Petróleo começou a jorrar na Guiana
Na sexta-feira, o país estava atolado na miséria de sempre, só comparável à de El Salvador, na América Central, ou do Quirguistão, na Ásia . Concentrados no litoral (10% do território), os guianenses têm expectativa de vida de 67 anos. Quatro de cada dez sobrevivem com menos de R$ 4 por dia. Água encanada é luxo, para apenas 5%.
No sábado, a Guiana acordou confirmada no clube dos países com maior potencial de produção de petróleo por habitante: nos Emirados Árabes são 2,9 mil barris por pessoa; na Noruega, 2,2 mil e na Arábia Saudita, 1,9 mil. A Guiana tem 3,9 mil , informam o governo, as americanas Exxon e Hess e a chinesa CNOOC, sócios num bloco de 27 mil quilômetros quadrados na costa atlântica.
A produção no mar começa em 102 mil barris por dia e deve avançar para 424 mil barris em cinco anos. Os efeitos são imediatos. O FMI estima crescimento real de 85,6% do Produto Interno Bruto, em relação a este ano. Equivale a duplicar a riqueza por habitante até a ceia natalina de 2020.
O país já era um paraíso comparado à vizinha Venezuela da cleptocracia chavista. Vai virar jardim dos sonhos para economistas entretidos com a agonia fiscal do Brasil ou o colapso da Argentina. A receita pública sobe mais de 30%, e a dívida cai 60% em 2020. O problema agora é político, como usar o prêmio da loteria geológica para moldar o futuro. Em março haverá eleição.
A realidade na Guiana superou as melhores fábulas de Natal.
José Casado, jornalista - O Globo