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segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Qual ano? - Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

Há um sincero desejo de que as coisas melhorem, deixando infortúnios para trás. Que assim seja

Um ano foi encerrado e outro se inicia sem que tenhamos ao certo uma linha divisória entre um e outro. Talvez por décadas seja esta uma experiência única, pois a sensação do não acabou ainda ou a pergunta de quando esse ano de 2020 vai terminar persistem. A humanidade foi severamente atingida por uma pandemia que segue ceifando vidas, as pessoas, acossadas, não sabem mais como responder. Algumas adotam a atitude de estar cansadas e decidem pela imprudência e pela doença, quiçá a morte, enquanto outras procuram se proteger. Vida e morte se entrelaçam de outra maneira, com esta última avançando.

Sinais de vida são fortalecidos mediante uma frenética e, parece agora, bem-sucedida busca por vacinas. Num esforço global gigantesco, 12 meses foram suficientes para que novas formas de combate à covid-19 fossem descobertas. [é isto que assusta; as vacinas contra a covid-19 são desenvolvidas quase que no improviso - medicamentos maravilhosos foram desenvolvidos muitas vezes por consequência do acaso, as vezes até de um erro - a penicilina, um dos melhores antibióticos, foi descoberta em função do surgimento de um 'mofo',  que não era previsto, nem buscado.
Mas, não podemos olvidar que um tempo inferior a um semestre, pode ser muito pouco para descobrir uma contra indicação, efeitos colaterais negativos  e ainda não se sabe qual o período de eficácia dos imunizantes e por aí vai. 
Aqui no Prontidão Total a maior parte - somos na maioria, antigos - colhemos beneficios fantásticos das vacinas,mas uma de desenvolvimento mais rápido, a do sarampo, levou quatro anos... . Nos tempos atuais tudo é rápido, só que a natureza tem seu tempo, que não se destaca pela pressa.]    Sinais de morte também encontraram o seu caminho, com governantes irresponsáveis menosprezando a doença, deixando as pessoas morrerem aos milhares. A irresponsabilidade do governo Bolsonaro é gritante, com 200 mil pessoas nos abandonando definitivamente. Nem numa guerra morrem tantas pessoas e, contudo, nem combatentes temos. [de 1º janeiro 2020 a 15 de outubro, morreram no Brasil vitimas de problemas cardiovasculares pouco mais de 350.000 brasileiros. Em período equivalente de 2019 morreram mais 175.000 brasileiros e brasileiras de doenças respiratórias - tuberculose, enfermagem, a gripe tradicional.
O câncer, doenças do aparelho digestivo e muitas outras continuam e continuarão matando implacavelmente.
Infelizmente, muito provavelmente um castigo divino - para mostrar ao mundo,  que determinada prática ser permitida pela Constituição de um país,  autorizada por um colegiado de 'supremos' de outra nação, ter o aval de uma ONU ou similar, continua sendo pecado perante as leis de DEUS - o SUPREMO, o ABSOLUTO, o INFINITO, o TODO, o ETERNO.]

Zeram-se os impostos para importação de armas como se se tratasse de uma prioridade nacional, suponha-se, então, para dar uns tiros no coronavírus. Este, porém, não se deixa abater pelos discursos demagógicos. Quanto mais se atira nele dessa maneira, mais se espraia. No seu íntimo, deve estar rindo de nossos governantes. Os verdadeiros tiros, que seriam uma política responsável de combate à pandemia, encontram-se estranhamente ausentes.

O espetáculo nacional é deprimente! Cenas pelo mundo mostram pessoas sendo vacinadas, enquanto as estatísticas da morte em nosso país só aumentam. Um mínimo de bom senso ensejaria a pergunta: por que pessoas são lá vacinadas, enquanto aqui vivemos de uma verborragia de quinta categoria?

Lá fora, em países minimamente responsáveis, quase em outro planeta, e já se contam às dezenas, as campanhas de vacinação começaram. Não importa que seus governantes sejam de direita ou de esquerda, o que deve ser levado a sério é a vacina e as medidas de precaução no combate à doença. Dizendo uma obviedade: as pessoas lutam pela vida, não fazem encenações macabras, como se morrer por descaso fosse normal.

O presidente Bolsonaro, em seus dois anos de mandato, alinhou-se ao presidente Trump e ao primeiro-ministro Netanyahu. Ora, o que fizeram esses governantes? Lançaram grandes campanhas de vacinação, deram prioridade à vida, tudo fazendo para que as pessoas possam proteger sua saúde. Não lhes importou a origem das vacinas, contanto que deem resultados. Pessoas sendo vacinadas, governantes dando o exemplo, nenhum negacionismo! Será que o nosso presidente não poderia alinhar-se a essas políticas, seguindo-as?

Se continuarmos nesse diapasão, a única imunidade que vamos adquirir será a de rebanho, o que levaria pelo menos mais 12 meses. Será que é isso que merecemos, ser tratados como rebanho? Se isso persistir, talvez nos reste procurar uma sociedade de proteção dos animais!

A situação chega às raias do absurdo. O presidente Bolsonaro e o governador Doria polemizam sobre a eficácia de vacinas pelos meios de comunicação. A luta pela vacina tornou-se uma guerra publicitária, não de saúde! Nem um nem outro seguem os protocolos científicos. Para que se comprove a eficácia de uma vacina, há etapas a serem cumpridas, dentre as quais, ressalte-se, a divulgação do relatório de pesquisa com a conclusão de sua fase 3, a publicação dos resultados por uma revista cientificamente reconhecida, submetida a pares independentes, e a submissão de todos esses documentos a uma agência reguladora.

Foi o feito pela Pfizer/BioNTech e pela Moderna, a partir do que, com segurança, começaram as aplicações. Aqui, no Brasil, a vacina da Sinovac/Butantan não cumpriu ainda esses procedimentos, no entanto, o começo de uma campanha de vacinação já foi anunciado! Na verdade, só tivemos anúncios sendo sistematicamente postergados. [nenhum dos procedimentos para glamorizar a vacina chinesa, Sinovac/Butantan, foi promovido ou apoiado pelo Governo Federal. A campanha de vacinação a ser iniciada contará com vacinas a cargo, prioritariamente, da Fiocruz. Os inimigos do Brasil dizem que o Programa Nacional de Imunização não possui seringas nem agulhas, já estão disponíveis mais de 15.000.000 de tais insumos, mas do que suficientes para iniciar com folga o processo de vacinação.]  Melhor não fazer campanha publicitária nenhuma, pois essa já é suficientemente contraproducente! A AstraZeneca/Fiocruz, embora divulgue com maior rigor os seus resultados, apenas agora conseguiu a sua aprovação na agência inglesa, abrindo caminho para a sua aplicação, após erros metodológicos em sua terceira fase. [erros que foram percebidos e sanados e ser aprovada pela agência inglesa a coloca em patamar idêntico ao da Pfizer,Moderna - com facilidades derivadas de uma logística mais fácil.]  A Anvisa, até agora, não recebeu a documentação completa dessas respectivas pesquisas. Logo, evidentemente, não pode ser responsabilizada por nenhum atraso. O resto é campanha publicitária e luta política.

Em mudanças de ano, habitualmente desejamos um feliz ano novo, expressando com isto um sentimento de amor e de fraternidade.  
Uma esperança sempre se faz presente, mesmo em modos aparentemente formais. 
Há um sincero desejo de que as coisas melhorem, deixando eventuais infortúnios para trás. 
Que assim seja, e oremos, talvez sem muita confiança, para que nossos governantes tomem juízo! Está difícil...

Denis Lerrer Rosenfield, Professor de filosofia - O Estado de S. Paulo