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sábado, 6 de maio de 2023

Mais imposto e mais inflação - O Globo [governo Lula chega ao final de 2023?]

O ministro Fernando Haddad - Dougas Magno/AFP [como de hábito, falando bobagens, expelindo propostas inviáveis e esperando um milagre, sem pedir a DEUS - pedir e merecer.] 

O ministro Fernando Haddad não falou uma única vez em corte de gastos na longa entrevista que concedeu ontem à CBN. Falou, sim, de inúmeras medidas para obter um enorme ganho de arrecadação. Logo, o ajuste fiscal só será alcançado com um brutal aumento de carga tributária algo como 1,5% do PIB, ou R$ 150 bilhões por ano.

O ministro diz que não criará novos impostos nem aumentará as alíquotas dos já existentes. Apenas, prossegue, cortará incentivos e benefícios fiscais e fechará brechas que permitem às empresas reduzir o imposto a pagar. Dá na mesma. Se o governo recolherá R$ 150 bilhões, alguém morrerá com esse dinheiro. Recursos que poderiam ficar com empresas e cidadãos serão transferidos aos cofres públicos. Para empresas, haverá aumento de custos e menor capacidade de investimento. Para cidadãos, menos consumo.

O ministro diz que está fazendo justiça: cobrando de quem deveria pagar e não paga
As empresas pagam menos do que ele gostaria de duas maneiras. Muitas se beneficiam de incentivos fiscais estabelecidos em lei. A ideia é proteger ou incentivar o desenvolvimento de algum setor. Não é fácil derrubar isso. 
A outra maneira é o planejamento tributário. O sistema brasileiro de impostos é tão complexo e tão confuso que as empresas gastam muito dinheiro contratando advogados para descobrir como podem reduzir sua carga. Tudo acaba em intermináveis batalhas judiciais entre empresas e cidadãos, de um lado, e governo, de outro. 
 
Como o Judiciário é lento e, digamos, não propriamente coerente, as decisões mudam. O STJ deu uma vitória recente ao governoo ministro Haddad acredita que ganhou R$ 90 bilhões, cálculo considerado exagerado por muita gente, mesmo na Receita
E o STF ainda pode mudar a decisão. Assim, as Cortes vão decidindo, ora a favor do governo, ora a favor do contribuinte. Não será fácil para Haddad arrancar os R$ 150 bilhões. Uma boa reforma tributária resolveria. Mas também não é fácil passar no Congresso e implementar. 
 
Eis por que o Banco Central (BC) coloca um pé atrás. Admite que a proposta de arcabouço [calabouço]  fiscal enviada ao Congresso é um avanço. Mas assinala: ainda não foi votada pelos parlamentares, é certo que será alterada, depois será preciso ver como executá-la
Foi por isso, entre outros motivos, que o Comitê de Política Monetária do BC manteve a taxa básica de juros em 13,75% ao ano. [IMPORTANTE: o COPOM - BC, manteve a taxa de juros e ontem -  seguindo a decisão do Banco Central - o FED americano e o Banco da União Europeia, devido o aumento da inflação em seus países  AUMENTARAM SUAS TAXAS DE JUROS.
No mundo que pensa, só o grande 'economista', estadista', 'genial', 'onisciente', ex-presidiário, também presidente do Brasil ,  Lula da Silva (as qualidades citadas,  quando aplicadas a  ele e  somadas dão como TOTAL = ignorância pura) é contra JUROS ALTOS,como meio auxiliar e essencial para conter a inflação.]
A razão principal, entretanto, é que as projeções de inflação estão acima das metas neste ano e no próximo. 
 
Haddad acha que as metas estão erradas. Ou melhor, está errado o modo de fixá-las. Em vez de meta calendário — a ser obtida no ano —, sugeriu, na mesma entrevista à CBN, adotar meta contínua, a ser obtida ao longo de um tempo maior. Na prática, o BC vem fazendo algo parecido.  
No ano passado, a inflação fechou em 5,79%, acima do teto da meta. A taxa básica de juros já estava em 13,75% — e o BC sinalizou que buscaria a meta bem mais à frente.

Para este ano, a meta oficial é 3,25%, tolerando-se até 4,75%. Pela projeção do BC e do mercado, a inflação ficará em torno de 6% — isso supondo uma redução moderada da taxa de juros a partir de setembro próximo. Para 2024, o cenário básico do BC projeta inflação de 3,6%, pouco acima da meta (3%), mas dentro da margem de tolerância. Isso com a taxa de juros a 10% no fim do ano.

Portanto o BC pretende atingir a meta no fim do próximo ano. Se fosse para alcançar a meta calendário já neste ano, segundo cálculos do BC, a taxa de juros teria de subir a 26,5%. Isso destruiria a economia, conforme notou o presidente do BC, Roberto Campos Neto. O BC, portanto, está flexibilizando o regime de meta calendário, para preservar o andamento da economia.

Vai daí que o ministro Haddad deve estar pensando mesmo em aumentar a meta de inflação, dentro de uma formalização das metas contínuas. Se conseguir tudo o que quer, o resultado será: mais carga tributária e mais inflação. Não consta que isso ajude o crescimento.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Coluna no jornal O Globo


segunda-feira, 1 de agosto de 2022

O novo espetáculo de Lula - Revista Oeste

Guilherme Fiuza

A atual versão do petista promete superar a versão antiga na arte de se repetir

Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock
 
Viu que o Lula prometeu um novo espetáculo do crescimento?

— Ah, é? Como vai ser?

— Vai ser espetacular.

— Imagino. Geralmente espetáculo é espetacular. Mas qual é o plano?

— Desenvolvimentista.

— É, soa bem.

— Muito mais que soar bem. Dá certo. Faz o país crescer.

— Isso é bom. Só não estou lembrando bem como foi o primeiro espetáculo do crescimento.

— Que primeiro?

Ué, esse não é o novo? Achei que então tivesse havido outro antes.

— Antes, quando?

— Quando o Lula governou o Brasil.

— Ih, nem me lembrava disso.

— Não faz tanto tempo assim.

É que esse Lula de agora é outro Lula.

Como assim? Então onde está o anterior? Preso?

— O Lula do passado ficou no passado. O de agora é muito mais preparado.

— Preparado pra quê?

— Pra fazer o espetáculo do crescimento.

— O outro espetáculo do crescimento não deu certo?

— Não é que não tenha dado certo. Aquele Lula ainda não conhecia direito a maldade do capitalismo e a gula dos poderosos.

— Você está dizendo que o antigo Lula foi vítima do sistema?

— Totalmente. Não o deixaram trabalhar. Nem a Dilma. Preconceito contra o trabalhador e a mulher.

— E qual foi o resultado desse boicote?

— Uma recessão.

O espetáculo do crescimento virou encolhimento?

— Uma recessão sem precedentes causada pela discriminação.

— E os bilhões de reais devolvidos aos cofres públicos pela Operação Lava Jato? Aquilo foi causado também por discriminação?

— Tudo armação. O sistema poderia gastar até muito mais que isso pra incriminar o Lula.

— Impressionante. E você acha que o novo Lula não vai ser vítima do sistema?

— Acho.

— Por quê?

— Tarimba.

— Certo. E qual é o plano para o novo espetáculo do crescimento?

É simples e genial: usar dinheiro dos bancos públicos e das estatais para impulsionar empresas privadas de forma controlada pelo governo.

Não foi assim que fizeram o Mensalão e o Petrolão?

— Não entendi.

Me corrija se eu estiver errado: o Petrolão e o Mensalão não foram triangulações entre empresas públicas, empresas privadas e políticos que estavam no governo?

— Como assim, triangulações?

Tipo um Triângulo das Bermudas, onde o dinheiro público sumia e virava pixuleco.

— O antigo Lula era muito ingênuo. Com o novo Lula isso jamais voltará a acontecer.

— Você está dizendo que o antigo Lula foi ludibriado pelas más companhias?

— Totalmente. Você não reparou a quantidade de picaretas que sempre tinha em volta dele?

— De fato eram muitos.

— Pois é. Tudo plantado pelos poderosos.

E ele não notou nada em mais de 13 anos do PT no poder?

— Aí é que eu te falo: o antigo Lula era muito inocente. Achava que o dinheiro desviado era pra chegar mais rápido ao povo.

— É. Desvio de dinheiro pro povo é muito exótico mesmo.

— Entendeu a armação? O sistema plantou uma ladroagem desenfreada em torno do antigo Lula para acusá-lo de corrupção. O novo Lula jamais deixaria isso acontecer.

— Não curtiria sítio com benfeitorias de empreiteira amiga?

— Nem por todo o dinheiro do mundo.

O novo Lula não gosta de dinheiro?

— Gosta, mas não precisa.

Por quê?

— Não sei. Acho que o antigo Lula emprestou pra ele.

Leia também: “Guia da verdade eleitoral” 

Guilherme Fiuza, colunista - Revista Oeste

 

quarta-feira, 15 de dezembro de 2021

Quem planta inflação não colhe crescimento - Revista Oeste

Ubiratan Jorge Lorio

A terapia da Escola Austríaca é antipática, mas é a única que funciona. Enquanto as cadeias de produção estiverem se reorganizando, é preciso subir as taxas de juros e cortar despesas

O presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, depois de muitos meses afirmando que a atual inflação nos Estados Unidos era transitória, teve de admitir a realidade. Provocado há poucos dias pelo senador republicano Pat Toomey sobre até quando duraria o fenômeno, reconheceu que a situação não é temporária.

                          Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock

Cá entre nós, para surpresa de ninguém, já era mais do que tempo de o ilustre banqueiro saborear um chá de simancol e deixar de tentar iludir quem não é bobo com discursos políticos ilusórios pendurados em teorias monetárias estapafúrdias de economistas intervencionistas. Powell não fez mais do que reconhecer o que todo o mercado financeiro já sabia, e os economistas austríacos avisam há séculos: um governo que semeia inflação, que é o aumento da quantidade de moeda sem lastro, não pode pretender colher crescimento, mas somente a desvalorização do poder de compra da moeda e o desemprego. Isso não é ideologia, é simples resultado da ação humana, testada e comprovada centenas de vezes ao longo da história; é batata, é tiro e queda.

Do ponto de vista prático, são muito importantes as implicações sobre a vida das pessoas do debate teórico entre os que defendem e os que negam a transitoriedade da atual inflação. Quem acredita que é temporária argumenta que ela decorre do choque de oferta provocado pela pandemia: faltam bens e serviços para um nível — agora maior — de demanda. Assim que as linhas de produção e a logística de transportes voltarem ao normal, a produção se ajustará a esse nível e a pressão sobre os preços terminará. Sendo assim, sustentam que o Fed não precisa subir as taxas de juros e, se subir, que o faça modesta e gradualmente, mesmo no ambiente inflacionário que hoje prevalece, semelhante ao dos anos 1970. Já quem defende que a inflação não é transitória argumenta que aumentos de preços generalizados, mesmo quando são temporários, têm impactos permanentes, especialmente quando a economia está artificialmente “bombada” pelos anabolizantes keynesianos vendidos nas bancas de camelôs como elixir da juventude.

Na verdade, os americanos não estavam engolindo nem a pau a narrativa de que a inflação de preços que explodiu nos Estados Unidos e no mundo no primeiro semestre deste ano era transitória. O discurso foi sustentado pelas diretorias do Fed e do Banco Central Europeu mesmo durante os vários meses com registros consecutivos de crescimento de preços ao consumidor acima de 5% ao ano. O argumento, equivocado, sustentava que as contínuas elevações de preços seriam resultantes de “problemas da cadeia de abastecimento” provocados pelo vírus sino-global. A comprovar a rejeição à falsa hipótese de transitoriedade, as expectativas dos consumidores americanos já estavam beirando 6% para cima até o fim deste ano e 4,2% nos próximos três anos — taxas extremamente altas para os padrões americanos.

Registre-se que o FOMC (Federal Open Market Committee, órgão equivalente ao Copom) vinha admitindo aumentos generalizados de preços acima de 2% ao ano, para em seguida atingir essa meta em alguns meses. Em poucas palavras: optou pelo velho e fracassado gradualismo, agravado pela ausência de qualquer âncora. O fato é que as expectativas inflacionárias para 2022, que no início deste ano eram de 3,2%, foram seguidamente revistas para cima.

Existe um fato que não pode deixar de ser levado em conta. A partir do momento que os agentes econômicos imaginam que a inflação permanecerá alta, eles mudam seu comportamento e fazem com que ela se torne ainda mais alta, ao anteciparem as compras na tentativa de evitar preços mais altos posteriormente, tornando-se propensos a aceitar preços maiores em vez de adiarem as compras. Essa resposta defensiva de comportamento tende a ampliar a pressão inflacionária no futuro.

Do lado fiscal, observa-se uma verdadeira esbórnia

A inflação de preços americana está alta e as expectativas mostram que ela vai continuar a crescer. A causa desse desastre anunciado é uma só, límpida, cristalina, inequívoca: a verdadeira orgia fiscal e monetária que o governo dos democratas vem promovendo. Nessas condições, a formação dos preços hoje depende de dois fenômenos: o primeiro — passageiro — é a inegável desarrumação na estrutura de oferta causada pela pandemia; o segundo, permanente, tem dois componentes: o impacto do que o Fed está fazendo na área monetária e a influência das expectativas quanto ao que venha a fazer no futuro. Esse último efeito, por sua vez, depende do estado atual das contas públicas e do que se espera quanto a seu estado no futuro.

Há, portanto, uma ligação entre o que políticos e economistas do governo estão fazendo em termos de gastos e impostos e as decisões dos economistas do Fed. Essa dependência entre os regimes monetário e fiscal pode ser conduzida de duas maneiras, mutuamente excludentes: (a) com coordenação ou no mesmo sentido, quando existe austeridade ou frouxidão dos dois lados; (b) sem coordenação ou em sentidos opostos, quando a política fiscal é frouxa e a monetária é austera, ou vice-versa.

A péssima notícia é que está acontecendo há tempos nos Estados Unidos, especialmente a partir da pandemia e, principalmente, desde o início do governo Biden, uma coordenação do mal, caracterizada por dupla irresponsabilidade, fiscal e monetária. E, quando as duas cigarras — a fiscal e a monetária — fazem a festa, quem paga a conta são sempre as formigas: os indivíduos, os trabalhadores, os empresários e as empresas, os pagadores de impostos.

Do lado fiscal, observa-se uma verdadeira esbórnia com a liberação de mais de US$ 5 trilhões em gastos deficitários, o que levou o total de estímulos a quase US$ 10 trilhões. Ao justificar a gandaia, o mesmo bode expiatório que se tornou o preferido dos economistas de esquerda: a ideia de que “é preciso combater a pandemia e seus efeitos”. Sim, é preciso zelar pela saúde, mas com responsabilidade, remanejando gastos, como de certa forma foi feito no Brasil, e não criando despesas ex nihilo (a partir do nada).

No front monetário, o Fed recusa-se a assumir qualquer responsabilidade pela pressão inflacionária, negando, com base teórica no engodo da “teoria monetária moderna”, que os trilhões de dólares postos em circulação estejam contribuindo para o aumento dos preços. A atitude é comparável às afirmativas de que a chuva não molha e o gato não mia — assim como de que certo ex-presidente do Brasil é inocente. Só para apresentar uma pálida ideia do bacanal monetário que o Fed vem bancando, desde março de 2020 os ativos do seu balanço aumentaram em US$ 4,2 trilhões e os ativos totais chegaram a US$ 8,6 trilhões.

Esbanjamento
Os americanos, então, estão com mais dinheiro e gastando mais, mas, além de fazerem isso como defesa contra preços maiores no futuro, a demanda crescente por bens de consumo significa também maior pressão sobre as cadeias de produção, a infraestrutura logística. Isso significa que o argumento de que a inflação está sendo causada pelos problemas da cadeia de suprimentos inverte causa e efeito: é a inflação de moeda que está causando muitos dos problemas da cadeia de abastecimento, por estimular a compra de bens de consumo, e não o contrário.

Quando a demanda continua forte mesmo com aumentos de preços, os agentes econômicos subliminarmente aceitam que a economia tem condições de condescender com preços cada vez maiores. Forma-se, então, um círculo vicioso, em que a alta de preços cria pressões para salários nominais mais altos, fazendo surgir a famosa espiral inflacionária, alimentada pela expectativa de preços crescentes e pela “coordenação do mal”. Os brasileiros que acompanham a economia desde os anos 1980 sabem disso muito bem.

É evidente que a economia mundial sofreu um choque de oferta violento com a pandemia, mas acontece que houve um choque maior, que foi a resposta dos governos: um aumento gigantesco da quantidade de moeda em circulação. Basta observar o comportamento do M2 nos Estados Unidos, retratado no gráfico (acima).

A inflação de preços que acontece hoje é filha do concubinato do choque de oferta com a inflação monetária promovida pelo Fed. É importante ter em mente que, sem a segunda, a primeira seria transitória, ou seja, os preços parariam de subir ou até mesmo cairiam, mas, na presença da total irresponsabilidade monetária que significa a segunda, a criança vai crescer e em pouco tempo terá altura para participar da NBA League.

É impopular, mas é preciso afirmar isso: enquanto os fenômenos que causam a inflação de preços (expansão de moeda e crédito) e as loucuras fiscais estiverem presentes, os preços vão continuar subindo cada vez mais. A terapia da Escola Austríaca é antipática, mas é a única que funciona: é bobagem esperar que a inflação de preços vá fazer as malas, pegar o primeiro trem e sumir por encanto. Enquanto as cadeias de produção estiverem se reorganizando, o melhor a fazer é acabar com a orgia, reduzindo imediata e resolutamente os estímulos monetários e fiscais: subindo as taxas de juros e cortando despesas. Isso exige dois requisitos: dos economistas do Banco Central e do governo, seguir a teoria comprovadamente eficaz; dos políticos, ter coragem para aprovar as medidas de austeridade fiscal, o que sempre é difícil em qualquer país.

Nos Estados Unidos e na Zona do Euro, infelizmente, nenhum desses requisitos está presente. No Brasil, contudo, o Banco Central vem fazendo a sua parte desde março de 2020, aumentando a taxa básica de juros, medida indispensável que ainda não foi adotada no Hemisfério Norte. Infelizmente, embora a equipe econômica e o governo tenham plena convicção da importância da aprovação das reformas estruturais que permitiriam tornar o processo de ajuste menos doloroso, os políticos, especialmente em períodos eleitorais, não admitem que qualquer ser que respire cometa o desplante de mexer nos vespeiros em que se refugiam.

O Banco Central do Brasil, então, ao se preocupar com o resgate da estabilidade da moeda, está mostrando o caminho das pedras aos bancos centrais das economias desenvolvidas. Para alguns analistas, nossas autoridades monetárias começaram a agir com certo atraso, mas é preciso atentar para o fato de que, até o segundo semestre do ano passado, praticamente tudo o que se dizia a respeito dos efeitos da pandemia era tratado com receio e cautela. E talvez o mais importante: elas foram as primeiras — e até agora estão sendo as únicas — a adotar o procedimento recomendado pela boa teoria econômica. 

Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor. Instagram: @ubiratanjorgeiorio

Leia também “Insegurança jurídica, a outra pandemia”

Revista Oeste - Ubiratan Jorge Lorio

 

sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Como resolver os obstáculos que dificultam o crescimento da economia

Os sinais para o país decolar surgem no horizonte, mas, para que isso aconteça, o governo e o Congresso precisam se livrar de entraves pelo caminho

Certos momentos podem definir o futuro de uma nação. Nas próximas semanas, uma leva de dados oficiais colocará em números a dimensão da recuperação econômica do Brasil, uma vez passada a fase mais dramática da pandemia de Covid-19, concentrada no segundo trimestre de 2020. Os sinais de que o pior ficou para trás despontam em diversos indicadores de setores como construção, vendas no varejo e produção industrial, além da confiança empresarial, mais robusta. 

 

As incertezas globais também foram atenuadas. A eleição [ainda não confirmada] do democrata Joe Biden nos Estados Unidos, depois de uma tensa corrida eleitoral, retirou um ponto de pressão de mercados de todo o mundo. E os testes acima de 90% de eficácia em diversas vacinas trazem mais esperanças de um mundo imunizado contra o coronavírus e mais próximo do “velho” normal. Por aqui, o Brasil tem se beneficiado da melhora de preços de diversas commodities — da recuperação no preços do petróleo, passando por produtos agrícolas que estão próximo da máxima histórica, como a soja, e o minério de ferro, que se valorizou por volta de 30% no ano. Em razão disso, a bolsa de valores retomou o seu maior patamar desde fevereiro, com o investidor estrangeiro de volta ao país. Até o último dia 20, o saldo de entradas internacionais no mercado de capitais brasileiro já superava 26 bilhões de reais, o que já fez de novembro o melhor mês da história. Tais variáveis combinadas apontam para um ciclo promissor pela frente.

 

 A grande questão que agora se impõe, portanto, não é mais ressuscitar uma economia abalroada pela crise sanitária, mas sim garantir que o reaquecimento da atividade seja consistente em 2021, aproveitando uma janela de oportunidade que o mundo deve proporcionar nos próximos meses. Com um fluxo de capitais menos intimidado pela pandemia, o Brasil terá novamente a chance e engrenar um crescimento duradouro e iniciar um momento positivo para o bem-estar da população. O momento é perfeito. As eleições municipais terminam neste fim de semana e a atividade parlamentar será retomada. Está na hora de um esforço conjunto entre o governo e o Congresso para a realização de reformas estruturantes que melhorem o ambiente de negócios, tragam prosperidade e mitiguem as desigualdades sociais. Não são medidas fáceis, exigem amplo entendimento e ação, mas tornam-se factíveis à medida que haja uma convergência entre os poderes. O risco é o país deixar de aproveitar esse cenário, optando por medidas motivadas por interesses eleitoreiros, que podem nos levar à beira de um colapso. “Nos últimos quarenta anos, alternamos momentos muito bons e muito ruins, mas o resultado final foi modesto, quase medíocre”, diz o ex-presidente do Banco Central (BC) Armínio Fraga. “O que deveria ser uma locomotiva de crescimento ficou parado em diversas barreiras. E o país ainda está repleto de entraves”.

(..............) 

“Respeitar o teto é importante porque nos permite atrair investimentos e criar empregos.”

Michel Temer

 

Os entraves para o crescimento do Brasil são conhecidos e desafiadores. De uma certa forma, eles se encaixam com precisão em um conceito criado pela pesquisadora americana Michele Wucker, especialista em análises econômicas da América Latina. Em 2016, ela se valeu da imagem dos rinocerontes cinza, paquidermes africanos bastante comuns nos safáris fotográficos, para representar um padrão falho na gestão pública da região. Sempre presentes no cenário, eles costumam ser negligenciados até que, por motivos banais, se tornam agressivos e partem para o ataque. “São como problemas imensos, que as pessoas acham que sempre vão estar por ali, inofensivos, mas que, quando saem de controle, se transformam em ameaças devastadoras”, diz ela. A questão central, na teoria de Wucker, é se antecipar e resolver o problema antes que seja tarde demais. O plano de voo para a economia decolar, deixar esses rinocerontes para trás e atingir velocidade de cruzeiro já existe. Cabe ao governo e ao Congresso se empenhar para colocá-lo em prática. E logo.
 
Publicado em VEJA,  edição nº 2715, de 2 de dezembro de 2020
 
Em Economia - VEJA -  MATÉRIA COMPLETA

quinta-feira, 11 de junho de 2020

Entenda Essa Crise Política. É O Poder Mudando De Mão - DefesaNet

Stephen Kanitz

Essa súbita polarização na política, que deve estar assustando muita gente, é na realidade um fim de ciclo. O poder reinante nesse pais nos últimos 25 anos está sucumbindo, lutando com todos os seus meios para impedir o inevitável. Usam jogo sujo sim, mas é por puro desespero acreditem. Quem está perdendo miseravelmente nesses  últimos 30 anos  é a indústria, os sindicatos, os trabalhadores chão de fábrica, as grandes cidades, os industriais cada vez mais falidos e subsidiados.
Quem está crescendo e ganhando é a Agricultura.

A agricultura por si só já representa 25 % do PIB, contra 10% anos atrás. O Agro  negócio, que incorpora as indústrias que a fornecem, como mineração de fertilizantes, a indústria de tratores, os bancos, as seguradoras, as transportadoras passa a ser 40% do PIB, tranquilo. Ter 40% do PIB significa dinheiro, crescimento, poupança, prosperidade. ignifia crescente poder político, que ao contrário que a maioria das pessoas pensam, o setor Agrícola não tinha comensurável a esses 40%.

Foi sempre a agricultura que gerou exportações e superávit no câmbio, foi sempre a indústria que importava máquinas estrangeiras.
A Indústria sempre foi muito mais forte politicamente do que a Agricultura, mas agora ela definha, não apresenta lucros, não tem mais poder financeiro. Foi sempre a Indústria que indicava os Ministros da Fazenda, normalmente economistas ligados a Fiesp como Delfim Neto e Dilson Funaro, por exemplo. Foi esse total descaso pela nossa Agricultura que resultou no enorme êxodo rural, que tanto empobreceu o país e fortaleceu justamente partidos que atendiam as demandas dos bairros pobres.

Nada menos que 45% de nossa população teve que abandonar a agricultura, abandonada que foi pelos Ministros da Fazenda. Que nem sabem mais o significado de  “Fazenda”, apropriado para um país destinado a agricultura, como o Brasil e a Argentina. Foi  Raul Prebish, que convenceu economistas argentinos e brasileiros como Delfim, Celso Furtado, Jose Serra, FHC e toda a Unicamp, a esquecerem  nossa agricultura a favor da “industrialização” para o mercado interno, a famosa “substituição das importações ”. Por isso investirem fortunas em “incentivos”, leis Kandir, subsídios via o BNDES em indústrias antigas mas que “substituiriam as nossas importações”, importações que geralmente eram dos mais ricos, produzir produtos populares para classe C e D nem pensar.

Somente a partir de 1994 , que passaram a produzir para a Classe C e D, movimento do qual fiz parte. Além das milícias que invadiam terras, a luta por reservas, contra a ampliação de terras produtivas, destruição de pesquisas de aprimoramento genético. Nossos  industriais perceberam tardiamente que foi justamente essa “substituição das importações” que iria gerar nossa estagnação e não inovação, e lentamente destruímos a nossa indústria nascente a partir de 1987. De 27% do PIB, 45% com seus agregados, a Industria entrou numa espiral descendente para 14,5% hoje.

Que reviravolta. Essa atual crise política no fundo é a crise da indústria e das famílias ricas desesperadas, empobrecidas mas ainda com certo poder político. É a crise dos sindicatos trabalhistas que viviam dessas contribuições sindicais.

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terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Recuperação da economia ainda está no meio do caminho - Míriam Leitão

O Globo

O crescimento de 0,6% foi um pouco acima do esperado para o terceiro trimestre, mais ainda não é um crescimento forte. A recuperação da economia continua no meio do caminho.  Com o resultado, o PIB está 3,6% abaixo do nível atingido no primeiro trimestre de 2014. E ficou 4,9% acima do quarto trimestre de 2016, o ponto mais agudo da recessão. O país não está tão mal quanto já esteve, mas segue abaixo do patamar de antes da crise.

A avaliação dos especialistas sobre o dado do terceiro trimestre foi positiva. A recuperação não está completa, mas alguns resultados importantes ficaram no campo positivo. A construção, por exemplo, cresceu 4,4% na comparação com o mesmo trimestre de 2018. Foi o segundo dado positivo seguido nessa comparação. O segmento, no entanto, havia passado por 20 trimestres seguidos de quedas. A retomada completa ainda está distante. 

O PIB do trimestre veio melhor que o esperado. Mas ainda falta um longo caminho para andar até o ponto onde se estava antes de começar a cair. Essa é a mais longa, demorada e dolorosa das crises que já tivemos. Em outras grandes recessões, como no começo dos anos 1980 e dos anos 1990, o Brasil voltou a crescer mais rapidamente.

É preciso maior consistência nos dados para garantir que a atividade de fato engrenou. A alta acumulado em um ano ainda está em 1%. Quando se lembra que o crescimento esperado para o ano era de 2,5%, a conclusão é que o dado real tem sido muito fraco até aqui. A velocidade do crescimento permanece lenta. [a retomada está lenta, mas, é melhor subir aos poucos e não cair, do que cair de forma rápida e contínua, conforme ocorreu no final do ciclo de governos petistas = por incompetência, desídia e roubalheira do pt = perda total. 
Para agravar mais ainda, o governo Temer sofreu sabotagem sistemática do Janot, com denúncias infundadas.
A construção caiu durante 20 trimestres seguidos, sendo normal que leve uns seis trimestres para recuperar o que caiu.] 
Blog da Míriam Leitão, colunista - O Globo
 
 
 

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Governo faz ajuste modesto [para cima] na previsão para o PIB do ano - O Globo

Marcelo Loureiro

O Ministério da Economia ajustou a previsão para o PIB do ano. A alta será de 0,9%, estimou a equipe, pouco acima do 0,85% previsto em setembro. 

O ajuste acompanha a melhora já feita pelo mercado. Mas a realidade é que retomada perdeu velocidade. O PIB deste ano deve mesmo ser menor que as altas de 1,1% em 2018 e em 2017. Esperava-se mais desse primeiro ano de governo. [era esperado um PIB mais avantajado, mas, com a 'perseguição' movida contra o presidente Bolsonaro, qualquer avano é digno de nota e promissora.
Inflação crescente, desemprego crescente  e PIB decrescente, qualquer reversão, especialmente quando alcança os três, é excelente.
Até o final deste ano os inimigos do presidente Bolsonaro, também inimigos do Brasil, terão se curvado ao FATO: NÃO HAVERÁ SEGUNDO TURNO e descobrirão que a torcida pelo quanto pior, melhor, só prejudica a eles mesmo.]

Os dados recentes da atividade mostram uma melhora ligeira na recuperação nos últimos meses. Mas 2019 é um ano de frustrações. A expectativa inicial era que a economia cresceria 2,5%. A forma como o governo conduziu o primeiro ano de mandato, no entanto, acabou atrapalhando. O ambiente de conflito e a falta de uma base no Congresso frearam a recuperação.
Para 2020, a estimativa de crescimento subiu de 2,17% para 2,32%. Nos últimos anos, as previsões de longo prazo se provaram otimistas.

Blog da Míriam Leitão - Marcelo Loureiro - O Globo
 
 

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018

Corrupção, contas públicas e crescimento

Previdência, déficit em 2017: R$ 268,7 BI - Ou o Brasil combate as fraudes contra a Previdência ou a bomba explode - as fraudes são tanto na arrecadação quanto no pagamento de benefícios

Há a percepção de que uma forte queda da corrupção fará aparecer no caixa do Tesouro Nacional algo como R$ 200 bilhões. Esse número fatídico tem sido divulgado sem que haja nenhuma referência a algum estudo sistemático que o origine. Três motivos principais sugerem que as coisas não são tão simples.

O primeiro motivo é que o combate à corrupção tem um custo.
Ou seja, para saber quanto aparecerá no caixa do Tesouro, é necessário calcular números líquidos do custo do combate à corrupção.  Erros como esse são comuns em estatísticas dessa natureza. Com frequência divulgam-se na imprensa números sobre desperdício de alimentos. O subtexto é que a sociedade poderia ser muito mais rica se não houvesse o desperdício. O problema é que não se consideram os investimentos necessários para reduzir as perdas. O ganho para a sociedade será o resultado líquido.

Ou ainda com as perdas da Sabesp na distribuição de água nos domicílios. As perdas precisam ser computadas de forma líquida (sem trocadilho) dos custos de reduzi-las. O segundo motivo a sugerir que o custo fiscal da corrupção é bem menor do que se imagina é que muitas vezes consideramos como corrupção a incompetência pura e simples e problemas de gestão do Estado. Ambos são problemas seríssimos, mas de natureza distinta da corrupção.

Por exemplo, a maior parcela dos prejuízos da Petrobras com a construção da refinaria de Abreu e Lima (PE) e do Comperj (RJ) deveu-se a problemas de projeto e de execução das obras. A corrupção, muito elevada, respondeu por R$ 6 bilhões, ante perdas de R$ 44 bilhões no balanço da empresa de 2014 - ou seja, a corrupção respondeu por 14% das perdas patrimoniais contabilizadas.

Um terceiro motivo é que algumas vezes a corrupção reduz a ineficiência da economia
pois funciona como um lubrificante que diminui o atrito do sistema: é comum termos regulação complexa e excessiva e, nesses casos, a corrupção, apesar de imoral, pode aumentar a eficiência do sistema e, portanto, provavelmente ocorrerá em uma economia de mercado.  Não se trata, obviamente, neste último caso, de defender a corrupção. Muito melhor do que o lubrificante mencionado é ter regras simples e bem desenhadas. E, mesmo que não seja assim, a lei tem que ser cumprida, independentemente da questão da eficiência. Mas, se o assunto é custo da corrupção, não se pode deixar de mencionar esse fator numa análise objetiva da realidade.

A moral da história é que o combate à corrupção não é a panaceia para nossos problemas fiscais, embora possa ajudar.  Por exemplo, no último ano houve queda apreciável de gastos com o programa auxílio-doença e a aposentadoria por invalidez a partir de um pente-fino promovido pelo Ministério da Ação Social. Pessoas não elegíveis aos programas recebiam os benefícios. Evidentemente, como discuti na coluna de 2/4/2017, o combate à corrupção nesses programas tem o custo de, em alguns casos, levar à recusa do benefício a pessoas que são de fato elegíveis. A razão é que não há sistema de filtros que seja perfeito. [as fraudes na Previdência ocorrem tanto na arrecadação das contribuições - patrões descontam dos empregados mas só recolhem aos cofres da Previdência parte; funcionários ganham X, mas, oficialmente ganham menos do que X e é sobre esse valor que a contribuição é calculada e várias outros tipos de fraudes que somadas geram déficit gigantesco ao INSS;


existem fraudes também na concessão de benefícios, auxílios aos que não são elegíveis, aposentadorias e pensões fraudadas, aposentados por invalidez que gozam de perfeita saúde.
As fraudes são as mais diversas e como incidem sobre milhões logo geram déficit bilionário. 
Tem que passar o pente fino nas Bolsas de todos os tipos.

Se o Governo decidisse partir para uma caça aos fraudadores, um pente fino implacável, teria um custo elevado mas reduziria em muito esses R$ 268,7 BI - déficit total em 2017.
Com a redução do déficit alguns ajustes via reforma da Previdência se teria mais uns trinta anos de Previdência garantida e tal 'trégua' poderia ser usada para aperfeiçoar mecanismos tornando a Previdência mais justa - uma Previdência mais justa não é nivelar os benefícios por baixo = distribuir a miséria - e sim elevar os benefícios menores, reduzindo os maiores até ocorrer um encontro tornando a vida de todos mais justa.

Mas, o Governo faz um arremedo de campanha de combate as fraudes, reduz um pouco os valores desviados e parte para uma reforma baseada em reduzir 'privilégios', esquecendo que a primeira consequência da redução dos chamados 'privilégios' é reduzir a arrecadação, haja vista que os servidores públicos que hoje contribuem sobre a totalidade dos salários, 11% seja sobre R$ 5.000, seja sobre R$ 20.000, passarão a contribuir TODOS sobre no máximo o teto do INSS que não alcança sequer R$ 6.000.

A queda na arrecadação acontece no dia seguinte ao da entrada em vigor da Reforma, enquanto a redução dos benefícios será gradativa, ocorrendo com as aposentadorias e esta por alguns anos permanecerão em valores superiores aos do TETO ÚNICO de contribuição - haja vista o período de transição, também o  tempo que grande parte dos servidores levará para se aposentar e passarão a contribuir menos, mas receberão (devido contribuições recolhidas sobre teto máximo) aposentadorias em valores superiores ao do TETO ÚNICO.
Ou o Governo combate as fraudes e faz uma reforma menor, mas, que com a redução das fraudes terá efeitos de uma grande reforma, ou a Previdência Social acaba.]

O combate à corrupção é uma agenda complexa e permanente. O combate à corrupção pela repressão policial e pela ação direta da Justiça é só um dos elementos dessa agenda.  Mudanças legislativas que reduzam as oportunidades e aumentem e deem mais eficácia aos instrumentos de investigação –principalmente quando se trata de crimes de colarinhos branco, que não deixam rastros– são igualmente importantes. Se é verdade que o combate à corrupção não fará aparecer R$ 200 bilhões no caixa do Tesouro Nacional, é provável que a construção de um marco legal que desestimule fortemente a corrupção produza fortes impactos sobre o crescimento de longo prazo do país.

Ou seja, provavelmente a ligação entre corrupção e caixa do Tesouro Nacional existe, mas o grosso dela se dá de forma indireta, mediada pelo crescimento econômico. Não há dúvida de que o combate à corrupção é uma importante bandeira, mas devemos entender de forma realista os ganhos que ela pode trazer. E não a usar para tapar o sol com a peneira em relação à necessidade imperiosa de fazer o ajuste fiscal.


Samuel Pessôa - Folha de S. Paulo

quarta-feira, 11 de outubro de 2017

Para crescer de verdade

O Brasil saiu da recessão, voltou a crescer e deverá continuar em crescimento nos próximos anos, mas terá condições para avançar como outros emergentes ou para escapar da mediocridade?

O Brasil saiu da recessão, voltou a crescer e deverá continuar em crescimento nos próximos anos, mas terá condições para avançar como outros emergentes ou, no mínimo, para escapar da mediocridade? Há muita gente discutindo essa questão, mas fora de Brasília, onde assuntos como esse atraem pouca gente. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é o representante mais visível desse pequeno grupo. Por enquanto, a maior parte das projeções para 2019 e os anos seguintes, quando outro governo será responsável pela orientação da economia, converge para 2%. Esse número aparece, por exemplo, nas estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) para 2022, último ano de mandato do presidente a ser eleito em 2018.

Uma expansão anual de 2% pode parecer bem satisfatória, depois da severa contração econômica de 2015 e 2016 e da recuperação muito gradual iniciada em 2017. Mas com um ritmo de 2% ao ano o Brasil continuará perdendo posições na corrida internacional. Dentro de cinco anos as economias emergentes e em desenvolvimento da Ásia estarão avançando 6,3%, pelo mesmo conjunto de projeções. As emergentes da Europa estarão sustentando, em média, um ritmo de 3,2%. As da América Latina deverão exibir um desempenho mais modesto, de 2,7% em média. As mais dinâmicas estarão em ritmo mais intenso, na faixa de 3,5% a 4%. Quase todas, em suma, continuarão ganhando distância em relação ao Brasil, como já vinha ocorrendo antes da recessão criada pela administração petista.

A recessão, no entanto, foi a parte mais visível de um desastre muito mais amplo e de maior alcance. Com o fim da estagnação, a maior parte das pessoas talvez nem pense nos outros danos causados durante muitos anos de incompetência governamental e de irresponsabilidade. De fato, o Brasil encerrou o período recessivo. Seu Produto Interno Bruto (PIB) já cresceu por dois trimestres consecutivos e deve continuar em expansão. As estimativas do FMI apontam expansão de 0,7% neste ano e de 1,5% em 2018. Mas falta consertar outras consequências, de maior alcance, dos erros acumulados no longo período petista.

Projeções para o longo prazo são obviamente sujeitas a erros e a muitos imprevistos. Nem por isso as estimativas de expansão em torno de 2% são desprezíveis. Cálculos desse tipo envolvem uma avaliação do potencial de crescimento econômico. É esse o ponto fundamental. Durante a primeira fase da gestão petista a economia brasileira foi beneficiada pela prosperidade internacional interrompida em 2008. Internamente, as contas públicas foram administradas com algum cuidado – no primeiro governo Lula – e por uma política monetária eficaz, bem desenhada para conter a inflação. Tudo isso acabou a partir do segundo mandato.

A maior parte dessa história foi marcada pela gastança do governo, pelo empreguismo, pelo desleixo crescente em relação às metas fiscais e de inflação, pela gestão irresponsável do câmbio, pelo protecionismo, pela distribuição de favores a grupos selecionados, pelas distorções de preços e pelo desleixo quanto a investimentos produtivos. Esse desleixo inclui falhas de planejamento e de gestão de projetos, muita corrupção, muito superfaturamento e a quase destruição de grandes estatais. Mais que a alguns anos de recessão, o Brasil foi condenado à quase incapacidade de crescer.

Não há surpresa nas condições apontadas por técnicos do FMI para a elevação do potencial de crescimento. Para começar, o conserto duradouro das finanças públicas só é possível com uma séria reforma da Previdência. Mas a lista inclui outras mudanças fundamentais para o ganho de eficiência, como a reforma tributária. A lista de providências inclui, naturalmente, investimentos (sérios) em infraestrutura, criação de ambiente mais propício aos negócios e reforma das políticas dos bancos públicos, para melhor alocação de recursos.  Essa lista remete claramente para a enorme coleção de velhas ineficiências e, principalmente, de erros e desmandos da fase petista. Não seria diplomático, nem necessário, entrar nos detalhes. É o que precisa ser consertado.


Fonte: Editorial - O Estado de S. Paulo
 

terça-feira, 4 de julho de 2017

Produção industrial é a maior para o mês desde 2011

A expansão da indústria foi de 4,0% em comparação com maio do ano passado, avanço mais intenso desde fevereiro de 2014 

produção industrial brasileira registrou alta de 0,8% em maio na comparação com abril, segundo divulgou nesta terça-feira o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o melhor resultado para o mês de maio desde 2011 e também a segunda taxa positiva consecutiva, acumulando no período crescimento de 1,9% – dado que reverte a queda de 1,6% observada em março.

Na comparação com maio do ano passado, a expansão da indústria foi de 4,0%, maior avanço desde fevereiro de 2014 (4,8%).

Os cinco primeiros meses de 2017 também registraram taxas positivas, o setor industrial acumulou 0,5%. Nos últimos 12 meses, houve recuo de 2,4% até maio de 2017, mantendo a redução no ritmo de queda iniciada em junho de 2016 (-9,7%).  Dos 24 ramos pesquisados pelo IBGE, 17 registraram resultados positivos. A principal influência positiva foi registrada por  veículos automotores, reboques e carrocerias, que avançou 9,0%, influenciado, em grande parte, pela maior fabricação de automóveis e caminhões, de acordo com o órgão.

Outras contribuições positivas importantes sobre o total da indústria vieram de produtos alimentícios (2,7%) e de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (4,0%).

Entre os seis ramos que reduziram a produção nesse mês, os desempenhos de maior relevância para a média global foram assinalados por coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-2,2%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-7,6%). Essas atividades apontaram taxas positivas no último mês de abril: 1,9% e 13,9%, respectivamente.

Fonte: Revista VEJA

 

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

A retomada do crescimento já está à vista?

O sucesso obtido em algumas etapas das reformas já levou a uma queda dos riscos

A aprovação da PEC que fixa as despesas em termos reais é um primeiro passo na trajetória iniciada pelo governo de Michel Temer. Mas, ao impor a obediência a uma rígida restrição orçamentária – inscrita na constituição –, introduziu uma racionalidade nas decisões que havia sido perdida nos últimos anos. O governo teve a coragem de atacar a fonte mais importante do desequilíbrio – o crescimento dos gastos – propondo uma solução eficaz, e não apenas um paliativo, e a nossa obrigação é apoiar essa decisão.

Há um longo caminho à frente, no qual, além da reforma da Previdência, deverão ocorrer outras, inclusive no campo microeconômico, como no complexo de óleo e gás e na infraestrutura, para citar apenas dois exemplos. Mas bastou o reconhecimento da competência da equipe econômica e da articulação política para que crescesse o otimismo, expresso tanto na valorização dos ativos quanto nos índices de confiança dos empresários. 


Ambos têm sido interpretados como uma indicação de que estaríamos próximos da retomada do crescimento. Mas, contrariamente a essa previsão, os dados mais recentes apontaram para queda do PIB no terceiro trimestre, crescendo a probabilidade de que isso se repita no quarto trimestre. Infelizmente, corremos o risco de que esta será a recessão mais profunda e mais longa dos últimos 25 anos.

Nada disso seria uma surpresa para quem evitasse fazer previsões sobre o PIB dando um peso excessivo aos índices de confiança, em vez de ponderar as perspectivas das exportações, do consumo das famílias e da formação bruta de capital fixo. Com as exportações mundiais e os preços de commodities em queda, não podemos esperar que as exportações brasileiras impulsionem a retomada do crescimento. Nem o consumo das famílias poderá exercer essa função nos próximos trimestres, quer porque, após o encerramento da recessão o nível de emprego e os salários ainda sofrerão quedas, quer porque os bancos deverão continuar retraídos na concessão de crédito. Resta esperar que a retomada do crescimento venha dos investimentos em capital fixo, mas, na grande maioria dos setores, há uma enorme capacidade ociosa, e assistimos a um número recorde de empresas em recuperação judicial.

O sucesso obtido em algumas etapas das reformas já levou a uma queda dos riscos, e esta é uma condição necessária para a elevação dos investimentos. Mas será que é, também, condição suficiente? Na ausência de estímulos de natureza fiscal – as despesas em termos reais estão congeladas –, a única força que lentamente pode estimular a economia é a queda da taxa de juros. Não teríamos apenas o benefício intrínseco de uma retomada mais rápida do crescimento, mas também da melhora do crescimento das receitas tributárias e da dinâmica da dívida pública, contribuindo para o ajuste fiscal.

O temor de alguns é que a aceleração dos cortes de juros coloque em risco a convergência da inflação para a meta. Contrariamente a essa advertência, contudo, não vejo nas atuais circunstâncias o risco de uma perda de controle da inflação.  Apesar da queda do PIB potencial temos, atualmente, um enorme hiato negativo do PIB, constituindo-se em importante força desinflacionária, e por isso vivemos uma situação oposta à ocorrida em 2012, quando o corte da taxa de juros ocorreu com um hiato do PIB fortemente positivo e com crescimento na inflação corrente e nas expectativas. Aquele erro levou o mercado financeiro à conclusão de que o Banco Central tinha uma “meta implícita” de inflação maior do que 4,5%, provocando o crescimento da inércia e a desancoragem das expectativas.

Nas atuais circunstâncias, a queda mais intensa da taxa de juros traria o benefício de produzir o retorno à meta de inflação com um custo menor em termos de perda de produto e emprego. O único risco corrido pelo Banco Central seria o de não aprovação no Senado da PEC que fixa os gastos reais, e talvez no dia 29 de novembro comecemos, graças à competência política do governo, a superar a barreira que vem limitando a sua decisão de acelerar os cortes. 


Fonte: Affonso Celso Pastore -  Ex-presidente do Banco Central - O Estado de S. Paulo



terça-feira, 25 de agosto de 2015

Não é mais imposto = agora é extorsão rumo ao confisco



País não aguenta mais aumento de impostos


Governo prepara proposta do Orçamento do ano que vem com a previsão de elevação da carga tributária, e com isso retardará a retomada do crescimento


Demonstra ter enorme resistência a deletéria tradição da administração pública federal de formular propostas orçamentárias irreais. Mesmo durante uma conjuntura de grave crise como a atual, situação em que a credibilidade do governo é chave, o Planalto prefere encaminhar ao Congresso um Orçamento em bases equivocadas, revelou o jornal “Valor Econômico”.


E não só por fazer uma aposta em total contramão à dos analistas do mercado — o governo trabalha com a hipótese de um crescimento de 0,5% em 2016, para efeito orçamentário, enquanto a média das projeções profissionais aponta para a persistência da recessão já em curso.


Um grave erro de percepção do estado da economia, cometido no projeto de Orçamento para 2016, é também prever mais aumento de impostos. Isso significa, entre outras coisas, que a presidente Dilma não consegue se desapegar da ideia de um Estado ativo nas despesas, quando a crise fiscal exige uma postura de sentido oposto. Esta configuração do próximo Orçamento confirma que, para o Planalto, o peso da carga tributária não é um problema.



Tem-se a mesma percepção diante da elevação do custo trabalhista sobre as empresas, decorrente da reoneração da folha de salários recém-aprovada no Senado como último item desta primeira fase do ajuste fiscal. 


O mesmo acontece com relação à reforma da fusão entre PIS e Cofins, com a criação de uma alíquota única. A mudança é positiva por ser simplificadora, mas embute alto risco para empresas, por exemplo, do setor de serviços, que têm pouco ou nenhum crédito a abater do novo imposto, por não utilizar insumos em larga escala. Conhecendo-se a voracidade do Estado brasileiro por impostos, é forte aposta que o governo Dilma aproveitará esta reforma para aumentar a arrecadação.


Mais uma vez, como acontece desde o Plano Real, em 1994, um governo tenta fechar as contas pelo aumento da coleta de impostos e corte nos investimentos, outra praxee não por redução e racionalização das despesas bilionárias. 



Neste sentido, PSDB e PT estão juntos. Os dois sufocaram o contribuinte. No período de seus governos, a carga tributária saiu de 25% do PIB para cerca de 35%, o mais elevado índice entre as economias emergentes, superior mesmo a alguns países desenvolvidos — mas com serviços públicos deploráveis.


Como esta previsão de mais impostos ocorre em meio à séria crise, caso a intenção do Planalto se confirme o governo irá retardar a própria recuperação da economia. Um tiro no pé de elevado calibre, cujas vítimas serão os demitidos que já aumentam as filas às portas das delegacias do Ministério do Trabalho e de agências da Caixa Econômica, em busca do seguro-desemprego.

Fonte: Editorial - O Globo