Alvo de ‘olavistas’, ministro-chefe da Secretaria de Governo avalia e decide nomeações de todos os funcionários de 2.º e 3.º escalão do governo – não é pouca coisa para quem parecia que teria mesmo destino de Bebianno
Um dia antes de embarcar para Dallas para receber o prêmio da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, o presidente da República Jair Bolsonaro assinou o decreto 9.794, publicado no dia 15, dando poderes ao general Santos Cruz, ministro-chefe da Secretaria de Governo, para avaliar e decidir pela “conveniência e oportunidade” das nomeações de todos os funcionários do 2.º e do 3.º escalão do governo, incluindo aí os reitores das universidades federais. O general que, ao lado do vice-presidente Hamilton Mourão, transformara-se em alvo preferencial da ala olavista do governo, recebeu um poder que para barrar o caminho de corruptos, lunáticos e pessoas “vinculadas a governos passados”. Não é pouca coisa para quem parecia que teria o mesmo destino de Gustavo Bebianno, o ex-secretário-geral da Presidência, defenestrado pelo presidente.
O movimento de Bolsonaro não passou despercebido no Alto Comando do Exército, assim como o fato de Olavo de Carvalho ter dito no dia 16que pretende se manter distante da política nacional. Os movimentos das peças do Planalto podem indicar uma vitória do grupo militar depois do desastroso e mal-educado ataque do morador da Virgínia contra o ex-comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas. Em 6 de maio, após Olavo ofender Santos Cruz e as Forças Armadas, Villas Bôas deu-lhe o apodo definitivo: ‘Trotski da direita”.
Atordoada, a rede bolsonarista ainda tentou defender Olavo e criticar os generais, entre eles Santos Cruz. Não adiantou. Ele manteve a chave do cofre das verbas publicitárias e ainda ganhou o poder de vetar, por conveniência da administração, a nomeação de pessoas desqualificadas para os cargos no Executivo. Recebeu de novo o apoio de Villas Bôas em novo tuíte, no dia 8, e o desagravo de governadores. E teve força para contra-atacar, acionando a PF contra fake news.
Um general da ativa lembra: “Santos Cruz foi pentatleta com
Bolsonaro. E o presidente ficou furioso com a armação que tentaram fazer
contra ele (a fraude da conversa no WhatsApp).” O decreto que
deu mais poderes a Santos Cruz seria assim o sinal do presidente que os
generais do Palácio queriam de Bolsonaro a fim de mostrar que não se
deixaria mais influenciar por Olavo. Outro general da ativa afirma: “É
cedo ainda para saber se o que o decreto significa, mas é um sinal
importante.” De fato, pode ser ainda cedo para comemorar a vitória ou
saber se nenhuma outra confusão, como a defesa de que o Brasil tenha bombas atômicas, vai surgir no horizonte.
Evitar divisões, principalmente – mas não somente – as provocadas por clivagens político-partidárias. Desde os anos 30, o general Pedro Aurélio de Góis Monteiro defendia “uma política do Exército”; jamais “no Exército”. A ideia compartilhada por seus pares ajudou-o a submeter ao seu comando facções que se digladiavam na Força. O processo em direção à profissionalização da instituição passou por turbulências enormes, até mesmo depois das reformas de Castelo Branco, nos anos 1960. E, agora, quanto menor for a coesão do governo Bolsonaro, tanto maior será o desafio de Pujol. Manter a unidade não é tarefa menor. O presidente que o diga.
Marcelo Godoy - O Estado de S. Paulo