Stephen Kanitz
Essa súbita polarização na política, que deve estar assustando muita gente, é na realidade um fim de ciclo. O poder reinante nesse pais nos últimos 25 anos está sucumbindo, lutando com todos os seus meios para impedir o inevitável. Usam jogo sujo sim, mas é por puro desespero acreditem. Quem está perdendo miseravelmente nesses últimos 30 anos é
a indústria, os sindicatos, os trabalhadores chão de fábrica, as
grandes cidades, os industriais cada vez mais falidos e subsidiados.
Quem está crescendo e ganhando é a Agricultura.
A agricultura por si só já representa 25 % do PIB, contra 10% anos atrás. O Agro negócio, que
incorpora as indústrias que a fornecem, como mineração de fertilizantes,
a indústria de tratores, os bancos, as seguradoras, as transportadoras
passa a ser 40% do PIB, tranquilo. Ter 40% do PIB significa dinheiro, crescimento, poupança, prosperidade. ignifia crescente poder político, que
ao contrário que a maioria das pessoas pensam, o setor Agrícola não
tinha comensurável a esses 40%.
Foi sempre a agricultura que gerou
exportações e superávit no câmbio, foi sempre a indústria que importava
máquinas estrangeiras.
A Indústria sempre foi muito mais forte
politicamente do que a Agricultura, mas agora ela definha, não apresenta
lucros, não tem mais poder financeiro. Foi sempre a Indústria que indicava os
Ministros da Fazenda, normalmente economistas ligados a Fiesp como
Delfim Neto e Dilson Funaro, por exemplo. Foi esse total descaso pela nossa
Agricultura que resultou no enorme êxodo rural, que tanto empobreceu o
país e fortaleceu justamente partidos que atendiam as demandas dos
bairros pobres.
Nada menos que 45% de nossa população teve que abandonar a agricultura, abandonada que foi pelos Ministros da Fazenda. Que nem sabem mais o significado de “Fazenda”, apropriado para um país destinado a agricultura, como o Brasil e a Argentina. Foi Raul Prebish, que
convenceu economistas argentinos e brasileiros como Delfim, Celso
Furtado, Jose Serra, FHC e toda a Unicamp, a esquecerem nossa agricultura a favor da “industrialização” para o mercado interno, a famosa “substituição das importações ”. Por isso investirem fortunas em
“incentivos”, leis Kandir, subsídios via o BNDES em indústrias antigas
mas que “substituiriam as nossas importações”, importações que
geralmente eram dos mais ricos, produzir produtos populares para classe C
e D nem pensar.
Somente a partir de 1994 , que passaram a produzir para a Classe C e D, movimento do qual fiz parte. Além das milícias que invadiam terras, a
luta por reservas, contra a ampliação de terras produtivas, destruição
de pesquisas de aprimoramento genético. Nossos industriais
perceberam tardiamente que foi justamente essa “substituição das
importações” que iria gerar nossa estagnação e não inovação, e
lentamente destruímos a nossa indústria nascente a partir de 1987. De 27% do PIB, 45% com seus agregados, a Industria entrou numa espiral descendente para 14,5% hoje.
Que reviravolta. Essa atual crise política no fundo é a
crise da indústria e das famílias ricas desesperadas, empobrecidas mas
ainda com certo poder político. É a crise dos sindicatos trabalhistas que viviam dessas contribuições sindicais.
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