Alguns conservadores brasileiros compraram pelo preço de capa as
manifestações em que Putin se apresenta como crítico do desmonte
cultural, espiritual e moral do Ocidente.
Essa convergência, porém, não
faz de Putin um Dostoievski.
Ele é um ex-agente de segurança soviético e
russo que se vê como versão atualizada do “líder genial dos povos”
(povos eslavos, bem entendido), investido da missão de reconstruir a
extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, sem Soviete Supremo
e com menos socialismo.
Por ter
sido antes aquilo que foi, ele conhece o apoio que os neomarxistas da
Escola de Frankfurt receberam da URSS para fazerem das ciências sociais
os modernos mísseis e tanques da guerra cultural. É exatamente por saber
quão letais são essas “armas” que ele não as quer na Rússia. Mas isso
não o converte num aliado do Ocidente, ou dos conservadores e/ou
liberais do lado de cá.
O
negócio de Putin é poder e quanto mais decaído for o Ocidente, quanto
mais esquerdistas os Estados Unidos se tornarem, quanto mais tolerantes e
molengas se fizerem Reino Unido e França, quanto mais os alemães se
confiarem a pessoas como Mutti Merkel, melhor para ele. Tomem isto por autoevidente.[com este comentário, expressamos nossa concordância em gênero, número e grau, com o que o articulista expressa.
Para evitar que alguns desavisados entendam o assentimento de agora, como revisão do nosso entendimento, afirmado em vários dos nossos comentários, que Putin é conservador, tradicionalista e nacionalista, DESTACAMOS que nossa escolha é ditada pela imperiosa necessidade de escolher alguém que represente posições tais como: "ser
conservador, querer segurança jurídica, ter princípios e afirmar
valores, exigir punição para quem rouba e outras assemelhadas" e Vladimir Putin é das várias opções disponíveis a que melhor representa o conservadorismo tão essencial a melhora do mundo.
Nos tempos de Ronald Reagan tal representação caberia a ele e ao país que presidia - lembrando que Reagan foi o sucessor de um desastre conhecido por Jimmy Carter. Com a saída de Ronald Reagan, se seguiram, os Bush, pai e filho, que a ele se igualavam, com ligeira vantagem para Reagan. O Bush pai, foi sucedido por Bill Clinton , que para felicidade do povo americano foi sucedido pelo Bush filho, com dois mandatos e como nada é perfeito, seu sucessor, Obama, com dois mandatos foi um outro desastre.
Trump, o sucedeu, não o deixaram governar e 'perdeu' para Joe Biden, que defende tudo que não presta, tudo que qualquer cristão e conservador, tem o dever de combater. É esse DEVER que torna Putin, mais conservador do que o esquerdista progressista que preside os EUA, a melhor escolha.]
Quando
Putin defendeu nossos direitos sobre a Amazônia brasileira, ele estava a
defender, também, os direitos deles sobre a floresta russa, duas vezes
maior do que a área total da Amazônia em nove países da América do Sul.
Alguns dos maiores inimigos da Amazônia brasileira estão aqui mesmo,
fabricando e fornecendo munição para os ataques determinados por aqueles
que a cobiçam.
As relações
brasileiras com a Rússia e com Putin devem preservar nossos interesses
comerciais. Isso é uma coisa. Outra é o que Putin está a fazer,
empurrando as próprias fronteiras sobre a Europa à custa de uma nação
independente. A Ucrânia, sentindo-se ameaçada, tendo observado o que
aconteceu na Crimeia, lendo nos jornais do mundo inteiro que um dia
seria invadida pela Rússia, buscou abrigo na OTAN. Esse foi o motivo
simbólico da invasão, mas a causa real é outra: o projeto pessoal de
Putin.
Ser
conservador, querer segurança jurídica, ter princípios e afirmar
valores, exigir punição para quem rouba um telefone celular, é
incompatível com aceitar que uma potência militar tome para si, na mão
grande e violenta, uma nação inteira. “Ninguém é
santo nesse jogo”, dizem alguns. Sim, e daí? Daí o povo Ucraniano, que
lutou por democracia e liberdade no inverno de 2014, paga o pato? [uma realidade inevitável é que escolhas, quando erradas, tiram beneficios pelos que conquistados no passado.
Um exemplo: os brasileiros quando elegeram, por duas vezes, o 'coisa ruim', o luladrão descondenado e petista, e bisaram a escolha com a 'engarrafadora de vento', Rousseff, perderam muito do conquistado em outras ocasiões e que agora começam a recuperar - apesar das adversidades que surgem e que certamente serão vencidas.
Da mesma maneira, o povo ucraniano, no instante que decidiu eleger um incompetente, um cidadão propenso a arrumar encrencas para os outros resolverem = guerras para os outros guerrearem - colocou a perder tudo, ou quase tudo, do conquistado.
Sempre colhemos o que plantamos.]
Percival
Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.