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domingo, 29 de dezembro de 2019

Do bolsonarismo ao integralismo, como a extrema direita se organiza - Blog do Noblat e EL PAIS



Por Felipe Betim

Os ultraconservadores se dividiram em três subgrupos na internet - Em um deles estão os encapuzados que reivindicaram o ataque ao Porta dos Fundos

 

Jair Bolsonaro está prestes a completar um ano no cargo de presidente da República. Ao longo deste período, o território virtual que abriga o bolsonarismo, e que foi engrenagem essencial de sua campanha para chegar ao poder, sofreu algumas mudanças e se dividiu. A ideologia de extrema direita continua lá, intacta e até mais radical. Mas a união conseguida por Bolsonaro naquelas eleições se desfez. Os extremistas estão agora divididos em ao menos três subgrupos, segundo explica David Nemer, especialista em Antropologia da Informática. Em um deles, que ele nomeia de insurgentes, estão pessoas com o mesmo perfil dos homens encapuzados que reivindicaram o ataque com coquetel molotov à sede da produtora Porta dos Fundos, na madrugada de 24 de dezembro. Eles se identificam com o integralismo, o movimento fascista que surgiu nos anos 1930 e que, na era da Internet, ganha novo vigor.
“Os insurgentes são mais militaristas e acabaram virando oposição, porque acham que Bolsonaro cedeu ao establishment e não é radical o suficiente. Acreditam que a única forma de salvar o país é fazendo uma insurgência armada para fechar o Congresso e o STF, e começar do zero. Eles falam muito de insurgência armada”, explica Nemer, que desde 2018 está presente em grupos de WhatsApp da extrema direita para monitorar seu comportamento.

Em vídeo que circula nas redes sociais desde a última quarta-feira, os encapuzados que assumiram o ataque ao Porta dos Fundos dizem ser parte do Comando de Insurgência Popular Nacional, recorda Nemer. Já a Frente Integralista Brasileira (FIB) soltou uma nota  negando qualquer relação com os homens que assumiram o atentado. Ainda que não seja possível dizer que aquelas pessoas específicas formem parte dos grupos de WhatsApp que monitora ou que oficialmente estejam ligados aos integralistas, o pesquisador explica que “o tom nacionalista cristão e as ideias de atentar contra as universidades e as instituições” são as mesmas. Ele ainda lembra que o mesmo grupo que diz ter atacado a produtora invadiu a UniRio em 2018 e queimou bandeiras antifascistas, conforme também publicou a Ponte Jornalismo. Esses radicais atuam em fóruns da darkweb, mas também recrutam novas pessoas pelo WhatsApp e pelo Youtube. “Não consegui identificar um só canal no Youtube, porque eles são constantemente banidos ou colocados em quarentena. Então existe uma rotatividade”, completa o pesquisador.

[dica óbvia para ajudar incautos e identificar os falsos integralistas:
- não pregam o racismo - Plínio Salgado criador do movimento integralista era radicalmente contra o racismo;
- são assumidamente republicanos (a bandeira com a letra Sigma é a autêntica; quanto  a do Brasil Império que está na foto acima não entendemos o motivo de sua presença.
É um assunto pouco estudado, mas o Google e a Wikipédia, tornarão qualquer curioso uma verdadeira enciclopédia.] 

O núcleo de propaganda é outro subgrupo que Nemer identificou após as eleições. Formado por bolsonaristas que apoiam o presidente incondicionalmente, tornou-se uma espécie de cão de guarda do Governo, atuando de acordo com a agenda política diária. Nas redes, essas pessoas defendem a gestão Bolsonaro em situações delicadas ― por exemplo, em momentos nos quais mede força com o Congresso ― ou quando se vê acuado ― como durante a crise internacional desatada pelos incêndios na Amazônia. “Bolsonaro precisa de um inimigo para alimentar a retórica do eles contra nós. E essas pessoas nas redes precisam de um inimigo para trabalhar. Nesse sentido, os peronistas se tornaram inimigos, Macron se tornou inimigo e até pessoas do PSL se tornaram inimigas. Agem como milícia virtual e até pessoas como Alexandre Frota e Joice Hasselmann se tornaram alvos”, explica Nemer, mencionando os dois deputados que romperam com Bolsonaro depois de se elegerem fazendo campanha para ele.

Por fim, o pesquisador também identificou o subgrupo que ele classifica como supremacistas sociais, que estão mais ligados aos evangélicos e podem ser tão radicais quanto os insurgentes. “Os supremacistas sociais não estão muito ligados à política do dia a dia, mas eles capitalizam em cima do discurso do presidente e de seu filho, o deputado federal Eduardo Bolsonaro. Compartilham conteúdo neonazista, racista, anti-LGBT, anti-Nordeste…”, explica Nemer. “Afinal, se o filho do presidente usa uma retórica parecida e não acontece nada com ele, então essas pessoas, que estão no anonimato, se sentem mais livres para compartilhar esses conteúdos. O Governo Bolsonaro valida muito esse pensamento racista que eles têm”.

Por que o bolsonarismo se dividiu em três subgrupos? O pesquisador aponta para a própria natureza das últimas eleições. “Bolsonaro abarca várias linhas de pensamento: a liberal na economia, a evangélica, a militar… Essas linhas são conflitantes, não andam de mãos dadas, como pudemos ver durante a briga entre os seguidores de Olavo de Carvalho e os militares”, argumenta. “Esses grupos estavam todos alinhados numa mensagem de eleger Bolsonaro, mas começaram a entrar em conflito. Umas pessoas queriam mais militarismo, outras queriam mais olavistas, outras mais evangélicos. É um reflexo do que Bolsonaro está fazendo na vida real: se ele demitia um militar, então os militaristas ficavam indignados…”, prossegue. Assim, as pessoas foram deixando os grupos de WhatsApp montados durante a campanha e criando outros mais de acordo com a linha que eles queriam que o presidente seguisse.

O método de sua pesquisa
Professor titular e pesquisador no Departamento de Estudos de Mídia na Universidade da Virgínia, Nemer realiza seu trabalho de campo em ambiente virtual, para averiguar como as pessoas se comportam e interagem entre si. No ano passado, identificou que as conversas dos grupos de família estavam mudando e adquirindo um tom mais político conforme as eleições se aproximavam. Algo aparentemente normal, mas que ganhou força com a difusão de conteúdos feitos de forma caseira ― isto é, pouco profissional ― com informações falsas ou distorcidas. Também foi um dos que identificou o comportamento de milícias virtuais que agem para perseguir determinadas figuras públicas e destruir reputações. Ele mesmo se tornou neste mês de dezembro um dos alvos dessas milícias virtuais. Ao publicar suas análises, conta ter recebido e-mails com ameaças e até mesmo uma foto sua andando em um local de São Paulo.

Com as eleições se aproximando em 2018, Nemer entrou em quatro grupos de WhatsApp bolsonaristas para monitorá-los. Ele identificou na ocasião uma forma de agir hierarquizada. No topo da pirâmide estavam algumas poucas pessoas anônimas que ele classifica como influencers, responsáveis por criar desinformações e distribuí-las nesses grupos. No meio da pirâmide estavam o que chama de exército voluntário, isto é, bolsonaristas que ficavam responsáveis por espalhar esses conteúdos pelas redes e grupos família. Na base estavam os brasileiros comuns, pessoas que conheceram Bolsonaro e impulsionaram sua candidatura. “Eram pessoas que não tinham espaço para debater e eram bombardeadas com conteúdos. Pela repetição, não havia espaço para dúvidas”.

Com a eleição de Bolsonaro, muitos desses brasileiros e brasileiras comuns foram deixando os grupos, que acabaram desinflando. Permaneceram os mais radicais, que se dividiram nos subgrupos explicados acima. Hoje, Nemer monitora cerca de uma dezena de grupos de WhatsApp e já colheu relatos de pessoas que dizem ter recebido quantias de dinheiro para impulsionar conteúdo falso nas redes.  “É uma minoria, uma coisa menor do que era antes, mas é uma minoria extrema e radical. Temos que prestar atenção porque esses espaços obscuros, escondidos, promovem uma radicalização. A pessoa passa a não ter mais senso crítico”, explica. Essa minoria hoje trabalha a partir da política do medo, tentando criar um passado mítico, que não aconteceu, para motivar as pessoas a saírem para votar ou protestar, segundo explica. “A desinformação não quer só puxar uma agenda política. Ela aliena você da verdade e tira todo o seu pensamento crítico”, completa.

Transcrito do jornal El País - e Blog do Noblat VEJA -  - Ricardo Noblat, jornalista


quinta-feira, 4 de julho de 2019

A Era da Ciberpirataria


A tecnologia vem avançando rapidamente e nos proporciona uma impressionante gama de comodidades. Não dá para retroceder deste processo e os países evoluídos em tecnologia vão se tornando detentores de poder econômico, político e social nunca visto, desde que a criatura conseguiu ficar de pé, perdeu o rabo, usou as mãos e teve o cérebro aumentado com relação aos outros animais.

Cito como exemplo a China com sua espantosa aceleração tecnológica, perto da qual estamos na fase do arco e flecha. Como decorrência desse fenômeno a expansão tecnológica passa a marcar a diferença entre países ricos e pobres ou como se dizia antigamente, entre os desenvolvidos e subdesenvolvidos. E não serão riquezas naturais, força bélica, dimensão territorial que passarão a determinar o poderio de um país, mas o progresso de sua tecnologia no espaço real interligado ao ciberespaço.

Nesse admirável mundo novo tudo já está sendo modificado em termos de trabalho, profissão, meios de transporte, de comunicação, de duração da vida e muito mais. Inclusive, a Educação de que tanto se fala no Brasil deveria começar a dar às crianças e aos jovens não apenas bons conhecimentos das matérias básicas, mas também instruir as novas gerações nos domínios da Internet, nos programas avançados da computação, na robótica. Entretanto, tudo que é humano pode ser usado para o bem ou para o mal. Assim sendo, a intensificação da tecnologia pode ser empregada também para reduzir ou acabar com nossa liberdade e produzir um apavorante totalitarismo no qual o livre arbítrio chegará a zero. Algo a lembrar a obra “1984” de George Orwell.

A sociedade vigiada já está em curso e outro exemplo disso são hackers que chamo de ciberpiratas. Lembremos que no passado piratas eram bandidos que cruzavam os mares com o fito de assaltar e roubar o que havia em outras embarcações. Agora os ciberpiratas são bandidos que roubam dinheiro de contas bancárias, intimidades, documentos secretos o que coloca em risco a segurança de países e tudo mais que desejem tais gatunos, incluindo a honra e a dignidade alheias. Eles são peritos em chantagem, extorsão, distorção, deturpação e ninguém está imune a seus roubos. Portanto, são facínoras de pior espécie, criaturas da Darkweb e não existe hacker bonzinho, pois navegam nas águas da ilegalidade e da imoralidade.

No momento estamos presenciando o sórdido ataque do jornalista Glenn Greewald, que se abriga no site The IntercePT Brasil. Ele vem mostrando aos poucos pequenos trechos de supostas conversas particulares entre o então juiz Sérgio Moro e o procurador Deltan Dallagnol. Executa sua ação ignóbil a conta-gotas para manter o escândalo e vai destilando veneno contra o agora ministro da Justiça e da Segurança Pública, homem raro da lei que levou à cabo a maior ação de nossa história contra corrupção. [só que o militonto do intercePT, com a capa que identifica os verdadeiros adeptos do 'jornalismo investigativo', deu com a cara no chão - o desinteresse pelas mentiras divulgadas é total;
 
aqui e acolá alguns jornais ou sites escrevem alguma coisa, sempre mostrando o descrédito do devoto do presidiário petista.
LULA CONTINUA PRESO.]

Glenn alega que obteve tais conversas de dois anos atrás por intermédio de um hacker. Portanto, de modo ilegal. Seria o próprio jornalista o hacker ou ciberpirata? Não dá para acreditar em nada que ele invente e o jornalista devia no mínimo já estar preso e posteriormente ser deportado para seu país, os Estados Unidos, onde sabem perfeitamente como lidar com bandidos dessa espécie. Numa inversão de valores o ministro Moro foi ao Senado onde por quase 10 horas teve que responder a ataques de certos senadores em cujas costas pensam vários processos.

A pergunta que não quer calar é:  a quem interessa a ação do hacker ou jornalista Glenn? A quem Glenn Greewald serve? Fácil resposta: a desmoralização de Moro é ao mesmo tempo um ataque à Lava Jato e consequentemente leva à soltura do presidiário Lula a Silva e de mais centenas de condenados da Lava Jato.

Dia 25, a Segunda Turma do Supremo se reuniu depois de muitos volteios sobre a conveniência ou não da data de tal reunião. Ao final de muito palavrório sobre soltar ou não o presidiário através de habeas corpus, com base na suspeição do então Juiz Moro no caso tríplex, o quinteto resolveu adiar seu pronunciamento sobre a matéria para depois do recesso de julho. Sinal de que não sabem o que fazer.

Dia 30, enquanto iam surgindo evidências das adulterações das tais conversas pinçadas pelo hacker e erros cometidos pela equipe jornalística do IntercePT relativos a nomes, lugares e datas, impressionantes multidões foram às ruas de todo país em defesa do ministro Sérgio Moro e da Lava Jato. Aguardemos se depois do recesso os guardiães da Constituição, ou seja, os ministros do Supremo irão a favor ou contra a Lava Jato, a corrupção, a bandidagem e a violação do artigo 154 do Código penal brasileiro. O resultado mostrará se somos minimamente civilizados ou se continuamos a viver na barbárie onde leis inexistem e os íntegros e cumpridores de seus deveres são punidos.
Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga - mlucia@sercomtel.com.br
Por Maria Lucia Victor Barbosa
 

Artigo no Alerta Total - www.alertatotal.net