Era do otimismo acabou. Alta de juros nos EUA e ausência de reformas provocam turbulência
Pelas
minhas contas, as moedas de países emergentes estão sofrendo sua quinta maior
leva de desvalorização desde 2011. As origens deste movimento são muito
parecidas com as do quatro episódios anteriores: alta de juros nos Estados
Unidos, mercado acionário fraco e aversão a risco são os culpados de sempre. A
diferença, agora, é que esses fatores não devem se dissipar tão rapidamente.
O
contágio dos juros altos para moedas emergentes é impressionante. Qualquer alta
na rentabilidade dos títulos americanos desde 2011 enfraquece divisas em países
com grandes deficits nas contas externas. Então, a não ser que uma recessão ou
uma grave crise freie a alta nos juros americanos, a pressão sobre os
emergentes vai continuar.
Os episódios
de queda nas moedas emergentes de 2011 e 2015 foram provocados por crises de
confiança — um “shutdown”, ou paralisia da máquina pública americana por conta
de seu déficit orçamentário, em 2011; e a supresa com uma desvalorização do
yuan pela China em 2015. Em 2013 e 2016, os movimentos de queda nas moedas
emergentes ocorreram em meio à alta nos títulos americanos.
Então, quais são os
fatores que estão por trás do movimento atual?
1. Fim de
um ciclo
A era do
otimismo com os mercados emergentes, iniciada em 2000, terminou. Mas isso não
quer dizer que as crises cambiais profundas da década de 1990 (quando houve a
crise asiática, a crise russa e a maxidesvalorização do real) tenham voltado.
2.
Diferenças entre emergentes
Há dois
tipos de moedas de economias emergentes. Os países com grande déficit nas
contas externas perdem terreno quando há estresse nos mercados e raramente
conseguem restaurar sua estabilidade. As economias com superávit externo sofrem
menos.
3. Pouco
avanço nas reformas
É muito
difícil encontrar uma história bem-sucedida de reformas nos países emergentes.
Houve brechas de otimismo na Argentina, no Peru, no Brasil, no México e na
Índia recentemente, mas os movimentos foram efêmeros. Houve esperança de que a
Primavera Árabe fosse impulsionar a economia a reforma política. Mas esses
esforços não avançaram. O apelo de governos autoritários tem crescido e o clima
para reformas, piorado.
4. Países
ricos não ajudam
As
condições econômicas no G-10, grupo de países mais ricos do planeta, não são
favoráveis. A partir do fim da década de 1990, as economias da OCDE
(Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômica, conhecida como o
“clube dos ricos”) vinham, em conjunto, registrado déficits nas contas externas
cada vez maiores. O reverso da moeda desse movimento era um aumento no
superávits externos dos países emergentes. Isso mudou desde 2008, com os países
ricos, agora, apresentando superávit externo. É pouco provável que o ritmo de
expansão dos países da OCDE permita às economias emergentes recuperarem, em
conjunto, um superávit nas contas externas.
5. Novo
padrão tecnológico
Fatores
estruturais estão jogando contra os países emergentes. O cenário mais favorável
para economias emergentes é quando os países ricos crescem rapidamente e esta
expansão é intensa no consumo de commodities ou produtos de baixa ou
média intensidade tecnológica. No entanto, a economia global tem migrado para
os serviços ou a indústria baseada em serviços. Para países em desenvolvimento,
seria muito melhor se o consumo nas nações ricas subisse pela compra de
sapatos, camisetas ou televisores. Mas o aumento da demanda tem sido puxado por
lazer, saúde e educação.
Houve um
tempo em que se acredita que a reforma tributária e outros fatores estruturais
levariam a um crescimento forte e baixa inflação nos EUA; a China abriria sua
economia de forma mais intensa, e a Europa seguiria crescendo. Mas não há mais
essa esperança. Havia um outro cenário que previa que reformas políticas e
econômicas levariam a um crescimento orgânico nos países emergentes. Isso se
tornou ainda mais distante. Se não contarmos com a sorte, tudo indica que as
pressões sobre os emergentes vieram para ficar.
Steven
Englander é chefe de pesquisas e estratégia da Rafiki Capital - O Globo