Cegos,
omissos, negligentes! Será tão difícil entender? Bolsonaro só interessa
a nossos adversários por ser o único que pode impedi-los de NOS
derrotar.
Desde o
início dos governos militares, os conservadores e liberais brasileiros
nos demos por satisfeitos e fomos cuidar de nossas famílias, negócios e
lazer. Quando teve início a Nova República, que em seus primeiros
minutos envelheceu no colo de José Sarney, continuamos voluntariamente
exonerados da política.
No outro lado
da cena, durante todo o período dos generais presidentes, em momento
algum a esquerda parou de trabalhar, seja pegando em armas, seja fazendo
política, num persistente trabalho de base para a conquista do poder. Foram 21 anos
de omissão até a “redemocratização” e mais 33 anos até 2018!
Estou
falando de mais de meio século sem que nada fosse feito para formar
opinião, influenciar os meios culturais e educacionais, criar e
robustecer movimentos políticos e partidos, participar dos temas
fundamentais da Constituinte, cuidar do indispensável, enfim, para
enfrentar a avalanche que estava por vir.
Tão negligentes fomos que, durante 24 anos, nos deixamos representar pelo PSDB.
Agora, que o
poder lhes fugiu das mãos e perderam nossos votos, os tucanos voltam a
se abraçar aos mesmos radicais com quem andaram durante a elaboração da
Carta de 1988. Naquele sinistro período de nossa história legislativa,
PSDB e PT puxaram o cordel constitucional tão para a esquerda quanto
puderam. Quero, com
esta síntese, mostrar o quanto nossa omissão e nosso comodismo,
delegando a política para os políticos, foi conivente com os muitos
males causados à nação pelo falso progressismo da carroça esquerdista e
suas bandeirinhas vermelhas.
Quando
penso na eleição de 2018 sob esta perspectiva não tenho como afastar da
mente a imagem do ceguinho que encontrou um vintém.
Foi um
acontecimento, um fugidio clarão nas trevas, um rápido cair de escamas
dos olhos. Num flash, vimos o devir e o dever, mas esmorecemos ante as
primeiras contrariedades. Enquanto
retornávamos desgostosos, enojados da política real, ao lusco-fusco de
nossos afazeres, clarões de usina eram acesos por nossos adversários. O
presidente eleito não tinha um minuto de sossego. Agiam contra ele
todas as demais instituições da República, todos os grandes grupos de
comunicação do país, todos os meios culturais, toda a burocracia
nacional, todo o aparelho sindical, todo o mundo do crime dentro e fora
dos poderes de Estado,
E nós,
conservadores e liberais, sem perceber que somos as vítimas reais desses
ataques! É a nós que ofendem. Somos o adversário a ser derrotado.
Quanto mais derrotas nos impunham, menores ficavam as manifestações de
rua... Ora, o Bolsonaro!
O
que desejam derrotar e recolher ao último compartimento da vida privada,
até que não haja mais vida privada, são nossos valores e princípios,
nossa cultura e nossa fé.
Cegos, omissos, negligentes! Será tão difícil entender?
Bolsonaro só interessa a nossos adversários por ser o único que pode impedi-los de nos derrotar. Somos os únicos que podemos nos salvar. Pela ausência, pela abstenção, pelo
silêncio, gritaremos ao mundo nossa indignidade como cidadãos?
Estarei mais uma vez no Parcão, hoje, 1º de agosto, logo mais às 15 horas.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.