Este espaço é primeiramente dedicado à DEUS, à PÁTRIA, à FAMÍLIA e à LIBERDADE. Vamos contar VERDADES e impedir que a esquerda, pela repetição exaustiva de uma mentira, transforme mentiras em VERDADES. Escrevemos para dois leitores: “Ninguém” e “Todo Mundo” * BRASIL Acima de todos! DEUS Acima de tudo!
Por conta de tudo o que se passou, o apoio popular de que ainda desfruta o ex-presidente hoje divide espaço com o desencanto
Foto: Montagem Revista Oeste/Wikimedia Commons
“Não me agrada a rigidez nas espadas longas e nas mãos. Rigidez significa uma mão morta. Flexibilidade significa uma mão viva” — ensina o célebre samurai Miyamoto Musashi, em seu O Livro dos Cinco Anéis, clássico manual de estratégia.
Tendo vivido no Japão da virada do século 16 para o 17, consta que esse Ronin, guerreiro solitário e autodidata, jamais perdeu um combate, sagrando-se invariavelmente vitorioso contra mais de 60 oponentes. Dominando tanto a arte do manuseio da katakana (espada longa) quanto da wakizashi (espada curta ou “companheira”), Musashi sabia bem quão fatal podia ser a rigidez de movimentos em combate.
Mas, se na guerra a rigidez é trágica, na vida cotidiana, ao contrário, ela é cômica. É o que Henri Bergson sugere em O Riso: Ensaio Sobre o Significado do Cômico. Como explica o filósofo francês, uma das causas do cômico é a presença de certa rigidez mecânica ali onde seriam esperadas a maleabilidade atenta e a flexibilidade viva. Alguém que, a correr pela rua, tropeça e cai, provoca riso nos transeuntes, porque, por falta de agilidade, por desvio ou teimosia do corpo, continuou realizando o mesmo movimento, quando as circunstâncias exigiam algo distinto. O mesmo se dá em relação ao sujeito demasiado metódico, que se empenhasse em suas pequenas ocupações cotidianas com uma regularidade matemática. Caso algum gozador embaralhasse seus objetos pessoais, o contraste entre o comportamento habitual e a nova situação gerada pela broma provocaria riso: o pobre mete a pena no tinteiro e sai cola; acredita sentar numa cadeira sólida e se estatela no chão; tenta calçar os sapatos, mas os pés estão trocados.
A razão da comicidade é a mesma nos dois casos, e consiste na incapacidade de se adaptar, em tempo, a um obstáculo imprevisto ou a uma alteração nas circunstâncias. Trata-se, noutro plano, da comicidade que caracteriza o Dom Quixote de Cervantes, pois o nobre fidalgo, como que congelado na história, continuava a se portar como no tempo mítico dos cavaleiros andantes, sem atinar para a mudança de era e para a realidade em que viviam os seus contemporâneos. E, com efeito, a rigidez quixotesca é responsável por algumas das páginas mais cômicas — e, simultaneamente, um tanto quanto melancólicas — da literatura universal.
Na política — que, sob certo aspecto, está a meio caminho entre a comédia e a guerra —, a rigidez tende a resultar num misto de tragédia e comédia, ou, se preferirem, numa tragicomédia. No universo político brasileiro, ainda mais. A possibilidade de um destino tragicômico, por exemplo, talvez seja o maior risco representado pelo retorno do ex-presidente Jair Bolsonaro ao Brasil, a principal notícia política desta quinta-feira, 29. Risco, por óbvio, da perspectiva de seus eleitores, apoiadores e simpatizantes.
No seio da direita brasileira contemporânea, muitos parecem ter concluído que, se Bolsonaro foi um bom administrador do país, também foi, por outro lado, um mau combatente
Tudo dependerá, a meu ver, da postura de Bolsonaro em relação às novas circunstâncias. Dependerá, em último caso, da alternativa entre uma eventual rigidez — que aniquila o político ou faz dele um objeto cômico (o que, em termos de estima pública, vem a dar no mesmo) — e uma esperada flexibilidade, que lhe garante sobrevida e o imuniza contra o riso (de deboche) alheio. Que Bolsonaro é esse que retorna dos EUA?
Um político ágil e flexível à la Miyamoto Musashi, ou um rígido tragicômico como Dom Quixote e as vítimas do samurai?
Confesso ser essa a minha maior curiosidade no momento.
O risco da rigidez apresenta-se considerável, sobretudo porque algumas das condições sociopolíticas anteriores se mantiveram parcialmente, o que pode servir para obliterar a percepção das mudanças.
A persistência do fascínio popular exercido por Bolsonaro já havia ficado clara, por exemplo, durante sua estadia nos EUA.
Por onde quer que passasse, ele não cansava de receber efusivas manifestações de apoio, provenientes não apenas de brasileiros, mas também de representantes da direita norte-americana.
No início do mês, o ex-presidente brasileiro talvez tenha sido a principal estrela do CPAC 2023 (Conferência de Ação Política Conservadora), chegando a ofuscar Donald Trump. Um feito e tanto.
Já no Brasil, parecem se repetir as cenas familiares, que mostram um Jair Bolsonaro sendo recepcionado por multidões de apoiadores, ainda fortemente mobilizados pelo carisma político do ex-presidente, quase como se o tempo não tivesse passado.
No Aeroporto de Brasília, em suas vias de acesso e na frente da sede do PL, ressoam insistente o tradicional coro de “mito, mito” bem como a declamação ritmada do lema da última campanha: “Deus, pátria, família e liberdade”.E o que não faltam são políticos e parlamentares bolsonaristas oferecendo lealdade e disposição para a briga.
Portanto, não parece haver dúvida de que Bolsonaro conserva um considerável capital político.
Caso consiga resistir à pesada artilharia do conluio institucional antibolsonarista, o ex-presidente pode surpreender e ter uma sobrevida política, sobretudo na ausência de novos quadros no arco do anticomunismo.
Mas, obviamente, toda essa aparência de continuidade pode induzir à rigidez de comportamento, sugerindo a ideia de que, para enfrentar as batalhas políticas vindouras, se devem manter as mesmas estratégicas, táticas, armas e ferramentas do período anterior. E aí, justamente, residiria o maior erro do “novo” bolsonarismo.
Pois a verdade é que, entre as gigantescas manifestações populares da celebração da Independência e o momento atual, intercorreu o fatídico 8 de janeiro, com todos os seus conhecidos desdobramentos.
Não, não navegamos mais nos ventos favoráveis de 2018.
E já não nos movemos no contexto favorável de ascensão entusiasmada da assim chamada direita brasileira.
Não estamos mais no bojo da esperança restauradora de 7 de setembro de 2021, logo frustrada por um acordo manco, costurado desde cima. Nem, tampouco, no frenesi aguerrido de 7 de setembro de 2022, que muitos na direita viram como a batalha decisiva pela sobrevivência de um projeto de país soberano.
Vivemos, em vez disso, o período pós-derrota. Para a direita, uma derrota que não foi apenas eleitoral, mas sobretudo política e cultural. O contexto atual é o de um novo regime, controlado com mãos de ferro por socialistas, que, depois de décadas de aparelhamento estatal (e, em especial, do Judiciário), se mostram dispostos a lançar mão de toda a expertise em reprimir politicamente a oposição.
Já em seus primeiros dias, esse regime tratou de comandar milhares de prisões políticas, que tiveram como alvos aqueles apoiadores que, em vão, depositaram esperanças exageradas em Bolsonaro e nas Forças Armadas.
No seio da direita brasileira contemporânea, muitos parecem ter concluído que, se Bolsonaro foi um bom administrador do país, também foi, por outro lado, um mau combatente, tendo fracassado na desmontagem das estruturas de poder do inimigo. Sem entrar no mérito da justeza ou não dessa conclusão, resta evidente que, se as estratégias outrora adotadas — que revelaram uma desproporção entre os furiosos rosnados na direção do inimigo e as débeis mordidas que se lhes seguiam — já eram inadequadas à época, hoje o são, a fortiori, ainda mais. Para a direita, o momento é de flexibilidade, adaptabilidade e reformulação nos métodos.
É, sobretudo, um momento de autocrítica. No passado recente, a direita entregou-se muito rápido a um estado de triunfalismo ingênuo, cuja imagem simbólica talvez seja a de Bolsonaro chutando para longe um boneco do Pixuleco, uma cena catártica, que sugeria o fim definitivo da ameaça comunopetista ao Brasil. Hoje, que essa ameaça se concretizou de maneira avassaladora, a direita saltou diretamente do triunfalismo para um estado de desencanto paralisante. Em sendo urgente livrar-se desse último, já não se pode fazê-lo, contudo, retomando o primeiro. Afinal, a presente situação é a de uma guerra travada no terreno inimigo e em franca desvantagem bélica. E, num tal contexto, afigura-se como tragicômica toda e qualquer bravataria, mesmo aquela que, num passado recente, talvez fosse dotada de algum sex appeal.
A hora é de discrição, não de espalhafato.
É de aproximações sucessivas, não de pé na porta.
É do silencioso Miyamoto Musashi, não de anacrônicos cavaleiros andantes munidos de memes e “tic tacs”, e menos ainda do Cavaleiro Negro do Monty Phyton, aquele que, reduzido pela espada do inimigo a pouco mais que um cotoco humano, continuava bravateando a sua iminente vitória…
Para salvar a própria pele, o
ex-presidente escala um seleto grupo de amigos implicados na Justiça e
se mantém no poder no PT. Mas isso impede qualquer tentativa de
reconstruir o partido que ele mesmo criou há 37 anos
Lançado pelo cinema italiano nos anos 60, “O Incrível Exército de
Brancaleone”é uma paródia bem humorada do clássico da literatura Dom
Quixote de Cervantes. Na sátira, um cavaleiro atrapalhado reúne um
pequeno e esfarrapado exército e tenta construir um feudo em meio a
outras potências já consolidadas na Europa. Obviamente não deu certo.
Assim como na ficção, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva também
tem agrupado um verdadeiro pelotão de feridos para levar ao sacrifício,
quase todos eles alvejados por denúncias de corrupção na Lava Jato, e
com eles retomar o poder no PT. Lula quer ser o presidente da sigla e
criar outros postos de comando regionais: fórmula básica de distribuição
de cargos para calar a boca de críticos e insatisfeitos, mesmo que
sejam combatentes mutilados por suspeitas e condenações. Entre os
chamados vice-presidentes regionais, Lula pretende escalar o ex-ministro
Jaques Wagner, o senador Lindbergh Farias, o ex-prefeito Luiz Marinho, e
o amigo pessoal Paulo Okamoto. Mas essa estratégia de comandar o
partido mostra que ele se tornou surdo ao apelo popular e até de setores
da legenda que clamam por uma refundação completa do PT, com renovação
total de sua diretoria, transformação do modo de fazer política e
reconexão com antigas bandeiras, que foram pisoteadas pelos anos no
poder.
Trata-se de uma surdez conveniente. Por trás dela há um objetivo
pessoal mais importante para ele do que o futuro da agremiação: salvar
sua própria pele, que está ameaçada por eventual condenação, a qualquer
momento, no âmbito de uma das cinco ações na justiça em que é réu. A
estratégia é presidir o partido, moldá-lo novamente com seus preferidos,
reunir todo apoio em torno de seu nome para lançar-se à Presidência da
República para a disputa em 2018. Enquanto estiver na condição de
pré-candidato, ele mantém a narrativa de que qualquer acusação tenha
cunho de perseguição eleitoral.
O problema é que para manter em pé essa narrativa,o ex-presidente se
mostra um oportunista de carteirinha, pois põe em risco a sobrevivência
do partido. Ao contrário do que apregoam os coroados petistas
implicados na Lava Jato e em outras falcatruas, há na legenda aqueles
que ainda vislumbram a reconstrução do partido, capaz de empunhar a
bandeira da ética sem se envergonhar. Nos últimos meses do ano passado,
um movimento nessa direção foi desencadeado por lideranças como Olívio
Dutra, Tarso Genro, Paulo Paim, Renato Simões, entre outros. A premissa
deles era que seria impossível recuperar a estrela vermelha caso não
fosse feita uma reforma profunda no partido. E isso deveria incluir
Lula.
CÚPULA PETISTA DIZIMADA Mas a movimentação de Lula pode inviabilizar qualquer movimento de
recuperação da legenda e levar o PT ao raquitismo. Os petistas parecem
não ter entendido o recado das ruas e das urnas, quando foram
massacrados. Primeiro, pelo coro de movimentos contra a corrupção em
meio ao processo de impeachment de Dilma Rousseff. Depois, a sigla
acabou dizimada em boa parte das prefeituras nas últimas eleições
municipais, perdeu nas capitais federais e até no ABC paulista,
histórico reduto. Passou de terceiro para décimo lugar no número de
prefeituras no País.
Entre as principais causas da ruína está o envolvimento da cúpula
petista com escândalos de corrupção, como o Mensalão e o Petrolão. As
duas operações levaram à prisão quadros representativos, a exemplo dos
ex-ministros José Dirceu e Antônio Palocci, dos ex-deputados federais
André Vargas e José Genoino, além dos tesoureiros Delúbio Soares, João
Vaccari Neto, Paulo Ferreira e do ex-presidente da Câmara João Paulo
Cunha.
O empenho de Lula dentro do partido tem relação com as ações que
responde no âmbito das operações Lava Jato e Zelotes. O ex-presidente é
réu por ser apontado como partícipe de crimes de corrupção passiva,
lavagem de dinheiro, tráfico de influência, organização criminosa. Não
há outra saída a não ser essa é o que avaliam as principais mentes
petistas. A estratégia é registrar a candidatura do ex-presidente já no
próximo mês para evitar que uma possível condenação na justiça possa
barrar a inscrição do nome dele no pleito.
A VOLTA DE LULA IMPEDE RENOVAÇÃO A tática de guerrilha pretende blindar o nome do ex-presidente do
intrépido juiz federal Sérgio Moro. O magistrado do Paraná já demonstrou
que não vai passar a mão na cabeça de nenhum envolvido no esquema de
corrupção montado na Petrobras. O contra-ataque petista prevê o
resultado de que a pré-candidatura possa corroborar com a tese de que há
uma conspiração em curso para evitar que o ex-sindicalista chegue
novamente ao Palácio do Planalto.
Mas a estratégia de lançar Lula à candidato à Presidência, não é
consenso dentro da legenda. Uma corrente defende que a candidatura de
Lula seja lançada durante o 6º Congresso Nacional do PT, marcado para
ocorrem em abril ou até mesmo em maio. Um dos defensores dessa tese é o
ex-ministro da Comunicação Social de Dilma Rousseff e atual prefeito de
Araraquara (SP), Edinho Silva. “Acho que está cedo para definir a tática
eleitoral. Tem de abrir esse debate. Nesse momento penso que ainda não
dá para dizer que temos um nome”, disse.