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sábado, 19 de maio de 2018

Análise: pressão sobre emergentes veio para ficar



Era do otimismo acabou. Alta de juros nos EUA e ausência de reformas provocam turbulência

Pelas minhas contas, as moedas de países emergentes estão sofrendo sua quinta maior leva de desvalorização desde 2011. As origens deste movimento são muito parecidas com as do quatro episódios anteriores: alta de juros nos Estados Unidos, mercado acionário fraco e aversão a risco são os culpados de sempre. A diferença, agora, é que esses fatores não devem se dissipar tão rapidamente.

O contágio dos juros altos para moedas emergentes é impressionante. Qualquer alta na rentabilidade dos títulos americanos desde 2011 enfraquece divisas em países com grandes deficits nas contas externas. Então, a não ser que uma recessão ou uma grave crise freie a alta nos juros americanos, a pressão sobre os emergentes vai continuar.
Os episódios de queda nas moedas emergentes de 2011 e 2015 foram provocados por crises de confiança — um “shutdown”, ou paralisia da máquina pública americana por conta de seu déficit orçamentário, em 2011; e a supresa com uma desvalorização do yuan pela China em 2015. Em 2013 e 2016, os movimentos de queda nas moedas emergentes ocorreram em meio à alta nos títulos americanos. 

Então, quais são os fatores que estão por trás do movimento atual?
1. Fim de um ciclo
A era do otimismo com os mercados emergentes, iniciada em 2000, terminou. Mas isso não quer dizer que as crises cambiais profundas da década de 1990 (quando houve a crise asiática, a crise russa e a maxidesvalorização do real) tenham voltado.
2. Diferenças entre emergentes
Há dois tipos de moedas de economias emergentes. Os países com grande déficit nas contas externas perdem terreno quando há estresse nos mercados e raramente conseguem restaurar sua estabilidade. As economias com superávit externo sofrem menos.
3. Pouco avanço nas reformas
É muito difícil encontrar uma história bem-sucedida de reformas nos países emergentes. Houve brechas de otimismo na Argentina, no Peru, no Brasil, no México e na Índia recentemente, mas os movimentos foram efêmeros. Houve esperança de que a Primavera Árabe fosse impulsionar a economia a reforma política. Mas esses esforços não avançaram. O apelo de governos autoritários tem crescido e o clima para reformas, piorado.
4. Países ricos não ajudam
As condições econômicas no G-10, grupo de países mais ricos do planeta, não são favoráveis. A partir do fim da década de 1990, as economias da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômica, conhecida como o “clube dos ricos”) vinham, em conjunto, registrado déficits nas contas externas cada vez maiores. O reverso da moeda desse movimento era um aumento no superávits externos dos países emergentes. Isso mudou desde 2008, com os países ricos, agora, apresentando superávit externo. É pouco provável que o ritmo de expansão dos países da OCDE permita às economias emergentes recuperarem, em conjunto, um superávit nas contas externas.
5. Novo padrão tecnológico
Fatores estruturais estão jogando contra os países emergentes. O cenário mais favorável para economias emergentes é quando os países ricos crescem rapidamente e esta expansão é intensa no consumo de commodities ou produtos de baixa ou média intensidade tecnológica. No entanto, a economia global tem migrado para os serviços ou a indústria baseada em serviços. Para países em desenvolvimento, seria muito melhor se o consumo nas nações ricas subisse pela compra de sapatos, camisetas ou televisores. Mas o aumento da demanda tem sido puxado por lazer, saúde e educação.
Houve um tempo em que se acredita que a reforma tributária e outros fatores estruturais levariam a um crescimento forte e baixa inflação nos EUA; a China abriria sua economia de forma mais intensa, e a Europa seguiria crescendo. Mas não há mais essa esperança. Havia um outro cenário que previa que reformas políticas e econômicas levariam a um crescimento orgânico nos países emergentes. Isso se tornou ainda mais distante. Se não contarmos com a sorte, tudo indica que as pressões sobre os emergentes vieram para ficar.


Steven Englander é chefe de pesquisas e estratégia da Rafiki Capital - O Globo

terça-feira, 1 de setembro de 2015

Dólar comercializado a 4 reais nas casas de câmbio




Dólar vai as alturas com preocupações com China e quadro fiscal

Moeda já está sendo comercializada a 4 reais nas casas de câmbio; Ibovespa registra perdas acima de 2%

O dólar voltou a subir nesta terça-feira, chegando a ser cotado a 3,70 reais, pela primeira vez desde 2002. A moeda americana reage à aversão ao risco no exterior - com os dados frustrantes sobre a indústria na China e em outros países - e também à deterioração fiscal evidenciada na proposta orçamentária entregue nesta segunda-feira pelo governo Dilma ao Congresso. Às 16:15, o dólar avançava 1,86%, a 3,6945 reais na venda, após encerrar agosto com alta de 5,91% e acumular no ano valorização de 36%. Na máxima do dia, a divisa norte-americana alcançou 3,7040 reais, maior nível intradia desde 13 de dezembro de 2002 (3,7750 reais).


O setor industrial da China registrou, em agosto, uma queda maior que a prevista pelos analistas, sinalizando contração da atividade, segundo o índice dos gerentes de compra (PMI) oficial. Os PMIs da Índia e da Rússia também caíram consideravelmente no mês passado. Com isso, as bolsas da Europa amargam o sinal negativo, assim como os índices futuros em Nova York. Segundo analistas, o ajuste externo reflete o crescente temor de que a desaceleração além do esperado da economia chinesa prejudique o crescimento global e reduza as perspectivas de inflação, o que poderia levar a um adiamento do início do ciclo de alta nos juros nos Estados Unidos.


Na segunda-feira, o dólar terminou cotado a 3,6271 reais na venda, alta de 1,17%. A alta foi motivada por preocupações com a situação fiscal do país, após o governo prever um déficit de 30,5 bilhões de reais no Orçamento em 2016, o que representa 0,5% do PIB. A expectativa de rombo reforça a frustração de agentes econômicos com a condução do ajuste fiscal e agrava preocupações com a perda do grau de investimento do país.


Em relatório intitulado "Admitindo a Derrota", a estrategista para a América Latina do grupo financeiro Jefferies, Siobhan Morden, afirmou que, ao admitir déficit primário para o ano que vem, o governo "completamente paralisa o processo de ajuste". Ela ressaltou ainda que eventual saída do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, do governo não seria mais uma surpresa tão grande quanto há alguns meses.



Turismo - Em algumas casas de câmbio o dólar turismo ultrapassa os 4 reais. Nesta tarde, ele era oferecido a 4,05 reais no cartão pré-pago na AGK Corretora, e a 4,14 reais, na mesma modalidade na Ourominas. Em espécie, a moeda era comercializada a 3,87 reais na AGK e a 3,91 na Ourominas. Nas casas de câmbio o dólar é mais caro, pois inclui cotação, impostos e taxas.


Bovespa - O Ibovespa, o principal índice da bolsa de valores de São Paulo (Bovespa), caía a 2,75% por volta das 16h06, puxado pelas ações da Petrobras e da Gol. O indicador acompanha a queda nos mercados acionários no exterior, onde o investidor foge dos ativos de risco de países emergentes. A piora dos fundamentos econômicos do Brasil com a previsão de orçamento deficitário e as incertezas no campo político também influenciam a bolsa.


Fonte: Revista VEJA