Blog Prontidão Total NO TWITTER

Blog Prontidão Total NO  TWITTER
SIGA-NOS NO TWITTER
Mostrando postagens com marcador Ave-Maria. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Ave-Maria. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 21 de abril de 2021

O lockdown da elite - Revista Oeste

J. R. Guzzo

Os governadores e prefeitos, como sempre, não levam em conta que a maioria da população brasileira é pobre. Por que iriam perceber agora, se nunca perceberam?

A política escolhida um ano atrás pelas “autoridades locais” para tratar da covid, caso se possa chamar de “política” o aglomerado de decisões tomadas ao acaso, no pânico e com uma burrice difícil de encontrar mesmo no secular histórico de incompetência do poder público no Brasil, é um hino à elite deste país. 
Talvez nada resuma de modo tão perfeito essa opção de enfrentar uma epidemia mortal pensando o tempo todo na porção mais rica, mais privilegiada e mais protegida da sociedade brasileira do que a oração suprema da “gestão” da covid: “Fique em casa”. É o Padre-Nosso e a Ave-Maria do “distanciamento social”, a única ideia que passou até agora pela cabeça dos que foram encarregados pelo STF de combater a covid — e que conseguiram, até agora, somar mais de 350 mil mortos (170 mil apenas neste ano), destruir a economia brasileira e arruinar milhões de vidas.
“Fique em casa”? Como alguém que precisa trabalhar todos os dias para sustentar a si ou à sua família pode “ficar em casa”? É um dos grandes clássicos de todos os tempos em matéria de atitude elitista diante da vida: “Vamos adotar a regra que seja melhor para nós; fora do nosso mundinho não existe nada, nem ninguém, que possa interessar.”  
É a convicção religiosa, arrogante e autoritária de quem se dá ao direito de decidir sobre a vida social no Brasil de hoje — com o apoio quase integral da mídia, das classes intelectuais e de tudo o que descreve a si próprio como “campo progressista”.  
 
Mas as pessoas que não pertencem à elite, essa elite que já está com a vida ganha, simplesmente não podem ficar em casa: não podem, ponto-final. 
São obrigadas a utilizar diariamente o transporte público; só em São Paulo, e só no sistema de metrô e de trens metropolitanos, são cerca de 8 milhões de passageiros por dia. Precisam abrir seus negócios para sobreviver, para pagar aos funcionários e para pagar as verbas rescisórias quando são obrigados a demitir esses funcionários. Precisam, em resumo, ir ao trabalho — inclusive para fornecer à minoria que tem o privilégio de fazer “distanciamento social” a alimentação, os remédios, os serviços de água encanada, luz elétrica e gás de cozinha, o delivery e tudo o mais que a elite confinada precisa e deseja 24 horas por dia.
Desde o primeiro decreto que os governadores e prefeitos, mais os seus secretários, médicos-burocratas e gerentes de marketing, baixaram na sua tentativa de “gerir” a covid, tudo foi feito para a minoria que forma a elite. 
Você sabe muito bem quem são eles — os ricos em geral e a classe média alta das cidades, em primeiro lugar. 
A maioria dos 12 milhões de funcionários públicos.  
(Os policiais, enfermeiros ou agentes da alfândega, por exemplo, continuam pegando no pesado todos os dias; para eles, e muitos outros, não há os luxos do home office.) 
Executivos de multinacionais, de bancos e de grandes empresas. Professores públicos e particulares. 
Cem por cento dos intelectuais, políticos e magistrados. Em suma: todos os que não precisam comparecer diariamente ao local de trabalho para ganhar salário ou prover a própria renda. 
É neles, e só neles, que as “autoridades locais” pensam dia e noite; são eles o público-alvo, e único, das entrevistas coletivas quase diárias que os governadores, os prefeitos e os seus “cientistas” dão em seu cenário de máscaras fashion e adereços variados de propaganda — tudo pago com o dinheiro da maioria, por sinal. (Só o governador João Doria, até agora, deu 200 entrevistas sobre o assunto; São Paulo, com 85 mil mortes, é o maior cemitério da covid em todo o Brasil, até porque é o Estado mais populoso.)
Para a elite que vai de luva ao supermercado e está preocupada em pegar covid no botão do elevador, as “autoridades locais” garantem que estão cortando o transporte público, para ver se forçam a pobrada a viajar menos; em São Paulo, já conseguiram eliminar 40% da frota de ônibus. [em Brasília,  o secretário de uma tal de mobilidade urbana, palavra que define a mobilidade que não se move, indagado pela imprensa como impedir aglomeração no transporte público, apenas respondeu: "a população deve evitar o transporte público". Lógico que o ENGANÊS, alcunha merecida do ainda governador do DF,  ,pelas promessas não cumpridas do DF, pensou em demiti-lo. Desistiu - poderia até perder o cargo...E, agora os marajás do metrô do DF, o metrô que consegue gastar o maior valor no planeta Terra para transportar passageiro x km2, criaram uma greve. 
Descobriram que tem uns horários e trechos em que os passageiros estão desobedecendo a regra primeira: fique em casa, mas sempre que possível se aglomere, especialmente no transporte coletivo.] 
Asseguram que a polícia está em cima da lojinha de bairro que pode, quem sabe, carregar o vírus até as coberturas. Os fiscais também estão ligadíssimos a tudo — aliás, esta é uma época de ouro para os fiscais, e para os chefes dos fiscais
Mandam prender, algemar e agredir quem vai à praia; querem reprimir o ar livre. Vendedor ambulante, que não tem onde cair morto? Nem pensar. Cogitam em cortar a venda de carvão para impedir o churrascão na laje — e, com isso, evitar que o vírus viaje até os bairros bons. Proíbem a venda de vassouras, panos de prato e raladores de queijo nos supermercados, e dizem que assim haverá menos gente disputando espaço nos corredores com a turma do “trabalho a distância”. Vetam a entrada do povo nas cidades: para eles, só quem tem casa de praia e de campo precisa ir do ponto “A” ao ponto “B” e, neste período em que a elite consciente, a favor da vida e socialmente responsável está evitando “deslocar-se” (ou permanece trancada nos lugares para os quais se mudou), o povão não tem nada de ficar andando de um lugar para o outro. As escolas têm de continuar fechadas para proteger a saúde dos professores e funcionários. E por aí vamos, até o infinito.

O estado da arte em matéria de incompreensão sobre como vive o Brasil real é a obsessão dos governadores, dos prefeitos e de seus comissários pelo “trabalho remoto”. Todas as vezes em que falam da epidemia, insistem na necessidade de valorizar o “escritório virtual” e de trabalhar “em casa”; não conseguem mudar de ideia nem de assunto. Não lhes ocorreu até agora, com um ano e tanto de covid, que a imensa maioria da população brasileira simplesmente não pode fazer home office tem de guiar ônibus, pendurar-se no poste de luz, carregar batata para o mercado, atracar navios no cais do porto e um milhão de outras coisas. Ou se faz isso, ou o país morre. Não entendem, de jeito nenhum, que o Brasil não é a Holanda; não admitem que é impossível fazer aqui exatamente o que se faz lá.

Nas periferias, não há entrevista com “cientista” nem editoriais contra o “genocídio”
É extraordinário que o comissário-chefe da covid em São Paulo tenha dito, na frente de todo mundo, que não estava “satisfeito” com a conduta dos cidadãos em matéria de transporte público — disse, com todas as letras, que há gente “demais” no metrô. Estão de tal forma fanatizados pelo “distanciamento social” que nem percebem mais quanto o seu discurso está ficando elitista, irreal ou apenas estúpido quando falam na epidemia. Tanto não percebem que deram, ultimamente, para jogar em cima da população a culpa por ficar doente
As pessoas não deveriam se aglomerar. Teriam de ficar mais “em casa”. Deveriam usar duas máscaras ao mesmo tempo, uma em cima da outra.
Após mais de 350 mil mortos e com taxas de infecção cada vez mais altas, as “autoridades locais” continuam convencidas, desesperadamente, de que o confinamento radical e o “fecha tudo” são as respostas mais corretas para a covid; quanto mais os seus métodos dão errado, mais elas insistem em continuar repetindo o que fazem. Como pode dar certo, se aplicam métodos iguais na esperança de obter resultados diferentes? 
O ciclo é aquilo que os norte-americanos chamam de no win situation. Fecham cada vez mais. Morre cada vez mais gente. Fecham mais ainda. É, também, a melhor tradição da elite brasileira a mesma que faz o país combater a seca com um Departamento Nacional de Obras contra a Seca, ou tratar o desastre mortal da educação pública dando cada vez mais dinheiro às universidades. É muito simples: veja, em todas as soluções preferidas pelos governos, quem ganha e quem perde. Só ganham os ricos, os aproveitadores do atraso e os ladrões de dinheiro público. A “gestão” da covid não é nem um pouco diferente.
O “distanciamento social” em São Paulo, para ficar na calamidade número 1 da epidemia no Brasil, só dá certo nos Jardins, em Higienópolis e no Itaim. Funciona também no Morumbi, é verdade, mas atenção — só na parte boa do Morumbi. A 100 metros das casas e dos apartamentos da classe média alta (e dali para cima), entre os 100 mil cidadãos que se aglomeram na favela de Paraisópolis uma das concentrações demográficas mais altas do Brasil o pau canta. 
 
Ali não há governo. Não há entrevista com “cientista” nem editoriais contra o “genocídio”. O “distanciamento social”, tão precioso na hamburgueria da Faria Lima, é equivalente a três vezes zero. 
É assim ali e é assim nas quebradas da São Paulo real, onde vivem 70% dos 12 milhões de habitantes do município e onde os sermões sanitários, morais e cívicos do comissariado de vigilância da quarentena não querem dizer nada
A título de ilustração, sugere-se uma visita ao Rodoanel, um favelaço contínuo e a olho nu que se estende, quase sem interrupção, por mais de 130 quilômetros nos dois sentidos da estrada — através de 16 municípios da área metropolitana, nos três trechos que foram construídos até agora. É lá que está a São Paulo de verdade — não a São Paulo de Doria, dos seus gerentes de covid e dos seus especialistas em comunicação social.
Os governadores e prefeitos, como sempre, não levam em conta ao baixarem as suas ordens que a maioria absoluta da população brasileira é pobre. Por que iriam perceber agora, se nunca perceberam? Receberam todo tipo de poder possível para combater a epidemia — inclusive o direito de expropriar imóveis, o de suprimir as liberdades de reunião, de ir e vir e de comércio, o direito de fechar igrejas e o de fazer compras sem licitação
Não foram incomodados, nem por um minuto, pela mídia ou pelo Ministério Público nos escândalos de corrupção que pipocam sem parar desde que receberam do STF a autonomia completa no trato da covid, sem nenhuma interferência do governo federal. Há mais de um ano, aliás, esse governo só serve para liberar verbas — que podem ser gastas sem prestação de contas pelas “autoridades locais”. Por que elas iriam querer outra vida?
É justamente nisso, por sinal — comando total, responsabilidade zero —, que está uma das marcas mais agressivas do elitismo radical que torna a vida pública no Brasil a calamidade que ela é
Plenos poderes para os governos estaduais e municipais quer dizer, na prática, plenos poderes para a elite. 
O que existe de mais elitista no Brasil do que uma “autoridade local”? Pense dois minutos no governador Doria, naquele outro que escolhe o que a população pode comprar no supermercado, ou nos senhores de engenho que governam os Estados do Nordeste
Mais elite que isso? 
Ou, fazendo outra pergunta: quanto, exatamente, você confia nessa gente? Acha, mesmo, que eles têm competência para tomar decisões que podem arrasar com a sua vida?
O fato, impossível de ser negado em qualquer sistema lógico de pensamento, é que a covid foi a primeira ameaça real, direta e imediata que a elite brasileira viveu em seus 520 anos de história
Saúde pública, até então, era problema do povão, só dele — portanto, que se danem o problema e o povão, como ficou provado pelo estado lamentável apresentado no início da pandemia pelos hospitais que se destinam a atender 90% da população do Brasil. Saúde pública? 
O que a elite protegida por planos médicos privados tem a ver com isso? E, se a elite nunca deu a mínima para a questão, por que raios algum governo, local, nacional ou universal, haveria de dar? 
O resultado é que, ao tornar-se um problema para os ricos e para a classe média, a covid passou a ser tratada como prioridade sacrossanta — e com soluções voltadas unicamente para o interesse das elites. Os demais que se arranjem — e os que não conseguem se arranjar, na cabeça dos “gestores” da epidemia, podem ir para o diabo que os carregue. É o Brasil da covid. É o Brasil de sempre.
[duas notas: surpresas podem surgir onde menos são esperadas. A CPI da covid, criada por determinação expedida por um ministro do STF mandando o presidente de um dos Poderes da República, tinha um alvo. 
Só que se esse alvo escorregar e outros forem alcançados? 
Quanto a conceder poderes totais as autoridades locais para combater à covid, é a porta principal para compras sem licitações, contratações de 'institutos' para gerir o combate à pandemia = ainda que metade dos gastos totais seja apenas para gerir os tais institutos.
E qual a razão de na metade do fim da 'primeira onda' da covid-19, começarem à desativação dos 'hospitais de campanha'?agora, estão sendo montados com o dobro do tempo e de custos.
Pessoal, tudo isso pode ser investigado e muitas vezes uma CGI custa menos e é mais rápida que uma CPI.]

Leia também “Loquidau, a hipnose”

J. R. Guzzo, jornalista - Coluna na Revista Oeste

 

sexta-feira, 24 de julho de 2020

DA SÉRIE GRANDES LOROTAS: A VISÃO DE MUNDO MARXISTA - Percival Puggina


 Assim como existem males que vêm para o bem, há mentiras que servem para estabelecer verdades. Todo marxista (refiro-me, aqui ao ativista da causa e não àquele que lê Marilena Chauí, bebe sua vodca e põe a revolução para dormir com um ursinho de pelúcia) – todo marxista repito, tem absoluta convicção de sua superioridade intelectual e moral.

Para entender as razões da nuvem de gafanhotos que caiu sobre o trabalho humano e sobre a economia no combate à covid-19, pense no modo como vêm sendo tratados entre nós os crimes contra o patrimônio. É extremamente didático fazê-lo. Mesmo uma ligeira busca no Google evidenciará que, em diferentes pontos do país, a pandemia fez decrescer muito o número de furtos e roubos. Vale dizer, os criminosos “contra o patrimônio” respeitam mais o vírus do que a lei, que é branda e aplicada a eles com brandura por uma justiça que atenua tais delitos.

No entanto, na vida fora dos livros mal pensados, o cidadão que sai à rua é caça, pronto para ser caçado por uma multidão de ladrões mantidos soltos malgrado serem frequentadores assíduos das carceragens. Há braços da justiça recolhidos, romantizando esse tipo de ação que seria cometida por alguém buscando com as próprias mãos dar materialidade à justiça. Não importa se a sociedade se percebe como caça, acossada por caçadores à espreita, nem que os cidadãos, a cada ato desses, temam pela própria vida e pela vida dos seus. É um roubinho, um furtinho, uma saidinha de banco, que se perdoam com um Pai-nosso e duas Ave-Marias. O diminutivo ajuda a minimizar atribuindo valor apenas ao bem alheio, tomado ou furtado. “São só bens materiais!”, alegam, num generoso desprendimento em relação ao que é dos outros...

Só que não! 
Essa atitude finge desconhecer que por trás de cada bem há um ser humano agredido, ameaçado, em pânico, ferido em sua dignidade. 
Que uma anciã foi furtada de sua aposentadoria. 
Que os negócios do proprietário estavam no notebook que lhe tomaram. Que a senhora de quem levaram a bolsa gastará horas e horas de diligências para recompor a própria identidade. 
Que com o carro levaram uma poupança de muitos anos. 
Pecaminosa indulgência! assim pensam, escrevem, ensinam, convictos de manterem para com a humanidade uma relação de amor e de que o ser humano só pode ser realmente amado num estado comunista. 

Não ria que eles ficam aborrecidos. A suposta beatitude impulsionada pela superioridade moral desse amor não sofre qualquer abalo ante o fato de toda experiência nesse sentido ser um flagelo de muitas dimensões. Uma eterna nuvem de gafanhotos se instala sobre a economia. 
Uma corte de privilegiados malfeitores se instala no poder
Uma sequência de genocídios se faz necessária para que a sociedade se submeta a seu miserável papel na história. É assim, sempre, nas muitas dimensões dessas experiências. A liberdade individual é sempre capturada na portaria do sistema. “Sua loja está sendo fechada, senhor!”.
Chegamos, então, à momentosa questão das empresas (e dos empregos); da atividade econômica e do trabalho humano. A interpretação marxista comete em relação ao enfrentamento ao novo coronavírus o mesmo equívoco, distinguindo a dimensão material da atividade econômica dos seres humanos concretos sem os quais ela sequer existe. Aqui, o Estado age como o ladrão.

É a mesma ideologia que Marx bebeu de canudinho em Proudhon, para quem a propriedade privada é o roubo. Ora, se a propriedade é apenas um bem material e é, além disso, um roubo, são supérfluos os interesses nela envolvidos.
Então, fecha tudo e vamos cuidar da mídia.


Percival Puggina (75), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.]