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segunda-feira, 18 de novembro de 2019

O Big Toffoli - Fernando Gabeira

[Big Brother - Grande Irmão = 1984

 Divulgação - Blog do Gabeira


Numa semana muita dura e cheia de eventos, pensei em trazer um tema novo. Já falei de Bolívia e Chile, comentei a saída de Lula e me debrucei, sem ânimo, sobre a invasão da embaixada da Venezuela em Brasília. Isto me interessou, pois poderia usar de novo a palavra quiproquó, tão sonora e fora de moda. Sinceramente, meu tema de preferência era um chamado projeto Nightingale, no qual o Google é acusado de vender milhões de dados médicos e hospitalares das pessoas para grandes empresas do setor. A coleta e venda de informações é um grande negócio no mundo. Tende a ser o mais interessante, pois os dados valem dinheiro, sobretudo em grandes quantidades.

Iria refletir um pouco sobre a privacidade num mundo do Google e das redes sociais quando soube que o presidente do STF, Dias Toffoli, agora por um artifício legal, tem acesso aos dados financeiros de 600 mil contas de pessoas e empresas. Ele proibiu a UIF (antigo Coaf) de partilhar esses dados com os órgãos de investigação. Um absurdo sem nome. Tenho escrito sobre isso e, para dizer a verdade, com pouca repercussão. É um ato de exceção. Os próprios funcionários da OCDE que estiveram no Brasil dizem que a medida de Toffoli está em contradição com as normas e os compromissos internacionais do Brasil.

Toffoli não se interessa por isso. Seu objetivo era congelar as investigações sobre Flávio Bolsonaro e impedir que a Receita continuasse pesquisando os movimentos financeiros de sua mulher e da mulher de Gilmar Mendes. Ele não se contentou em paralisar investigações. Ele quer acesso a todos os dados coletados pela inteligência financeira.  É o Big Toffoli navegando pelas contas de todo mundo, conhecendo os segredos financeiros que ele mesmo impede de serem investigados adequadamente. Como é possível o país conviver com essa barbaridade? Mesmo os aliados de Toffoli deveriam temer essa concentração de poder. Nos últimos tempos, aproximou-se de Bolsonaro para salvar a pele do filho senador. Mas, no passado, foi um funcionário do PT, um assessor de José Dirceu.

Acho que tanto o PT como Bolsonaro deveriam temer Toffoli. A quem servirá com esse acesso ilimitado aos dados pessoais e empresariais? Pode usá-los para fulminar Bolsonaro ou mesmo para enrascar mais ainda seu partido de coração, que é o PT.  Em muitos lugares do mundo, a Justiça se move na tentativa de preservar a privacidade das pessoas, acossando o Google e o Facebook, entre outros. Aqui no Brasil é diferente. É a própria Justiça que invade a privacidade alheia, na pessoa do presidente do STF. Não se trata mais nos trópicos de reduzir o poder das gigantescas empresas, mas de ampliar ao extremo o poder pessoal de Toffoli.

Num mesmo ano, Toffoli salvou Lula e Bolsonaro. Lula porque foi dele, fiel advogado do PT, o voto de Minerva que acabou com a prisão em segunda instância. E Bolsonaro, porque foi ele quem tirou as nádegas do jovem Flávio da seringa do controle de operações financeiras.  Podemos falar tudo de Lula ou Bolsonaro. Mas ninguém apanha mais do que eles nas redes ou na imprensa. Ambos reclamam, Bolsonaro tira verbas publicitárias de quem o critica; Lula, volta e meia, se lembra do controle social da imprensa. Mas nenhum dos dois chegou ao ponto de Toffoli: instalar uma delegacia, convocar Alexandre de Moraes como seu braço policial e partir para cima de quem o critica, com polícia revistando casas e computadores.

Lula precisou de Toffoli. Bolsonaro também. Mas eles ignoram, talvez, que Toffoli seja muito mais do que um simples auxiliar para encrencas. Diante da vulnerabilidade dos líderes populistas que polarizam o Brasil, ele vai construindo seu universo pessoal de poder. E um poder mais persuasivo que o deles.
Toffoli é o Big Toffoli. Assim com os homens e, além disso, é o único que tem poder de acessar os dados financeiros de quase todo mundo. Digo quase todo mundo, porque não me incluo nesses 600 mil. Minha conta bancária é de uma monotonia tediosa. Mas não me inibo em defender a privacidade dos outros, ricos ou pobres.

Em 13 anos de oposição, o PT nunca me fez mal. Espero o mesmo de Bolsonaro. Ambos têm seguidores agressivos. Mas nenhum pode como Toffoli mandar a Polícia Federal vasculhar meus computadores, incluir-me nos detratores do Supremo.  A democracia tropical, com a sua incessante troca de favores, está parindo um monstro. Uso a expressão num contexto institucional. Pessoalmente, Toffoli até se parece com um desses candidatos por quem suspiram velhas senhoras em busca de bons moços para votar.
Mas a ampliacão do seu poder pela captura de dados financeiros o transforma num Big Toffoli.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista
 

Artigo publicado no jornal O Globo em 18/11/2019

quinta-feira, 4 de julho de 2019

A Era da Ciberpirataria


A tecnologia vem avançando rapidamente e nos proporciona uma impressionante gama de comodidades. Não dá para retroceder deste processo e os países evoluídos em tecnologia vão se tornando detentores de poder econômico, político e social nunca visto, desde que a criatura conseguiu ficar de pé, perdeu o rabo, usou as mãos e teve o cérebro aumentado com relação aos outros animais.

Cito como exemplo a China com sua espantosa aceleração tecnológica, perto da qual estamos na fase do arco e flecha. Como decorrência desse fenômeno a expansão tecnológica passa a marcar a diferença entre países ricos e pobres ou como se dizia antigamente, entre os desenvolvidos e subdesenvolvidos. E não serão riquezas naturais, força bélica, dimensão territorial que passarão a determinar o poderio de um país, mas o progresso de sua tecnologia no espaço real interligado ao ciberespaço.

Nesse admirável mundo novo tudo já está sendo modificado em termos de trabalho, profissão, meios de transporte, de comunicação, de duração da vida e muito mais. Inclusive, a Educação de que tanto se fala no Brasil deveria começar a dar às crianças e aos jovens não apenas bons conhecimentos das matérias básicas, mas também instruir as novas gerações nos domínios da Internet, nos programas avançados da computação, na robótica. Entretanto, tudo que é humano pode ser usado para o bem ou para o mal. Assim sendo, a intensificação da tecnologia pode ser empregada também para reduzir ou acabar com nossa liberdade e produzir um apavorante totalitarismo no qual o livre arbítrio chegará a zero. Algo a lembrar a obra “1984” de George Orwell.

A sociedade vigiada já está em curso e outro exemplo disso são hackers que chamo de ciberpiratas. Lembremos que no passado piratas eram bandidos que cruzavam os mares com o fito de assaltar e roubar o que havia em outras embarcações. Agora os ciberpiratas são bandidos que roubam dinheiro de contas bancárias, intimidades, documentos secretos o que coloca em risco a segurança de países e tudo mais que desejem tais gatunos, incluindo a honra e a dignidade alheias. Eles são peritos em chantagem, extorsão, distorção, deturpação e ninguém está imune a seus roubos. Portanto, são facínoras de pior espécie, criaturas da Darkweb e não existe hacker bonzinho, pois navegam nas águas da ilegalidade e da imoralidade.

No momento estamos presenciando o sórdido ataque do jornalista Glenn Greewald, que se abriga no site The IntercePT Brasil. Ele vem mostrando aos poucos pequenos trechos de supostas conversas particulares entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. Executa sua ação ignóbil a conta-gotas para manter o escândalo e vai destilando veneno contra o agora ministro da Justiça e da Segurança Pública, homem raro da lei que levou à cabo a maior ação de nossa história contra corrupção. [só que o militonto do intercePT, com a capa que identifica os verdadeiros adeptos do 'jornalismo investigativo', deu com a cara no chão - o desinteresse pelas mentiras divulgadas é total;
 
aqui e acolá alguns jornais ou sites escrevem alguma coisa, sempre mostrando o descrédito do devoto do presidiário petista.
LULA CONTINUA PRESO.]

Glenn alega que obteve tais conversas de dois anos atrás por intermédio de um hacker. Portanto, de modo ilegal. Seria o próprio jornalista o hacker ou ciberpirata? Não dá para acreditar em nada que ele invente e o jornalista devia no mínimo já estar preso e posteriormente ser deportado para seu país, os Estados Unidos, onde sabem perfeitamente como lidar com bandidos dessa espécie. Numa inversão de valores o ministro Moro foi ao Senado onde por quase 10 horas teve que responder a ataques de certos senadores em cujas costas pensam vários processos.

A pergunta que não quer calar é:  a quem interessa a ação do hacker ou jornalista Glenn? A quem Glenn Greewald serve? Fácil resposta: a desmoralização de Moro é ao mesmo tempo um ataque à Lava Jato e consequentemente leva à soltura do presidiário Lula a Silva e de mais centenas de condenados da Lava Jato.

Dia 25, a Segunda Turma do Supremo se reuniu depois de muitos volteios sobre a conveniência ou não da data de tal reunião. Ao final de muito palavrório sobre soltar ou não o presidiário através de habeas corpus, com base na suspeição do então Juiz Moro no caso tríplex, o quinteto resolveu adiar seu pronunciamento sobre a matéria para depois do recesso de julho. Sinal de que não sabem o que fazer.

Dia 30, enquanto iam surgindo evidências das adulterações das tais conversas pinçadas pelo hacker e erros cometidos pela equipe jornalística do IntercePT relativos a nomes, lugares e datas, impressionantes multidões foram às ruas de todo país em defesa do ministro Sérgio Moro e da Lava Jato. Aguardemos se depois do recesso os guardiães da Constituição, ou seja, os ministros do Supremo irão a favor ou contra a Lava Jato, a corrupção, a bandidagem e a violação do artigo 154 do Código penal brasileiro. O resultado mostrará se somos minimamente civilizados ou se continuamos a viver na barbárie onde leis inexistem e os íntegros e cumpridores de seus deveres são punidos.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga - mlucia@sercomtel.com.br
Por Maria Lucia Victor Barbosa
 

Artigo no Alerta Total - www.alertatotal.net