Equívocos do governo na Saúde dificultam combate à doença que já matou mais de 30 mil pessoas
‘Eu
lamento todos os mortos, mas é o destino de todo mundo”, disse o
presidente Jair Bolsonaro, na manhã de terça-feira, ao responder a uma
apoiadora que pedira uma palavra para as famílias que perderam parentes
em consequência da Covid-19. Naquele dia, o Brasil romperia a marca dos
30 mil óbitos. Os números trágicos da Covid-19 no Brasil — que já
é o segundo país com maior número de casos, atrás dos EUA —, porém,
estão longe de ser uma fatalidade. Refletem a sucessão de equívocos do
governo Bolsonaro, e também de governadores e prefeitos, no
enfrentamento do novo coronavírus.
[Alguns órgãos de imprensa começam a tentar 'vender' a tese que o presidente Bolsonaro é responsável pelas mortes causadas pela Covid-19 - O Globo neste Editorial faz uma ressalva, digamos, 'meia boca', mas que é melhor que nada - mas mas grande parte da mídia finge desconhecer, ou não lembrar, que o STF deu autonomia aos governadores e prefeitos para assumirem a frente no combate à pandemia - com isso impedindo o presidente Bolsonaro de agir, já que qualquer ação do presidente representaria descumprir determinação judicial.
Só que os designados administradores supremos da crise não estão conseguindo administrar a saída do isolamento e, infelizmente, a curva continua subindo.
Só que os designados administradores supremos da crise não estão conseguindo administrar a saída do isolamento e, infelizmente, a curva continua subindo.
Até a OMS conspirou contra o presidente - proibiu a cloroquina e esta semana recuou cancelando a proibição.
Oportuno ler este artigo que esclarece as razões que impediram Bolsonaro de combater de forma efetiva à Covid-19.]
Bolsonaro tratou uma das mais letais pandemias da História como “gripezinha”, que não apresentaria maiores riscos para pessoas jovens e saudáveis. A doença infectou mais de 550 mil e pôs o país entre os quatro com maior número de mortes (atrás de EUA, Reino Unido e Itália). Em óbitos diários, o Brasil assumiu indesejável liderança. Desde o início, Bolsonaro adotou discurso divergente do Ministério da Saúde de seu próprio governo. Enquanto a pasta defendia o isolamento para atividades não essenciais, o presidente criticava as quarentenas e dizia que as medidas de restrição eram um exagero.
A gestão do Ministério da Saúde durante a pandemia é talvez o melhor retrato do modo errático como Bolsonaro conduziu o combate à doença. Em plena fase de aceleração, demitiu o ministro Luiz Henrique Mandetta — cujo trabalho era aprovado pela população, segundo pesquisas de opinião — e levou o substituto, Nelson Teich, a pedir exoneração com menos de um mês no cargo. Os dois não resistiram às interferências de Bolsonaro em assuntos técnicos, como a liberação do novo protocolo da cloroquina, contra todas as evidências científicas, que apontam ineficácia do medicamento contra a Covid-19 e aumento do risco de mortes. [atualizando: a OMS proibiu o uso da cloroquina, só que recuou e com isso liberou - com a ressalve de que não existe nada que comprove sua eficácia, como preventivo, deixando implícito (deve ter custado muito àquela onerosa instituição voltar atrás em uma recomendação) nada haver contra.]
Com a efetivação ontem de Eduardo Pazuello como ministro interino da pasta, após 18 dias no cargo, o Brasil passou a ter três ministros da Saúde em menos de dois meses. Quando Mandetta saiu, o país registrava 1.924 mortes. Na terça, eram 31.199, o que representa um aumento de mais de 1.500%. [óbvio que os números cresceram após a saída de Mandetta - que ocorreu o país estava nos primeiro dias da pandemia (pouco mais de um mês) sendo normal, apesar de indesejado,um período de crescimento até que se alcance o desejado achatamento da curva.]
Evidentemente, governadores e prefeitos, que protagonizam o combate mais direto à pandemia, com autonomia dada pelo STF para decretar medidas de restrição, também têm suas digitais nesses números. Mesmo podendo contratar sem licitação numa situação de calamidade, não conseguiram adequar suas redes para receber a avalanche de doentes. Mas Bolsonaro não pode se eximir de responsabilidade, e muito menos falar em destino. [O destaque de dois pontos, se impõe:
Bolsonaro tratou uma das mais letais pandemias da História como “gripezinha”, que não apresentaria maiores riscos para pessoas jovens e saudáveis. A doença infectou mais de 550 mil e pôs o país entre os quatro com maior número de mortes (atrás de EUA, Reino Unido e Itália). Em óbitos diários, o Brasil assumiu indesejável liderança. Desde o início, Bolsonaro adotou discurso divergente do Ministério da Saúde de seu próprio governo. Enquanto a pasta defendia o isolamento para atividades não essenciais, o presidente criticava as quarentenas e dizia que as medidas de restrição eram um exagero.
A gestão do Ministério da Saúde durante a pandemia é talvez o melhor retrato do modo errático como Bolsonaro conduziu o combate à doença. Em plena fase de aceleração, demitiu o ministro Luiz Henrique Mandetta — cujo trabalho era aprovado pela população, segundo pesquisas de opinião — e levou o substituto, Nelson Teich, a pedir exoneração com menos de um mês no cargo. Os dois não resistiram às interferências de Bolsonaro em assuntos técnicos, como a liberação do novo protocolo da cloroquina, contra todas as evidências científicas, que apontam ineficácia do medicamento contra a Covid-19 e aumento do risco de mortes. [atualizando: a OMS proibiu o uso da cloroquina, só que recuou e com isso liberou - com a ressalve de que não existe nada que comprove sua eficácia, como preventivo, deixando implícito (deve ter custado muito àquela onerosa instituição voltar atrás em uma recomendação) nada haver contra.]
Com a efetivação ontem de Eduardo Pazuello como ministro interino da pasta, após 18 dias no cargo, o Brasil passou a ter três ministros da Saúde em menos de dois meses. Quando Mandetta saiu, o país registrava 1.924 mortes. Na terça, eram 31.199, o que representa um aumento de mais de 1.500%. [óbvio que os números cresceram após a saída de Mandetta - que ocorreu o país estava nos primeiro dias da pandemia (pouco mais de um mês) sendo normal, apesar de indesejado,um período de crescimento até que se alcance o desejado achatamento da curva.]
Evidentemente, governadores e prefeitos, que protagonizam o combate mais direto à pandemia, com autonomia dada pelo STF para decretar medidas de restrição, também têm suas digitais nesses números. Mesmo podendo contratar sem licitação numa situação de calamidade, não conseguiram adequar suas redes para receber a avalanche de doentes. Mas Bolsonaro não pode se eximir de responsabilidade, e muito menos falar em destino. [O destaque de dois pontos, se impõe:
- nada adiantava Bolsonaro ter chegado a um plano eficaz no MS sem poder aplicar, visto a decisão do Supremo ao conceder autonomia a governadores e prefeitos;
- fica claro, quando o presidente fala em destino, se refere a que a morte é o destino de todos - mais dia, menos dia, ela chegará a todos.]
Se o governo tivesse um discurso coeso, se a gestão da Saúde não
enfrentasse tantos solavancos, se o país mantivesse uma política
sanitária consistente, e mais comprometida com a Ciência, talvez o
panorama hoje não fosse tão sombrio.
Editorial - Jornal O Globo