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terça-feira, 17 de julho de 2018

Baderneiro e desordeiro - isso na Rússia - puxam cadeia sem necessidade de perder tempo com julgamento

Membros do Pussy Riot vão passar 15 dias na prisão por invasão de campo

Manifestantes afirmam que objetivo do protesto na final da Copa era promover a liberdade de expressão e condenar as políticas da Fifa

Os quatro integrantes do grupo Pussy Riot que invadiram o gramado do estádio Luzhniki durante a final da Copa do Mundo da Rússia foram condenados nesta segunda-feira, 16, a quinze dias de prisão por sua ação. Eles protestavam a favor da liberdade de expressão e contra a Fifa, por se aliar a regimes repressores.

Os manifestantes, três mulheres e um homem, entraram em campo durante o segundo tempo da partida entre França e Croácia, que terminou com vitória da equipe francesa por 4 a 2. Eles estavam vestidos como policiais, mas foram rendidos rapidamente pelos guardas.

Um dos jogadores croatas, Dejan Lovren, não gostou do protesto e tentou retirar um dos manifestantes de campo. Já o francês Kylian Mbappé retribuiu o cumprimento de uma ativista.

(...)

Com EFE
 

O pensamento em chuteiras

Elite é nata, suprassumo. A fina flor de uma atividade. Seja qual for. O Brasil já teve uma elite futebolista. Não tem mais. E, se não mais tem, menos pensadores temos

Lamentei menos a seleção brasileira não ter avançado na Copa do que tê-la disputado — mais uma vez — sem um jogador como De Bruyne ou Pogba. Futebol não tem importância. O pensamento, sim. O futebol, esse, da Copa, nada tem a ver com a vida real — não é indicativo da qualidade de um povo. O pensamento, sim. Pensamento é distinção. O futebol brasileiro já formou grandes pensadores. Se não mais, eis um sinal. É a capacidade de formular que estabelece uma elite. Nada a ver com poder econômico ou classe social. Elite é nata, suprassumo. A fina flor de uma atividade. Seja qual for. O Brasil já teve uma elite futebolista. Não tem mais. E, se não mais tem, menos pensadores temos.

Se a presença de pensadores dentro de campo não informa sobre a existência de pensantes brasileiros em outras áreas, a falta de pensadores de chuteiras muito dirá acerca do ambiente de ideias no Brasil.  Sei que devo um aparte a Philippe Coutinho. Um craque. Seus lançamentos para os gols de Paulinho e Renato Augusto se impõem junto ao que de mais original houve na Copa. Há ideias ali. Mas foram lampejos. Não poderia ser diferente. Coutinho não é um homem livre. Dentro de campo: não é. Não julgo técnicos nacionais. São todos dungas. Operam em outro registro. Tampouco os responsabilizo se há os atletas que aceitam se limitar. Apenas escrevo que é impossível — a Coutinho ou qualquer talento de sua estirpe — ser pensador pleno, jogador livre, se encaixotado no extremo do tabuleiro. E ali, no entanto, estão — confinados pela própria finitude do campo — os nossos maiores.

Pensa-se melhor de frente. De Bruyne só é De Bruyne porque lhe é franqueada a chance de ver e medir em profundidade.  Não desmereço as posições, mas me pergunto sobre em que momento o futebol brasileiro se podou em modesto produtor de ótimos alas e pontas, de maneira mesmo que consideremos natural discutir sobre se Neymar e Marcelo podem estar no mesmo time. Oi? Engarrafamos as laterais enquanto despovoado vai o centro. É isso mesmo?

Não desqualifico Casemiro, Fernandinho e outros paulinhos. São bons. Têm carreiras sólidas. Em seus clubes, porém, jogam com outros casemiros e fernandinhos, ou dividem o meio de campo com criadores como Modric e De Bruyne? Não falo de futebol. Mas de ideias sobre o esporte. É só o que deveria interessar a quem aprecia o jogo. Casemiro e Fernandinho são muito melhores com Modric e De Bruyne. Nunca serão, contudo, Modric e De Bruyne jogando com outros casemiros e fernandinhos. Nunca serão nem o Casemiro e o Fernandinho que nos acostumamos a ver respectivamente no Real Madrid (treinado por Zidane) e no Manchester City (por Guardiola). Serão os Casemiro e Fernandinho da Copa, atrapalhados ainda pela expectativa de serem o que não podem, pela pressão de jogarem onde estiveram Gerson e Falcão, e pela precária direção de um desses mano-menezes.

Na decisão entre França e Croácia, Pogba deu um lançamento de 60 metros para Mbappé e acompanhou a jogada para, afinal, concluí-la. Primeiro, recebendo passe de Griezmann, num chute de direita; depois, no rebote, de esquerda. Um golaço. Mas o que me mobiliza aqui é o lançamento. A origem da jogada. Claro que Pogba é um fora de série. Fato também é que só será possível realizar um passe de 60 metros havendo espaço para tanto. Um lançamento de 60 metros exige pelo menos 80. Exige, pois, que aquele que o faça seja o que inicia a armação do time. Não há papel mais importante.

Se é certo que Coutinho poderia fazer o que fez Pogba, certo também é que jamais faria — jamais fará — atado onde está. Coutinho, sempre de lado, nunca tem mais que 30 metros adiante — e esse é o próprio sinônimo do subaproveitamento. Sim, existem bons zagueiros capazes de começar uma jogada. Existem também os bons fernandinhos, eficientes em fazer a bola girar. Mas que deles — a não ser que seja um Aldair, a exceção — não se espere o movimento que surpreende e desconcerta.

Quem sou eu para dar lição aos professores, mas não seria já tempo de investir novamente na formação de meias que joguem de frente, desde a própria intermediária, com livre trânsito para enxergar e conceber? Até a próxima Copa, há quatro anos — inclusive para adaptar jogadores à função. Quando surgiu, pensei que Paulo Henrique Ganso pudesse ser esse homem. Não foi. Em parte, por culpa dele; sobretudo, porém, porque jamais compreendido, porque nunca entendido e explorado o espaço que lhe deveria ser dado e defendido. Era necessário — estratégico — insistir. Preferiram rotulá-lo como lento, obsoleto, em vez de treiná-lo para recuar e tomar para si a saída de bola e a armação do jogo. Que o time se organizasse a partir dele. Tática é se armar em função do pensamento. O resto é Tite, esse Lazaroni, sonhando em treinar time europeu. 

Carlos Andreazza é editor de livros