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sábado, 14 de janeiro de 2023

O ataque da esquerda à Câmara em 2006, por Aldo Rebelo - Revista Oeste

Joice Maffezzolli

Ex-deputado e ex-ministro relembra invasão da esquerda à Câmara em 2006

Em 2006, um grupo invadiu a Câmara dos Deputados, em Brasília, e deixou rastro de destruição e vandalismo | Foto: Reprodução

Em 2006, um grupo invadiu a Câmara dos Deputados, em Brasília, e deixou rastro de destruição e vandalismo -  Foto: Reprodução

Era 6 de junho de 2006. Um grupo de sem-terra, liderado por Bruno Maranhão, um dos fundadores do PT e amigo de Luiz Inácio Lula da Silva, invadiu a Câmara dos Deputados, em Brasília, e deixou um rastro de destruição
Portões de vidros foram quebrados, terminais de autoatendimento danificados, computadores e câmeras de vídeo do circuito interno deteriorados. 
Numa cena que chocou o país, um carro, que seria sorteado pela Associação dos Funcionários da Câmara entre servidores, foi arruinado — um prejuízo de R$ 150 mil.  
Pelo menos 35 pessoas ficaram feridas, a maioria delas servidores públicos. 
O deputado Aldo Rebelo era o presidente da Casa e, naquele dia, estava numa agenda com o presidente da Câmara do Paraguai, para tratar das relações bilaterais entre os países. Foi quando recebeu um telefonema do deputado Inocêncio Oliveira (PR-PE) avisando que algo muito grave ocorria na Câmara.
 
Quase 17 anos depois, diante do vandalismo ocorrido nos prédios públicos no domingo, 8, em Brasília, o presidente Lula disse que a esquerda nunca praticou esse tipo de baderna
Chamou, inclusive, com a ajuda da velha imprensa, os atos de violência de terrorismo. Mas a História narra que não é bem assim. Aldo Rebelo conversou com a reportagem de Oeste nesta semana para relembrar o dia em que a esquerda atacou a democracia.“Pedi para o segurança providenciar o carro para o meu deslocamento, e ele disse que a decisão deles era que eu não podia ir para a Câmara, porque não havia segurança. A situação estava muito difícil, porque a Câmara tinha sido invadida por um grupo de militantes sem-terra”, diz Aldo Rebelo. “Um segurança já estava ferido gravemente, atingido por um paralelepípedo na cabeça, já havia muita depredação, e não era seguro eu me deslocar. Eu disse: ‘Não, eu vou, e vou agora’”.

No caminho, o segurança sugeriu que Rebelo entrasse por uma via alternativa, para evitar a entrada tradicional, que estava ocupada pelos baderneiros. O grupo de Bruno Maranhão — morto em 2014 — fazia reivindicações sobre a reforma agrária.

Invasão do MST na Câmara dos Deputados: cenas de destruição - 
 Foto: Reprodução

“Eu disse: ‘Não, vamos entrar por onde entramos, e cheguei’. Os ocupantes estavam todos no Salão Verde. Passei por eles, fui até a sala da presidência, chegaram lá vários deputados: um grupo mais conservador querendo que eu convocasse o Exército e a polícia para tirar os manifestantes, eu descartei a hipótese; e os grupos de esquerda querendo que eu formasse uma mesa para discutir as reivindicações dos invasores”

Prisão
O líder dos vândalos, Bruno Maranhão, foi levado até Aldo Rebelo, que lhe deu voz de prisão. “Eu disse: ‘Você teve toda a chance de discutir isso quando quisesse, porque a Câmara é aberta, você me conhece. Você queria fazer aqui um ato de desmoralização da Câmara, de promoção do seu movimento, não vai ter mesa. Você está preso’.”

Maranhão ficou detido numa sala, sob custódia de Rebelo, até a chegada da polícia. “Claro que eu não podia chamar nem a polícia, nem o Exército para dentro da Câmara, mas também não podia fazer mesa de negociação com essas pessoas, quando tinha servidor em estado grave na UTI e todo patrimônio depredado”, explica.

Em seguida, Aldo foi ao plenário, fez um relato do que estava acontecendo e deu voz de prisão aos cerca de 600 manifestantes. “Pedi que os presos, sob minha custódia, fossem recolhidos pela Secretaria de Segurança do Distrito Federal. O secretário disse que não tinha condições de efetuar as prisões, porque para cada preso tinha de ter, pelo menos, três soldados, e ele não tinha como mobilizar esse efetivo.”

Aldo retrucou, dizendo que o local era responsabilidade da Secretaria, e que ele ajudaria com o atendimento médico e a alimentação. Por fim, os militantes foram levados para o Ginásio de Esporte Nilson Nelson — idosos e mães com filhos foram todos liberados, e os demais foram autuados. Depois, pediu que o Ministério Público entrasse com ação de indenização da Câmara.

“Eles quebraram tudo o que tinha lá, uma estátua do busto do Mário Covas, eles quebraram a marretadas. O busto foi para um lado, e a cabeça para o outro.”

Manifestações de 2013
O ano de 2013 foi marcado por inúmeras mobilizações em todo o país. Milhares de pessoas foram às ruas, com diversas bandeiras. Desde críticas, o aumento das tarifas do transporte público, a falta de investimentos em serviços públicos, até posições contrárias aos gastos com megaeventos esportivos. Naquele ano, ocorria a Copa das Confederações, uma preparação para a Copa do Mundo, que seria realizada no país em 2014. O grito “Não vai ter Copa” rodou o mundo.

Uma série de manifestações nas seis cidades-sede da Copa (das Confederações) reuniu 900 mil pessoas, de acordo com balanço da Secretaria Extraordinária de Segurança de Grandes Eventos. Aldo Rebelo era o então ministro do Esporte do governo de Dilma Rousseff. Ele conta que os movimentos eram híbridos.

“Tinham os chamados manifestantes da oposição ao governo, mas também tinham os manifestantes organizados pelo PT. Houve queima de pneus, geralmente, em manifestação se usam pneus velhos, mas eles compraram novos, e foi muito fácil de localizar os compradores. A polícia descobriu que eram funcionários do Palácio do Planalto e que tinham ajudado a organizar essas manifestações, conhecidos de gente do primeiro escalão do governo, do PT”, declara Aldo

Rebelo afirma que havia um grupo de esquerda, liderado pelo Psol, disputando o espaço que era ocupado pelo PT. “Se o PT fracassasse, a direita ganhava o lugar do PT no governo, e o Psol ganhava o lugar do PT no que seria a oposição. E, como eu conhecia esse povo, sabia que eles tinham nascido no começo do governo Lula para fazer posição, para substituir.”

Num dos jogos em Belo Horizonte, 60 mil pessoas protestaram pelas principais ruas e seguiram em direção ao estádio do Mineirão. Naquele dia, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, acompanhava a partida. Ainda que a polícia tenha contido os manifestantes, Blatter ficou preocupado com a segurança no país e mandou cancelar da Copa das Confederações, recolher as delegações e deixar o Brasil.

Depredação na Câmara dos Deputados, em 2006 | Foto: Reprodução

“Se ele cancelasse a Copa das Confederações, que é um evento-teste, em que você prepara a área de segurança, mobilidade, aeroportos, hotelaria para o evento no ano seguinte, que é a Copa, e já havia rumores de que os Estados Unidos estavam interessados em acolher a Copa, caso ela fosse cancelada no Brasil, nessa mesma noite eu liguei para a presidente Dilma e falei: ‘Nossa Copa subiu no telhado’.”

No dia seguinte, Dilma fez um pronunciamento, dando garantias de segurança para a realização da Copa, e Blatter desistiu da ideia de suspender o evento. Apesar da derrota do Brasil, de 7 a 1, para a Alemanha, a organização da Copa foi elogiada, inclusive pela Fifa.

Aldo teve um papel importante para a concretização da Copa do Mundo de 2014. “O meu esforço era de garantir a segurança; imagina você receber Angela Merkel, a primeira-ministra da Alemanha. O Putin (Vladimir Putin), o presidente russo, veio ao Brasil; o príncipe Harry, representando a Família Real, ficou aqui o tempo todo, enquanto a Inglaterra permaneceu.”

Ele cita a visita de Joe Biden, à época vice-presidente dos Estados Unidos, para assistir a um jogo da seleção norte-americana. “Reservaram um restaurante à beira-mar para 200 pessoas, para todos os jogadores com seus familiares, com o vice-presidente e jornalistas. Você imagina a exposição ao risco, à noite, no Rio Grande do Norte. Tivemos de providenciar com a Marinha, para bloquear a área perto do restaurante, para evitar qualquer tipo de risco.”

O ex-ministro relembra que, nos protestos de 2013, houve episódios violência e depredação.

“Esse movimento chegou a matar um cinegrafista no Rio de Janeiro. Eu vi outra imagem no Rio, também, um PM ardendo em chamas, jogaram um rojão, você via o escudo e a figura do policial militar. A invasão do Itamaraty, em Brasília, a invasão da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, com a danificação de obras de arte, de quadros, relíquias da arte brasileira, tentativa de invasão aqui da Prefeitura de São Paulo”

Aldo perguntou a Antonio Anastasia, então governador de Minas Gerais, no dia da tentativa de invasão ao estádio, quem estava coordenando os atos.Quem organizou esse povo, como que chegaram aqui? Ele disse: ‘A CUT’. Eu digo: ‘Mas o movimento da Copa é do PT’. Ele rebateu: ‘Eu sei… (risos)’.” 

Tratamento da mídia
O tratamento dado pela mídia tradicional foi diferente nas manifestações de 2013 e em 2023. Há dez anos, as manifestações receberam, abertamente, apoio da imprensa. “A Globo interrompia, inclusive, as novelas para transmitir diretamente aquelas manifestações, como se fosse uma coisa aceitável, legítima, e era o tratamento também dado internacionalmente.”

Agora é o contrário, a maioria dos jornalistas da imprensa tradicional repudia os atos. “Agora eu acho que a mídia, tanto a nacional quanto internacional, tem outro interesse. Está muito mais próxima do atual governo. Eu acho que é por essa razão que esses manifestantes de Brasília ofereceram pretexto muito conveniente para essa narrativa”, Aldo se refere, sobretudo, ao uso de palavras como terrorismo, golpismo e extremismo.

Manchete do jornal Folha de S.Paulo (7/6/2006) | Foto: Reprodução
Jornal Folha S.Paulo (7/6/2006) | Foto: Reprodução
Jornal Folha S.Paulo (7/6/2006) | Foto: Reprodução
Ex-comunista
Aldo Rebelo é um nacionalista assumido, defensor de um dos maiores patrimônios do Brasil, a Amazônia. Depois de 40 anos, deixou o PCdoB, por discordar de novos rumos que o partido estava tomando em relação a comportamentos e costumes. “Resolvi me afastar, sem brigas, sem confusão, buscar outro caminho e permanecer com as minhas opiniões. Sempre defendi a democracia e os interesses dos mais pobres.”

A união é a saída para a soberania do país. E, no momento, o Brasil está numa encruzilhada. “Olha, nós estamos aí vendo esses acontecimentos lamentáveis. Claro, você pode pensar em quem promoveu esses acontecimentos, você pode pensar no atual governo e você pode pensar em tudo isso, mas vamos pensar um momento no Brasil.”

“Nessa encruzilhada, você tem um caminho que é esse de domingo, do confronto, do enfrentamento, da violência. Esse é fácil, não precisa de muito trabalho para seguir. O outro caminho é mais difícil, é o caminho de unir e pacificar o país”, conclui.

Leia também “O triunfo da mentira”

 Joice Maffezzolli, colunista - Revista Oeste


quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

É tempo de caju e de persistir - Evaristo Miranda

Revista Oeste

A fibra do caju, normalmente descartada, é utilizada cada vez mais em hambúrgueres, bolinhos e quibes vegetarianos, com tecnologias da Embrapa 
 
Pé de caju | Foto: Shutterstock

…em dois credos se esmoem.
Gabriel Soares de Souza, 1587

O clima influencia a agropecuária e até o futebol. Nunca a Copa do Mundo foi realizada entre novembro e dezembro. As altas temperaturas do verão no Golfo Pérsico levaram a Fifa a decidir pela mudança da data. E o futebol também influencia o clima. A Copa parece ajudar a baixar a temperatura do clima sociopolítico no Brasil. Parece. As principais equipes já jogaram no Catar.  
No próximo domingo, quem entra em campo é Jesus Cristo. No 27 de novembro começa o Tempo do Advento, do latim Advenire, chegar a. Chegar onde? Ao Natal. Nas casas, no campo e nas cidades é tempo de montar presépios, árvores de Natal, guirlandas, enfeites e muitas luzinhas. Neste ano, em meio ao verde-amarelo da Pátria patriótica e de chuteiras.

No calendário litúrgico, o Tempo do Advento corresponde às quatro semanas antecessoras do Natal. O comércio ganha vida, além de promoções, como a Black Friday, antecipando as compras dos presentes natalinos. Lojas de decorações natalinas surgem nos shoppings. Cidades e casas ganham luzes e o campo começa a colher os plantios da primavera.

Muitos chamam estas semanas de tempo do Natal. Com tanta festa é bom não misturar os tempos. Para a Igreja Católica existem dois: o do Advento e o do Natal. O calendário litúrgico começa com o Tempo do Advento em novembro e termina no 24 de dezembro com a comemoração do nascimento de Jesus.  
O Tempo do Natal vai do 24 dezembro até o primeiro domingo depois da Epifania, em janeiro. Como dizem na Itália: L’Epifania tute le feste a pórta via. Se a Epifania leva embora todas as festas, logo o Carnaval as traz de volta. E, no Brasil, ele já dá seus brados no réveillon de 1° de janeiro.

Em dezembro, o sol caminha cada vez mais para o Sul e para o alto, a menos de um mês do solstício. O banho de luz amadurece as frutas. A colheita da fruticultura antecede a dos grãos. E de uma delas em particular. Quem não conhece ou não gosta de caju?

O nome vem do tupi acayú: a– fruto + ác– que trava + aiú– fibroso ou fruto travoso e fibroso. O pedúnculo, chamado de fruto, é na realidade um pseudofruto, como no caso do morango. Sua cor varia do amarelo ao vermelho. O nome científico do cajueiro (Anacardium occidentale) evoca a forma de um coração invertido do pseudofruto (do grego kardia, coração). E occidentale evoca o Ocidente, as Índias Ocidentais, o Oeste. O cajueiro é o símbolo de Recife. Em tupi, Aracaju significa cajueiro dos papagaios (ará). O maior cajueiro do mundo encontra-se na Praia de Piranji (RN). A árvore recobre 8.500 metros quadrados e produz de 70 a 80 mil cajus/ano (2,5 toneladas).

Maior cajueiro do mundo, localizado em Piranji, Rio Grande do Norte
Maior cajueiro do mundo, em Piranji, Rio Grande do Norte
Foto: Reprodução/Idema-RN

Típicos do litoral nordestino, os brasileiríssimos cajueiros logo foram identificados pelos povoadores portugueses. Gabriel Soares de Souza (GSS) destaca o caju e os cajuís, os primeiros em sua lista de frutíferas, no Tratado Descritivo do Brasil, de 1587. Um capítulo esplêndido: Daqui por diante se dirá das árvores de fruto, começando nos cajus e cajuís. (…) demos o primeiro lugar e capítulo por si aos cajueiros, pois é uma árvore de muita estima, e há tantos ao longo do mar e na vista dele.

GSS descreve suas qualidades terapêuticas: …são medicinais para doentes de febres, e para quem tem fastio, os quais fazem bom estômago e muitas pessoas lhes tomam o sumo pelas manhãs em jejum, para conservação do estômago, e fazem bom bafo a quem os come pela manhã, (…) e são de tal digestão que em dois credos se esmoem. Uma das primeiras ilustrações do cajueiro é do frade franciscano André Thevet, na obra Singularidades da França Antártica, de 1557.

Voilà (…) nostre Acaïou, auec le pourtrait qui vous est cy deuant representé. Singularitéz de la France Antarctique.

Rapidamente, os portugueses espalharam o cajueiro pelo mundo. Ele chegou às Índias Orientais, em Goa, entre 1560 e 1565. Da Índia, onde se adaptou muito bem, os lusitanos o levaram ao Sudeste Asiático e à África, ainda no século 16.

Seu pseudofruto, pedúnculo carnudo e sumarento, é consumido in natura, dá ótimo suco e pode ser cristalizado ou feito doce em pasta. Fazem-se estes cajus de conserva, que é muito suave, e para se comerem logo cozidos no açúcar cobertos de canela não têm preço (GSS). E compõe excelente batida com cachaça. Ele é a base da cajuína, bebida não alcoólica de cor amarelo-âmbar, típica do Maranhão, do Ceará e do Piauí. Ela foi desenvolvida em 1900 pelo escritor e farmacêutico Rodolfo Marcos Teófilo. Até vinho de caju, os indígenas produziam: Do sumo desta fruta faz o gentio vinho, com que se embebeda, que é de bom cheiro e saboroso (GSS). A fibra do caju, coproduto abundante nas fábricas de suco, normalmente descartada, é utilizada cada vez mais em hambúrgueres, bolinhos e quibes vegetarianos, com tecnologias da Embrapa.

A castanha-de-caju, ótimo aperitivo, é utilizada em doces e pratos, como o vatapá. É para notar que no olho deste pomo tão formoso cria a natureza outra fruta, parda, a que chamamos castanha, que é da feição e tamanho de um rim de cabrito (GSS). As primeiras exportações, no início do século 20, foram da Índia aos Estados Unidos. Hoje, seu mercado mundial movimenta mais de US$ 5 bilhões ao ano, sendo produzido em mais de 40 países.

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Castanha-de-caju | Foto: Shutterstock

A área mundial de cajueiros é da ordem de 7,1 milhões de hectares, com maior concentração na África: 56% da castanha-de-caju produzida no mundo. Em área cultivada, o Brasil está na sexta posição, dos quais 99,7% no Nordeste. O Vietnã, sem grandes áreas cultivadas, tem elevada produtividade (1.241 quilos por hectare — kg/ha), lidera as exportações mundiais e processa 1 milhão e 820 mil toneladas, 80% importados da África.

A castanha serve ainda à fabricação de produtos vegetarianos e veganos, como “leites” vegetais, “iogurtes” e até “queijos”, por pequenas e grandes indústrias de alimentos

Os EUA respondem por 20% do consumo mundial; a Europa, 16%; e a China, 9%. A Índia, maior consumidor, com 38%, importa 55% (1 milhão e 550 mil toneladas). O Brasil, preocupa: de quinto maior produtor mundial em 2011, caiu para a 14ª posição em 2016, com 1,5% do total produzido.

Os sistemas de produção do cajueiro precisam evoluir muito em genética e tecnologia. A produção nacional de castanha declinou 2% ao ano entre 2017 e 2021, com uma diminuição de área de 4% ao ano, apesar do aumento anual de 1,3% na produtividade. Produtores e Embrapa sistematizam inovações para a cajucultura ganhar eficiência e produtividade. Com falta de castanha nas indústrias, até São Paulo amplia o plantio do caju nas regiões mais quentes do Estado.

Na indústria processadora, o índice de quebra de castanhas é alto e gera, com tecnologias de extração adequadas, um óleo comestível de qualidade e elevado valor agregado. A castanha serve ainda à fabricação de produtos vegetarianos e veganos, como “leites” vegetais, “iogurtes” e até “queijos”, por pequenas e grandes indústrias de alimentos.

A casca da castanha fornece um óleo industrial, negro e viscoso, o LCC (líquido da castanha-de-caju) e faz parte da química verde. Ele corresponde a cerca de 25% do peso da casca. Formado por ácido anacárdico, cardanol, cardol e 2-metilcardol, é rico em fenóis. Deita essa casca um óleo tão forte que aonde toca na carne faz empola, o qual óleo é da cor de azeite, e tem o cheiro mui forte (GSS). Dada sua composição química, o LCC tem várias aplicações, de larvicida a verniz, até em sensores eletroquímicos. E exige cuidados dos produtores. O azeite que tem na casca (faz) pelar as mãos a quem as quebra. “Queima” e marca as castanhas, desvalorizando-as.

O tronco produz uma resina amarela, a goma do cajueiro, com usos farmacêuticos. Confere proteção tópica e tem ação anti-inflamatória sobre a mucosa do esôfago. Substitui a goma arábica nas cápsulas para comprimidos, com a vantagem de não apresentar açúcares, interessante em medicamentos para diabéticos. Também é usada na indústria alimentar e do papel. Cria-se nestas árvores uma resina muito alva, da qual as mulheres se aproveitam para fazerem alcorce de açúcar em lugar de alquitira (GSS). Alquitira é a goma mucilaginosa do astrágalo (Astracantha gummifera), espessante em loções, geleias, sorvetes etc., substituída aqui pela resina.

A casca, comercializada desidratada, é usada em chás como adstringente e tônico. Popular, ela serve para tratar tosse, catarro e fraqueza. É um excelente antisséptico, bactericida e efetiva no tratamento de cáries.

Caju or not caju? Há muita coisa feita de caju. Do erótico Soneto ao Caju de Vinicius de Moraes à Chuva do Caju dos meteorologistas. Até novena católica. A Novena do Caju é cerimônia sensual, cantada e dançada, durante os festejos em louvor a Nossa Senhora da Conceição, no 8 de dezembro, ou a Santa Luzia, no 13. Tambor e pífaro acompanham o canto dos fiéis em frente ao altar da santa, numa casa de família. Ao final, o dono da casa convida todos a beijarem os pés da imagem. Quando terminam, a dança começa. A Novena do Caju ocorre do Pará à Paraíba, associada à frutificação do caju, em pleno Advento. Como se diz no Nordeste: tanta novena e tanto caju… faz lama.

No litoral do Nordeste, a colheita do milho conclui-se em novembro. A Confederação da Agricultura e Pecuária prevê crescimento de 2,8% do Produto Interno Bruto da agropecuária em 2022, em parte pela expansão de milho e trigo. O agro brasileiro é persistente e entra confiante no Tempo do Advento. Seja qual for o clima, o tempo ou a temperatura, o agronegócio seguirá o preceito tão presente nos regimentos reais das naus portuguesas: prepara-te para o pior, espera o melhor e cuida do que vier. Quem planta caju não colhe manga.

Cajus expostos em um mercado de Arembepe, Bahia
Cajus expostos em um mercado de Arembepe, Bahia - 
 Foto: Helissa Grundemann/Shutterstock

Leia também “O milagre do lúpulo, o tempero da cerveja”

Evaristo Miranda, colunista - Revista Oeste


quarta-feira, 27 de julho de 2022

Neymar será julgado, um mês antes da Copa do Catar, por corrupção em assinatura de contrato com o Barcelona [o acusado pode ser condenado a 7 anos de prisão.]

 O Globo — Barcelona

Neymar e outras cinco pessoas serão julgadas por supostas irregularidades na assinatura do contrato do jogador com o Barcelona, em 2013. A partir do dia 17 de outubro, um tribunal da Catalunha iniciará a análise do caso, com a promotoria local pedindo a pena de dois anos de prisão para o atleta. Segundo o jornal El País, ao lado do jogador no banco dos réus, estarão seus pais e dois ex-presidentes do Barcelona (Sandro Rosell e Josep Maria Bartomeu), todos acusados de corrupção entre particulares e fraude, além de um ex-diretor do Santos, clube do qual o jogador foi adquirido pela equipe espanhola.

Na ação, o Ministério Público da Espanha exige o pagamento de 8,4 milhões de euros, cerca de R$ 45,6 milhões. Ainda de acordo com El País, o julgamento é consequência de uma denúncia apresentada há sete anos pela DIS, empresa brasileira especializada no mercado de futebol, que se sentiu prejudicada na negociação entre Neymar e Barcelona. Antes da ida do jogador para a Europa, a empresa detinha 40% dos direitos federativos dele.

A DIS havia adquirido o percentual em 2009, quando o atacante tinha apenas 17 anos, por um preço equivalente a cerca de dois milhões de euros. A empresa considera que foi vítima de um “golpe” arquitetado por Neymar, seus parentes e pelo Barcelona e pede uma indenização superior a 150 milhões de euros — mais de R$ 815 milhões.

A empresa e o Ministério Público consideram que, em 2011, ocasião do acordo entre jogador e empresa, Neymar e o pai assinaram dois contratos simulados com o Barcelona, ignorando que parte dos direitos pertenciam à DIS. Um desses contratos, de 40 milhões de euros, teria servido para “amarrar” a assinatura antes de se tornar público, e teria sido feito sem o conhecimento da DIS.

“O Barcelona e o jogador quebraram as regras da Fifa e alteraram a livre concorrência no mercado de transferências”, disse a empresa em sua defesa em 2016, quando as acusações foram apresentadas.

Ainda segundo El País, embora o Ministério Público peça dois anos de prisão para Neymar e o pagamento de uma multa de 10 milhões de euros, a empresa ainda pede a pena de cinco anos de prisão para Neymar e que ele esteja impedido, pelo mesmo período, de jogar futebol.

A DIS também pede cinco anos de prisão para os pais do jogador. Nesse caso, o MP pede “apenas” dois anos de prisão para o pai e um para a mãe do atleta. [Considerando que na Espanha os acusados que são condenados ficam presos, caso o jogador seja condenado o Brasil será favorecido = um 'perna de pau' a menos, no elenco da seleção brasileira de futebol.]

Esportes - O Globo 

 

domingo, 8 de maio de 2022

Sobrenatural da Silva - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo 

Cada vez mais, Lula fala com a arrogância de quem vive uma paixão incontrolável por si mesmo  

O ex-presidente Lula armou em torno de sua imagem internacional o que pode estar sendo o maior embuste da história política deste País. Aqui dentro, onde a população tem a oportunidade de saber melhor quem ele é, principalmente porque experimentou na própria pele as consequências de suas passagens pelo governo, sua vida não é tão fácil - entre outras coisas, no momento, precisa ganhar uma eleição para presidente da República. Lá fora, porém, vive em estado de graça. Graças à lavagem cerebral operada pela mídia do Primeiro Mundo, as elites "globalistas" e a militância mundial de esquerda, Lula se transformou numa pessoa que não existe

Virou um mártir das "causas progressistas", um resumo de tudo o que há de mais sublime no ser humano - e, segundo a imprensa, "está de volta do exílio", para reassumir o governo e livrar os 200 milhões de brasileiros do "pesadelo" que estariam vivendo hoje.
 
Lula nunca esteve no exílio. Esteve na cadeia, pela prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, condenado em terceira e última instância por nove juízes diferentes.  
É mentira, também, que tenha sido absolvido e que a "Justiça brasileira" tenha reconhecido "erros judiciais" ao condená-lo. Lula não foi inocentado de nada.  
O que houve foi uma decisão demente do STF, que anulou as quatro ações penais existentes contra ele com uma justificativa reconhecidamente fútil, sem dizer uma sílaba sobre culpa ou inocência. 
 
 
Pior ainda é a ficção de que foi "absolvido pela ONU" - uma vigarice que Lula está usando como prova mundial de sua inocência. 
Um desses comitês controlados pela esquerda e que aprova qualquer coisa declarou, há pouco, que Lula foi "injustiçado" - mas e daí? 
O comitê central do PT, a CUT e a associação dos bispos também disseram. 
Fazem de conta, aí, que "a ONU" pode, de fato, absolver alguém; não pode, assim como não poderiam a Fifa ou o júri do Miss Universo, porque não é um tribunal de Justiça. A "absolvição da ONU", porém, está aí; é um dos argumentos-chave do seu marketing internacional.
O curioso, nisso tudo, é que Lula parece acreditar, realmente, que é a entidade sobrenatural criada na mídia estrangeira; fala cada vez mais, aqui no Brasil, com a arrogância de quem vive uma paixão incontrolável por si mesmo. Já disse que, por causa da inocência que lhe foi conferida "pela ONU", o Brasil teria de anular as eleições de 2018 e que ele, Lula, deveria ser nomeado presidente da República
Recusa-se a revelar seu programa para a economia; diz que o eleitor tem de votar nele sem saber disso. Garante que resolveria a guerra da Ucrânia com "uma cerveja". Não dá sinais de que vá parar.

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 29 de dezembro de 2021

O governo tem que facilitar, e não complicar

Levantamento feito pela Agência Nacional de Petróleo em postos de combustíveis no Brasil inteiro encontrou uma diferença de quase R$ 3 no litro do álcool hidratado entre o Rio Grande do Sul e São Paulo. Um posto do Rio Grande do Sul está vendendo o álcool a R$ 7,80 o litro. E, em São Paulo, o preço médio nem é o preço mais baixo - o preço médio é R$ 4,90. A maior parte das refinarias de álcool estão em São Paulo. Mas quase, praticamente R$ 3, porque esse é o preço médio em São Paulo. E está mais baixo em São Paulo por que?  
Consequência de uma medida provisória do governo autorizando a venda direta da refinaria para o posto. 
Não precisa fazer uma viagem até a distribuidora, para depois voltar para o posto. Pode vender para qualquer bandeira. Liberação é isso: o governo tem que abrir, facilitar, e não prender, amarrar, complicar para ficar tudo mais caro. Para fazer passeio por aí.
 
Na semana antes do Natal, o preço caiu muito, na maior parte dos estados. Em 19 estados o preço do litro do álcool caiu. Em Mato Grosso, chegou a cair 15% - ao passo que, no Rio Grande do Sul, esse preço em média é R$ 7, enquanto a média em São Paulo é R$ 4,90. Só para a gente registrar, comparar, na hora de abastecer. Tem muita gente, eu já ouvi muito motorista se queixar de que está vindo pela BR-101, por Santa Catarina, indo em direção ao Rio Grande do Sul, e abastece antes de entrar na divisa do Rio Grande do Sul.  
Porque no Rio Grande do Sul o imposto estadual é mais alto do que em Santa Catarina, e o preço do combustível fica mais caro, qualquer combustível.


Chuvas e inundações

Bahia sofrendo com chuvas, e também Minas Gerais, outros estados. Muita chuva neste verão. 
E o presidente Bolsonaro assinou uma medida provisória criando um crédito extraordinário de R$ 200 milhões para refazer estradas destruídas pelas chuvas, pelas inundações 
R$ 80 milhões para estradas baianas. 
Mas também vai para estradas do Pará, de São Paulo, de Minas Gerais e do Amazonas. Há mais de 20 mortos e mais de 30 mil desabrigados só na Bahia. É uma grande tragédia numa época em que a gente costuma festejar o Natal e o fim de ano.


A vitória de Alex

Quem está festejando também é o jogador que começou no Grêmio, o Alex dos Santos Gonçalves, que estava enrolado na Indonésia, não podia sair, estava sem o passaporte.                                                          E o governo brasileiro entrou nessa dando apoio diplomático e jurídico ao atleta. E o clube em que ele jogava, unilateralmente, violou o contrato reduzindo o salário dele em 75%. Aí ele se queixou para a FIFA, e a FIFA puniu o clube e mandou o clube pagar as diferenças.                                  O clube ficou furioso e retaliou, dando uma queixa na polícia, dizendo que ele já estava com o visto de trabalho vencido na Indonésia, por isso estava em situação irregular e a situação ficou difícil para ele voltar para o Brasil em festas de fim de ano, para se reunir com a família.

O governo brasileiro entrou nessa, conseguiu a liberação dele também, e ontem eu vi um tweet do presidente Bolsonaro e do ministro de Relações Exteriores, o ministro França, anunciando que ele havia passado na alfândega, na migração em Jacarta. Estava em um voo da Emirates para Dubai, ia fazer escala em Dubai, de lá iria para São Paulo, e de São Paulo ia voltar para Porto Alegre onde ele começou a carreira esportiva.

 Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


domingo, 21 de novembro de 2021

Visita de Bolsonaro ao Golfo Pérsico foi exitosa e produtiva - Gazeta do Povo

Alexandre Garcia
 
O presidente Jair Bolsonaro está de volta ao Brasil depois de uma exitosa e produtiva visita a países árabes do Golfo Pérsico riquíssimos em petrodólares. A viagem começou pelos Emirados Árabes, em Dubai, na Expo 2020, e foi um sucesso. Fez amizade com os príncipes, almoçou com empresários e teve o Dia do Brasil, no dia 15 de novembro. Também foram fechados negócios, com a venda de aviões e material bélico brasileiros.
 
Bolsonaro visita o evento Dubai Air Show: comitiva presidencial fechou acordos e apresentou produtos brasileiros aos países árabes
Bolsonaro visita o evento Dubai Air Show: comitiva presidencial fechou acordos e apresentou produtos brasileiros aos países árabes| Foto: Alan Santos/PR

Os árabes compraram também alimentos, principalmente frango, além de café e mate. Também houve intenções de investimentos em infraestrutura e em papéis do agro. Dali ele foi para o Bahrein, onde inaugurou uma embaixada brasileira, liderou uma motociata e foi muito bem recepcionado. Os chefes de Estado estavam de braços abertos para os brasileiros. Saudação na rua do povo e crianças com a bandeirinha brasileira, foi uma festa.

O que vem sendo feito na Amazônia e quase ninguém fala

E no Catar, onde vai ter Copa do Mundo no ano que vem, Bolsonaro se encontrou com o presidente da Fifa, Gianni Infantino. Ele ganhou uma bola e uma camisa da Fifa com o seu nome. Como retribuição, Bolsonaro o presenteou com uma camisa canarinho. Eles visitaram juntos um estádio maravilhoso, que já está pronto um ano antes da competição. Chegaram a bater bola no gramado.

Filiação a novo partido
Agora que Bolsonaro está de volta todos estão esperando para saber como vai ficar a filiação partidária do presidente. Ele viajou ao Oriente Médio sob o anúncio de que assinaria a ficha no próximo dia 22 para entrar no Partido Liberal (PL).

Mas lá pelas tantas, Bolsonaro e Valdemar Costa Neto, o manda-chuva do PL, se desentenderam principalmente por causa do apoio do partido a Rodrigo Garcia, candidato de João Doria ao governo de São Paulo. Mas todos sabem que o candidato de Bolsonaro é o ministro da Infraestrutura Tarcísio Gomes de Freitas. E tem mais divergências em Alagoas, no Piauí, no Amazonas…

Mas agora as lideranças do PL se reuniram e anunciaram que estão dando carta branca para Valdemar Costa Neto negociar o que quiser com o presidente Bolsonaro para não perdê-lo. Afinal, ele é o candidato que puxa voto. Só lembrar que na eleição passada elegeu os governadores do Rio de Janeiro e o de São Paulo, só pra citar alguns.

A tradução dessa carta branca é aceitar qualquer condição de Bolsonaro para entrar no partido. Afinal, o partido precisa do presidente da República mais do que Bolsonaro precisa do PL. Ele tem ainda a opção do Partido Progressista (PP), em que esteve por 11 anos e que é uma legenda que tem muitos prefeitos e deputados pelo país.

O PL tem a terceira bancada da Câmara em tamanho, com 43 deputados, que têm uma fidelidade de 88% nas votações. Um deles, talvez o mais fiel, é o Marco Feliciano (SP). E no Senado, o partido tem quatro senadores com uma fidelidade de 84% nas votações. Um dos mais conhecidos é Jorginho Mello, de Santa Catarina. E o partido ainda tem 347 prefeitos.

Partido é tudo igual
Um amigo me questionou por que tanta celeuma com o PL, já que ele não é tão diferente dos outros partidos, e eu concordei. Pode ser que todos sejam mais ou menos iguais, tem lá o chefão e os seus problemas de um modo geral. Não há muita diferença, infelizmente, partidos no Brasil são agremiações, não são conjuntos de doutrinas políticas. São interesses momentâneos, às vezes fisiológicos, e união de gente que tem o mesmo interesse.
 
Alexandre Garcia, colunista - Gazeta do Povo - VOZES
 

A um ano da Copa do Qatar, crise e dólar alto deixam evento mais restrito aos mais ricos - O Globo

Pacote de luxo para sete jogos do Mundial sai por R$ 327 mil, sem passagens

Estádio 974, feito com 974 contâineres, é o sétimo estádio a ficar pronto no Qatar, de oito que receberão jogos do Mundial Foto: HANDOUT / Reuters Estádio 974, feito com 974 contâineres, é o sétimo estádio a ficar pronto no Qatar, de oito que receberão jogos do Mundial Foto: HANDOUT / Reuters

Flávio Canedo, 33 anos, é advogado e torcedor do Flamengo. Em dezembro de 2019, passou 14 dias no Qatar para acompanhar o time no Mundial de Clubes. Sem contar com os ingressos para os jogos, gastou aproximadamente R$ 6,4 mil, afirma. No cálculo, passagens aéreas, diárias em um hostel “bem basicão, sem café nem nada”, transporte em Doha e alimentação simples, cozinhada por ele mesmo no hostel, com a comida que comprava no mercado.

Dois anos depois, a um da primeira Copa do Mundo no Oriente Médio, o cenário é ainda mais dispendioso para o torcedor brasileiro da classe média. O dólar, moeda que precifica da passagem aérea à barra de chocolate dentro do estádio, saltou de R$ 4,20 para R$ 5,50, desde a experiência de Canedo até hoje. O Relatório de Mercado Focus, divulgado no começo deste mês pelo Banco Central, estima a moeda americana seguindo neste patamar em 2022. [a ida ao Qatar para acompanhar o Flamengo e/ou conhecer novos costumes, novas atrações, vale a pena para quem pode. 

Agora desperdiçar dinheiro, ainda que peso venezuelano, para acompanhar o timinho de pernas de pau, de mercenários,  do aglomerador Tite timinho que, em passado remoto foi chamado de Seleção Brasileira, é babaquice, é ser sem noção. 

O resultado já se sabe = mais uma vez o timinho não vai ganhar nada = tem chances de ganhar uma goleada tipo 8 a 1, quebrando o recorde dos 7 a 1 que levou, merecidamente, da Alemanha.]

É claro, existe quem passe à margem das oscilações no câmbio e da crise econômica do país. Em fevereiro, a Fifa começou a comercialização de pacotes de hospitalidade (ingressos e serviços dentro do estádio) para jogos da Copa do Mundo. E a procura por parte de torcedores brasileiros é grande, afirma Rildo Amaral, gerente executivo da Stella Barros Franqueadora, agência oficial de venda de pacotes.

A expectativa da empresa é levar dez mil pessoas para o Qatar. A compra de pacotes que incluem hospedagem, translado terrestre e facilidades em Doha, e mais o pacote de hospitalidade da Fifa, sai, o mais barato, para apenas uma partida da fase de grupos, por 7,9 mil dólares, aproximadamente R$ 43 mil as passagens aéreas não estão na conta. O torcedor que quiser assistir a sete partidas, seguindo a seleção em uma eventual ida à final, gastará cerca de R$ 327 mil. Trata-se de turismo voltado para pessoas em nada afetadas pela pandemia ou pela crise a reboque. A Copa do Mundo tem disso, muitas vezes o torcedor é uma pessoa que não sofreu impacto financeiro na crise. O problema para ele não é de investimento, ele tem dinheiro — afirma Amaral: — Mas tem pessoas que se capitalizam para ir a um Mundial, elas vendem apartamento, carros.

Sete estádios prontos
Será o primeiro grande evento global com público depois da explosão da Covid-19, em 2020. Isso gera uma perspectiva de procura maior por parte dos fãs de futebol, incluindo os brasileiros. 
Mas se engana quem vislumbra nesta Copa a grande experiência catártica de vida pós-pandemia. Os costumes do país do Oriente Médio pedem moderação, nada parecido com as extravagâncias protagonizadas pelos cerca de 34 mil brasileiros que foram à Copa da Rússia, em 2018.

(...)

A conhecida restrição ao álcool é uma questão: as bebidas só poderão ser consumidas em determinados hotéis ou nas fan fests, áreas reservadas para torcedores confraternizarem. Em 2019, o rubro-negro Flávio Canedo lembra ter pago R$ 50, no câmbio da época, em uma cerveja long neck em um desses hotéis, e cerca de R$ 35 nas fan fests. A experiência como solteiro também foi frustrante: — Flerte, pegação, isso não existe lá. Zero.

Esportes - O Globo - MATÉRIA COMPLETA


sexta-feira, 29 de janeiro de 2021

Campanha de vacinação - A incerteza continua - Merval Pereira

O Globo

Governo menospreza vacina por sua origem, seja chinesa ou paulista

A decisão do ministério da Saúde de não garantir a compra das 54 milhões de doses de Coronavac produzidas pelo Instituto Butantan não tem explicação, [não tem explicação? explicar o que? foi firmado um contrato - contrato, documento em que as partes contratantes - exceto as crianças, os mentalmente incapazes, os idiotas, e similares - se obrigam a respeitar e fielmente cumprir. O contrato estabelece o prazo até o final de maio 2021 para o MS exercer o seu direito de compra. O resto é o resto. O cidadão que preside ou faz de conta que, tem uma certa aversão a documentos escritos - questiona até  a posologia da vacina na bula original. Para ele, a exemplo dos apresentadores, doutores na sinistra arte de  contagem, o que vale é o virtual - escrito, ainda que em bula de medicamento, pode transmitir o corona.]   não ser essa interminável guerra política entre o governo central e o governador de São Paulo João Dória.  Não há vacina suficiente no mundo até o momento, mesmo os países desenvolvidos estão com problemas para vacinar seus cidadãos, e o Brasil parece menosprezar a possibilidade de adquirir milhões de doses, simplesmente por sua origem, não mais chinesa, mas paulista. [cabe um registro: os produtos chineses costumam, ou costumavam, ser vistos com algumas reservas, quanto a qualidade. 
Lembram das lojas de R$ 1,99?  - a petista, escarrada da presidência da República conseguiu falir uma de sua propriedade  - fizeram sucesso e o principal bordão das mesmas era: "baratinhas, mas os produtos são ruins". 
A qualidade melhorou e muito, mas algum receio permanece. Soma o receio dos produtos chineses com a falta de credibilidade do Joãozinho, o faz e desfaz do ainda presidente do Butantan, fica dificil de acreditar. Afinal de contas, o João Doria trancou tudo em São Paulo e viajou para Miami para desestressar, sendo flagrado sem máscara. Seus aspones lembraram do desastre político da viagem e ele voltou em minutos.]

Essa birra está dando oportunidade a que Dória amplie o alcance de seu nome a nível nacional, [ampliação favorável ou desfavorável?até agora ele está se tornando conhecido como "o homem da vacina enrolada".] prometendo vender as vacinas para outros estados, que lutam para conseguir as doses que o governo central não teve capacidade de garantir. A incerteza é tamanha que ontem, ao anunciar o calendário para vacinação na cidade do Rio de Janeiro de pessoas acima dos 80 anos em fevereiro, o secretário de Saúde Daniel Soranz avisou que as datas dependem da chegada das doses das vacinas da AstraZeneca da Fiocruz, e Coronavac do Instituto Butantã.

Nós, que não somos do primeiro mundo, estamos arriscados a ficarmos sem vacina por um bom tempo, já que a escassez de produção no mundo está obrigando a que várias mudanças sejam feitas na entrega das doses, e na utilização das vacinas. [a União Europeia, a maioral do primeiro mundo, está tendo dificuldades com a vacina, imagine aqui. Fica dificil vender, sem pagamento antecipado, para um país cujo presidente não tem autonomia para decidir praticamente nada.*] Já há países que pretendem dar apenas a primeira dose das vacinas, para conseguir começar a imunizar mais cidadãos. Aqui no Brasil, esta possibilidade foi aventada, mas o Instituto Butantan insiste em que as doses da Coronavac devem ser aplicadas com uma diferença máxima de 15 dias.

A vacina da AstraZeneca pode levar até três meses entre as doses, o que a torna mais atraente para o momento inicial da produção. Mas a União Européia pode exigir que a farmacêutica inglesa não exporte suas vacinas antes de garantir a vacinação nos países europeus. Isso dificultaria a chegada das vacinas a países periféricos como o Brasil. Vem da Alemanha também a advertência de que a vacina da AstraZeneca não é aconselhável para pessoas acima de 65 anos, o que, se confirmado pela União Européia, pode causar problemas até mesmo por lá, onde já começou a vacinação em alguns países com ela, justamente entre os idosos.  

Além de toda a trapalhada que o governo fez nas negociações e nas compras, existe esse problema real, com a União Européia já ameaçando proibir a AstraZeneca de exportar antes de servir aos países do continente. É uma situação que não deveria ser assim, mas é. Quem tem mais dinheiro, leva. Isso já se evidenciou no início da pandemia, quando respiradores e material médico foram disputados em leilões onde os países mais ricos levaram vantagens.

Devido à inépcia do governo, estamos nas mãos de duas farmacêuticas produtoras de vacinas, embora existam várias outras sendo aplicadas no mundo. A vacina da Pfizer, por exemplo, foi recusada pelo governo brasileiro sob a alegação de que as condições para a venda eram inaceitáveis.
[*]A vacina está sendo aplicada em diversos outros países, e possivelmente as condições são as mesmas. Só seria cabível a decisão de recusar a vacina se tivéssemos certeza de que a farmacêutica alemã não exigiu de outros países que assumissem os riscos de efeitos colaterais, livrando-a de processos judiciais. A FIFA também fez essa exigência para a realização da Copa do Mundo de 2014, e o governo brasileiro aceitou. [governo? os ladrões do pt?]

A política correta seria comprar qualquer vacina que estivesse à mão, desde que aprovada por organismos internacionais de controle reconhecidos no mundo. Tivemos uma negociação mal feita e pretensiosa, achando que o mercado brasileiro seria atraente. Ora, o mundo tem 7 bilhões de pessoas e os mercados dos EUA e da União Européia são muito maiores do que o nosso, sem contar a China e a Índia. Há mais demanda que oferta, e, portanto, não temos margem de barganha em compras que custam vidas.

Foram erros de estratégia, de negociação e de avaliação, porque o governo não teve, nem tem, a dimensão exata da crise, que vai se aprofundar nos próximos meses, enquanto continuamos com uma vacinação muito lenta e precária, o que faz com que o vírus se espalhe mais rapidamente, especialmente a nova variante encontrada em Manaus.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


domingo, 2 de fevereiro de 2020

A geopolítica imposta pelo coronavírus - O Globo


Dorrit Harazim 

Geopolítica do vírus

China consegue bloquear a circulação de 54 milhões de várias províncias, e ter a certeza de que ordens serão cumpridas


Mais de duas décadas atrás, o biólogo evolucionário Jared Diamond nos brindou com uma narrativa fulgurante de como e por que algumas sociedades se desenvolveram mais que outras. Ótima hora para reler essa obra que deu a Diamond um Pulitzer em 1998 — “Armas, germes e aço: os destinos das sociedades humanas” (Ed. Record) — e olhar para o surto global do novo coronavírus com melhor compreensão da história. 

Mesmo que a atual epidemia não venha a representar um ponto de inflexão para o curso humano, ela capta um instantâneo dinâmico (escusas pela aparente contradição) de como está o mundo em 2020. A convencional classificação de países por Índice de Desenvolvimento Humano e outros indicadores socioeconômicos estarão sendo testados, com desdobramentos ainda imprevisíveis. O próprio mapa atual da geopolítica pode chegar bastante alterado ao final da crise. 

Começando pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Os escancarados elogios à China feitos pela entidade na quinta-feira, ao finalmente decretar o vírus 2019n-CoV uma emergência de saúde pública em escala planetária, foram recebidos com impaciência pela comunidade científica. O sentimento majoritário de “foi muito tarde e muito pouco” lembra a reação mundial às proclamações anticorrupção feitas em anos recentes por entidades como o Comitê Olímpico Internacional (COI) e a Fifa, quando seus casos de roubalheira sistemática já haviam viralizado.

É da muralha da China, mais especificamente do controle absoluto exercido pelo regime de Pequim sobre seus 1,38 bilhão de habitantes, que o mundo depende para evitar a mutação da epidemia em pandemia. Até a tarde de sexta-feira, a China diagnosticara perto de dez mil casos em suas províncias (1.527 em estado crítico), enquanto a centena de outros confirmados se dividia entre 22 nações. Também o mapa de mortandade seguia padrão geográfico semelhante — 99% do total de 234 vítimas fatais ocorreram em território chinês. Portanto, para a OMS, e para governantes do resto do mundo de forma mais comedida, quanto mais o regime chinês conseguir controlar e confinar sua população, melhor. O regime comunista de Xi Jiping tem à mão um leque de ferramentas que vai da construção e habilitação plena de hospitais em 14 dias, ou a desinfestação de todas as ruas de Wuhan, cidade-epicentro da crise com 11 milhões de habitantes. Também consegue bloquear a circulação de 54 milhões de cidadãos de várias províncias, e ter a certeza de que ordens serão cumpridas. Vigilância 1984, versão 2020. 

[o Prontidão Total fez uma comparação como seria a situação se a epidemia tivesse iniciado no Brasil, ou sua evolução fosse significativa, com as medidas já adotadas pela China (cumpridas pelos chineses sem contestações) que, se necessário, serão ampliadas - leia: suspensão do carnaval. 

Na ocasião, desconsideramos a necessidade da criação de uma LEI ESPECÍFICA para normatizar eventual quarentena de brasileiros trazidos da China ou por qualquer razão considerados suspeitos de terem o vírus.
Se o Congresso Nacional não aprovar tal lei - e, caso aprove, algum partido político ou cidadão não ingressar na Justiça Federal contra a quarentena e um magistrado conceder liminar suspendendo a vigência da nova lei - a solução será deixar os suspeitos de estarem portando o coronavírus, juntos e misturados, com a população. 

Ou postergar a volta ao  Brasil dos nacionais que estão na China. Sabemos que logo o presidente Bolsonaro será acusado de estar se negando a resgatar os brasileiros ou ser compelido por determinação judicial a efetuar o repatriamento.
O sempre presente deputado Rodrigo Maia, para variar e de acordo com sua postura de 'dono' dos votos do Congresso, já declarou achar ser possível aprovar a nova lei na próxima semana. Todos esquecem que a situação é de EMERGÊNCIA NACIONAL podendo provocar mortes de inocentes - o que justifica que 'constituição cidadã' seja esquecida em caso específico.]
Por ser pêndulo não só da economia mundial como do comércio planetário e das bolsas de mercados, a China conseguiu que a OMS não recomendasse a interrupção de voos internacionais ao país nem sugerisse a viajantes estrangeiros que mudassem de planos. Tarde demais e pouco demais, como disseram os cientistas. Uma a uma as grandes empresas aéreas cancelaram seus voos à China continental, mantendo apenas o tênue cordão umbilical com Hong Kong. Um a um, países vizinhos fecharam fronteiras e colocaram sob quarentena passageiros vindos da província de Hubei. Os Estados Unidos deram o passo maior, proibindo a entrada de todo estrangeiro que tenha estado na China há pouco tempo. Cingapura cancelou a emissão de vistos para chineses. 

Como denominador comum, quase todos priorizam a retirada de seus cidadãos confinados em Hunan. Dependendo do grau de competência de cada governo, dos seus recursos, empenho, e poder de barganha junto a Pequim, voos fretados da aviação civil ou aviões militares têm retirado levas mistas de funcionários públicos e cidadãos comuns. Alguns governos, como o da Austrália, que ainda aguarda autorização para retirar 600 compatriotas, decidiu que quem já tiver diagnóstico positivo confirmado será deixado onde está. Os demais serão internados na remota Ilha Christmas, de triste histórico no tratamento de refugiados. Repatriados de outras nações, como da vizinha Nova Zelândia, pagarão apenas uma ínfima taxa fixa para conseguir voltar para casa.

Não que a operação de repatriação seja simples. Todas as suas etapas são complexas, do pré-embarque ao acompanhamento da infecção durante o voo, até as várias etapas de trânsito em isolamento na chegada. Uma das atribuições da OMS é justamente prover recursos a países desprovidos de meios em casos de emergência de saúde pública internacional. 

O Brasil, que pretende ascender ao clube dos grandes na OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), não costuma apresentar-se como parte do mundo desvalido e pedir socorro à OMS. Talvez devesse. A começar pela linguagem do chefe da nação ao tratar de tema tão crucial para o momento.
“Nós não temos uma lei de quarentena. Ao trazer brasileiros para cá, coloca em quarentena, mas qualquer ação judicial manda a gente tirar. Se não estiver tudo redondinho no Brasil, não vamos buscar ninguém. Quem vier para cá tem que se submeter aos trâmites”, informa Jair Bolsonaro. “Custa caro um voo desses. Ali, se for fretar um voo é acima de 500 mil dólares o custo”. Poderia começar cancelando todos os voos em jatinhos da FAB para integrantes do governo.
E começar a cuidar da saúde da nação.

Dorrit Harazim, jornalista - O Globo


domingo, 22 de dezembro de 2019

Flamengo renova com BS2 - Landim, exclusivo: 'Flamengo terá que participar da elite europeia de algum jeito'


Flamengo renova com BS2

Flamengo no Mundial
O contrato de patrocínio do BS2 com o Flamengo só expirava no fim de 2020. Mas, dada a campanha do clube neste ano e independentemente do resultado do jogo de ontem, as partes já negociaram e reajustaram os valores deste último ano de contrato.
Blog Lauro Jardim 


Landim, exclusivo: 'Flamengo terá que participar da elite europeia de algum jeito'

Presidente do Flamengo, que falou ao GLOBO antes da final do Mundial, diz ter plano B no caso de Gabigol e que ninguém esqueceu o episódio do Ninho


Rodolfo Landim, campeão da Libertadores e do Brasileiro no primeiro ano de gestão Foto: Ricardo Moreira/Zimel Press/Agência O Globo
Rodolfo Landim, campeão da Libertadores e do Brasileiro no primeiro ano de gestão Foto: Ricardo Moreira/Zimel Press/Agência O Globo

Rodolfo Landim recebeu a reportagem do GLOBO para uma entrevista exclusiva no lobby do Hotel Grand Hyatt, em Doha, poucas horas antes da final do Mundial. Uniformizado com a camisa branca do clube, o presidente do Flamengo estava otimista, mas manteve sua atitude de não transferir peso demais ao Mundial, onde o Liverpool era favorito desde sempre. Satisfeito com as realizações de 2019, preferiu olhar para os próximos passos do projeto. 
Mansur:Cabeça erguida de jogadores e torcida dá dimensão do quão grande foi o Flamengo

Aonde este Flamengo pode chegar? Qual é o futuro?
A gente queria fazer o Flamengo atingir o nível que poderia ter dentro do cenário brasileiro e sul-americano. Entendíamos que o clube tinha condição de ser protagonista, líder deste mercado da América do Sul, pelo tamanho da torcida, pela importância no mercado brasileiro e também pelo tamanho das receitas que tínhamos. Acho que montamos um time qualificado e chegamos esportivamente no topo deste mercado. Mas para a gente chegar onde quer, ser uma primeira superpotência sul-americana, com nível de Europa, há condições externas que envolvem o crescimento do negócio futebol brasileiro e sul-americano, para que a gente possa ter receitas de TV e patrocínio que nos permitam orçamento para competir com os europeus e deixar de ser exportador de mão de obra.

Final do Mundial: Jesus se diz orgulhoso do time do Flamengo e explica saídas de Arrascaeta e Everton Ribeiro

Mas há fatores limitantes para isso, não?
A TV é um exemplo. O futebol brasileiro não é visto fora do país. É um produto de qualidade, com excelentes atletas, mas não atinge a Ásia, onde os europeus brigam. Para ser global precisa ser visto no mundo todo. O Mundial com 24 clubes me parece tentativa de globalizar e fazer os grandes da América do Sul estarem, de fato, participando de competições mundiais.

Mas será quadrienal. O embate com europeus se tornará mais esparso ainda.
Acho que começa quadrienal. Mas a Fifa terá que discutir com as confederações continentais, que vão tentar proteger seus produtos. A Uefa vai preservar a Champions League como grande torneio de clubes do mundo. A Conmebol, mesmo com as limitações, pode proteger a Libertadores. E o papel da Fifa é enxergar o futebol global, criando mecanismos para outros clubes entrarem na disputa de elite. Aconteceu isso com a expansão da Copa do Mundo.

O objetivo é se relacionar mais com a elite europeia?
É o que estou dizendo. Vamos ter que participar de algum jeito. Como atuamos no cenário regional, teremos que ter um espaço, em algum pedaço do ano, para ter a exposição em outros continentes.

A tendência é desacelerar o investimento em contratações em 2020?
Será bem menor do que em 2019, mas há uma razão clara. Ao chegarmos, sentimos necessidade de qualificar nosso elenco em várias posições. O volume de recursos que estava orçado era muito pequeno para este objetivo. Gastamos mais do que o orçado: eram R$ 108 milhões e gastamos R$ 280 milhões, amortizando estes custos ao longo de três anos. Isto compromete o investimento nos dois próximos anos. E não podíamos errar, senão teríamos que nos desfazer do jogador, perdendo dinheiro e tendo que comprar outro. Acertamos muito, porque teve análise de dados e, como futebol não é ciência exata, uma dose de sorte. Mas o departamento de scout do Flamengo teve forte investimento. Hoje são 15 profissionais. Além disso, criamos processos de tomadas de decisão, como uma empresa. Por exemplo, quem avalia não contrata. Antes, um diretor de futebol decidia tudo: jogamos dinheiro fora com jogadores sem condição física de jogar aqui.

Mas o desempenho de 2019 não melhorou a projeção de receitas para 2020?
Criamos um ciclo virtuoso. Temos melhores resultados, mais demanda, sócio-torcedor cresce em receitas. A projeção de patrocínio também para o ano que vem é maior. Teremos um pouco menos de investimento em relação a 2018, mas numa situação em que o time está muito mais qualificado.

E prêmios por desempenho em competição também, não?
Esta foi outra grande mudança. Antes, os bônus eram proporcionais ao desempenho. Hoje, é um sistema muito agressivo, que depende muito mais de o time ser campeão. Fui criado numa casa em que meu pai falava que o segundo colocado está mais perto do último do que do primeiro. Não estou preocupado em distribuir meu prêmio se o time ganhar. Em grande parte, ou quase totalidade, esta premiação é distribuída para a comissão técnica.

Caso não seja possível comprar Gabigol, vão buscar alguém com este peso?
Há um pré-acordo com a Inter. Falta o jogador, que pediu para discutir após a temporada, e a gente concorda. Se ele não ficar, a avaliação do departamento de scout é contínua. O Flamengo precisa ter plano B para todas as coisas.

Qual o futuro do Jorge Jesus?
Não posso dizer o que ele pensa. Mas como tenho afinidade com ele, digo o que passaria na minha: “Estou no Brasil, onde sou adorado, num clube estruturado, onde há investimento alto, com uns € 200 milhões de faturamento, alto até para padrão europeu. Enfim, tentaria criar raízes no Flamengo e uma hegemonia”. Ele quer ganhar tudo. Se no primeiro ano já ganhou muito, isso deve motivá-lo a permanecer.

Como você avalia o mercado brasileiro de treinadores?

Minha melhor resposta é que, quando precisamos, fomos contratar fora. Quando a gente precisou, as duas alternativas que tínhamos eram de fora.

Você concorda com a crítica de que o tratamento ao episódio do Ninho do Urubu foi mais técnico do que humano?
Não é verdade. Humanitariamente, tudo o que pôde ser feito, na hora da dor, foi feito. Toda a estrutura do clube foi dada às famílias, eu fui lá conversar com todas. Havia assistentes sociais, gente ligando para eles todos. Vai passando o período do luto, e a discussão passa a ser a reparação do dano moral, do sofrimento das pessoas, ainda que nada trouxesse as crianças de volta. A gente paga um valor às famílias que ninguém mandou a gente pagar. Nunca vi um episódio destes na história em que a instituição ficou preocupada, pagando. De bolsas de R$ 800 aos garotos, passamos a pagar R$ 5 mil às famílias. Mas há estratégias que advogados montam com as famílias que por vezes colocam barreiras no seu contato com as famílias. Dizem "Você tem que falar comigo". O Flamengo continua querendo contato, conversar com as famílias.

Por vezes parece que o Flamengo foi tentando colocar o episódio em segundo plano, como se não tivesse acontecido. O símbolo de luto foi movido para baixo na camisa, o memorial no Ninho não foi erguido.
O fato de você, num momento de felicidade, comemorar conquista, eu acho natural. Lembrar dos meninos a gente vai continuar lembrando. Você entra no Ninho do Urubu a bandeira está a meio pau há um ano. A FlaTV tem um símbolo de luto desde então. Não é verdade [esse segundo plano]. Mas a gente não pode se sentir culpado por estar comemorando um título que é um sonho que a gente tinha. Mães de garotos me disseram: "Ganhem pelo Flamengo porque meu filho era Flamengo. Onde ele estiver, ele vai estar feliz". Eu não posso me privar de ter meus momentos de felicidade porque a vida continua. Isso não significa que a gente se esqueceu das pessoas.

O futebol no Brasil cumpre um papel social, supre questões em que o estado é falho. Mas não passou na cabeça de vocês que este episódio pudesse ser o ponto de partida na reformulação do diálogo do Flamengo com a sociedade, com grandes projetos de assistência, fincando bandeira como um marco de responsabilidade social?
O Flamengo neste ano, e antes do episódio do Ninho, tinha proposto ao conselho a criação de três novas vice-presidências. Uma delas, de responsabilidade social. Até para fomentar uma série de iniciativas voltadas ao aspecto social. Mas, em boa parte, para mostrar à sociedade o que o Flamengo já faz. Além de iniciativas isoladas, como doação de sangue, natal em comunidades carentes, o Flamengo forma atletas, dá chances a jovens, tira a possibilidade de eles estarem entregues ao crime. Poderíamos ter tido até mais resultados, mas uma pessoa que colocamos ali teve um problema de saúde. Mas queremos mostrar à sociedade o que fazemos. E é independente do Ninho. É porque o Flamengo é um clube cidadão e precisa sinalizar isso à sociedade. A gente já pensava assim antes do Ninho. Foi um acidente doloroso, uma tragédia histórica na vida do Flamengo. E ninguém esqueceu e ninguém quer varrer para baixo do tapete.

O Globo