custos, justifica o governo, está a complexidade e abrangência da missão nas bordas da Venezuela. “Trata-se de uma atuação muito mais complexa, pela abrangência das responsabilidades que temos hoje”, disse o general Carlos Teixeira, que coordena a operação de ajuda humanitária em Roraima.

Teixeira, que também atuou em missões no Haiti, afirma que as ações militares em Boa Vista e Pacaraima abrangem desde a manutenção do efetivo até o suporte de toda atividade humanitária, diferentemente do que foi feito no país caribenho. “No Haiti, o gasto brasileiro foi feito para manter nossa tropa por lá, pagar o treinamento, a alimentação e os insumos dos militares. Agora, na Venezuela, esse custo para manter a tropa é só uma pequena parcela. A maior parte dos recursos é usada para receber os refugiados que chegam doentes e famintos. Temos de receber essas pessoas, dar alimento, medicar. E tudo isso custa dinheiro.”

620 militares trabalham nas fronteiras do País
Atualmente, o efetivo de oficiais brasileiros deslocados para os trabalhos na fronteira é de 620 militares, entre agentes da Marinha, Exército e Aeronáutica. O governo brasileiro mantém, em alojamentos, 8.500 venezuelanos refugiados. “Cada uma dessas pessoas precisa tomar café, almoçar e jantar todo dia. Numa conta rápida, são mais de 25.000 refeições, diariamente. Por isso, o custo é muito maior mesmo.”

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, afirmou que o governo já admite a necessidade de colocar mais dinheiro nas ações, mas que avalia como isso será feito, para que não afete o orçamento da própria pasta. “O presidente determinou que haja aporte de mais recursos para dar continuidade ao trabalho da Operação Acolhida.”
O Ministério da Defesa, a Casa Civil e o Ministério da Economia avaliam a forma como esse aporte será feito, afirmou Silva. “Vale destacar que a Operação Acolhida tem sido muito elogiada, virou referência. É um trabalho conjunto de várias instituições e entidades.”

Os 265,26 milhões de reais que o governo já usou para lidar com a crise na fronteira com a Venezuela saíram do Tesouro Nacional, em créditos extraordinários sacados em março e novembro do ano passado. Medidas provisórias liberaram a verba para os programas de assistência emergencial, segurança na fronteira, acolhimento humanitário e interiorização de venezuelanos no Brasil.  A fronteira com o país vizinho foi fechada por Maduro no dia 21 de abril e assim permanece até hoje. A crise prossegue e, na avaliação do general Carlos Teixeira, não há prazo para o fim da operação, devido às incertezas políticas do País e a situação de caos em atendimentos sociais básicos. Apesar do bloqueio, venezuelanos continuam a entrar no Brasil pela mata, em áreas mais isoladas.
“Sabemos que, no total, cerca de 160.000 venezuelanos entraram no País desde 2015. A maioria está em Roraima. Desse total, 8.500 são refugiados e estão abrigados conosco. Outros 8.000 foram interiorizados por meio do Ministério da Defesa e da ONU”, diz Teixeira.[cada um 'interiorzado' equivale a um emprego a menos para um brasileiro.] 
 
Para o professor do Instituto de Relações Internacionais da USP Pedro Feliú, os recursos que o Brasil tem injetado nas ações são altos, mas necessários não só pela situação trágica vivida pela população venezuelana, mas também pela consequência da posição política que o País adotou. “É claro que esse gasto se justifica pela urgência da ajuda humanitária. O Brasil não poderia fechar a sua fronteira. Quem fez isso foi Maduro. Agora, é preciso admitir que há um custo político nessa conta. O Brasil, ao reconhecer Juan Guaidó como presidente da Venezuela, dispensou a possibilidade de mediar o conflito”, avalia Feliú.
O Brasil poderia ter sido a força neutra para atuar nesse caso, mas acabou por romper uma tradição política histórica.”

Manaus vira opção para venezuelanos
A cidade de Manaus tem sido a segunda parada para muito refugiados venezuelanos que, com a demora em conseguir trabalho ou regularização de suas situações em Pacaraima e Boa Vista, partem rumo à Zona Franca. “Isso tem acontecido, de fato. Muita gente não quer aguardar a regularização de sua entrada no País e parte para se aventurar em Manaus. Tivemos problema, mas agora a situação já está regularizada. Estamos cuidando disso”, disse o general Carlos Teixeira, que coordena a operação de ajuda humanitária.

Atualmente, há 13 abrigos montados em Roraima, sendo 11 deles em Boa Vista e dois em Pacaraima, na fronteira com a Venezuela. Os abrigos foram organizados para receber, separadamente, mulheres solteiras, homens solteiros, casais com e sem filhos, LGBTs e indígenas. “Toda pessoa tem o direito de sair, de circular, de arrumar o trabalho. Nós estimulamos isso. Mas há um processo que deve ser cumprido para a interiorização das pessoas. É preciso que um município do País abra uma vaga”, comentou Teixeira. [ general Teixeira:o senhor já pensou que cada vaga que é aberta para um venezuelano é uma fechada para um brasileiro?
sendo o senhor um oficial general é com certeza um brasileiro. Certo?
 
Duas semanas atrás, durante a madrugada, uma ação integrada do governo do Amazonas com o Ministério Público e o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) fez a realocação voluntária de 230 refugiados venezuelanos que estavam dormindo no entorno da rodoviária de Manaus. Eles foram levados para espaços provisórios da prefeitura da capital. [e os brasileiros que ocupavam esses espaços, certamente não estavam ociosos, foram removidos para onde?] A ação mirou pessoas de maior vulnerabilidade, idosos, mulheres, gestantes e famílias com crianças. A ONU informou que 3 milhões de venezuelanos deixaram o país nos últimos anos, o equivalente a 10% de sua população total.
A 214 quilômetros da fronteira com a Venezuela, dentro de um galpão em Boa Vista, 200 toneladas de alimentos e remédios estão armazenadas há um mês e meio, à espera que o governo venezuelano libere a entrada dos mantimentos e medicações para a população.
“Os produtos são não perecíveis, mas têm limite. Hoje, estão em condições de serem entregue. Assim que o governo venezuelano sinalizar, vamos enviar”, disse o general Carlos Teixeira. Os alimentos e remédios, que chegaram em 23 de fevereiro, foram doados pelos governos do Brasil e dos Estados Unidos.
[para fazer média com outros países - que possuem melhores condições de ajudar - o Brasil retira alimentos que poderiam ser doados a brasileiros necessitados, famílias famintas, para doar a estrangeiros - cujo governo sequer permite que tais alimentos sejam distribuídos em seu país.
Nosso maior desejo era que o Brasil pudesse ajudar a todos os famintos do mundo - mas, sem aumentar o número de famintos brasileiros.] 

Revista VEJA
 

quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Os mascates

“O Brasil ainda recebe refugiados de braços abertos. É o caso das famílias palestinas do Rio Grande do Sul, que buscaram a integração plena e uma nova cidadania no Brasil”


Há um mês, cerca de mil pessoas — homens, mulheres crianças e até idosos —, fugindo da fome e da violência, deixaram a cidade de São Pedro Sula, em Honduras, em busca do sonho americano. A notícia se espalhou pelas redes sociais, e milhares de pessoas de outros países da América Central se juntaram a elas na Guatemala, em direção ao México. Às vésperas das eleições legislativas de 6 de novembro, a marcha virou uma dor de cabeça para o presidente dos Estados Unidos, porque já reúne quase 10 mil pessoas e chegou ao México, sendo acompanhada pela mídia do mundo inteiro.

Trump já anunciou a intenção de impedir a entrada dos imigrantes e mandou mais 15 mil homens da Guarda Nacional para a fronteira. Acusa o Partido Democrata de estimular a marcha. O risco é os mexicanos aderirem em massa ao movimento, autodenominado “Pueblo Sin Fronteiras” (Povo Sem Fronteiras). Cerca de 10% da população da Guatemala, El Salvador e Honduras já deixaram seus países para fugir da criminalidade e do recrutamento forçado por gangues, em busca de poucas oportunidades de trabalho. Trump ameaça cortar a ajuda norte-americana aos países de América Central. Segundo a Agência Americana para o Desenvolvimento Internacional, a Guatemala recebe mais de US$ 248 milhões por ano; Honduras, US$ 175 milhões; e El Salvador, US$ 115 milhões.

Esse fenômeno parecia distante do Brasil, mas também já é vivido por nós em razão da crise venezuelana. A diferença é que o governo brasileiro, depois dos incidentes entre brasileiros e venezuelanos em Pacaraima (RR), na fronteira com a Venezuela, com apoio das Forças Armadas, montou uma infraestrutura adequada para receber milhares de refugiados, que são redistribuídos para os diversos estados do país. O êxodo de 2,4 milhões de venezuelanos, em apenas dois anos, já é o maior da história da América do Sul e atinge praticamente todos os países do subcontinente. A diferença é que o presidente Michel Temer, ele próprio descendente de imigrantes libaneses, seguindo a tradição de nossa política externa, tem uma posição oposta à xenofobia de Trump.

Jerusalém
O Brasil ainda recebe refugiados de braços abertos. É o caso das famílias palestinas do Rio Grande do Sul, que buscaram a integração plena e uma nova cidadania no Brasil. O documentário “A Palestina Brasileira”, de Omar de Barros Filho, mostra como essas famílias vivem uma “nakba” (palavra árabe que significa catástrofe) que já dura 70 anos. A vida de um casal residente na região metropolitana de Porto Alegre resume a tragédia: a família abandonou a Palestina com a criação do Estado de Israel, em 1948; mudou-se para Bagdá, onde reconstruiu a vida. Com a invasão do Iraque pelas tropas dos EUA, refugiou-se no campo de Al Rweished, em pleno deserto, na fronteira da Jordânia. Após alguns anos, o casal foi trazido pela ONU para o Rio Grande do Sul, mas a família se desgarrou: o filho vive na Indonésia, a filha está em Bagdá.

A produção do filme foi uma aventura. Uma das locações foi o campo Al Fawwar, próximo a Hebron, onde palestinos ainda são refugiados dentro da própria Palestina. Nunca recuperaram seus bens, propriedades ou terras tomadas por Israel. [presidente Bolsonaro: Israel invade terras palestinas, torna os donos da terra refugiados em sua própria terra - um pouco parecido com o que Boulos, MTST, faz quando cobra aluguel dos próprios invasores.]  dos apartamentos que invadeA equipe de filmagem, hospedada em Ramallah, teve seu alojamento invadido. Portas foram arrombadas, bagagens, reviradas; o hotel foi depredado. A equipe foi detida por um longo tempo em um checkpoint israelense no histórico mercado de Jerusalém. O guia palestino brasileiro foi expulso do local. O diretor foi conduzido ao centro de controle policial do Muro das Lamentações e proibido de realizar entrevistas e de utilizar equipamento de som e luz. 

Quando tentaram entrar na mesquita de Al Aqsa, foram bloqueados por policiais de Israel. No aeroporto Ben Gurion, em Tel Aviv, uma das câmeras foi confiscada e nunca devolvida.  O marco inaugural da nossa diplomacia com o mundo árabe é a visita de D. Pedro II ao Líbano, em 1880. Proibidos de entrar nos Estados Unidos, cristãos sírios e libaneses perseguidos pelos turco otomanos optaram pelo Brasil, que estava em franca urbanização. Exímios comerciantes, tornaram-se “mascates” e tiveram um papel fundamental na ligação comercial do litoral com o sertão. Numa época em que a moeda era escassa e rigidamente controlada pelo governo, conquistaram a confiança dos brasileiros no fio do bigode: vendendo fiado.

Entretanto, as boas relações com o mundo árabe podem se deteriorar por causa de uma decisão anunciada pelo presidente eleito Jair Bolsonaro: transferir a embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, a pedido do presidente Trump e do primeiro-ministro de Israel, Benjamin “Bibi” Netanyahu. Temos excelentes relações com Israel, mas romper com a moderada Autoridade Palestina é trazer para o Brasil, principalmente para a Tríplice Fronteira, onde já atuam militantes clandestinos do Hamas e agentes israelenses do Mossad, uma briga que nunca foi nossa.

Luiz Carlos Azedo - Blog nas Entrelinhas  - CB



quarta-feira, 17 de outubro de 2018

Sob Bolsonaro, PGR passará por filtro ideológico

[Bolsonaro está certíssimo; o que se espera do Poder Judiciário e do Ministério Público é isenção total, imparcialidade, são cargos que não admitem viés político - lembrem-se daquele desembargador plantonista, petista - esquecemos o nome - que em um simples plantão tentou soltar Lula?

do Janot, que optou pelo lado contrário ao Temer e tudo fez para destruí-lo - não conseguiu, Temer vai concluir o mandato, mas, a perseguição a Temer, a apresentação de denúncias que poderiam aguardar janeiro 2019, atrapalho em muito a recuperação economica do Brasil, piorando a vida dos brasileiros.

Viés político, preferência ideológica, são aceitas por normais nos Poderes Executivo e Legislativo - tanto que para ser eleito para qualquer um dos dois poderes, a filiação partidária é essencial e, por óbvio, a concordância com o programa do partido.
Cabendo a ressalve que no exercício do mandato o presidente tem que optar, sempre que possível, pela imparcialidade.]

Jair Bolsonaro pretende submeter a chefia do Ministério Público Federal a uma patrulha ideológica. Se for eleito, não cogita nomear um procurador-geral da República esquerdista. “O critério é a isenção”, disse ao Jornal Nacional. “É alguém que esteja livre do viés ideológico de esquerda, que não tenha feito carreira em cima disso. Que não seja um ativista no passado por certas questões nacionais”.

O mandato da atual procuradora-geral, Raquel Dodge, vence em setembro de 2019. Como de hábito, a corporação fará uma eleição interna e enviará ao Planalto uma lista com os nomes dos três procuradores mais votados. Bolsonaro avisou desde logo que, se estiver na poltrona de presidente, não se sentirá obrigado a selecionar um dos nomes da lista tríplice.  “Eu quero alguém no MP, caso eu seja presidente, deles, obviamente. Não vai ser do Ministério Público Militar, como tem sido dito por aí. Mas que tenha realmente uma visão macro. E que respeite também a Constituição e os parlamentares, que têm imunidade por suas opiniões palavras e votos”. [fui militar, do inicio da década de 70 até inicio dos anos 90, portanto, não tenho motivação nem  procuração para defendê-los e nem eles precisam, mas, para esclarecer nossos dois leitores, acho que Bolsonaro erra quanto diz que não vai indicar um membro do MPM para ser procurador-geral da República;

apesar do título, todos os procuradores do Ministério Público Militar, são concursados, não exercem atividade política e tem obrigação de ser tão neutros, imparciais, quanto os membros dos demais Ministérios Públicos.]

Em tese, Raquel Dodge poderia ser reconduzida ao cargo. Entretanto, ao citar a imunidade dos parlamentares, Bolsonaro sinalizou que não concederá um segundo mandato à atual chefe do Ministério Público. Dodge denunciou Bolsonaro no Supremo por racismo praticado contra quilombolas, indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs. [acusação que não prosperou e foi devidamente arquivada por decisão do ministro relator Alexandre de Moraes.] Acusou-o de usar “expressões de cunho discriminatório, incitando o ódio e atingindo diretamente vários grupos sociais” numa palestra feita no Rio.
Bolsonaro criticou Dodge, alegando que a procuradora-geral não levou em conta o fato de que ele, como parlamentar, dispõe de “imunidade total por quaisquer palavras, opiniões e votos.” No mês passado, a Primeira Turma do Supremo arquivou a denúncia num julgamento de placar apertado: 3 votos a 2. [a Turma é formada por cinco ministros, o que torna qualquer placar,  exceto a unanimidade, 'apertado'.]
Bolsonaro não explicou que critérios utilizaria para definir o perfil ideológico do futuro procurador-geral da República. Na Procuradoria, como em toda parte, há pessoas de esquerda, meia esquerda, um quarto de esquerda, três quartos de esquerda, direita dissimulada e até direita Bolsonaro?

Perguntou-se ao candidato como conseguirá ser isento se avisa de antemão que o escolhido será um direitista. E Bolsonaro: “Pode ser que eu tenha me expressado mal. Não queremos à esquerda. Que seja ao centro. Não quero alguém do MP subordinado a mim, como tivemos no passado a figura do engavetador-geral da União, mas alguém que pense grande, que pense no seu país. O MP é muito importante. Agora se tiver um ativismo… Nós não podemos correr o risco de alguém que atrapalhe a nação”.

A corrupção, como se sabe, não tem ideologia. A roubalheira não é de esquerda ou de direita. A questão é que, em qualquer governo, sempre surge uma dúzia de larápios por cima para transformar em assaltados os milhões de contribuintes que estão por baixo. A ideologia costuma ser o caminho mais longo entre a retórica e a ética. De resto, a patrulha ideológica pode facilmente descambar para a picaretagem ideológica.

Blog do Josias de Souza

quinta-feira, 23 de abril de 2015

A “solução” australiana para os refugiados



Em crises complexas, sempre existe a busca de uma fácil boia de salvamento. E poucas crises são tão complexas como o drama dos migrantes e refugiados, que se arriscam na perigosa travessia do Mediterrâneo da África do Norte para a Europa. A atenção no drama se intensificou nos últimos dias com os sucessivos naufrágios no Mare Nostrum. Já são 1.750 mortos em 2015, 30 vezes mais do que em igual período no ano passado.

Lá do oceano Pacífico, Tony Abbott, o primeiro-ministro falastrão da Austrália, fez um apelo para a União Europeia (cujos dirigentes realizam reunião de emergência nesta quinta-feira sobre o drama no Mediterrâneo) seguirem a rota do seu país na crise.  Após assumir o poder em setembro de 2013, a coalizão conservadora liderada por Abbott implantou a Operação Fronteiras Soberanas. Sob o comando de um general, a operação linha dura teve como alvo os barcos dos traficantes de gente miserável e desesperada. As embarcações foram rechaçadas de volta para as águas da Indonésia e os refugiados que romperam o escudo de proteção foram confinados em remotas ilhas do Pacífico.

Até agora em 2015, nenhum refugiado marítimo pediu asilo na Austrália. Em contraste, foram 20 mil em 2013, quando os trabalhistas estavam no poder e ainda não fora adotada a operação militar linha dura. Hoje, mesmo os trabalhistas engolem a solução Abbott. No caso da União Europeia, com seus 28 países, e vivendo crise de identidade, conseguir um consenso sobre qualquer política efetiva é tarefa ingrata, praticamente impossível.

Ademais, existem questionamentos legais sobre a adoção de política semelhante à da Operação Fronteiras Soberanas. A Corte Europeia de Direitos Humanos já decidiu contra um acordo entre a Itália e a Líbia para empurrar de volta embarcações no Mediterrâneo. E obviamente há os fantasmas da intervenção militar ocidental na Líbia em 2011, mal executada, e cuja principal sequela após a queda da ditadura Kadafi é uma terra de ninguém ou de milícias rivais. [situação que se concretizou sob os auspícios do genial Obama.]

Aliás, me impressiona entre alguns leitores da coluna a noção de que boia de salvamento para desastre, qualquer problema, seja ter no poder alguém como Kadafi ou Bashar Assad. A “solução” australiana foi jogar o problema para pequenas ilhas como Nauru, onde há informes de abuso sexual de crianças e de brutalidade. Existem poucos casos de soluções definitivas para estes refugiados. A escala no Mediterrâneo é muito maior. No entanto, apesar dos clamores humanitários e dos alertas sobre saídas simplistas, a “solução” de Tony Abbot é uma tentação para os europeus.

O ímpeto é mais para combater o tráfico de refugiados na raiz líbia do que ajudar ou acolher refugiados. A tragédia no mar poderá ser multiplicada em terra. Por algumas projeções, 1 milhão de refugiados podem acabar presos na ratoeira líbia. Esta é uma boia de salvamento para os europeus nesta crise?

Fonte: Veja OnLine