Entre mudanças de regulação que o abalo neste mercado força está o fim do regime de partilha no Brasil
O rumo da indústria mundial de petróleo começou a ser esboçado nos
resultados das maiores empresas do setor nos Estados Unidos e na Europa
durante o primeiro trimestre. As cinco maiores produtoras dos EUA e da
Europa preveem cortes de custos em torno de 23% nos próximos meses, além
de redução drástica em dividendos e suspensão parcial de produção.
Shell, Exxon, Chevron, Total e British Petroleum perderam valor de
mercado nos três primeiros meses do ano. O lucro da BP entre janeiro e
março caiu 67% (para US$ 800 milhões). No Brasil, a Petrobras divulga
resultados na quinta-feira.
Nada indica uma recuperação do setor nos próximos meses. Há excesso de
estoques, guerra de preços e a pandemia do novo coronavírus só começou a
ter impacto econômico fora das fronteiras da China a partir de meados
de fevereiro. A Petrobras já paralisou 62 plataformas. Ao colapso nos
preços soma-se uma queda de 30% no consumo global devido à pandemia.
Sobra petróleo em terra e no mar. Os EUA começam esta semana com 85% de
ocupação do armazenamento terrestre, além de manter navios carregados
com 20 milhões de barris ancorados na costa oeste, segundo a consultoria
francesa Kpler. A Petrobras já reduziu sua produção em 23 mil
barris/dia e, talvez, precise ir além, porque o frete para exportação
subiu muito. Para portos chineses, por exemplo, aumentou de US$ 3 para
US$ 11 por barril no espaço de 12 meses — e esse nível de custo supera o
de extração em alguns campos brasileiros. O preço de referência
mundial, o do óleo tipo Brent, caiu de US$ 70 em janeiro para US$ 20 por
barril.
Esse cenário vai impor uma ampla reestruturação em toda a indústria.
No caso brasileiro, por exemplo, constata-se um otimismo governamental
que contrasta com a realidade. Pelas projeções oficiais, na etapa
pós-crise seria possível atrair até US$ 100 bilhões em investimentos
privados na área de petróleo. Tudo é possível, sempre, mas a dinâmica
recessiva da indústria petrolífera em todo o mundo sugere ser essa
retórica reveladora de um governo ansioso por fontes externas de
financiamento.
Mais realista seria uma união do Executivo com o Legislativo para
empreender reformas na regulação setorial. Por exemplo, acabando com
regimes de partilha e de cessão onerosa, e adotando um sistema único de
concessão. Facilitaria a atração de capitais, até porque as reservas
nacionais têm parâmetros de custos de produção bem competitivos.
O Globo - Editorial