Controle mais rígido de visitas e incentivo aos que deixarem organizações criminosas foram usados em cadeias de país europeu, afirma especialista
As novas regras de visita a detentos de prisões federais
envolvidos em organizações criminosas violentas, editadas nesta
quarta-feira, 13, pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, têm como inspiração o modelo penitenciário italiano, adotado no combate a organizações mafiosas.
“Essa é a inspiração, mas falta a estrutura de uma polícia
penitenciária e um Código penitenciário, como na Itália”, afirmou o
magistrado aposentado Walter Maierovitch, especialista em combate ao
crime organizado.
A transferência de Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outros 21 líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC) para presídios federais
acendeu o alerta vermelho dentro do Ministério da Justiça e Segurança
Pública. A equipe de Moro acompanhou de perto a operação e monitora a
possibilidade de a facção retaliar. A ordem é ter prudência e acompanhar
os desdobramentos.
A visita no parlatório será assegurada ao cônjuge, companheira, parentes e amigos, separados por vidro, com comunicação por interfone. Esse tipo de visitação deverá ter agendamento prévio e duração máxima de até três horas e será realizada semanalmente, em dias úteis, de 13h às 19h30, permitindo-se a cada preso o acesso de até dois visitantes, sem contar crianças.
Terrorismo
Maierovitch observou as semelhanças com o código específico italiano.
Para presos acusados de terrorismo e de delitos mafiosos, as regras do
país europeu determinam restrições às visitas íntimas e contatos com
parentes. Tudo deve ser feito por meio de vidro, em parlatório. As
conversas são gravadas. “A única exceção é a comunicação com o advogado,
que é como o segredo de confessionário”, afirmou o juiz aposentado.[enquanto houver qualquer tipo de exceção, notadamente a que o jurista aqui classifica como ´'única', o sistema de isolamento não será 100% seguro.]Segundo ele, a exemplo do que determina Moro, também na Itália o preso pode ter sua forma de cumprimento melhorada como prêmio ao bom comportamento aos que decidem se dissociar da organização criminosa e tem esse ato reconhecido. Ao mesmo tempo, a polícia penitenciária mantém a vigilância e o acompanhamento de visitas e parentes dos presos. “Até os diretores e funcionários de presídios são investigados.” Mas, para Maierovitch, as regras devem estar previstas em legislação própria, a fim de evitar contestações legais e deixar claras as condições a que são submetidas cada preso.
Regime duro
O País tem
cinco presídios federais: em Brasília, Campo Grande, Porto Velho,
Catanduvas (PR) e Mossoró (RN). Cada um tem capacidade para 208 detentos
e tem de 200 a 250 agentes de execução penal. As celas são individuais e
os presos têm direito só a duas horas diárias de banho de sol. No
percurso da cela ao pátio, devem estar sempre algemados.Fábio Serapião - O Estado de S. Paulo